sexta-feira, 26 de abril de 2024

GERAÇÃO NEM-NEM

Geração nem-nem. O Brasil é vice no mundo. São 36% dos jovens de 18 a 24 anos que “nem” trabalham, “nem” estudam. Alerta acionado. Ah, o 1º lugar desta triste pesquisa é ocupado pela África do Sul. Curiosamente, estes dois países juntos dividem a primeiríssima posição como nações mais crédulas e teístas do planeta.⁣⁣

Isso nos obriga refletir. A religiosidade não tem sido sinônimo de extinção das problemáticas sociais. Como deveria! Mas onde “dizem crer em Deus” não parece que tem surtido efeito profilático contra os fantasmas existenciais da juventude. ⁣
Além disso, não são todos os jovens, destes que “nem estudam, nem trabalham”, que estão impedidos disso por limitações financeiras, sociais ou demográficas. O desinteresse, evasão e acomodação também aparecem como causas assustadoras. ⁣
A questão é que os jovens precisam de horizontes maiores. Isso custa um alto preço. A começar pela visão das gerações valorizando as novas gerações. E isso não é feito com mesada! É com apoio, presença, coerência, mentoria e muito discipulado. ⁣
“Melhor é um jovem pobre e sábio, do que um rei idoso e tolo, que já não aceita repreensão” (Ec 4:13). É desta flexibilidade vital que o tesouro da juventude se faz. A capacidade de aprender, mudar, melhorar e amadurecer, constrói um trampolim de sucesso que deveria ser possível a todos.⁣
Se não é? Precisamos urgentemente fazer algo sobre isso. Vamos? Dos nem-nem para os posso-sim, ou vou-já. Não há dúvidas sobre os obstáculos urbanos e cotidianos de uma juventude muitas vezes injustiçada por berços de papelão ou privações inimagináveis. No entanto, se amarmos na prática, acima da teoria estatística, a revolução do bem pode acontecer. ⁣
Se você é jovem, acredite! Mesmo. Não limite seus sonhos com grades circunstanciais. Ouse mudar. Priorize estudar e trabalhar. Porém, superpriorize melhorar. Insista. Se a vida tem puxado seu tapete, avance ainda que cambaleando, ou rastejando. ⁣
Com Jesus, e na Bíblia, até a pobreza com sabedoria podem andar juntas. E isso sempre será momentâneo e passageiro. Basta romper destinos. Pronto para superar o tempo?⁣

Odailson Fonseca (via instagram)

Nota: Reflita também nestas sábias palavras de Ellen G. White: 

"A diligência é uma bênção para a juventude. A vida de ociosidade deve ser evitada pelo jovem como um vício. Por mais humilde que pareça a ocupação, uma vez que seja honesta, se os humildes deveres são cumpridos fielmente, ele não perderá seu galardão. A atividade é essencial à saúde. Caso sejam estimulados hábitos de operosidade, fechar-se-á uma porta contra mil tentações. Os que desperdiçam seus dias, não tendo finalidade ou objetivo na vida, são perturbados de tristezas e tentados a buscar divertimento em satisfações proibidas que enervam o organismo e sobrecarregam as forças físicas muitas vezes mais que o mais pesado trabalho. A indolência destrói mais que o árduo labor. Muitos morrem porque não têm a capacidade ou a inclinação de se pôr ao trabalho. 'Nada-que-fazer' tem matado milhares. 

Alguns jovens pensam que se pudessem passar a vida sem fazer nada, seriam supremamente felizes. Invejam os filhos do prazer que dedicam a vida ao divertimento e à ruidosa alegria. Infelicidade e dores de cabeça são o resultado de tais pensamentos e conduta. Nada-que-fazer tem imergido muitos rapazes na perdição. Trabalho bem regulado é essencial ao êxito de cada jovem. Deus não poderia haver infligido maior maldição aos homens e mulheres, do que condená-los a viver uma vida de inatividade. A ociosidade destruirá a mente e o corpo. O coração, o caráter moral e as energias físicas são enfraquecidos. Sofre o intelecto, e o coração é aberto a tentações como um caminho franqueado para cair em todo vício. O homem indolente tenta o diabo a tentá-lo. 

