segunda-feira, 30 de setembro de 2019

O poder dos introvertidos

O que têm em comum Isaac Newton, Albert Einstein, Frédéric Chopin, Marcel Proust, George Orwell, Steven Spielberg, Mahatma Gandhi e Steve Jobs? Além de serem pessoas extraordinárias nos seus respectivos campos, todos revelam um traço característico: a introversão. 

No entanto, o que é exatamente a introversão? Para responder a essa pergunta, devemos fazer referência ao célebre texto Tipos Psicológicos, publicado em 1921 pelo psicanalista suíço Carl Gustav Jung, que viveu entre 1875 e 1961. Segundo Jung, os introvertidos são atraídos pelo mundo interior do pensamento e do sentimento, enquanto os extrovertidos são atraídos pelo mundo exterior das pessoas e do fazer. Os extrovertidos tendem a ser sociáveis e assertivos, ao passo que os introvertidos tendem a ser mais reservados, reflexivos e menos sociáveis. 

Jung observou ainda que “o introvertido e o extrovertido no estado puro não existem; se existissem, acabariam trancados num hospício”. 

DUAS TIPOLOGIAS
Cada um de nós, no íntimo, é um ser humano esplendidamente complexo, e os traços da introversão e da extroversão interagem com outros aspectos da nossa personalidade e da nossa história pessoal (gênero, etnia, educação, cultura, religião, família, escola, valores), dando vida a um variado leque de indivíduos, todos diferentes entre si e com pontos fortes e defeitos. 

Apesar disso, é importante compreender melhor esses aspectos da psicologia para nos conhecermos melhor e melhorarmos cada vez mais. O teste da página 20 poderá ajudar você a descobrir se pertence mais à esfera da introversão ou à da extroversão. 

Vamos analisar alguns fatores que caracterizam esses dois traços da personalidade humana. Veja como introvertidos e extrovertidos se relacionam com vários aspectos da vida: 

• Recuperação da energia. Os introvertidos “recarregam as baterias” ficando sozinhos, num ambiente silencioso, onde haja paz. Os extrovertidos, ao contrário, têm necessidade de socializar para se recarregarem. 

• Trabalho. Via de regra, os introvertidos trabalham mais devagar e com mais ponderação. Preferem dedicar-se a um desafio de cada vez e têm uma capacidade de concentração extraordinária. Os extrovertidos são o oposto. Tomam decisões com rapidez, não têm problemas em se empenharem em multitarefas e gostam de correr riscos. 

• Socialização. Os extrovertidos gostam de festas e companhia. Riem, contam anedotas e se sentem à vontade na presença de estranhos. Têm uma vida social muito ativa, cuidam dos relacionamentos interpessoais, telefonam, fazem convites para jantar. Os introvertidos também podem desfrutar de uma festa e divertir-se, mas, depois de pouco tempo, não veem a hora de voltar para casa a fim de usufruir da comodidade de estar de pijama e chinelos. Tendem a dedicar seus relacionamentos sociais a amigos, colegas ou familiares mais íntimos. 

• Comunicação. Os extrovertidos são grandes faladores e muito eloquentes. Preferem falar a ouvir e raramente ficam sem palavras. Como meio de comunicação, preferem o telefone. Os introvertidos ouvem mais do que falam e preferem expressar-se por escrito. 

• Fama e sucesso. Geralmente, os introvertidos não são atraídos pela riqueza, pelo sucesso ou pela fama. Ao contrário, os extrovertidos ambicionam fazer carreira e desempenhar papéis em que aparecem como protagonistas. 

• Rendimento no ambiente profissional. Os extrovertidos trabalham melhor em grupo, em que tendem a estar no centro das atenções. Os introvertidos trabalham melhor sozinhos e em ambientes silenciosos. 

• Período de férias. Os introvertidos preferem passar as férias lendo debaixo do guarda-sol ou fazendo passeios sozinhos. Os extrovertidos saem de férias para se socializar e praticar esporte em grupo. 

• Emoções ou sensações. Os introvertidos estão à vontade com estímulos reduzidos, apreciam um bom filme ou simplesmente preferem ler um livro. Os extrovertidos gostam de emoções fortes, como esquiar numa pista íngreme, saltar de paraquedas, correr numa moto e ir a uma festa para conhecer novas pessoas. 

Na prática, introvertidos e extrovertidos têm estratégias diferentes para enfrentar a vida, o trabalho, a amizade, a diversão e a comunicação. Os dois tipos têm aspectos positivos e negativos.

QUALIDADE VALORIZADA 
No entanto, a sociedade atual parece premiar mais a extroversão do que a introversão. Esta é, pelo menos, a tese defendida pela autora Susan Cain, uma introvertida diplomada por Harvard que destacou o sofrimento dos introvertidos no seu livro O Poder dos Quietos: Como os Tímidos e Introvertidos Podem Mudar um Mundo que Não Para de Falar (Agir, 2012). 

A maior parte das escolas, conforme enfatiza Cain, ensina os alunos a ser extrovertidos, expansivos, dominantes e a estar à vontade diante da turma. Muitos professores adotam uma técnica de ensino chamada “colaborativa”, desenvolvida em pequenos grupos. Em muitas escolas elementares, os bancos já não estão dispostos em filas voltadas para a cátedra, mas agrupados de quatro em quatro, para permitir atividades em grupo. Mesmo nas empresas se dá muito destaque ao trabalho em equipe. Às vezes, os escritórios são abertos e sem barreiras arquitetônicas, e muitas pessoas dividem o mesmo espaço. 

No mundo do trabalho, os candidatos devem demonstrar capacidade assertiva e competência relacional, além de conseguir tomar decisões rapidamente. Para fazer carreira, é preciso saber vender a própria imagem. As pesquisas científicas são mais facilmente financiadas no caso de cientistas que têm uma personalidade forte e segura, combinada com seus méritos efetivos. O mesmo é válido para os artistas, músicos e escritores, que, para promover suas obras, são ensinados a se sair bem nas entrevistas televisivas. 

A admiração pelos extrovertidos já existia entre os antigos gregos e romanos, para os quais a oratória (ou seja, a arte de falar em público para obter um consenso) era uma virtude digna do máximo respeito. Mesmo hoje, muitos cursos de desenvolvimento pessoal enfatizam, talvez de maneira exagerada, a capacidade de saber persuadir para prender a atenção do público. 

Nesse ponto, muitos introvertidos começam a se sentir inadequados em relação aos padrões do mundo moderno. Eles são rotulados pelos extrovertidos como tímidos, antissociais ou muito sensíveis. Por isso, alguns fingem ser extrovertidos e tentam ser o que não são. 

Contudo, segundo as pesquisas, os introvertidos perfazem entre 30% e 50% da população. Susan Cain exorta a reavaliar a introversão, porque aqueles que a têm revelam características únicas, que eles devem aprender a proteger como a um tesouro. Quais são? Calma, capacidade de ouvir, autonomia, criatividade, concentração, profundidade do pensamento, capacidade de inovar. 

Para a autora, os introvertidos são, acima de tudo, pensadores indispensáveis para que a civilização possa progredir, porque “a solidão é o verdadeiro catalisador para a inovação, enquanto a sociabilidade é o refúgio de quem é menos original e criativo”. 

Por isso, embora a sociedade queira que sejamos todos líderes, ousados, sociáveis, loquazes e apressados, devemos lembrar que, sem os introvertidos, o mundo não teria tido a lei da gravitação universal (Newton); a teoria da relatividade (Einstein); os “Noturnos” (Chopin); Em Busca do Tempo Perdido, de Proust; A Revolução dos Bichos, de Orwell; o filme A Lista de Schindler, de Spielberg; a desobediência civil não violenta, promovida por Gandhi; e a Apple, criada por Steve Jobs. 

Massimo Piovano (via Revista Adventista)

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Batismo de crianças - Qual o momento certo?

Talvez esse não seja um tema fácil de se falar. É possível que as opiniões sejam diversas, contudo, é necessário pensar a respeito deste assunto, e por isso queremos abordá-lo aqui.

Na Igreja Adventista do Sétimo Dia não são realizados batismos de crianças recém-nascidas, mas tem se tornado cada vez mais comum o costume de batizar crianças. Há alguns anos, as crianças na faixa etária de desbravadores eram batizadas, hoje, até os aventureiros têm sido batizados em nossas Igrejas. Isso, particularmente, me preocupa bastante!

