segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

O NATAL NÃO É APENAS...

O Natal não é apenas um arranjo de lâmpadas, é o brilho da Luz do mundo.

Não é apenas uma festa da religiosidade, é a celebração da esperança.

Não é apenas a época de distribuir cestas, é a estação de repartir amor.

Não é apenas o dia de contabilizar conquistas, é tempo de contar as bênçãos.

Não é apenas o chamado para desatar embrulhos, é o convite para abrir o coração.

Não é apenas a data de ganhar brindes, é o dia de receber o Presente.

Não é apenas o momento para degustar panetone, é a ocasião para saborear o Pão da Vida.

Não é apenas um período de trégua na polarização, é tempo de paz na Terra.

Não é apenas o fim do ciclo anual, é a promessa de um novo início.

Não é apenas época de lembranças, é tempo de construir memórias.

Não é apenas o desejo de companhia, é a garantia de que não estamos sozinhos.

Não é apenas a chance de reunir os familiares na Terra, é a oportunidade de se unir à família do Céu.

Natal é momento de celebrarmos apenas um único fato: “Cristo Jesus […] embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fp 2:5-8). E isso ocorreu “porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nEle crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dEle” (Jo 3:16-17). É isso que celebramos. Paz a todos vocês que estão em Cristo. E um Natal feliz e cheio da maravilhosa graça.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

PRESÉPIO

O primeiro presépio do mundo teria sido montado em argila em 1223 por ninguém menos que Francisco de Assis. Naquele ano, em vez de celebrar a noite de Natal na igreja, como de hábito, Francisco resolveu celebrá-la na floresta, para onde mandou transportar uma manjedoura, um boi e um burro. Seu objetivo era explicar o Natal às pessoas comuns, camponeses iletrados que não tinham acesso aos textos bíblicos que narravam o nascimento de Jesus. O costume acabou se espalhando por entre as principais Catedrais, Igrejas e Mosteiros da Europa durante a Idade Média, começando a ser montado também nas casas de Reis e Nobres a partir do Renascimento. Somente no Século XVIII que o costume de montar o presépio se disseminou pelas casas comuns por toda Europa e, posteriormente pelo mundo.

O presépio está em casas e ruas, igrejas e praças. Nesta época do ano, adquire uma presença que remete à data, ainda que pouco tempo se dedique à reflexão do seu significado, com pessoas atarefadas pelas demandas de consumos e deveres típicos desta celebração. E ainda que não se pense a respeito, o fato é que, se há festejos natalinos, haverá presépios, o lugar da natividade.

É uma expressão cristã do nascimento de Jesus. Por conta do recenseamento na Galiléia, conta Lucas 2, José e Maria vão a Belém, e lá Jesus nasceu. Após o nascimento, Jesus foi envolvido em panos e deitado em uma manjedoura, lugar destinado a alimentação de animais, agora improvisado como um berço. Ellen White diz que "as hospedarias estavam todas lotadas. Os ricos e orgulhosos estavam bem hospedados, enquanto aqueles humildes viajantes tiveram que encontrar descanso em uma rude estrebaria" (Vida de Jesus, p. 13). Além dos pais do menino, havia animais e pastores, guiados por um anjo, que foram até aquela modesta instalação para ver o milagre do advento, que haveria de trazer esperança à humanidade.

O presépio comunica esta história. E ainda que a história não confirme o Natal como a data real do acontecimento, os presépios estão por aí como lembrança de uma promessa que encarnou em um menino nascido em um lugar de tanta simplicidade e amor. “Um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso, Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz” (Isaías 9:6). Reis vindos do Oriente, guiados por uma estrela, levaram ouro, incenso e mirra a este menino tão imponente nas palavras do profeta.

Que presente eu teria levado ao presépio, pensei certa vez, o que teria colocado ao lado da manjedoura se lá eu estivesse? Penso em muitas opções, maneiras de materializar o sentimento pessoal diante de um acontecimento tão importante, evidenciado no texto sagrado. Até que um dia li um artigo que me comoveu, lembrando que o menino na manjedoura é o mesmo que disse certa vez: “O que vocês fizeram a um dos meus menores irmãos, a mim o fizeram” (Mateus 25:40).