A religião demonstrar-se-vos-á uma âncora. A comunhão com Deus comunicará a todo santo impulso um vigor que tornará os deveres da vida um prazer. Tendes o Modelo: Cristo Jesus; segui os Seus passos e estareis habilitados para ocupar toda e qualquer posição que sejais convidados a desempenhar" (Nossa Alta Vocação, pp. 218-219).

quarta-feira, 24 de abril de 2024

PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE A ORDENAÇÃO DE ANCIÃS

Em julho de 2021, a Divisão Sul-Americana votou autorizar às igrejas locais nomearem e ordenarem mulheres ao ancionato. Esse voto segue a recomendação da Associação Geral que, após ampla e reflexiva análise teológica, autorizou as Divisões a estudar o tema e implementar, conforme a necessidade de suas igrejas locais, a ordenação de anciãs.

Uma comissão estabelecida pela Divisão Sul-Americana analisou os resultados do relatório e, após avaliar os argumentos bíblicos, teológicos e eclesiásticos, concluiu que a nomeação de anciãs fortalece a liderança da igreja local, valoriza o discipulado e contribui efetivamente com a missão.

Acompanhe, a seguir, algumas questões importantes sobre esse tema.

1. Como a ordenação praticada hoje está relacionada à terminologia bíblica?

Embora a palavra ordenação não apareça na Bíblia, o conceito tem sido associado a termos bíblicos como “imposição de mãos” (1Tm 4:14; 2Tm 1:6; Hb 6:2), “colocar em ordem”, “ordenar/designar” (Tt 1:5). Trata-se da nomeação ou separação de alguém para um propósito particular. Primeiro Deus nomeia uma pessoa; em seguida, a igreja reconhece essa nomeação. A igreja só pode ordenar o que Deus já separou e comissionou (1Co 7:17). Paulo, por exemplo, já era reconhecido como apóstolo e mestre pela igreja quando o Espírito Santo instruiu os líderes a separá-lo para uma tarefa específica (At 13:1-3).

Quanto às ordenações feitas no Antigo e Novo Testamentos, existem semelhanças e diferenças. Há semelhança no fato de que, em ambos os testamentos, Deus chama e Seu povo reconhece esse chamado. Um exemplo importante de diferença é que, no Novo Testamento, há uma mudança na lei com relação à ordenação dos sacerdotes. Hebreus 7:12 diz: “Pois, quando se muda o sacerdócio, necessariamente muda também a lei.”

2. Deus estabelece e ordena aqueles que exercem seus dons na igreja?

Sim. As palavras gregas muitas vezes traduzidas como “ordenar” no Novo Testamento carregam a ideia de “definir”, “designar”, “estabelecer”. Em 1 Coríntios 12:28, o apóstolo Paulo afirma: “A uns Deus estabeleceu na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, os que têm dons de curar, ou de ajudar, ou de administrar, ou de falar em variedade de línguas.”

É importante frisar que a ordenação não funciona em um sentido mágico, infundindo na pessoa um tipo de poder especial. Também é errado dizer que a ordenação é “apenas uma nomeação da igreja”. Essa expressão rebaixa o valor do corpo de Cristo e da liderança divina sobre ele. Por outro lado, é necessário enfatizar que a ordenação é uma ação inspiradora, que mostra a organização eclesiástica ao reconhecer os dons concedidos por Deus a alguns de seus membros. Essa organização não é, primariamente, sobre hierarquia, mas sobre missão (Mt 23:11; 28:19, 20). Homens e mulheres são chamados e ordenados por Deus para participar dessa missão (Jl 2:28, 29).

Portanto, a ordenação é a habilitação de uma pessoa para representar a igreja, proclamar o evangelho, administrar a Ceia do Senhor, plantar e organizar igrejas, guiar e instruir os membros, opor-se aos falsos ensinamentos e prestar serviço à congregação (At 6:3; 20:28, 29; 1Tm 3:2, 4, 5; 2Tm 1:13, 14; 2:2; 4:5; Tt 1:5, 9).

