sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Aborto em casos de microcefalia divide igrejas cristãs


O aborto em casos de microcefalia não é uma questão consensual entre as várias igrejas cristãs no Brasil e seus representantes religiosos. Enquanto a Igreja Católica, por exemplo, é contra a possibilidade de interromper a gestação, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil ainda não tem posição formada, e setores da Igreja Batista acham que a mulher deve ter direito ao aborto nesses casos.

A microcefalia é uma malformação na qual os bebês nascem com a cabeça menor que o normal e, na maioria dos casos, leva ao retardo mental. Exames feitos por laboratórios ligados ao Ministério da Saúde mostram ligação entre a epidemia de microcefalia, que atinge principalmente o Nordeste, e o vírus zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, que também é vetor da dengue e da chicungunha. Na sexta-feira da semana passada, a Organização das Nações Unidas (ONU) pediu que os países atingidos pelo zika permitam o acesso de mulheres à contracepção e ao aborto.

O presidente da Aliança de Batistas do Brasil, Joel Zeferino, destaca que cada fiel tem liberdade de consciência e cada igreja batista local tem autonomia. Ele mesmo diz que o grupo presidido por ele não representa todos os batistas brasileiros. Mas, Zeferino é claro ao defender o direito ao aborto.

— Penso que a melhor decisão neste momento é ouvir e fazer um debate sobre essa questão do aborto em caso de microcefalia. E preventivamente liberar esse aborto para as mulheres que queiram fazê-lo, porque é uma questão de justiça social, para que as mulheres pobres não sejam alijadas de um direito, baseado na liberdade de consciência de cada um — disse Joel Zeferino.

Flávio Irala, bispo da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), falando em nome apenas de sua igreja, disse que ainda não há uma posição formada sobre o tema. — Como representante da Igreja Anglicana, ainda não temos uma posição definida sobre o aborto. Estamos sempre preocupados com as pessoas, tanto com os fetos quanto com as mães, de modo que possa ser preservada, sempre que possível, a vida — disse Irala, concluindo: — A microcefalia é um tema novo, que ainda não foi conversado, discutido. Vamos discutir, mas sempre à luz da defesa da vida.

O monge Cristiano Lopes da Silva, da Igreja Síria Ortodoxa de Antioquia, é contra o aborto em qualquer hipótese. — Nós não aceitamos aborto, porque é ser vivo, é um ser humano que está no ventre da mãe. Então a Igreja Síria Ortodoxa não aceita de maneira nenhuma — disse Cristiano.

Wertson Brasil de Souza, moderador da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, conta que sua igreja ainda não tem um posicionamento formado sobre aborto em casos de microcefalia, mas destaca sua posição pessoal: — A igreja não tem posicionamento formal. É um posicionamento pessoal meu: entendo que tudo deve ser feito para preservar a vida.

Na quinta-feira da semana passada, antes do apelo da ONU, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da Igreja Católica, divulgou nota dizendo que a microcefalia não justifica o aborto. Nesta quarta, o presidente da CNBB e arcebispo de Brasília, Sergio da Rocha, voltou a condenar a interrupção da gravidez. — A CNBB reafirmou recentemente sua posição. O aborto não é resposta para o vírus zika. Nós precisamos valorizar a vida em qualquer situação, em qualquer condição. Menor qualidade de vida não significa menor direito a viver, com menos dignidade humana. Por isso insistimos que o combate ao vírus zika seja feito — diz Sergio da Rocha, acrescentando: — O que está em jogo é o combate ao vírus zika. Esse combate passa por medidas preventivas, campanhas educativas. Não há sentido de propor aborto como resposta, como solução para essa problemática.

Com informações de O Globo

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