Os irmãos e irmãs menores daquele menino estão entre nós, à espera de súplicas atendidas, desejos mais urgentes do que a fantasia infantil alimentada pelo comércio nesta época do ano. Estão à espera do bem que faríamos ao menino da manjedoura. São meninos e meninas desafiados por uma sociedade do cansaço, que parece naturalizar a ansiedade e a depressão. E com vida tão curta, muitos desses irmãos e irmãs menores de Jesus perdem o sentido da vida aos 7 anos de idade. São aqueles que, ainda tão cedo na vida, sofrem violência, abandono, fome e pobreza extrema, refugiados em tempos de guerra, castigados por estruturas que insistem em tratá-los com tanta crueldade.

O bem que é feito a estas pequenas criaturas, a mim é feito, foi o que disse o menino da manjedoura. O Natal é tempo de reflexão para a Igreja. De avaliar o que está sendo feito e de ampliar as possibilidades do que pode ser feito. O presépio, então, será lembrança de cuidado. Que transformará vidas logo cedo, e permitirá que uma geração cresça com entendimento claro da compaixão e amor que resultam da inspiração daquele menino da manjedoura.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

AMANHÃ

As palavras de Jesus têm uma força incomum. O pouco que Ele escreveu na areia, o vento apagou, mas o que disse está gravado na mente e no coração de seus seguidores até hoje. No entanto, há algumas frases suas que soam de maneira estranha. Não têm fácil explicação. Uma delas me chama a atenção.

Jesus ressuscitara ao nascer do dia. E uma pessoa especial se encontrava chorando, sozinha, na entrada do túmulo vazio. Seu nome: Maria Madalena. Ela não estava ali por acaso. Tinha bons motivos para chorar a perda de Jesus. Não era sem explicação sua coragem de estar ao pé da cruz nas horas finais de seu mestre, enquanto os outros discípulos se escondiam pelos cantos da noite. Sua vida fora marcada pelas palavras de Jesus. Deve haver algo incrível por trás da experiência de alguém que é liberto de "sete demônios" pela própria palavra de Cristo. De qualquer maneira, a vida de Maria estava intimamente ligada à vida dAquele que morrera.

De repente, Jesus quebra o roteiro triste da história e aparece vivo. Maria é a primeira a vê-Lo ressurreto e eu imagino o porquê.

Seguindo o impulso natural, Maria corre para abraçá-Lo, mas algo estranho acontece. Jesus simplesmente se afasta, dizendo: "Mulher, não me segure!" (João 20:17). Em outras palavras, "Mulher, me solte!" Como entender tais palavras vindas da boca de quem só tinha palavras de convite e aceitação? Como entender Jesus aqui? As palavras seguintes dão nova luz a Maria e podem dar a nós também: "Vá... e conte aos outros o que ainda irá acontecer".

Na caminhada espiritual, corremos o grande perigo de nos apegar ao que já passou, ao que Deus já fez por nós no passado e até ao que nós já fizemos por Ele ontem. Mas as palavras "estranhas" de Jesus acendem uma luz, mostram uma nova direção. O mais importante não é o que Deus já fez por nós, mas o que Ele ainda promete fazer. Quem vive agarrado ao que foi ontem, não tem espaço nas mãos para receber o amanhã. Não devemos deixar que as grandes coisas que Deus fez ontem em nossa vida nos ceguem para as que Ele promete fazer amanhã.

Ouvi tempos atrás, a história de um menino que tinha um pai muito ocupado. Os melhores momentos de sua infância ele vivera sem a presença do pai. Tudo o que ele mais queria era ter o pai perto, estar com ele, mas isso quase nunca era possível. Um belo dia - um dia desses em que a gente sente que alguma coisa precisa mudar - o pai resolveu adiar todos os compromissos e passar um dia com o filho, só com ele. Seria um acampamento. Ele disse: "Filho, prepare-se, pois amanhã nós vamos passar o dia juntos. Só você e eu. Nós vamos viajar e vai ser muito legal!". Essas eram palavras mágicas para um garoto pequeno. Já era noite. Assim, ele correu para o quarto, escovou os dentes, pulou na cama, puxou a coberta e fechou os olhos com toda a força que podia. Mal podia esperar chegar o amanhã. Acontece que ele não conseguia pegar no sono. Sua imaginação passeava, seu hoje era como que invadido pelo amanhã e isso não o deixava dormir.