As crianças ao longo de seu desenvolvimento vão adquirindo capacidades e conhecimentos que são fundamentais para a aquisição de novas capacidades e conhecimentos. Quando uma criança chega a escola, antes de aprender a fazer cálculos de equações de segundo grau ela precisa aprender a segurar o lápis, a ler e escrever, a somar números simples, só então terá capacidade de fazer algo mais complexo. Da mesma forma, é preciso atingir certo grau de maturidade para se tomar determinadas decisões, e por isso durante um bom tempo os pais tomam boa parte das decisões por seus filhos. Decidir pertencer à Igreja de Deus, e fazer um voto público de aceitação às doutrinas de Sua Igreja é algo bastante sério!! Deve ser feito com bastante entendimento e consciência! Será que as crianças tem capacidade de tomar essa decisão?

O que é preciso para batizar? Minimamente, a pessoa que decide pelo batismo deve entender o que é pecado, o que é salvação e o que é batismo. Entender é diferente de reproduzir algo que lhe foi ensinado. Quando fazemos algumas provas em nossa vida acadêmica decoramos diversas coisas, mas isso não significa que de fato entendemos. Na verdade, muitas vezes não há entendimento, mas mera reprodução de algo que foi ensinado.

Muitas crianças aprendem a dar belas explicações sobre coisas espirituais, mas não compreendem essas coisas que explicam. Com duas ou três perguntas é possível verificar que não há entendimento, ou até mesmo que não há maturidade ainda para este entendimento existir!

Às vezes, o que os pequenos querem é poder comer o pão da santa ceia, ou beber do suco de uva. Outras vezes, querem apenas passar pelas águas batismais porque veem outras crianças fazendo isso. Crianças são assim! Querem fazer o que veem os outros fazendo, e os adultos têm que estar atentos a isso. Ao convidar os homens a aceitar o batismo, Pedro disse: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados” (Atos 2:38). Uma criança que não entende de fato o que é pecado, como poderá se arrepender?

Ellen White diz que o batismo “simboliza arrependimento do pecado e começo de uma vida nova em Cristo Jesus” (Evangelismo, p. 309). Que nova vida as crianças iniciam quando saem do tanque batismal? Veja quão séria é a orientação da serva do Senhor:

“Os pais cujos filhos desejam batizar-se têm uma obra a fazer, já examinando-se a si próprios, já instruindo conscienciosamente os filhos. O batismo é um rito muito importante e sagrado, e importa compreender bem o seu sentido. Simboliza arrependimento do pecado e começo de uma vida nova em Cristo Jesus. Não deve haver nenhuma precipitação na administração desse rito. Pais e filhos devem avaliar os compromissos que por ele assumem. Consentindo no batismo dos filhos, os pais contraem em relação a eles a responsabilidade sagrada de mordomos, para guiá-los na formação do caráter. Comprometem-se a guardar com especial interesse esses cordeiros do rebanho, para que não desonrem a fé que professam. 

A instrução religiosa deve ser ministrada aos filhos desde a mais tenra infância; não num espírito de condenação, mas alegre e bondoso. As mães devem vigiar constantemente, para que a tentação não sobrevenha aos filhos de modo a não ser por eles reconhecida. Os pais devem proteger os filhos por meio de instruções sábias e valiosas. Como os melhores amigos desses seres inexperientes, devem ajudá-los a vencer a tentação, porque ser vitoriosos é quase sempre a sua sincera ambição. Devem considerar que os filhinhos, que procuram proceder bem, são os membros mais novos da família do Senhor, sendo o seu dever ajudá-los com profundo interesse a dar passos firmes na vereda da obediência. Com carinhoso zelo, devem ensinar-lhes dia a dia o que significa ser filhos de Deus e induzi-los a render-se em obediência a Ele. Ensinai-lhes que obediência a Deus implica obediência aos pais. Esse deve ser o vosso empenho de cada dia e de cada hora. Pais, vigiai; vigiai e orai, e fazei dos filhos os vossos companheiros. 

E quando enfim raiar a época mais feliz de sua existência, e, amando de coração a Jesus, desejarem ser batizados, procedei com reflexão. Antes de os fazer batizar, perguntai-lhes se o principal propósito de sua vida é servir a Deus. Ensinai-lhes então como devem começar; muito depende dessa primeira lição. Mostrai-lhes com simplicidade como prestar o primeiro serviço a Deus. Tornai essa lição tão compreensível quanto possível. Explicai-lhes o que significa entregar-se a si mesmos ao Senhor e, ajudados pelos conselhos dos pais, proceder como manda Sua Palavra. 

Depois de terdes feito tudo quanto vos foi possível, e eles revelarem ter compreendido o que significam a conversão e o batismo, e estarem verdadeiramente convertidos, deixai que se batizem. Mas, repito, disponde-vos de antemão a agir como pastores fiéis em guiar-lhes os inexperientes pés no caminho estreito da obediência. Deus tem de operar nos pais para que possam dar aos filhos bom exemplo em relação ao amor, à cortesia, humildade cristã e inteira devoção a Cristo. Se, porém, consentirdes em que os filhos sejam batizados e depois lhes permitirdes proceder como lhes apraz, não sentindo nenhuma obrigação de guiá-los pelo caminho estreito, sereis vós mesmos responsáveis pelo fracasso de sua fé, ânimo e interesse pela verdade.” (Evangelismo, pp. 309-311)

Há uma grande responsabilidade que recai sobre os ombros dos pais desde que um filho nasce. Contudo, fazer um compromisso com Deus através do batismo é uma responsabilidade ainda maior.

Para que a criança tenha suporte no lar para a decisão que está tomando de renunciar ao pecado e viver unicamente para Cristo, é preciso que seus pais vivam essa realidade de renuncia ao eu e ao pecado. Infelizmente, poucos adultos têm feito essa renúncia. Como seus filhos podem tomar decisões conscientes ao lado de Cristo?

Por duas vezes já vi crianças tomarem a decisão de adotar o regime vegetariano e não seguir adiante por falta de apoio dos pais (que eram líderes da Igreja). Sob a desculpa dos pais de que “eu não consigo parar de comer carne” uma decisão importante tomada por estas crianças foi afetada e estas crianças aprenderam que é difícil aderir ao regime que Deus nos orienta a seguir. Este é apenas um exemplo. Há muitas outras lutas da vida espiritual que os adultos ensinam às crianças que são difíceis, quando deveriam ensinar que Cristo nos dá poder para vencer.

Pais que se recusam a abrir mão do eu e dos desejos carnais não estão aptos a se responsabilizarem por crianças que tomam a séria e sagrada decisão do batismo. Nas palavras de serva do Senhor: “Se, porém, consentirdes em que os filhos sejam batizados e depois lhes permitirdes proceder como lhes apraz, não sentindo nenhuma obrigação de guiá-los pelo caminho estreito, sereis vós mesmos responsáveis pelo fracasso de sua fé, ânimo e interesse pela verdade.”

Reflita sobre isso!!!

Texto de Karyne M. Lira Correia

Leia também este artigo do pastor Erton Köhler na Revista Adventista sobre esse assunto

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Posso fazer uma pergunta idiota?

Você alguma vez já falou algo idiota – algo realmente muito idiota? Você já disse algo tão idiota que você se encolhe só de lembrar? Todos nós fazemos isso vez ou outra, não é mesmo? 

Poucas coisas são mais dolorosas do que perceber que fomos ignorantes ou arrogantes por meio de afirmações estúpidas ou por perguntas idiotas. Acho que a única coisa mais dolorosa é quando a nossa idiotice é respondida com raiva, ultraje ou zombaria. Essas coisas se somam com a dor e a vergonha do que fizemos.

A humilhação por meio das mídias sociais é a nova força de justiça, um meio de envergonhar alguém que o ofendeu até ele ficar quieto ou se arrepender. Jon Ronson apropriadamente comparou isso aos pelourinhos medievais ou às estacas nas praças coloniais. Ações ou palavras maliciosas são respondidas com um dilúvio de tuítes furiosos, mensagens ofensivas no Facebook, postagens nervosas nos blogs e memes sarcásticos. Algumas ações e comentários são tão perigosos e escandalosos que merecem repreensões imediatas que os desqualifiquem. O problema é que a resposta que damos contra a pior maldade também pode ser a resposta que damos contra alguém que fala ou faz algo meramente idiota. Nós acabamos por dar a mesma resposta como punição a duas coisas muito diferentes.

