quinta-feira, 26 de maio de 2016

A marcha que nunca foi para Jesus!


A 24ª edição da Marcha para Jesus aconteceu nesta quinta-feira (26) em São Paulo, feriado de Corpus Christi. Milhares de fieis se reuniram na região da Luz por volta das 10h em torno dos trios elétricos onde artistas da música gospel se apresentaram. De acordo com a organização, 500 denominações cristãs e 14 trios elétricos participaram do evento neste ano. Este evento espalhou-se pelo Brasil de forma gradativa e hoje faz parte do calendário de várias cidades. 

No Brasil, o evento começou a ser realizado em terras pauliceias no ano de 1993, organizado pela Igreja Renascer em Cristo através de seus líderes, o “Apóstolo” Estevão Hernandes e “Bispa” Sônia Hernandes, ambos conhecidos internacionalmente após sérios problemas com a justiça brasileira e americana, em razão de suas respectivas infrações contravencionais. Além disso, são conhecidos por serem expoentes do neopentecostalismo, bem como por pregar as perniciosas doutrinas da restauração apostólica triunfalista e teologia da prosperidade.

O conceito “Marcha para Jesus” começou na Inglaterra em meados de 1987, através de uma ação ecumênica entre protestantes e católicos de Londres. A organização foi iniciativa dos líderes carismáticos britânicos Gerald Coates, Roger Forster, Lynn Green e Graham Kendrick. Segundo eles, a passeata pública foi feita para demonstrar a “unidade entre a Igreja” e expressar a fé cristã para a sociedade, bem como promover atos proféticos de batalha espiritual contra espíritos territoriais malignos, dominantes da Europa secularizada.

Como todo ano, o evento no Brasil reúne diversas denominações evangélicas, reunidas em uma grande procissão pelas ruas da capital paulistana. Mas afinal, qual o objetivo desta Marcha para Jesus no Brasil? O interessante é que não vemos em nenhum lugar no Novo Testamento a ordem evangelística de marchar para Jesus, ou no Antigo Testamento para Deus, muito menos nas literaturas dos pais da igreja, reformadores, missionários e evangelistas por toda a história. Não há, absolutamente, nenhum fundamento espiritual cristão para se praticar marchas evangelísticas. Na verdade, eu não consigo imaginar como alguém pode se converter em um evento como este.

Além do “presidente” da Marcha para Jesus em destaque, também são destacados os trios elétricos que puxam a “micareta gospel”, ao som de músicas triunfalisticamente antropocêntricas, preparadas cuidadosamente para massagear o ego dos participantes em detrimento do evangelho que confronta o caráter. É no mínimo questionável esse tipo de evangelismo, pois a palavra quase não é proclamada devido ao foco na euforia festiva, salvo raras exceções quando é falada ou cantada, mas de maneira superficial e distorcida, onde não há entendimento profundo das Escrituras.

A verdadeira "marcha para Jesus" não acontece com data marcada, guiada por trios elétricos, ao som de gritos de guerra, mas acontece todos os dias, pelas ruas, avenidas, corredores de supermercados, shoppings, bancos, onde pessoas conquistadas pelo amor de Jesus são conduzidas como evidência do poder do Evangelho. A marcha que Cristo ensinou à sua igreja foi outra, silenciosa e efetiva, tal qual o sal penetrando no alimento (Mt 5:13); pessoal e de relacionamento, como na igreja primitiva (At 8:4); cotidiana e sem cessar, como entre os primeiros convertidos (At 2:42-47).

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