No meio da noite, o garoto vai até o quarto do pai e bate à porta. O pai fica assustado ao ver o menino acordado àquela hora. "O que aconteceu, filho?", pergunta. Ao que o menino responde: "É que eu não consigo dormir." O pai continua: "Filho, você precisa dormir. Lembra? Amanhã é o nosso dia. Vai ser um dia cheio. Você precisa descansar!" O menino junta toda a alegria que o impedia de dormir e diz: "Pai, é sobre isso que eu quero falar. Pai, obrigado pelo amanhã!"

Com Jesus, o melhor ainda está por vir. Se no passado Ele nos ofereceu perdão e salvação através de sua morte, no amanhã Ele nos promete o abraço da eternidade, quando de sua segunda vinda. Às vezes eu me sinto como um garoto pequeno num quarto escuro, esperando a noite dessa vida passar. Não sei se você já sentiu assim.

A promessa mais bonita da Bíblia está escondida nas palavras de Jesus. Logo logo a luz do sol de Sua vinda vai brilhar, acabando com as trevas do pecado nesse mundo. Que seu coração marque ansioso cada momento da espera.

Eu mal posso esperar esse dia amanhecer.


"Nós estamos ainda em meio às sombras e tumultos das atividades terrenas. Consideremos com todo o empenho o bendito porvir. Atravesse a nossa fé toda nuvem de escuridão, e contemplemos Aquele que morreu pelos pecados do mundo. Sejamos animados pelo pensamento de que o Senhor logo virá. Alegre-nos o coração esta esperança. 'Porque, ainda dentro de pouco tempo, Aquele que vem virá e não tardará' (Hebreus 10:37)” (Ellen G. White - Testemunhos Para a Igreja, v. 9, p. 287).

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

NATAL DOS EXCLUÍDOS

Feliz Natal!!! Pra quem? Não há felicidade sem garantia de vida digna para o nosso povo. O que pobres, idosos, doentes e presos têm em comum? Geralmente, o Natal é mais sofrido para esse grupo. Isso porque eles fazem parte da chamada “classe dos excluídos”, daqueles que, infelizmente, recebem pouca ou quase nenhuma atenção. No país, são mais de 308 mil pessoas em situação de rua, 59 milhões de brasileiros vivem em pobreza social e 9,5 milhões em extrema pobreza. Mas qual o papel da igreja em relação a essas pessoas?

A epopeia do casal Maria e José ─ os excluídos da sociedade judaica que não tiveram direito a uma estalagem para abrigar o seu filho Jesus que estava prestes a nascer, hoje, são simbolizados por aqueles que nesse Natal estão longe das mesas repletas de guloseimas e bebidas; são representados por aqueles que estão bem distantes do burburinho da cidade engalanada e repleta de efêmeros atrativos. O drama dos pais de Jesus que não foram acolhidos pela sociedade daquela época, se repete diariamente na pele dos excluídos de nossa sociedade.

Ellen G. White diz que “as festividades de Natal e Ano Novo podem e devem ser celebradas em favor dos necessitados. Deus é glorificado quando ajudamos os necessitados" (O Lar Adventista, p. 482).

A ligação entre o evangelho e a responsabilidade social é claramente representada no ministério de Cristo, tanto no Velho como no Novo Testamentos. Quando os estragos da pobreza, injustiça e opressão estão bem presentes, a Palavra de Deus insiste que uma fé que fala somente das necessidades espirituais do povo, mas deixa de demonstrar sua compaixão mediante auxílio prático é vista como um culto falso (ver Isaías 58). Com efeito, como Gandhi certa vez disse: “Precisamos viver em nossas vidas as mudanças que queremos ver no mundo.”

Um discípulo de Cristo verdadeiramente crente não pode tratar com indiferença as desigualdades materiais e a manifestação de poder e privilégio que atingem a tantos e leva ao empobrecimento espiritual de outros. Ellen G. White escreve: “A desumanidade do homem para com o homem, eis nosso maior pecado” (A Ciência do Bom Viver, p. 163). Quantas vezes, mesmo empenhados na obra de Deus, nós nos entusiasmamos com novos projetos, métodos e alvos, e, contudo, somos indiferentes para com os que sofrem.