Jesus sabia algo sobre estupidez, não é verdade? Durante toda sua vida, Ele teve de lidar com intermináveis afirmações e perguntas estúpidas. Pense em todas as besteiras que as pessoas falaram para Ele: o infame jovem rico, que resumiu propriamente toda a lei e ousou falar: “Mestre, eu tenho guardado todos esses mandamentos desde a minha juventude”. Ele basicamente disse: “eu nunca pequei contra ti nem contra o Pai ou contra alguém que tu criaste”. Ignorante. “E Jesus, fintando-o, o amou…”. Jesus respondeu com amor e compaixão (Marcos 10:21). A mãe de Tiago e João se aproximou de Jesus em favor de seus filhos e pediu que eles tivesse um lugar proeminente no reino. Tola. Mas Jesus, gentilmente, respondeu, perguntando: “Não sabeis o que pedis. Podes vós beber o cálice que eu estou para beber?” (Mateus 20:22). Marta resmungou uma acusação: “Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha?” Duplamente besta. “Marta, Marta”, suavemente ele respondeu (Lucas 10:40-41).

Jesus respondeu dessa maneira porque essas pessoas eram sinceras, mesmo sendo sinceramente ignorantes. Elas eram tolas, desinformadas, não sabiam de coisas que deveriam saber. Mas não estavam sendo malévolas. Ele tinha espaço para reprovações, claro, mas as suas reprovações estavam reservadas para religiosos hipócritas, para pessoas que ele era singularmente capaz de identificar e confrontar como sendo inimigos de sua obra. Mas, com os outros, ele era gentil e cuidadoso. Ele permitia que dissessem tolices. Para amigos e estrangeiros, Jesus tratou a idiotice com bondade. Veja, eu acho que Jesus sabia algo: o caminho para a sabedoria está cheio de evidências de nossa inata insensatez. Antes de aprendermos a dizer coisas sábias, falamos coisas tolas. Antes de aprendermos o que é sábio e verdadeiro, inevitavelmente esbarramos no que é estúpido e falso. Nós temos pensamentos idiotas. Fazemos perguntas bobas. Afirmamos asneiras. É isso que fazemos quando estamos aprendendo.

As mídias sociais são o meio pelo qual nos comunicamos hoje. Também é por onde aprendemos. É o modo que encontramos novas ideias, a forma como as discutimos, a maneira como afirmamos nossas convicções. O que lemos nos jornais ou vemos na televisão nós levamos para o Facebook, blogs e Twitter. Lá, nós as ponderemos, avaliamos e decidimos se acreditamos ou não nelas. Mas imagino o tanto de coisas que não falamos e não perguntamos por medo da resposta. O quanto poderíamos saber e o quanto poderíamos discutir se o medo de sermos insultados não nos apartasse de explorar novas ideias ou de fazer novas perguntas? Sobre o que poderíamos falar, o que poderíamos aprender se tivéssemos a garantia da graça de poder fazer perguntas idiotas?

Nós devemos aprender com Jesus o valor de se estender graça às pessoas que falam coisas que soam ofensivas aos nossos ouvidos. Devemos ser pacientes, bondosos e perdoadores. Devemos ser realistas. Antes de esperarmos que as pessoas falem coisas sábias, primeiro devemos deixá-las falar coisas que são tolas.

Tim Challies | Traduzido por Victor Bimbato | Reforma21.org | Original aqui

"Todas as relações sociais exigem o exercício do domínio próprio, paciência e simpatia. Diferimos tanto uns dos outros em disposições, hábitos e educação, que variam entre si nossas maneiras de ver as coisas. Julgamos diferentemente. Nossa compreensão da verdade, nossas idéias em relação à conduta de vida não são idênticas sob todos os pontos de vista. Não há duas pessoas cuja experiência seja igual em cada particular. As provas de uma não são as provas de outra. Os deveres que para uma se apresentam como leves são para outra mais difíceis e inquietantes. 

Tão fraca, ignorante e sujeita ao erro é a natureza humana que todos devemos ser cautelosos na maneira de julgar o próximo. Pouco sabemos da influência de nossos atos sobre a experiência dos outros. O que fazemos ou dizemos pode parecer-nos de pouca importância, quando, se nossos olhos se abrissem, veríamos que daí resultam as mais importantes consequências para o bem ou para o mal. [...] 

Estudai cuidadosamente o caráter divino-humano, e inquiri constantemente: "Que faria Jesus em meu lugar?" Esta deve ser a medida do nosso dever. Não vos coloqueis desnecessariamente na companhia daqueles que, por suas astúcias, poderiam debilitar o vosso desejo de bem-fazer ou manchar a vossa consciência. Nada façais entre os estranhos, na rua, nos carros, em casa, que tenha a menor aparência de mal. Fazei cada dia alguma coisa para melhorar, embelezar e enobrecer a vida que Cristo resgatou com Seu próprio sangue. 

Agi sempre por princípio, nunca por impulso. Temperai a impetuosidade da vossa natureza pela doçura e bondade. Evitai toda a leviandade e frivolidade. Que nenhum vil gracejo escape de vossos lábios. Nem sequer aos pensamentos permitais correr a rédeas soltas. Devem ser dominados e conduzidos cativos à obediência de Cristo. Que eles estejam ocupados em coisas santas. Então, pela graça de Cristo, serão puros e verdadeiros." 

(Ellen G. White - A Ciência do Bom Viver, pp. 483-496)

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

É possível amar os inimigos?

O pastor protestante e ativista político Martin Luther King, Jr., prêmio Nobel da Paz em 1964, nascido em Atlanta, Estado da Geórgia, no dia 15 de janeiro de 1929, e assassinado no dia 4 de abril de 1968, com apenas 39 anos de idade, disse certa vez em um de seus sermões:

"Talvez nenhum ensinamento de Jesus seja, hoje, tão difícil de ser seguido como este mandamento do 'amai os vossos inimigos'. Há mesmo quem sinceramente julgue impossível colocá-lo em prática. Consideramos fácil amar quem nos ama, mas nunca aqueles que abertamente e insidiosamente procuram prejudicar-nos. Outros ainda, como o filósofo Nietzsche, sustentam que a exortação de Jesus para amarmos os nossos inimigos prova que a ética cristã se destina somente aos fracos e aos covardes, e nunca se pode aplicar aos corajosos e aos fortes. Jesus – dizem eles – era um idealista sem sentido prático. Apesar dessas dúvidas prementes e persistentes objeções, o mandamento de Jesus desafia-nos hoje com nova urgência. Insurreições sobre insurreições demonstram que o homem moderno caminha ao longo de uma estrada semeada de ódios, que fatalmente o conduzirão à destruição e à condenação. O mandamento para amarmos os nossos inimigos, longe de ser uma piedosa imposição de um sonhador utópico, é uma necessidade absoluta para podermos sobreviver. O amor pelos inimigos é a chave para a solução dos problemas do nosso mundo. Jesus não é um idealista sem sentido prático; é um realista prático. Estou certo de que Jesus compreendeu a dificuldade inerente ao ato de amar os nossos inimigos. Nunca pertenceu ao número dos que falam fluentemente sobre a simplicidade da vida moral. Sabia que toda a verdadeira expressão de amor nasce de uma firme e total entrega a Deus. Quando Jesus diz: 'Amai os vossos inimigos', não ignora a dificuldade dessa imposição e conhece bem o significado de cada uma das suas palavras. A responsabilidade que nos cabe como cristãos é a de descobrir o significado desse mandamento e procurar apaixonadamente vivê-lo toda a nossa vida."
 
A prova suprema do cristianismo genuíno é amar os inimigos. Jesus estabeleceu esse elevado padrão em contraste com a ideia predominante em Seu tempo. A partir do mandamento “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19:18), muitos haviam concluído algo que o Senhor jamais disse nem planejou: Você deve odiar seu inimigo. Certamente, isso não estava implícito no texto.