3. Deus nomeia mulheres para exercer dons espirituais e cargos de liderança na igreja?

Sim. Deus estabeleceu, por exemplo, profetisas na igreja (1Co 12:28) e entre Seu povo. Observe as referências: “A profetisa Miriã, irmã de Arão” (Êx 15:20), “Débora, profetisa, esposa de Lapidote” (Jz 4:4), “a profetisa Hulda, esposa de Salum, encarregado das vestimentas da Casa do Senhor” (2Rs 22:14), a esposa de Isaías (Is 8:3) e “Ana, uma profetisa” (Lc 2:36).

Muitas outras mulheres também serviram ao povo de Deus em papéis de liderança. No Antigo Testamento, Débora “julgava Israel” (Jz 4:4). No Novo Testamento, várias mulheres serviram na igreja apostólica como colaboradoras de Paulo e tiveram funções de liderança. Entre elas estão: Febe (Rm 16:1), Priscila (16:3), Maria (16:6), Trifena, Trifosa e Pérsis (16:12), Evódia e Síntique (Fp 4:2) e Ninfa (Cl 4:15).

Embora a ordenação de anciãs não seja prescrita ou proibida na Bíblia, existem princípios que esclarecem essa questão. Jesus nos ensinou a orar: “Seja feita a Tua vontade, assim na Terra como no Céu” (Mt 6:10). Também: “Tudo o que ligares na Terra será ligado no Céu e tudo o que desligares na Terra será desligado no Céu” (16:19; 18:18). Paulo escreveu: “Que cada um ande segundo o que o Senhor lhe concedeu, conforme Deus o chamou. É isto que ordeno em todas as igrejas” (1Co 7:17). Precisamos depender da soberania divina, olhar para os princípios básicos ensinados na Bíblia e seguir a orientação do Espírito Santo que nos conduz “em toda a verdade” (Jo 16:13).

4. Mas a liderança eclesiástica não é prerrogativa apenas dos homens?

Algumas pessoas acham que, pelo fato de o marido ser o “cabeça da mulher” ou o “cabeça do lar”, então ele tem que ser “cabeça” dentro da igreja também. Segundo elas, isso desqualificaria a mulher de exercer posições de liderança. No entanto, segundo as Escrituras, Cristo é o único Cabeça da Igreja, enquanto os membros da igreja (tanto homens quanto mulheres), formam o corpo de Cristo (Ef 1:22, 23; 5:23; Cl 1:18; 2:19).

Ellen White escreveu: “Cristo, não o pastor, é o Cabeça da igreja”1 e “Cristo é o único Cabeça da igreja”.2 Nem as Escrituras nem os escritos de Ellen White afirmam que apenas o homem deve ser líder na igreja. Além disso, não apoiam nenhuma transferência da função de cabeça no lar às funções dentro do corpo da igreja.

5. O termo masculino “ancião” exclui necessariamente as mulheres?

Não. O autor do livro de Hebreus faz uma declaração representativa ao descrever “os antigos [presbíteroi] [que] obtiveram bom testemunho” (Hb 11:2), incluindo Sara (11:11), Raabe (11:31), e outras mulheres (11:35). Esses anciãos faziam parte da ordem geral do povo de Deus. Eles não são exemplos do ministério de um “presbítero” da igreja no período do Novo Testamento, mas mostram que, na terminologia bíblica, a linguagem masculina pode ser usada para incluir mulheres.

As anciãs também são mencionadas em outro texto paulino: “Não repreendas um homem mais velho [presbíterou]; pelo contrário, exorte-o como você faria com seu pai. Trate os mais jovens como irmãos, as mulheres mais velhas [presbitéras], como mães, e as mais jovens, como irmãs, com toda a pureza” (1Tm 5:1, 2). Alguns estudantes da Bíblia concluem que esses anciãos e anciãs podem ser simplesmente pessoas idosas. No entanto, mesmo essa visão não muda o fato de que tanto homens quanto mulheres são referidos como anciãos. Portanto, o termo “ancião” não exclui automaticamente o gênero feminino.