O evangelho convida o discípulo de Cristo e a igreja à solidariedade com todos os que sofrem, a fim de juntos podermos receber, incorporar e partilhar as boas-novas de Jesus, a fim de melhorar a vida de todos. Como Cheryl Sanders o expressa: “O reino preparado desde a fundação do mundo é um reino onde todos são satisfeitos, alimentados e livres. Alguém se qualifica para entrar nesse reino exercendo boa mordomia da própria vida, e distribuindo vida a partir da abundância que recebeu como legado de Deus. E o evangelho declara que a vida eterna é a recompensa daqueles que cuidam da vida. Aqueles que alimentam os famintos, dão de beber aos sedentos, abrigam o estrangeiro, vestem os nus e visitam os doentes e encarcerados tornam-se identificados com a criação do reino de Deus neste mundo, e atuam em parceria com Deus no domínio dos negócios humanos. Desobedecer esse mandado bíblico é negar lealdade ao reino e ao Rei” (Ministry at the Margins, p. 28).

A igreja e o seguidor de Cristo precisam responder à pergunta: “Sou eu guardador do meu irmão?” O sofrimento de nossos semelhantes nos causa dor. Podemos tentar escondê-lo, negá-lo, encobri-lo ou descartá-lo, mas ainda assim o sofrimento e a dor dos outros não nos podem deixar completamente impassíveis. Nossa fé cristã reforça isso. Como posso chamar-me de seguidor de Cristo quando não me preocupo com meus semelhantes? Como posso representar o reino de Deus e não me preocupar profunda e praticamente com as pessoas que são incluídas em Seu reino?

Ellen G. White afirma que "não necessitamos de ir a Nazaré, a Cafarnaum ou a Betânia para andar nos passos de Jesus. Encontraremos Suas pegadas ao pé do leito dos doentes, nas choças de pobreza, nos apinhados becos das grandes cidades, e em qualquer lugar onde há corações humanos necessitados de consolação. Fazendo como Jesus fazia quando na Terra, andaremos nos Seus passos" (O Desejado de Todas as Nações, p. 616).

Na Palavra de Deus, a responsabilidade do seguidor de Cristo pelos pobres e necessitados não é menos importante do que a pregação do evangelho, nem é opcional. É parte integrante de toda a história do evangelho, porque realmente vemos na face do pobre a face de Cristo: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes” (Mateus 25:40).

Confira esta importante exortação de Ellen G. White para nós: "A obra de recolher o necessitado, o oprimido, o aflito, o que sofreu perdas, é justamente a obra que toda igreja que crê na verdade para este tempo devia de há muito estar realizando. Cumpre-nos mostrar a terna simpatia do samaritano em acudir às necessidades físicas, alimentar o faminto, trazer para casa os pobres desterrados, buscando de Deus todo dia a graça e a força que nos habilitem a chegar às profundezas da miséria humana, e ajudar aqueles que absolutamente não se podem ajudar a si mesmos. Isto fazendo, temos favorável ensejo de apresentar a Cristo, o Crucificado" (Beneficência Social, p. 188-190).

Deus nos convoca, hoje, a ajudarmos o próximo. Juntos, em amor, compaixão, bondade e misericórdia em prol de um irmão necessitado de esperança, de pão, de uma oportunidade, de uma chance para mudar sua vida. E como diz Ellen G. White: “O verdadeiro cristão é amigo dos pobres. Ele trata com o seu irmão perplexo e desafortunado como se trata com uma planta delicada, tenra e sensível” (Beneficência Social, p. 168).

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

CEGUEIRA ESPIRITUAL

“Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da Tua lei” (Sl 119:18).

Entre todos os milagres de cura realizados por Jesus, os do restabelecimento da visão aos cegos sempre me fascinam. Os diversos métodos pelos quais Jesus recuperou a vista aos cegos incluem o toque – como no caso dos dois homens cegos (Mt 9:27-30), a saliva (Mc 8:22-26), o lodo (Jo 9) e por meio da palavra – simplesmente ordenando que o cego visse (Mc 10:52). Fosse qual fosse o método, o resultado era sempre o mesmo: o dom da visão era concedido a alguém que havia sido cego.

Contudo, maravilhosos como são os milagres de cura realizados por Jesus em favor dos fisicamente cegos, a Bíblia contém, igualmente, numerosas ocorrências em que Deus cura a cegueira espiritual, essa cegueira que impede aos aflitos a compreensão das verdades celestiais, a percepção do plano de Deus para sua vida. É plenamente possível para alguém possuir visão física 20/20 e ser espiritualmente cego.