"Digo-vos, porém, a vós outros que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam." (Lucas 6:27, 28)

Um adversário pode demonstrar inimizade de três formas diferentes: Por uma atitude hostil (“vos odeiam”), por meio de palavras ofensivas (“vos maldizem”) e através de ações abusivas (“vos maltratam e vos perseguem” [Mt 5:44]). A essa tríplice expressão de inimizade, Cristo nos ensina a responder com três manifestações de amor: fazer boas ações para com eles (“fazei o bem”), falar bem deles (“bendizei”), e interceder diante de Deus por eles (“orai”). Vejamos o que Ellen G. White diz:

"Devemos amar os nossos inimigos com o mesmo amor que Cristo mostrou para com os Seus inimigos, ao dar Sua vida para salvá-los. Muitos podem dizer: 'Este é um mandamento difícil, pois eu quero ficar o mais longe possível de meus inimigos.' Mas agir de acordo com vossa natural inclinação não seria praticar os princípios que nosso Salvador nos deu." (Medicina e Salvação, p. 253)

O Senhor sabe que não se pode ser um crente genuíno tendo um coração cheio de ódio, mesmo quando existam razões que o justifiquem. A resposta do cristão à hostilidade e antagonismo é vencer “o mal com o bem” (Rm 12:21). Observe: Jesus primeiro pede que amemos nossos inimigos e, como resultado, solicita que demonstremos esse amor por meio de boas ações, palavras amáveis e oração de intercessão. Sem o amor inspirado pelo Céu, essas ações, palavras e orações seriam uma ofensiva e hipócrita falsificação do verdadeiro cristianismo.

Por que então devemos amar nossos inimigos? Quais razões foram apresentadas por Jesus?

"Se amais os que vos amam, qual é a vossa recompensa? Porque até os pecadores amam aos que os amam. Se fizerdes o bem aos que vos fazem o bem, qual é a vossa recompensa? Até os pecadores fazem isso. E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, qual é a vossa recompensa? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para receberem outro tanto. Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus." (Lucas 6:32-35)

A fim de nos ajudar a compreender esse elevado mandamento, o Senhor usou três argumentos. Em primeiro lugar, precisamos viver acima dos baixos padrões do mundo. Até mesmo os pecadores amam uns aos outros, e os criminosos se ajudam mutuamente. Qual seria o valor de seguir a Cristo, se isso não nos levasse a viver e amar de maneira superior à virtude dos filhos deste mundo? Em segundo lugar, Deus nos recompensará por amar nossos inimigos. Ainda que não amemos pela recompensa, Ele a concederá graciosamente para nós. Em terceiro lugar, esse tipo de amor é uma evidência de nossa estreita comunhão com nosso Pai celestial, que “é benigno até para com os ingratos e maus” (Lc 6:35).

Os ensinamentos de Jesus estabelecem um ideal tão elevado, de uma vida altruísta e amorosa, que a maioria de nós provavelmente se sinta oprimida e desanimada. Como podemos nós, egoístas por natureza, amar o próximo de maneira altruísta? Além disso, é possível amar os inimigos? Do ponto de vista humano, é absolutamente impossível. Mas o Senhor jamais nos pediria que amássemos e servíssemos os detestáveis e desprezíveis sem nos prover os meios com que alcançar isso. Sobre isso, Ellen G. White diz:

“Essa norma não é impossível de ser alcançada. Em toda ordem ou mandamento dado por Deus, há uma promessa, a mais positiva, a fundamentá-la. Deus tomou as providências para que nos tornemos semelhantes a Ele, e realizará isso para todos quantos não interpuserem uma vontade perversa, frustrando assim Sua graça.” (O Maior Discurso de Cristo, p. 76) 

Qual promessa está na base do mandamento de amar os inimigos? É a certeza de que Deus é bondoso e misericordioso para com os ingratos e maus (Lc 6:35, 36), o que nos inclui. Podemos amar nossos inimigos, porque Deus nos amou primeiro, embora fôssemos Seus inimigos (Rm 5:10). Quando diariamente reafirmamos nossa aceitação do Seu amoroso sacrifício por nós na cruz, Seu amor abnegado permeia nossa vida. Quanto mais compreendemos e experimentamos o amor do Senhor por nós, mais Seu amor fluirá de nós para os outros, até mesmo aos nossos inimigos. Ellen G. White afirma:

"Representemos diariamente o grande amor de Cristo, amando os nossos inimigos como Cristo os ama. Se assim representássemos a graça de Cristo, fortes sentimentos de ódio seriam subjugados e o amor genuíno de Cristo seria levado a muitos corações. Ver-se-iam muito mais conversões do que se vêem agora. (Medicina e Salvação, p. 254)

Nossa necessidade diária não é apenas a de aceitar novamente a morte de Cristo por nós, mas render nossa vontade a Ele e nEle permanecer. Assim como Jesus não buscou Sua própria vontade, mas a vontade do Pai (Jo 5:30), precisamos confiar nEle e em Sua vontade. Pois, sem Ele, nada podemos fazer (Jo 15:5). Quando a cada dia decidimos nos submeter a Jesus, Ele vive em nós e por meio de nós. Então “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2:20), e transforma minhas atitudes egocêntricas em uma vida amorosa e altruísta.

E se você estiver cercado de inimigos, busque a Deus em oração, recorra às preciosas instruções divinas de Sua Palavra, pois através desses meios o Espírito Santo impressionará o seu coração concedendo-lhe sabedoria divina, paz e confiança de que Deus estará sempre ao seu lado. Desse modo você poderá dizer como Davi: “O SENHOR é a minha rocha, a minha cidadela, o meu libertador; o meu Deus, o meu rochedo em que me refugio; o meu escudo, a força da minha salvação, o meu baluarte” (Salmos 18:2).

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Greta Thunberg, mudanças climáticas e a posição adventista

Com apenas 16 anos de idade, a ativista sueca conseguiu convocar grandes multidões depois de se manifestar sozinha todas às sextas-feiras para exigir que os líderes mundiais agissem contra as mudanças climáticas. Tudo começou em um inverno de agosto de 2018. Como fazia toda sexta-feira, Greta Thunberg havia deixado a escola para ficar em frente ao parlamento sueco com uma placa que dizia “greve escolar pelo clima”.
Ela manifestava diante da negligência e falta de ação dos líderes mundiais contra as mudanças climáticas, uma crise ecológica que tem muitas áreas do mundo em situações críticas. Greta ciente disso, tentou lidar da melhor maneira possível. Sozinha a princípio, mas depois conquistou muita gente e milhões foram adicionados às manifestações.

Em várias dessas sextas-feiras, Greta convocava alguns amigos. E depois, gradualmente, as pessoas foram se juntando ao ato semanal, sua pequena mobilização foi cativando dezenas e centenas de pessoas que, depois de ver a perseverança e convicção de Greta, decidiram se juntar a ela em sua luta. E não apenas o exemplo dela os comoveu, mas também o fato de que o mundo está em um período de inflexão no qual sérias medidas devem ser tomadas.
Atualmente, milhões de pessoas demonstram seguir o exemplo de Greta Thunberg, que ontem esteve em Nova York participando de eventos da ONU sobre a crise climática. Com seu discurso poderoso e convincente, que também é, acima de tudo, extremamente sincero, Greta continua a adicionar adeptos, forçando os líderes mundiais a se juntarem a ela e agirem contra aquecimento global.

“Nascemos neste mundo, teremos toda a nossa vida com esta crise. Nossos filhos, netos e gerações futuras também (…) Não vamos aceitar isso. Estamos em greve porque queremos um futuro e seguiremos em frente” – Greta disse à Reuters.

Segundo o prefeito da cidade de Nova York, nas ruas de Manhattan, mais de 60.000 pessoas manifestaram-se junto à Greta na grande marcha pelas mudanças climáticas. Uma grande demonstração de como sua influência cresceu e seu movimento se espalhou. [Com informações de UPSOCL]

Em tempos de discussão sobre mudanças climáticas, aquecimento global e outros temas, vejamos o que pensa a Igreja Adventista sobre cuidado do meio ambiente.

Os adventistas do sétimo dia, em nível mundial, já possuem declarações a favor da preservação do meio ambiente, mas sempre sob a ótica de preservação daquilo que Deus criou.