6. Paulo proibiu as mulheres de ensinar e exercer autoridade sobre os homens?

A proibição de 1 Timóteo 2:11 e 12 faz parte da resposta geral do apóstolo à influência maligna de falsos mestres que estavam minando a fé dos crentes em Éfeso (cf. 1:3, 4; 18-20; 4:1-4; 6:20, 21). Algumas mulheres dessa cidade haviam perdido de vista o verdadeiro evangelho e não estavam vivendo como seguidoras de Cristo. Sob a direção desses falsos mestres, elas desenvolveram um desdém pelo papel tradicional da mulher como esposa e mãe (cf. 4:3; 5:9-10, 14) e passaram não apenas a se vestir indevidamente (2:9-10; 5:6), como também a agir de maneira dominadora sobre o marido (2:11, 12).

É interessante observar que, em vez de usar o termo grego exousia – palavra comum usada no Novo Testamento para autoridade (Rm 9:21; 13:3; 2Co 13:10; 2Ts 3:9), Paulo usa uma palavra extremamente rara que não ocorre em nenhum outro lugar do NT: authenteō. Esse verbo tem um elemento negativo associado a ele. Pode significar “governar/reinar”, “controlar” ou “dominar”. Em vez de exercer a forma normal de autoridade associada ao ofício do ministério, essas mulheres estavam se comportando de maneira arrogante, sem o espírito de amor cristão, abnegação e submissão mútua que define o relacionamento entre todos os crentes.

7. As mulheres são excluídas de serem anciãs porque não possuem todas as características listadas por Paulo em 1 Timóteo 3:1-7?

Não. A qualificação essencial é que o ancião seja irrepreensível. Uma pessoa não precisa de todas as qualidades listadas por Paulo (como ser um homem casado, por exemplo) para ser um “presbítero” (ancião). As viúvas, por exemplo, também devem ser “esposa de um só marido” (1Tm 5:9) – o mesmo conselho dado aos anciãos (1Tm 3:2). O princípio que Paulo promove é a pureza sexual. A preocupação do apóstolo não era com o gênero de um líder da igreja, mas com o tipo de caráter que deve definir a vida de um líder espiritual.

Em grego, Paulo diz que “qualquer um” que queira servir como um ancião “deseja uma nobre tarefa” (1Tm 3:1). Qualquer um significa homem ou mulher. Se Paulo quisesse limitar o ministério de um bispo aos homens, ele poderia facilmente ter restringido o significado do pronome indefinido adicionando um substantivo ou pronome especifico de gênero (como ele faz em outros lugares – 1Tm 5:4, 16; 1Co 7:12, 13, 36). Além disso, nenhum pronome masculino ocorre em grego em toda a lista de qualificações para o ministério de um ancião.

Paulo usa linguagem masculina ao falar sobre os requisitos dos presbíteros porque, na antiguidade, o gênero “padrão” para um grupo misto era sempre masculino. A linguagem inclusiva de gênero é um fenômeno bastante recente e não teria sido considerada na época de Paulo.

8. Na Igreja Adventista do Sétimo Dia, quais são os três ofícios para os quais as pessoas são ordenadas?

O Guia Para Ministros declara: “As Escrituras distinguem três categorias de oficiais ordenados: 1) O ministro de evangelho cujo papel pode ser entendido como pregação, ensino, administração das ordenanças e cuidado pastoral da igreja (1Tm 4:14; 4:1-5); (2) o ancião que exerce supervisão sobre a congregação local, realizando também algumas funções pastorais (At 14:23; 20:17; Tt 1:5, 9; 1Tm 3:2, 5) e (3) o diácono, a cujos cuidados são confiados os pobres e a obra de beneficência da congregação (Fp 1:1; At 6:1-6; 1Tm 3:8-13).”3

