Antes da abordagem psicanalítica do tema vamos à explicação técnica: o tal do pau de selfie foi o gadget que mais bombou no Natal passado. O acessório que acopla smartphones e câmeras GoPro tem alguns botões e uma interface Bluetooth e permite que selfies mais amplas sejam feitas sem que se corte a cabeça ou o braço de alguém. O produto garante ergonomia perfeita às capturas dos narcisos que andam em bandos vociferando em imagens a própria felicidade.
Os detentores de paus de selfie são pessoas que se tornaram objetos de seus próprios fascínios, cientes ou não de seu poder de atração, ou ainda da falta deste.
A ideia de esticar um cabo metálico de um metro no meio da galera para tirar uma foto da própria fuça estudando com afinco o melhor ângulo fez do ato de fotografar um verdadeiro vexame. A pandemia de selfies, se analisada como ato comportamental repetitivo, pode ser considerada tão grave quanto à expansão do Ebola.
Por trás das manobras que permitem que o fotógrafo seja fotografado, noto uma sede à divulgação dos "paradisíacos" relacionamentos humanos nas redes sociais. Quanto mais likes na autoimagem, mais bem quisto eu sou.
A busca pela popularidade revela a afinidade da sociedade atual com o mundo das fofocas e da aceitação, assim como a análise da imagem da vida alheia. Não importa o que eu sou, importa o que a foto mostra que eu seja e quantos likes eu ganho nela.
O modismo vem ancorado na vontade exagerada de ter a vida acessada deliberadamente nas redes sociais, não à toa as empresas de tecnologia foram obrigadas a evoluir a qualidade de suas câmeras frontais nos smartphones a fim de ganhar essa parcela de narcisistas disposta a pagar mais pelo gadget que ofereça o melhor enquadramento.
Tem gente que viaja o mundo e não consegue fotografar sequer um ponto turístico, toda atenção está voltada para o clique em si próprio. É possível que o egocentrismo cegue o ser humano para o que está a sua volta?
Como seria se espelhos circundassem seu corpo e para onde você olhasse encontrasse apenas a si mesmo? Uma overdose de você. Penso que o mundo tem muito mais coisas interessantes a oferecer, confere?
Nota: Num mundo saturado com o culto do narcisismo e do egocentrismo, o significado da vida pode ser achado em Deus e nEle somente — longe do eu e ancorado em fé, esperança e amor.
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