Na série Falando de Esperança, produzida pela Igreja Adventista do Sétimo Dia na América do Sul, o presidente da Igreja, pastor Erton Köhler, explica qual é o posicionamento da organização em relação ao assunto de preservação do meio ambiente e menciona preocupações relacionadas a aquecimento global e mudanças climáticas. “Estamos vendo tudo isso acontecer e o que temos individualmente para buscar o equilíbrio? Somos cristãos e é nosso dever cuidar da obra da criação de Deus. Para nós, essa é a principal motivação para cuidar do ambiente em que vivemos. Deus fez tudo e disse que era bom, mas, além disso, ordenou que o homem cuidasse do Jardim do Éden”.

Em 1995, em uma reunião administrativa mundial da Igreja Adventista, o tema de mudanças climáticas já havia sido objeto de debate. Ao final da discussão, ocorrida nos Estados Unidos, algumas declarações foram dadas oficialmente. Os adventistas se manifestaram e disseram que algumas medidas são necessárias para evitar os riscos desse fenômeno: cumprimento do acordo assinado no Rio de Janeiro (Convenção de 1992 sobre Mudanças Climáticas) a fim de estabilizar as emissões de dióxido de carbono por volta do ano 2000 a níveis de 1990; estabelecimento de planos para maiores reduções das emissões de dióxido de carbono após o ano 2000 e início de debates públicos mais eficazes sobre os riscos das mudanças climáticas.

Vejamos mais alguns trechos de duas declarações da Igreja Adventista sobre o meio ambiente:

"O mundo no qual vivemos é uma dádiva de amor do Deus Criador, que “fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Apocalipse 14:7; 11:17-18). Nesta criação, colocou os humanos, criados intencionalmente para relacionarem-se com Ele, com as outras pessoas e com o mundo ao redor. Assim, os adventistas do sétimo dia mantêm que a preservação e manutenção da criação estão intimamente relacionadas com o culto a Ele. [...]

A decisão humana de desobedecer a Deus interrompeu a ordem original da criação, resultando em uma desarmonia alheia a Seus propósitos. Desta forma, nossa atmosfera e águas estão poluídas, as florestas e a vida selvagem saqueadas, os recursos naturais esgotados. [...]

Os adventistas do sétimo dia estão comissionados a um relacionamento respeitoso e cooperativo entre as pessoas, reconhecendo nossa origem comum e compreendendo a dignidade humana como uma dádiva do Criador. Uma vez que a miséria humana e a degradação do meio ambiente estão inter-relacionadas, nós nos empenhamos por melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas. Nosso objetivo é manter um crescimento dos recursos atendendo concomitantemente às necessidades humanas.

O verdadeiro progresso quanto a cuidar de nosso ambiente natural recai sobre o esforço individual e cooperativo. Nós aceitamos o desafio de trabalhar em prol da restauração do desígnio global de Deus. Movidos pela fé em Deus, nós nos comprometemos a promover o progresso que se revela nos níveis pessoal e ambiental em pessoas íntegras e dedicadas a servir a Deus e a humanidade.

Neste compromisso confirmamos ser mordomos para com a criação de Deus e cremos que a restauração total se concretizará apenas quando Deus fizer novas todas as coisas."

Esta declaração foi aprovada e votada pela Associação Geral do Comitê Executivo dos Adventistas do Sétimo Dia na sessão do Concílio Anual em Silver Spring, Maryland, EUA, 12 de outubro de 1992.

"Os adventistas do sétimo dia creem que a espécie humana foi criada à imagem de Deus, assim representando a Deus como Seus mordomos, para dominar o ambiente natural de uma maneira fiel e frutífera.

Infelizmente, a corrupção e a exploração podem ser atribuídas à responsabilidade humana. Homens e mulheres têm se envolvido cada vez mais em uma destruição megalomaníaca dos recursos naturais, resultando em grande sofrimento, descontrole ambiental e ameaça da mudança climática. Conquanto a pesquisa científica precise continuar, as evidências confirmam que a crescente emissão de gases destrutivos, a diminuição da camada protetora de ozônio, a destruição maciça das florestas americanas e o chamado efeito estufa, estão ameaçando o ecossistema terrestre.

Estes problemas são, em sua maioria, devidos ao egoísmo humano e à egocêntrica atividade para obter mais e mais por meio do aumento da produtividade, do consumo ilimitado e do esgotamento de recursos não-renováveis. A causa da crise ecológica está na ganância humana e na opção de não praticar a boa e fiel mordomia dentro dos limites divinos da criação.

Os adventistas do sétimo dia defendem um estilo de vida simples e saudável, onde as pessoas não participam da rotina do consumismo desenfreado, da obtenção de posses e da produção exagerada de lixo. É necessário que haja respeito pela criação, restrição no uso dos recursos naturais, reavaliação das necessidades e reiteração da dignidade da vida criada.

Esta declaração foi aprovada e votada pela Comissão Administrativa da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia (ADCOM) e foi liberada pelo gabinete do presidente, Robert S. Folkenberg, na sessão da Associação Geral em Utrecht, Holanda, de 29 de junho a 8 de julho de 1995.

Ellen G. White também foi uma forte defensora do cuidado com o meio ambiente. Sua consciência ambiental veio de duas fontes: as Escrituras e a inspiração vinda de Deus.

"Mas o que sobre todas as demais considerações deve levar-nos a apreciar a Bíblia é que nela está revelada aos homens a vontade de Deus. Ali aprendemos o objetivo de nossa criação e os meios pelos quais esse objetivo pode ser atingido. Aprendemos a melhorar sabiamente a presente vida, e a conseguir a futura." (Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, p. 53)

Em relação à poluição atmosférica, ela afirmou: 

"O ambiente material das cidades constitui muitas vezes um perigo para a saúde. O estar constantemente sujeito ao contato com doenças, o predomínio de ar poluído, água e alimento impuros, as habitações apinhadas, obscuras e insalubres, são alguns dos males a enfrentar." (A Ciência do Bom Viver, p. 365)

Adão e Eva perderam o ambiente perfeito do Éden por causa do pecado. Estamos novamente correndo o risco de perder o nosso meio ambiente por causa dos pecados do materialismo, ganância, poluição e desprezo dos recursos ambientais. Em Cristo, podemos ser restaurados à imagem de Deus, uns com os outros e com a natureza. O cristão não deve olhar só para a frente, para a restauração final da Terra ao seu estado original, mas também honrar a Deus hoje, cuidando de forma responsável do planeta que Ele lhe confiou.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Filmes, Internet e a Igreja: o que precisamos entender

O objetivo principal deste artigo é discutir como os filmes podem ser uma ferramenta importante para a Igreja compartilhar o evangelho.

Assistir a filmes é uma questão sensível para muitos cristãos. Alguns rejeitam todo tipo de filme, e há outros que não rejeitam filmes de nenhum tipo. Isso não significa que não haja padrões para um cristão quando se trata de filmes, mas indica que é necessário equilíbrio e discernimento quando o assunto é esse[1].

Os filmes são um meio poderoso de comunicação e têm um profundo impacto na cultura. Histórias contadas por meio de filmes podem capturar nossa atenção e estimular nossa imaginação como nenhuma outra mídia faz. Assistir a um filme é diferente de estar em um museu observando uma obra-prima. Eles têm imagens e sons dinâmicos que captam os nossos sentidos de uma forma que perdemos a percepção do mundo à nossa volta.

Os filmes facilitam a memorização de histórias e simplificam a compreensão de conceitos complexos ou abstratos. Anos depois de assistir a um filme é possível lembrar dos detalhes que mais nos impactaram e recontar a mesma estória[2]. Além disso, eles também têm o poder para influenciar o comportamento das pessoas para o bem ou para o mal. Alguns dos roubos e crimes mais elaborados da atualidade foram inspirados em filmes[3]. Sendo assim, se os filmes apresentam essa capacidade tão grande de influência, será que também podem ser eficazes no ensino de valores morais e espirituais?