Cegados pelo materialismo – “Então, o Senhor abriu os olhos a Balaão, ele viu o anjo do Senhor, que estava no caminho, com a sua espada desembainhada na mão; pelo que inclinou a cabeça e prostrou-se com o rosto em terra” (Nm 22:31). Momentos antes de ter os olhos abertos, Balaão havia recebido suborno para amaldiçoar o povo de Deus. Mesmo depois de o Senhor lhe haver falado explicitamente que não acompanhasse os embaixadores do rei moabita, ele não pôde suportar a idéia de perder os presentes valiosos e o dinheiro. Percebendo que seus esforços eram inúteis, os emissários estrangeiros voltaram para casa. Mas, em lugar de ser agradecido por haver sido poupado de uma tentação futura, em sua mente Balaão começou a deixar-se seduzir pela gratificação material. E quando o Senhor, por Sua graça, terminou com a jornada do profeta, bloqueando-lhe o caminho, Balaão estava de tal modo influenciado pela paixão da recompensa terrena diante dele que não conseguiu ver o que sua mula enxergava. Mesmo a fala miraculosa de uma besta de carga não lhe despertou o sentido espiritual.

Ellen G. White descreve a cena: “Balaão devia a conservação de sua vida ao pobre animal que tratara tão cruelmente. O homem que pretendia ser profeta do Senhor, que declarou estar ‘de olhos abertos’, e ver ‘a visão do Todo-poderoso’ (Nm 24:3 e 4), estava tão cego pela cobiça e ambição que não pôde divisar o anjo de Deus, visível para seu animal” (Patriarcas e Profetas, p. 442).

Balaão foi salvo da destruição imediata quando o anjo do Senhor misericordiosamente lhe abriu os olhos, concedendo-lhe a visão de dimensão espiritual. Então, ele se prostrou com temor da presença de Deus. Em nossa conduta materialista, nós também somos inclinados à cegueira. Mas, em Sua graça, o Senhor nos concede estímulo espiritual para restabelecer nossa visão.

Cegados pelo temor – “Orou Eliseu e disse: Senhor, peço-Te que lhe abras os olhos para que veja. O Senhor abriu os olhos do moço, e ele viu que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu” (2Rs 6:17).

Dotado de visão espiritual, Eliseu recebeu revelações divinas a respeito de atitudes específicas adotadas pelo rei da Síria. O rei, irado por terem sido frustrados os seus planos secretos contra Israel, enviou então um exército de busca para destruí-lo. Perseguindo Eliseu à aldeia de Dotã, os mercenários chegaram durante a noite, cercaram-no e prepararam-se para matálo. O servo de Eliseu, tendo-se levantado cedo para buscar água, percebeu que estavam completamente cercados pelos soldados inimigos. Tomado de terror, ele exclamou: “Ai! Meu senhor! Que faremos?” (verso 15)

Os capítulos 4, 5 e 8 de 2 Reis identificam o servo de Eliseu como Geazi, nome que significa “vale da visão”. De fato, sua visão física foi perfeita naquela manhã, pois ele divisou os soldados sírios ocultos em meio às árvores dos arredores. Sua visão espiritual, entretanto, estava ofuscada.

Eliseu lhe assegurou: “Não temas, porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles (2Rs 6:16). Entretanto, isso não foi o bastante. Sentindo que seu servo estava a ponto de ser completamente vencido pelo temor, Eliseu proferiu uma oração pedindo a Deus que curasse a cegueira espiritual de Geazi: “Senhor, peço-Te que lhe abras os olhos para que veja” (verso 17). Instantaneamente, o milagre foi realizado. O servo, trêmulo, viu incontáveis carruagens de fogo e cavalos, em número muito maior que o inimigo ameaçador.

Quando somos assaltados pelo temor diante de obstáculos intransponíveis, também podemos pedir que o Senhor nos abra os olhos espirituais.

Cegados pela auto-piedade – “Abrindo-lhe Deus os olhos, viu ela um poço de água, e, indo a ele, encheu de água o odre, e deu de beber ao rapaz” (Gn 21:19).

Perdida no deserto, a mãe chorava. Ao seu redor, nada mais havia além dos oceanos de areia escaldante. Ela não mais podia suportar ter que olhar para Ismael, seu filho adolescente, que desfalecia de sede. Após vários dias vagueando pelo deserto em áridos círculos, ela estava de volta ao mesmo lugar. Em certo sentido, o cenário era uma metáfora da vida dela. Muitos anos antes, ela havia estado em um deserto semelhante. Tendo concordado em servir de mãe substituta do filho de Abraão, sofreu desprezo e abuso despertados pelas paixões do ciúme. Depois que ela fugiu para o deserto, o anjo do Senhor disse que ela deveria voltar e concedeu-lhe a promessa de grandes bênçãos para seu filho que haveria de nascer.

