sexta-feira, 28 de julho de 2017

Descobrindo o que importa (quando há tanta futilidade online)

A cultura pop, expandida a partir do advento dos meios de comunicação em massa, surgiu com a função básica de entreter, seguindo algumas premissas comerciais. O foco dessa cultura é claramente o público mais jovem, havendo uma supervalorização da adolescência. É comum que se diga que enquanto o cinema europeu trata seu expectador como adulto, o americano se dirija a adolescentes. A observação vale para músicas, quadrinhos, entre outros produtos da cultura pop

Essa infantilização é vista por diversas características: a ênfase na espontaneidade (observe que todo julgamento em um tribunal nos blockbusters são interrompidos de alguma forma); o rompimento com convenções sociais (Hollywood é a terra das noivas que desistem do casamento praticamente diante do altar para correr para os braços do amor verdadeiro); quebra de convenções sociais (sempre há uma personagem que obedece às regras e aprende a se “soltar”); isso além de diálogos rasos, roteiros ilógicos e ações inconsequentes. 

Os conceitos da cultura pop influenciaram valores sociais ao longo de décadas, diluindo a herança protestante – do trabalho duro, da economia quase estoica, do propósito maior da vida consistir em servir a Deus, etc –, legado comum tanto aos Estados Unidos, quanto aos diversos países europeus. O ethos contemporâneo reflete muito mais características do hedonismo do que a mentalidade dos pais pioneiros. 

Zygmunt Bauman sempre apontou a insegurança, volatilidade e infantilismo do capitalismo ocidental. A sociedade de consumo muitas vezes se parece com um passeio que as crianças de uma creche fizessem à seção de brinquedos de uma loja de departamentos. 

Claro que quando se pensa na Web 2.0, a segunda fase da virtualização que se caracteriza pelo advento das mídias sociais, a mesma superficialidade, vulgaridade, boataria, humor raso e mensagens pseudo-espirituais marca forte presença. Seria injusto dizer que todo material compartilhado entraria nessas características, mas é inegável que isso se aplica à grande maioria do que se vê. Há muito que poderia ser dito sobre a depressão associada ao Facebook ou à ansiedade gerada pelos comunicadores instantâneos. Especialmente a pesquisa de Nicholas Carr é digna de nota, por revelar como o uso excessivo da internet desfavorece o aprofundamento intelectual necessário para a leitura de um livro, por exemplo. 

Nessa época de superficialidade, cristãos podem tomar algumas atitudes para evitar de se tornarem igualmente superficiais: 

(a) Estudar a Bíblia: o estudo exaustivo da Palavra, além de representar um poderoso tonificar espiritual, contribui para uma percepção acurada da realidade, provendo uma moldura para interpretar os acontecimentos. Essa estrutura é o tema do embate cósmico entre Cristo e Satanás. A Bíblia ainda fortalece o intelecto, ao exigir que a mente humana sistematize as informações que ela fornece de forma propositadamente esparsa; 

(b) Ler livros cristãos profundos: tanto alguns clássicos cristãos, quanto livros que realizam estudos de temas bíblicos de forma séria são importantes para a formação espiritual e para conhecer melhor diversos aspectos e implicações da própria fé cristã. Evidentemente, há muito material descartável publicado por editoras cristãs e isso precisa ser evitado; 

(c) Cultivar hábitos saudáveis: a mensagem cristã pressupõe uma antropologia holística, admitindo que o homem não possui uma alma separada do corpo, como ensina a filosofia grega. Por isso, cuidado com a saúde faz parte de uma vida cristã equilibrada. Considerações sobre hábitos alimentares, separar tempo para exercícios físicos, tomar a quantidade ideal de água, dormir de forma adequada, entre outros tópicos igualmente fundamentais, são ações que evitam que a vida seja gasta de forma passiva, sedentária e vitimada pelo apego excessivo às mídias (como as famosas “maratonas de séries”, para ficar com um exemplo); 

(d) Interagir com pessoas reais: a ficção domina muitas mídias e até nas redes sociais pode-se criar uma existência fictícia; falta encarar a vida como ele é, cheia de perdas e dores, marcada pelos fracassos e sonhos. Sobretudo, falta uma perspectiva de realismo bíblico – que consiste em enxergar a vida não como um parque de diversão, mas um campo da batalha espiritual, no qual somos chamados a atuar como agentes do Reino do Senhor Jesus Cristo; 

(e) Cultivar a experiência espiritual comunitária: aprofundamento de pessoas, desenvolvimento de talentos e crescimento espiritual são elementos que interagem entre si dentro da comunidade da fé. Daí a importância da frequência e participação em uma congregação local. Firmar-se na fé e no ensino também são outros dos benefícios providos por essa experiência coletiva.

Seria muito bom que os cristãos se destacassem como pessoas equilibradas, bondosas, inteligentes e diferenciadas em um mundo quase que completamente submerso na superficialidade... 

Douglas Reis (via Questão de Confiança)

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