9. Como os pioneiros adventistas lidaram com assuntos nos quais a Bíblia não dava instruções explícitas e detalhadas?

Quando tópicos específicos não são abordados nas Escrituras, é considerado uma prática sólida e aceitável aplicar princípios extraídos da Bíblia. Ellen White seguiu essa prática em um exemplo citado por seu marido, Tiago White: “Se for perguntado: ‘Onde estão os textos claros da Escritura para manter legalmente a propriedade da igreja?’ Nós responderemos: ‘A Bíblia não fornece nenhum; nem diz que devemos ter um jornal semanal, uma impressora a vapor, que devemos publicar livros, construir locais de adoração e enviar tendas’. Jesus diz: ‘Assim brilhe a vossa luz diante dos homens’; mas Ele não dá todos os detalhes de como isso deve ser feito. A igreja é deixada para seguir em frente na grande obra, orando por orientação divina, agindo de acordo com os planos mais eficientes para sua realização. Acreditamos que é seguro ser governado pela seguinte regra: Todos os meios que, de acordo com o bom senso, promoverão a causa da verdade e não são proibidos por declarações das Escrituras devem ser empregados.”4

10. Ellen White apoia a ordenação de mulheres para os ministérios aos quais Deus as chama?

No sentido espiritual, Ellen White acreditava que todos os cristãos são chamados para exercer um tipo de ministério. Essa perspectiva está no cerne do sacerdócio de todos os crentes (1Pe 2:9). Ela escreveu: “Todos os que são ordenados na vida de Cristo são ordenados para trabalhar pela salvação de seus semelhantes.”5

Em 1895, Ellen White escreveu um longo artigo sobre o trabalho dos leigos nas igrejas locais. Ela exortou os ministros a deixar os membros trabalharem para a igreja e treiná-los para fazê-lo. Ela afirmou ainda que as mulheres que servem no ministério local também devem ser separadas para o tipo de ministério e evangelismo que exercem. Ela aconselhou: “As mulheres que estão dispostas a consagrar parte de seu tempo ao serviço do Senhor devem ser designadas para visitar os enfermos, cuidar dos jovens e atender às necessidades dos pobres. Elas devem ser designadas para essa obra pela oração e imposição de mãos. Em alguns casos, elas precisarão se aconselhar com os oficiais da igreja ou com o ministro; mas se forem mulheres dedicadas, mantendo uma conexão vital com Deus, elas serão uma força para o bem na igreja. Esse é um outro meio de fortalecer e edificar a igreja. Precisamos expandir mais nossos métodos de trabalho.”6

Referências
1 Signs of the Times, 27 de janeiro de 1890.

2 Manuscript Releases, v. 21, p. 274.

3 Guia Para Ministros Adventistas do Sétimo Dia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010), p. 82.

4 Review and Herald, 26 de abril de 1860.

5 Signs of the Times, 25 de agosto de 1898.

6 Review and Herald, 9 de julho de 1895, ênfase adicionada.

Adaptado de Martin Hanna e Cindy Tutsch, Questions and Answers About Women’s Ordination (Nampa: ID: Pacific Press, 2014).

terça-feira, 23 de abril de 2024

COMO ENTENDER A PRIMEIRA E A NOVA ALIANÇA?

Na Bíblia, uma aliança consiste no estabelecimento legal de uma relação entre Deus e o Seu povo. Deus é quem toma a iniciativa de instituir e assegurar esse relacionamento. As alianças que Ele estabelece são baseadas no Seu amor, na Sua graça e na Sua fidelidade, tendo raízes na aliança eterna que tinha o intuito de salvar a humanidade e que foi estabelecida pela Trindade antes da fundação do mundo, caso o ser humano caísse em pecado (Ef 1:3, 4; 2Tm 1:9; Tt 1:12; 1Pe 1:20; Ap 13:8). 