Quinze anos depois, ciúmes latentes foram inflamados com o nascimento de Isaque. Novamente, Hagar encontrava-se no mesmo deserto em que havia estado antes. Seus sonhos estavam despedaçados, suas aspirações, desvanecidas. Até mesmo Deus parecia haver quebrado Suas promessas. Mas, quando tudo parecia perdido, um anjo do Senhor lhe apareceu. Enquanto ela se debatia em auto-piedade, deixava de perceber uma poderosa luz: Embora ela estivesse perdida no deserto, Deus não a havia perdido! O anjo lhe assegurou que Deus ouvira os gritos do filho dela e, então, um milagre ocorreu: Deus lhe abriu os olhos e ela viu um poço com água.

Deus havia conduzido Hagar ao poço, mas seus olhos turvados pelas lágrimas não conseguiram divisar Sua providência. Quando, em nossa própria experiência, formos levados ao deserto, bem faremos em buscar as fontes de água viva de Deus. Desespero e auto-piedade depressa produzem cegueira espiritual e morte. Mas, quando o Senhor nos abre os olhos para vermos Sua fonte, Ele nos promete que jamais teremos sede outra vez.

Cegados pela fadiga – “Pedro e seus companheiros achavam-se premidos de sono; mas, conservando-se acordados, viram a Sua glória e os dois varões que com Ele estavam” (Lc 9:32).

Ao aproximar-se o pôr-do-sol do ministério de Jesus na Terra, Ele procurou preparar os discípulos para o período de adversidade à frente deles. Depois de um dia inteiro de trabalho intenso, convocou Seus discípulos mais achegados para um retiro de oração na montanha. A princípio, eles uniram suas orações com a de seu Mestre, diz Ellen White, “em sincera devoção”. Mas, com o avanço das horas, eles foram “vencidos pela exaustão e falta de repouso. Mesmo empenhando-se por manter o interesse”, eles adormeceram (ver Spirit of Prophecy, vol. 2, p. 327.)

Enquanto eles dormiam, uma transformação magnífica ocorreu com Cristo. Moisés e Elias Lhe foram enviados para conceder-Lhe a certeza do triunfo na crise que se aproximava. Subitamente, despertando do sono, diz Ellen White que os discípulos “contemplam a visão sublime diante deles, [e] são tomados de êxtase e temor” (Ibidem, p. 330).

Recobrando os sentidos, eles contemplam a glória de Deus e conseguem captar parte do que o bendito Jesus havia planejado para eles. Eles teriam sido beneficiados muito mais, naquela ocasião, se não tivessem sido cegados pela fadiga física!

Quando nos envolvemos de tal maneira em nossos deveres terrenos, quando ficamos estressados pelos cuidados do dia-a-dia, em nossa sonolência espiritual, Deus escolhe momentos para nos abrir os olhos para as realidades celestiais. A exemplo dos discípulos, Ele nos desperta para a luz de Sua glória.

Cegados pela desesperança – “E aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando Ele o pão, abençoouo e, tendo-o partido, lhes deu; então se lhes abriram os olhos, e O reconheceram; mas Ele desapareceu da presença deles” (Lc 24:30 e 31).

Dois dos discípulos de Jesus estavam desesperançados acerca de Jesus, Sua mensagem e a igreja. Deixando Jerusalém atrás de si, estavam cegados ao voltar para Emaús. O movimento messiânico havia enfraquecido e se extinguira, como havia acontecido com outros antes dele. Maria e Pedro lhes haviam contado a respeito da tumba vazia, mas eles não podiam compreender que havia ocorrido justamente o maior evento da história cósmica.

Cristo uniu-Se a eles na jornada e procurou confortá-los. Queria que Seus ensinamentos lhes evocasse a memória para que O reconhecessem. Mas eles estavam tremendamente cegados pela desesperança. Ao chegarem em casa, Cristo permaneceu com eles. Ele mesmo deu graças e partiu o pão. Então, repentinamente aconteceu: eles reconheceram o Salvador! Subitamente como havia surgido, Jesus desapareceu. A cegueira espiritual dos discípulos, entretanto, foi curada. Tinham visto o Cristo ressurreto!