Crescimento do consumo de filmes
Foi a partir de 1950 que os aparelhos de TV se popularizaram e se tornaram parte essencial da mobília das casas. Desde então, o consumo de filmes cresceu como parte do cotidiano de bilhões de pessoas. Mais recentemente, com o surgimento da Internet e dos smartphones, o número cresceu ainda mais. Isso porque agora podemos carregá-los na palma da mão e escolher onde e quando queremos assistir. Estima-se que um americano assiste, em média, s 5.000 filmes em toda sua vida, mas esse número está em crescimento[4]. Acredita-se que até 2024, os conteúdos nesse formato vão consumir 74% de todo o tráfego da Internet e até 2028 o consumo de vídeos crescerá seis vezes mais[5].

De acordo com o IMDB, desde 1900 havia uma média de 2.577 filmes produzidos por ano em todo o mundo, mas na última década esse número mais que triplicou chegando a 9.387 filmes por ano. Porém, isso ainda não captura o incrível crescimento que está ocorrendo na indústria com a chegada da Internet e mais filmes sendo produzidos apenas para o meio digital[6].


Gráfico: Crescimento mundial na produção de filmes

Filmes e a Igreja Adventista
Logo que indústria cinematográfica iniciou, cristãos viram nessa mídia uma oportunidade para compartilhar o evangelho. O primeiro filme cristão produzido foi o The Manger to the Cross or Jesus of Nazareth, em 1912 e que foi filmado no Egito e na Palestina retratando a história de Jesus[7] . O primeiro filme da Igreja Adventista no mundo, não se sabe ao certo qual foi, mas na América do Sul se tem notícia de que, em 1969, a igreja de Costín, na Argentina, produziu um filme, que mais tarde foi melhorado e distribuído pela Divisão Sul-Americana.

Esse primeiro filme foi chamado de A Vitória Final e era baseado nos últimos capítulos do livro O Grande Conflito (feliz7play.com/o-grande-conflito). O enredo alertava para os eventos finais da história. Embora algumas experiências e curtas-metragens tenham sido produzidos após isso, foi somente em meados de 2017 que a igreja começou a produzir filmes sistematicamente em português e espanhol, para alimentar a demanda da recém-criada plataforma de vídeos Feliz7Play.com.

Com o Feliz7Play.com, a Igreja Adventista entendeu que os filmes poderiam ser:

1. Uma ferramenta importante para o evangelismo;
2. Usados para fortalecer o conhecimento bíblico dos adventistas;
3. Usados para comunicar valores morais e doutrinários às novas gerações.

Contudo, a Igreja Adventista não foi a única a entender o poder dos filmes. Até o momento, muitas outras igrejas criam plataformas de filmes e vídeos para compartilhar suas crenças como, por exemplo, os mórmons, os católicos e muitas igrejas pentecostais.

Adventistas, filmes e o evangelismo
Na Igreja Adventista, o uso de filmes não é algo recente. A Revista Adventista de abril de 1939 descreve o pastor Leo Halliwell. O missionário utilizava recursos audiovisuais em suas viagens missionárias pelo rio Amazonas. Durante o dia, ele cuidava da saúde física da população e, à noite, exibia filmes sobre a vida de Jesus[8]. O objetivo da Igreja Adventista, com o uso de filmes, sempre foi o de usá-los como um meio e não como um fim em si mesmo, ou seja, como método de evangelismo e não como entretenimento[9].

Atualmente, na era da comunicação digital, mais pessoas seguem assistindo os filmes adventistas e sendo impactadas por eles na Internet. Por exemplo, o filme O Resgate, lançado em 2017, ultrapassou 1,4 milhões de visualizações no Youtube [10] e o filme Libertos – O Preço da Vida chegou a 1,2 milhões de visualizações[11]. Algumas pessoas expressam alegria e gratidão ao entender de forma mais real o sacrifício de Jesus (assista as reações do filme O Resgate aqui). Ainda existem histórias interessantes de pessoas que se tornaram adventistas após assistirem os filmes.

As formas de se levar o evangelho podem diferir com o passar do tempo, mas o princípio da mensagem deve permanecer inalterado. No início do adventismo, a mídia impressa com texto e imagens estáticas era o principal meio para influenciar pessoas e a igreja usou intensamente esse recurso.

Mas, hoje, temos várias ferramentas tecnológicas com as quais os pioneiros nunca sonharam. E que levam áudio, imagens em movimento e geram maior impacto na vida das pessoas. O conselho inspirado para nossos dias é que a igreja aproveite todos os recursos à sua disposição a fim de cumprir a missão que Jesus deixou. “Novos métodos precisam ser introduzidos. O povo de Deus tem que despertar para as necessidades da época em que vive”. (Ellen White, Evangelismo, p. 70).

Você pode conferir algumas histórias interessantes sobre os resultados dos filmes adventistas nos links abaixo:




Para saber mais sobre o tema, leia:




Carlos Magalhães (via Igreja Conectada)

Referências:
[1] Horner, Grant. Meaning at the Movies: Becoming a Discerning Viewer (p. 16). Crossway. Edição do Kindle.
[2] Ibdem.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Recapitulando nossas crenças fundamentais