O autor do livro de Hebreus, que se acredita ser o apóstolo Paulo, faz uma distinção entre a “primeira” e a “nova” aliança, alegando que se não houvesse nenhuma “deficiência” ou “inadequação” na primeira aliança, a segunda ou a “nova” aliança não seria necessária. Paulo discute a questão da nova aliança no contexto do ministério de Cristo como nosso Sumo Sacerdote no santuário celestial, fazendo uma comparação com os serviços do santuário realizados no tabernáculo terrestre pelos sacerdotes levitas, que exigiam sacrifícios de animais. Ele também fala sobre a “aliança superior” (Hb 7:22; 8:6) e diz que essa é a “nova aliança” (Hb 8:8; 9:15; 12:24; cf. Lc 22:20; 1Co 11:25; 2Co 3:6), ou a “segunda” aliança (Hb 8:7). O adjetivo chave “melhor” é comparativo de “bom”, ou seja, Paulo contrasta a primeira aliança, que era “boa”, com a nova aliança, que é “melhor”. 

A primeira aliança 
O que Paulo quer dizer quando fala sobre a “primeira aliança”? (A frase completa é usada somente em Hebreus 9:15, mas veja também em Hebreus 8:7, 13; 9:1, 18). Em Hebreus, Paulo nunca usa o termo antiga aliança para descrever a primeira aliança (ele usa a expressão antiga aliança somente em 2 Coríntios 3:14). O Senhor explica que a nova aliança não será como a “a aliança que fiz com os seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito” (Hb 8:9). Aqui, Ele está Se referindo à aliança mosaica ou sinaítica estabelecida com Israel depois do êxodo (Êx 19–24). Essa aliança foi feita no monte Sinai (Êx 19:3-8; Hb 12:18-21), ratificada pelo sangue de animais sacrificados (Êx 24:4-8) e renovada por Deus depois do ato de apostasia cometido pelo povo ao adorar o bezerro de ouro (Êx 34:6, 7, 10, 11). Paulo fala sobre essa experiência do Sinai em Hebreus 9:18-20 e o profeta Jeremias também faz o contraste entre a nova aliança e a aliança sinaítica (Jr 31:32). Portanto, a primeira aliança a que Paulo se refere não foi estabelecida com Adão, Noé ou Abraão, mas sim com o povo de Israel no monte Sinai. De maneira clara, Paulo afirmou: “Ora, a primeira aliança também tinha preceitos de culto divino e o Seu santuário terrestre” (Hb 9:1). 

Desse modo, no contexto da discussão que Paulo faz sobre as alianças no livro de Hebreus, a primeira aliança tinha duas partes indivisíveis: (a) a parte cerimonial ou cultual, que consistia no sistema de sacrifícios com todos os seus regulamentos e (b) a parte moral ou espiritual, que envolvia as quatro promessas eternas feitas por Deus. Ele havia dado esses quatro elementos para o povo de Israel no monte Sinai (e até mesmo anteriormente, já que se trata de princípios ou promessas de uma vida espiritual harmoniosa) e eles foram reenfatizados pelos profetas: (1) guardar e cultivar a lei de Deus no coração e na mente (Êx 20:2, 6; Dt 6:5-8; 30:11-14; Js 1:6-9; Sl 1; 37:30, 31; Pv 3:4-7; Is 51:7); (2) ter um relacionamento próximo de aliança com Deus (Êx 6:6, 7; Lv 26:12); (3) ter conhecimento concreto sobre Deus (Êx 16:6; 29:46; 33:13) e (4) obter o perdão dos pecados (Êx 20:6; 34:6, 7; Sl 32:1, 2; 51:1-4, 10-12; Is 1:18, 19). O conteúdo da nova aliança não era nenhuma novidade, mas tratava- -se da renovação de um apelo para que a lei de Deus fosse internalizada na mente e no coração do povo, ressaltando assim a continuidade dessa aliança. No Sermão do Monte, Jesus fez exatamente isso ao explicar o verdadeiro significado dos ensinamentos do Antigo Testamento (Mt 5:17-48). 

O que estava errado? 
Paulo afirma que, “se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para uma segunda aliança” (Hb 8:7). Quando refletimos sobre a primeira ou antiga aliança, muitos cristãos automaticamente supõem que a aliança sinaítica fosse ruim. Contudo, dizer que havia algum “erro” na aliança seria fazer uma interpretação incorreta do texto original grego, que traz a palavra amemptos, que significa “impecável”, “irrepreensível”, “sem defeito”. 