A desesperança havia desaparecido diante da glória de Deus. Revigorados, eles não mais sentiam fome. Deixaram tudo; voltaram para Jerusalém fazendo um retorno em U para a mensagem, para a igreja, para a comunhão com os apóstolos.

Em nossa vida, há ocasiões em que somos rodeados pelo desânimo, pela desesperança. Em nosso desvalimento podemos até receber lampejos de atos dos crentes fiéis. Nesses momentos, seremos tentados a voltar as costas para Deus e para a igreja. Porém, jamais devemos nos esquecer da última promessa que Cristo fez aos Seus seguidores, antes de ascender ao Céu: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28:20).

Abre meus olhos – Hoje, nos vangloriamos de nossa inteligência, porém nossa percepção espiritual é necessária a fim de que compreendamos adequadamente os eventos que nos circundam. O apóstolo Paulo escreveu que “o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2Co 4:4).

Cegueira espiritual, entretanto, não se limita apenas aos descrentes. Atualmente, há muitos que professam o nome de Jesus e ainda são incapazes de ver a manifestação de Seu poder em sua vida. Diagnosticando a raiz da cegueira, Paulo disse que “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1Co 2:14). Sem o discernimento espiritual, não podemos ver a beleza da glória de Deus mais que uma pessoa daltônica pode apreciar a beleza do arco-íris.

Outro alerta importante encontramos em Apocalipse 3:14-22. A mensagem de Jesus aos cristãos em Laodiceia é uma impressionante acusação, e é aplicável ao povo de Deus no tempo presente. A igreja de Laodiceia simboliza a situação espiritual da igreja de Deus perto do fim da história da Terra. Vejamos o que Ellen White diz: "Que maior ilusão pode sobrevir ao espírito humano que a confiança de se acharem justos, quando estão totalmente errados! A mensagem da Testemunha Verdadeira encontra o povo de Deus em triste engano, todavia sinceros em seu engano. Não sabem que sua condição é deplorável aos olhos de Deus. Ao passo que aqueles a quem se dirige se lisonjeiam de achar-se em exaltada condição espiritual, a mensagem da Testemunha Verdadeira derriba-lhes a segurança, com a assustadora acusação de seu verdadeiro estado de cegueira espiritual. Foi-me mostrado que a maior causa de o povo de Deus se achar agora nesse estado de cegueira espiritual é o não receberem a correção. Muitos têm desprezado as reprovações e advertências que lhes foram feitas. A Testemunha Verdadeira condena o estado morno do povo de Deus, o qual dá a Satanás grande poder sobre eles, neste tempo de espera e vigilância" (Testemunhos Seletos, vol. 1, pp. 327-333).

A perda da visão espiritual também afeta os líderes espirituais. Em Seus dias, Cristo advertiu contra os perigos de seguir os guias espirituais cegos: “Deixai-os; são cegos, guias de cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco” (Mt 15:14).

Se realmente quisermos enxergar as dimensões espirituais anteriormente invisíveis para nós, devemos pedir que Jesus nos abra os olhos. Então, responderemos como fez o cego que Jesus curou: “Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo” (Jo 9:25).

Daniel L. Honore (via Revista Adventista)

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

CONSOLADOR X ACUSADOR

"E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco" (João 14:16).

Há um contraste muito forte na Bíblia entre os nomes e papéis do Espírito Santo e de Satanás. Eles trabalham intensamente pelo coração humano, mas com objetivos completamente diferentes.

Consolador é uma das formas mais impactantes como o Espírito Santo é chamado. Esse termo é a tradução de uma expressão grega que se refere a alguém chamado para auxiliar como conselheiro, intercessor, mediador ou como advogado no tribunal. João chama o Espírito Santo dessa maneira quatro vezes em seu evangelho, e uma, em sua primeira epístola.

Ao referir-se ao inimigo, João usa o termo acusador (Ap 12:10). Aliás, essa é uma das principais funções de Satanás. Por isso, esse nome o retrata muito bem.

Nossas atitudes sempre demonstram qual desses poderes controla nossa vida. Infelizmente tem gente que confunde as coisas e age como acusador, dizendo ser usado pelo Consolador. Alguns chegam às igrejas com aparência de piedade; criticam a organização e a liderança sem fundamento ou espírito cristão, apresentam uma “nova mensagem”; têm um discurso unilateral, falando de um ou dois pontos doutrinários de forma insistente, ou aproveitam para semear dúvida na mente das pessoas.