As 28 Crenças Fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia expressam a unidade da igreja mundial em torno dos principais ensinamentos bíblicos e nos relembra que, como adventistas, temos uma história para contar – a história de Deus e de nosso relacionamento com Ele, em Jesus Cristo. Cada crença apresenta uma declaração concisa sobre determinado aspecto do plano de Deus para a salvação e aponta nosso lugar nesse plano.
Entretanto, essas declarações de crença não são um fim em si mesmas. Elas nos conduzem à Bíblia que, como a “infalível revelação da vontade [de Deus]”, transmite essencialmente “o conhecimento necessário para a salvação”, constitui “o padrão de caráter, a prova da experiência, o revelador definitivo de doutrinas”, e contém “o registro fidedigno dos atos de Deus na História” (ver a Crença Fundamental 1).
Este artigo traz como argumento que as 28 Crenças Fundamentais do adventismo são resumos da grande narrativa bíblica e, desse modo, mostra que somente a Bíblia apresenta respostas coerentes e confiáveis para questões centrais da vida, como: Qual é o principal fundamento da realidade? Quem somos nós? O que está errado e qual é a solução? Como devemos viver? Para onde vamos? 
De acordo com a Bíblia, Deus Se mantém como a base da realidade e, portanto, provê o fundamento no qual os seres humanos podem existir e dar sentido à sua vida. É verdadeiramente significativo que nossa primeira declaração de crença afirme a convicção bíblica de que Deus fala a nós de tal maneira que aqueles cuja mente é iluminada pelo Espírito Santo conseguem entender a revelação que Deus faz de Si mesmo nas Santas Escrituras. Ao contrário do pensamento extra-bíblico que retrata a Divindade como incapaz ou não disposta a Se comunicar com os habitantes da Terra, a Bíblia afirma que Deus, um Ser pessoal, pode e realmente revela Seu caráter, Seus atos, Sua vontade e planos para o ser humano em Sua Palavra escrita.
Desse modo, a compreensão da Bíblia como a revelação de Deus apresenta o fundamento para todas as outras declarações de crença que se seguem, iniciando com as próximas quatro que conduzem à compreensão bíblica de Deus. Aceitamos o ensinamento bíblico de um Deus que existe em uma unidade de três Pessoas co-eternas: Pai, Filho e Espírito Santo. Embora alguns tenham negado a realidade ou a utilidade da declaração bíblica de um Deus triúno, esse ensinamento bíblico sobre a natureza da Divindade não pode deixar de ser enfatizado.
Por exemplo: “Somente um Deus que é triúno pode ser um Deus pessoal e, portanto, um Deus de amor. O amor humano não pode refletir a natureza de Deus, a menos que Deus seja uma trindade de pessoas que vivem em união e comunhão. Uma mônada solitária não pode amar e, como não pode amar, também não pode ser uma pessoa. E se Deus não fosse um Deus pessoal, também não poderíamos ser – e se não fôssemos pessoas, não poderíamos amar” (Robert Letham, “God Is Love”, Tabletalk Magazine, maio de 2004, p. 9). Portanto, mais do que um conceito teológico, o ensinamento bíblico sobre a Trindade apresenta os fundamentos para nossa compreensão de Deus, para nosso relacionamento com Ele e a fé Nele. A partir dessa compreensão, emanam todos os demais aspectos do plano da salvação e da vida cristã. Assim, a convicção bíblica absoluta de que Deus nos ama não somente dá significado à nossa vida aqui e agora – ela também fundamenta nossa experiência de fé em uma vida eterna com Deus no mundo porvir.
De extrema importância para os cristãos adventistas do sétimo dia é o conceito da criação. Com relação a isso, a narrativa bíblica fica em flagrante contraste com a cosmologia moderna que concebe o cosmos como um sistema autogerador, vindo a produzir seus processos biofísicos e astronômicos sem qualquer causa fora de si mesmo (ver Roy R. Gould, Universe in Creation: A New Understanding of the Big Bang and the Emergence of Life [Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 2018] e Stephen Hawking, Brief Answers to the Big Questions [New York: Bantam Books, 2018]).
Segundo as Escrituras, Deus criou o mundo em seis dias literais e descansou no sétimo dia (Gênesis 2:1-3). Deus criou o homem e a mulher como obra-prima de Sua atividade criadora (Gênesis 1:26-28; 2:7). Entretanto, os seres humanos não existem para si mesmos, mas vivem em relacionamento uns com os outros – para compartilhar a Terra com outras criaturas e exercer seu cuidado como mordomos responsáveis sobre toda a criação. Os seres humanos são a imagem de Deus introduzida no mundo. Como tal, devem representar Deus para a ordem criada. É nisso que reside o valor e a dignidade dos seres humanos, e a base fundamental para os direitos humanos. De todos os seres criados, é dito que apenas os humanos foram criados à imagem de Deus. Por outro lado, quando comparamos o poder e a grandeza do Deus criador e as dimensões cósmicas da realidade, vem-nos à lembrança: “Que é o homem, para que com ele Te importes? E o filho do homem, para que com ele Te preocupes?” (Salmo 8:4).
Na verdade, somos criaturas muito frágeis. Viemos do pó e ao pó retornaremos. E, ao contrário das opiniões não bíblicas sobre a humanidade, não fomos criados com uma alma imortal, mas como uma unidade holística de corpo, mente e espírito, e dependemos de Deus para a vida, respiração e tudo o mais. Essa compreensão da natureza humana é essencial em relação a algumas doutrinas bíblicas, como a do juízo investigativo e a ressurreição (na verdade, a suposição de que a alma da pessoa vai para o Céu após a morte torna o juízo investigativo e a ressureição dos mortos desnecessários, para não dizer sem sentido).
Ao mesmo tempo, porém, nos lembramos de que, quando ao ser humano: “Tu o fizeste um pouco menor do que os seres celestiais e o coroaste de glória e de honra. Tu o fizeste dominar sobre as obras das Tuas mãos; sob os seus pés tudo puseste” (Salmo 8:5, 6).
Então, afinal, quem somos nós? Com base em uma perspectiva secular, conforme Pascal observou, os seres humanos são incorruptos ou incuráveis. Mas a boa coisa é que: “A religião cristã sozinha foi capaz de curar esses dois vícios, não por excluir um por meio do outro, de acordo com a sabedoria do mundo, mas excluindo ambos segundo a simplicidade do evangelho, pois ele ensina os justos e os eleva até mesmo a uma participação na própria Divindade; que, neste estado sublime, eles ainda carregam a fonte de toda a corrupção que os torna sujeitos ao erro, à miséria, à morte e ao pecado durante toda a sua vida, e proclama aos mais ímpios que eles podem receber a graça de seu Redentor” (Blaise Pascal: Thoughts, Letters, and Minor Works, Part 48 Harvard Classics, Charles W. Eliot, ed. [New York: P. F. Collier & Son, 1910], p. 149).
Em comparação com o Criador e as dimensões cósmicas da realidade criada, os seres humanos são menos que nada, isto é, são pó (Jó 10:9). No entanto, por terem sido criados à imagem de Deus, a Quem nem mesmo o pecado pode obliterar, os seres humanos são a obra-prima da criação de Deus e o alvo supremo de Seu plano redentor (João 3:16).
Por mais que apreciemos a vida, sabemos que há alguma coisa fundamentalmente errada com a realidade, quando a vivenciamos. O horroroso espectro do mal paira por todo lado. Os seres humanos, às vezes, fazem coisas terríveis aos seus semelhantes, a outras criaturas e ao próprio meio ambiente. Ao relatar que aconteceu algo errado com a boa criação de Deus, as Escrituras revelam a realidade do pecado. Um conflito cósmico teve início no Céu, na própria sede de governo do Deus do Universo (Isaías 14:12-15; Ezequiel 28:12-19). Uma das mais elevadas criaturas se rebelou contra Deus e, ao ser expulsa do Céu, foi bem-sucedida ao trazer o pecado para o nosso planeta. Assim, o conflito que iniciou no Céu se espalhou por toda a Terra e provocou grande devastação em toda a criação de Deus.
Nossos primeiros pais transgrediram as ordens de Deus no Éden e fizeram com que o pecado afetasse Sua criação. Desde então, uma batalha cósmica se seguiu entre Deus e as forças do mal. Entretanto, “na plenitude dos tempos” (Gálatas 4:4), Deus enviou Seu Filho Jesus para reverter o pecado de Adão e Eva (Romanos 5). Foi isto que Jesus disse a Nicodemos naquela memorável conversa na calada da noite: “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o Seu Filho Unigênito, para que todo o que Nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). Por meio de Seu sacrifício na cruz, Jesus fez a provisão para o perdão de cada um de nós, pois somente Aquele que é totalmente Deus poderia fazer a expiação pelos nossos pecados. Mas Ele também, “tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público”, tornando conhecidos os resultados do mal diante do Universo (Colossenses 2:14, 15). Assim, embora a entrada do pecado tenha causado danos à criação de Deus e trazido tanto sofrimento às Suas criaturas, ao aceitarmos Jesus, somos restaurados à completa comunhão com Deus enquanto aguardamos o tempo em que toda a criação será redimida do pecado e de suas consequências.
É interessante notar que mais de um terço das nossas Crenças Fundamentais dizem respeito a como devemos proceder em nossa vida, à luz da narrativa bíblica.
Assim, somos lembrados de que Cristo nos garantiu a vitória sobre as forças do mal. Elas nos apresentam também algumas perspectivas em relação à igreja, ao remanescente, aos dons espirituais, à força permanente da lei de Deus, à mordomia, estilo de vida e família.
Vale lembrar que, nos tempos antigos, o sucesso de uma pessoa estava ligado ao de sua família ou aldeia, ou aos seus sócios. As pessoas encontravam significado para sua vida na comunidade.
A nossa época, por sua vez, é marcada por um individualismo quase patológico. Nossa competitividade pelo sucesso pessoal tem a tendência de nos tornar indiferentes ao papel espiritual da igreja e da família.
Temos a inclinação de assumir que nossas escolhas pessoais são algo que pertence exclusivamente a nós, e ao mesmo tempo nos esquecemos de que nossas palavras, convicções e estilo de vida exercem seu impacto sobre aqueles que estão ao nosso redor. Esse conjunto de declarações nos faz lembrar de como devemos viver, não somente como cristãos, individualmente, mas também como membros do corpo de Cristo.
Na verdade, não existimos apenas como indivíduos, mas como parte de uma comunidade de crentes.
A experiência da salvação não deve ficar confinada à vida particular de cada um, pois é algo que deve ser apreciado e compartilhado com a comunidade de crentes, onde as pessoas alcançam todo o seu potencial em união com Cristo e no serviço para Ele. Em outras palavras, somos chamados para ser discípulos de Jesus e viver um estilo de vida com base no amor e no serviço aos outros. Desse modo, vivemos um estilo de vida alternativo, comprometidos a seguir Jesus e imitá-Lo em nosso relacionamento com o nosso próximo. Embora estejamos vivendo neste mundo, aguardamos ansiosamente a concretização futura do eterno reino de Deus no mundo vindouro.
A futura inutilização do Universo, predita pela cosmologia científica, encontra sua contrapartida na experiência pessoal e social da desesperança galopante que se alastra na sociedade moderna. De acordo com o modelo cosmológico padrão, a história cósmica teve início com o Big Bang, há cerca de 13,8 bilhões de anos e, dentro de mais alguns milhões de anos poderá acabar tanto como uma batata frita ou será destruída por congelamento (Ver Jonghyung Kim, “Cosmic Hope in a Scientific Age: Christian Eschatology in Dialogue with Scientific Cosmology” [Ph.D. diss., Graduate Theological Union, 2011]; John Davis Jefferson, “Cosmic Endgame: Theological Reflections on Recent Scientific Speculations on the Ultimate Fate of the Universe,” Science & Christian Belief 11: 1 [1999], p. 15-27).
Entretanto, diante de um cenário de desespero e sem significado como esse, a história bíblica culmina em um futuro de esperança para o Cosmos e para a humanidade. Essa esperança, deve-se salientar, está fundamentada na Divindade (Provérbios 23:18; Salmo 39:8). As Escrituras nos asseguram que a realidade atual, do mal e do sofrimento, dará lugar a uma nova criação. As Crenças Fundamentais 21 a 28 apresentam claros resumos dessa história maravilhosa: Cristo está no santuário celestial ministrando em nosso favor e está providenciando tudo de que necessitamos (Hebreus 8:1, 2); Jesus virá em breve para levar Seu povo ao lugar que Ele preparou (João 14:1-3); a morte será tragada pela vitória (1 Coríntios 15:54); no Céu, após a Segunda Vinda de Jesus, os salvos passarão por um tempo de reflexão e juízo (Apocalipse 20); e, finalmente, Deus fará a Terra toda nova outra vez (Apocalipse 21:1) Portanto, pela graça e poder de Deus, podemos resistir às impressões de abandono e sentimentos de desespero.
Essa esperança, segundo as Escrituras, serve como “uma âncora da alma” (Hebreus 6:19). Até que o reino venha em sua plenitude, podemos viver nessa esperança e fazer com que nossa vida seja significativa neste mundo.
Sabemos que nossa história não terminará em morte nem com a destruição do Cosmos. Nossa história culminará na ressurreição para a vida eterna a todos os que crerem e no estabelecimento do novo Céu e da Nova Terra.
CONCLUSÃO
As 28 Crenças Fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia nos lembram de que estamos unidos em nossa compreensão da Bíblia. Em verdade, o fato de podermos nos considerar parte da história bíblica permite confrontarmos a aparente desesperança da condição humana. Podemos nos sentir encorajados com a promessa de que “nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 8:38, 39). Portanto, podemos esperar o futuro com alegre expectativa, porque o melhor ainda está para vir.
Ellen White expressou com rara beleza essa consumação final: “O grande conflito terminou. Pecado e pecadores não mais existem. O Universo inteiro está purificado. Uma única palpitação de harmonioso júbilo vibra por toda a vasta criação. Daquele que tudo criou emanam vida, luz e alegria por todos os domínios do espaço infinito. Desde o minúsculo átomo até o maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é amor” (O Grande Conflito, 1993, p. 678).
ELIAS BRASIL DE SOUZA, PhD, é diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, em Silver Spring, Maryland (EUA)
(Artigo publicado originalmente na edição n° 1 de 2019 da revista Diálogo)