Paulo argumenta que na primeira aliança havia uma certa insuficiência, uma deficiência, que faltava alguma coisa (v. 7, 8), mas não diz que ela era ruim. A primeira aliança era boa, porém tinha “fraqueza e inutilidade” (Hb 7:18). Foi caracterizada como “antiquada” (Hb 8:13, aqui o verbo grego palaioein significa “declarar obsoleto”, “tornar velho ou envelhecer”), implicando que a primeira aliança estava se extinguindo, desaparecendo e envelhecendo, portanto, já não era relevante. Mas por quê? 

A aliança sinaítica, com todas as suas cerimônias e sacrifícios específicos, era uma ilustração (Hb 9:9; cf. 8:5), uma lição objetiva de como Deus salva as pessoas arrependidas, de como Ele lida com o pecado e de como Ele destrói o mal. Essa demonstração do plano de Deus para a redenção da humanidade incluía ferramentas de ensino que apontavam para Jesus Cristo. A antiga aliança demandava (1) o oferecimento de sacrifícios com derramamento de sangue animal, o que não tinha o poder de perdoar pecados (Hb 9:23; 10:4) e também não trazia a perfeição, nem a limpeza de consciência das pessoas, nem a garantia de salvação (Hb 7:11; 9:9, 10); (2) exigia o serviço de sacerdotes pecadores e mortais que, por consequência, tinham que oferecer sacrifícios constantes por si mesmos e pelo povo (Hb 5:3; 7:23, 27; 9:7); (3) requeria o sacerdócio levítico (Hb 7:5, 9, 11), em contraste com o sacerdócio de acordo com a ordem de Melquisedeque (Hb 6:20; 7:24, 26-28); e (4) demandava regulamentos na adoração e um santuário terrestre (Hb 9:1). Assim, vislumbrou-se a necessidade um santuário superior ao terrestre (Hb 8:1, 2; 9:11, 12), um sacrifício melhor, de um sangue superior (Hb 9:12-15, 23, 25). Surgiu também a necessidade de uma fundamentação mais adequada para as promessas (Hb 8:6) e uma esperança superior foi instaurada (Hb 7:19). 

Em outras palavras, não havia nada de errado com a aliança sinaítica em si. A nova aliança era parte da aliança eterna de Deus com o Seu povo (Hb 13:20; cf. Is 55:3; Jr 50:4, 5; Ez 37:26). Foi o próprio Deus quem iniciou e estabeleceu um relacionamento de aliança com eles. Portanto, a culpa também não foi de Deus.

Em vez disso, o problema foi a maneira como o povo recebeu a aliança: “Deus, porém, achou o povo em falta [memphomai, achar falta ou culpar]” (Hb 8:8, NVI). O povo transgrediu a primeira aliança e esse foi um dos motivos pelos quais Deus estabeleceu uma nova aliança (Êx 20:18-20; 32:4-6, 19, 20; Lv 17:7). Eles tratavam a lei de Deus como um mero comando, como algo que deveriam fazer para se tornar santos e justos, em vez de manterem os preceitos divinos por gratidão pela Sua bondade para com eles. O Decálogo se tornou a realização da obra e a dura obediência ao que Deus havia estipulado, não sendo visto como Sua promessa. Então, a lei se tornou um fardo, um dever a ser cumprido, em oposição à uma demonstração da gratidão que tinham pela bondade do Senhor. 