A história do povo de Deus mostra que sempre houve esse tipo de pessoas. Qual foi o resultado? Crises, agitação, divisão, dor e apostasia. Isso vem do Consolador? Com certeza, não. No fim, esses movimentos ficam pelo caminho. Seus líderes desaparecem e abandonam seus seguidores, muitos dos quais não conseguem se refazer espiritualmente.

A Igreja, porém, avança firme. Mesmo frágil e defeituosa, ela é mantida pelo Senhor. No entanto, quanto mais perto da volta de Cristo, mais fortes, frequentes e insistentes serão esses movimentos. Essa é uma terrível estratégia do inimigo. Ellen White adverte: “Se Satanás não consegue prender as pessoas no gelo da indiferença, ele procurará impeli-las para o fogo do fanatismo” (Mente Caráter e Personalidade, v. 1, p. 38). A falta de equilíbrio sempre demonstra falta de Deus.

Nestes últimos dias, precisamos nos unir ao redor da verdade e da missão, mas sempre no espírito do Consolador e não usando as armas do acusador.

[via CPB - Ilustração Fusion Print]

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

NASCIDO DUAS VEZES

"Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã" (Salmo 30:5).

William James, em seu clássico The Varieties of Religious Experience (As Variedades da Experiência Religiosa), aplica a metáfora dos dois nascimentos para pessoas religiosas. Os que nascem “uma vez” são pessoas que atravessam a vida sem nunca experimentar complicações em sua fé. Eles podem ter dificuldades financeiras, desapontamentos, mas nunca atravessam tempos que realmente parecem contradizer sua experiência religiosa. A compreensão que eles têm de Deus, quando chegam à velhice, não é diferente do que aprenderam sobre Ele na infância.

Para James, os “nascidos duas vezes” são pessoas que atravessam enormes crises, chegando mesmo a perder a fé para então recuperá-la. E a nova fé é muito diferente daquela que foi perdida. Em vez de experimentarem apenas dias de céu azul, algumas vezes o Sol parece lutar para sair da tempestade, embora sempre consiga reaparecer. Deus, conforme eles apresentam, parece mais real. Ele não é simplesmente o “paizão” que sempre mantém os filhos “seguros e secos”. Ao contrário, Deus os capacita a prosseguir através da noite escura de um mundo perigoso. Esses são como um osso que quebra e depois de curado é mais forte no lugar em que se partiu. A fé manifestada por eles é mais forte do que antes, porque em algum momento aprenderam que podem depender de Deus e assim sobreviver às perdas e tragédias. Depois das desilusões, a fé é mais forte porque testemunhou que muito de sua antiga confiança eram apenas deuses falsos.

Imagino que os salmos foram escritos por pessoas que tiveram que lutar para descobrir onde Deus estava escondido na vida delas, e não por aqueles para quem Deus era muito óbvio. Presente, mas não óbvio. O salmo 30 é um exemplo disso. Atribuído a Davi, ele foi escrito por alguém recuperado de séria enfermidade, alguém liberto de um fosso de opressão, cercado de inimigos por todos os lados. Ele vai ao templo não como o adorador superficial, acostumado a repetir suas frases mecânicas. Ele, que se julgava inabalável (v. 6), descobriu que a caminhada com Deus não é um passeio no parque. Em tempos de grande tribulação, ele perdeu a fé simplória, substituindo-a por uma compreensão profunda de Deus, que aqui se revela em louvor e agradecimento. Ele aprendeu que o choro não dura para sempre. A alegria, cedo ou tarde, triunfa.

Amin Rodor (via Encontros com Deus)

"As provações da vida são obreiras de Deus, para remover de nosso caráter impurezas e arestas. Penoso é o processo de cortar, desbastar, aparelhar, lustrar, polir; é molesto estar, por força, sob a ação da pedra de polimento. Mas a pedra é depois apresentada pronta para ocupar seu lugar no templo celestial. O Mestre não efetua trabalho assim cuidadoso e completo com material imprestável. Só as Suas pedras preciosas são polidas, como colunas de um palácio. O Senhor trabalhará por todos os que nEle puseram sua confiança. Preciosas vitórias serão alcançadas pelos fiéis, inestimáveis lições aprendidas e realizadas valiosas experiências" (Ellen G. White - O Maior Discurso de Cristo, p. 10, 11).