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

A exaustão emocional é bem pior do que o cansaço físico

A vida nunca foi fácil, mas parece que, ultimamente, as coisas pioraram bastante. Existem mais pessoas, mais lugares, mais histórias tendo que conviver juntas, mas as relações compassadamente se fragilizam. Há mais estresse, mais horas de trabalho e isso tudo acaba exaurindo as energias de qualquer um.

A vida moderna nos obriga a passar grande parte de nosso tempo trabalhando. Sob a ótica vigente, de que quanto mais se consome mais gente se é, torna-se necessário um consumismo desenfreado, para que nos vejam como alguém que existe de fato. Junto com o consumismo, caminha a valorização das aparências, da ostentação de grifes, tanquinhos e dentes brancos. E haja dinheiro para poder lapidar o corpo, à imagem e semelhança do estereótipo midiático da perfeição.

Passamos a nos preocupar tanto com o que está lá fora, que acabamos nos esquecendo de ouvir o ritmo de nossa alma, de nosso coração. A busca frenética pelo exterior de contos de fadas nos torna descuidados com os sentimentos, com a essência, com tudo o que realmente vale a pena. Temos que ser bonitos, magros, felizes e ter um salário pomposo. Temos que engolir o choro, pois fraqueza é feio. Temos que ser fortes o tempo todo, mas isso é impossível, ou seja, sofremos todos. Em silêncio.

É preciso, portanto, parar, demorar-se, ouvir o silêncio, pois é assim que conseguimos prestar atenção em nós mesmos. É preciso estar atento aos sinais que nosso corpo manda, às vezes de forma bem discreta, para que o volume das pendências emocionais não cresça e sufoque nossa força, nossas esperanças, nossa fé. É preciso prestar atenção nas dores do corpo, sim, mas sem negligenciar as dores de nossa alma.

A exaustão emocional é mais massacrante do que o cansaço físico, porque, na maioria das vezes, temos vergonha de admitir que não vamos dar conta, que não estamos aguentando, que estamos fracos. Muitas vezes, a gente tem vergonha de chorar. Mas não deveríamos, não poderíamos. Como se vê, é mais fácil repousar um corpo dolorido do que acalmar uma alma exausta.

Atualmente, as doenças de origem emocional têm se tornado epidêmicas. Isso se deve às condições inerentes às pessoas e também ao ambiente degradado e relações interpessoais complicadas que caracterizam os tempos em que vivemos. Os fatores agressivos ou estressantes são cada vez mais poderosos, cobrando de nós uma importante capacidade e energia para compreender, avaliar e gerenciar as exigências ou dificuldades, antes que se transformem em problemas, preocupações, angústia, medo ou depressão. 

Inspirada por Deus, Ellen G. White nos deixou valiosos conselhos que foram extraídos de seu livro Como lidar com as Emoções. Deixo aqui apenas três:

1. Achamo-nos num mundo de sofrimento. Dificuldades, provações e dores nos aguardam em todo o percurso para o lar celestial. Muitos existem, porém, que tornam duplamente pesados os fardos da vida por estarem continuamente antecipando aflições. Se têm de enfrentar adversidade ou decepção, pensam que tudo se encaminha para a ruína, que a sua situação é a mais dura de todas, e que vão por certo cair em necessidade. Trazem assim sobre si o infortúnio e lançam sombras sobre todos os que os rodeiam. A própria vida se lhes torna um fardo. Entretanto não precisa ser assim. Custará um decidido esforço mudar a corrente de seus pensamentos. Mas essa mudança pode acontecer. Sua felicidade, tanto nesta vida como na futura, depende de que fixem a mente em coisas animadoras. Desviem-se eles do sombrio quadro, que é imaginário, voltando-se para os benefícios que Deus lhes tem espargido na estrada, e para além destes, aos invisíveis e eternos.

2. Temo que estejamos em perigo de, pela angústia, fazer jugos para nosso pescoço. Não nos preocupemos, pois assim tornamos muito severo o jugo e pesada a carga. Façamos tudo que pudermos, sem nos preocupar, confiando em Cristo. Estudemos Suas palavras: 'Tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis.' (Mateus 21:22). Essas palavras são o penhor de que tudo quanto um onipotente Salvador pode conceder será dado aos que nEle confiam. Como mordomos da graça do Céu, devemos pedir com fé, e então aguardar confiantes a salvação de Deus. Não devemos tomar-Lhe a dianteira, tentando, em nossas próprias forças, conseguir aquilo que desejamos. Em Seu nome devemos pedir, e então agir, crendo em Sua eficiência. 

3. Se tomarmos conselho com as nossas dúvidas e temores, ou procurarmos solver tudo que não podemos compreender claramente, antes de ter fé, as dificuldades tão-somente aumentarão e se complicarão. Mas se chegarmos a Deus convencidos de nosso desamparo e dependência, tais quais somos, e com humilde e confiante fé fizermos conhecidas nossas necessidades Àquele cujo conhecimento é infinito, e o qual tudo vê na criação, governando todas as coisas por Sua vontade e Palavra, Ele pode atender e atenderá ao nosso clamor, e fará a luz brilhar em nosso coração. Seja em terra ou no mar, se temos no coração o Salvador, nada há a temer. A fé viva no Redentor acalma o mar da vida, e Ele nos protege do perigo da forma que sabe ser a melhor.

[Com informações de Conti Outra]