A nova aliança 
A primeira diferença da nova aliança é a ratificação da aliança por meio da morte de Cristo na cruz. Ele é o fiador dessa aliança (Hb 7:22), pois foi Ele quem garantiu e selou o perdão e a salvação para Seus seguidores, assim como para aqueles que creram na época do Antigo Testamento, como antecipação da cruz (Hb 9:15). A segunda diferença é que o sacrifício de Jesus na cruz cumpriu o sistema sacrifical (Dn 9:27a; Mt 27:51; Jo 1:29; 1Jo 2:2), por conseguinte, os sacrifícios e o derramamento do sangue de animais, o sacerdócio levítico e o santuário terrestre já não eram necessários nem relevantes. A terceira diferença é que somente os elementos cerimoniais e cultuais da primeira aliança é que deixaram de existir: o sacrifício de animais, o sacerdócio levítico e os serviços do santuário terreno. As “ofertas e os sacrifícios oferecidos não podiam dar ao adorador uma consciência perfeitamente limpa” (Hb 9:9, NVI), mas o sangue de Cristo tem o poder de purificar “a nossa consciência de atos que levam à morte” (v. 14; cf. 10:22). A imperfeição dos sacerdotes levíticos é comparada com a vida de obediência e perfeição de Jesus (Hb 2:10; 4:15; 5:8, 9; 7:26). O ciclo perpétuo do sacrifício de animais que era feito pelo povo e pelos sacerdotes foi quebrado. O sacrifício de Cristo é suficiente e traz salvação para aqueles que creem Nele (Hb 7:27; 9:12, 26, 28; 10:10). 

Então deve-se observar que há uma diferença entre os rituais externos e o conteúdo interno relacionado à aliança mosaica. A parte cultual e cerimonial da primeira aliança era temporária: os regulamentos, os sacrifícios, os sacerdotes e o santuário terrestre se cumpriram na morte de Jesus, pois Ele cumpriu o sistema sacrifical na cruz (Dn 9:27). Nesse sentido, “Ele cancela a primeira aliança a fim de estabelecer a segunda” (Hb 10:9, NVT; cf. 8:13). Se olharmos por esse prisma, a descontinuação é enfatizada no livro de Hebreus e a aliança é caracterizada como “nova”. 

Contudo, em relação ao conteúdo da aliança, não há nada de novo, pois os mesmos quatro princípios ou promessas estão presentes em ambas as alianças. A lei não foi revogada na nova aliança, mas sim internalizada (Mt 5:17-48), do mesmo modo que estava no coração daqueles que acreditavam em Deus no Antigo Testamento (Dt 30:14; Sl 37:30, 31; 40:8; Is 51:7). A lei de Deus é escrita no coração com consentimento amoroso e informado. A obediência perfeita só acontece por meio de Cristo (Hb 2:10, 17; 4:15; 5:9; 10:5, 6) e somente Ele a dá aos que creem (Hb 2:10, 11, 18). Essa perspectiva realça a continuidade dos quatro aspectos fundamentais da aliança sinaítica. O termo “nova” (do hebraico khadash e do grego kainos) deveria ser traduzido como “renovação” nesse contexto bíblico, já que aponta para uma renovação da intenção original da aliança que Deus fez com Seu povo e para a sua continuidade. 

A realidade histórica 
O novo aspecto da nova aliança não está relacionado ao seu conteúdo, mas sim à eficiência de Cristo e ao que Ele conquistou na cruz, onde a aliança foi ratificada por meio do Seu sacrifício em nosso favor (Hb 9:15), o que O torna fiador da nova aliança (Hb 7:22). Assim, “Ele é o Mediador da nova aliança”, a fim de que todos os que creram Nele em todas as eras da história “recebam a promessa da herança eterna” (Hb 9:15; 12:24). Ele ofereceu a Sua vida como um sacrifício superior que garantiu o perdão dos nossos pecados. O que havia sido feito no Antigo Testamento agora estava garantido (Hb 9:15; cf. Rm 3:22-26; Ef 1:4; Ap 13:18). Jesus morreu de “uma vez por todas” (Hb 7:27), não várias vezes, como acontecia com o sacrifício de animais que não garantiam o perdão. Eles apenas apontavam para o perdão que se tornou disponível por intermédio de Cristo. 

Embora já não estejamos sob as obrigações do santuário terrestre, as promessas de Deus são as mesmas nas duas alianças: obter conhecimento pessoal de Deus, experimentar o perdão dos pecados e receber a vida eterna. Antes que Jesus viesse ao mundo para tornar a aliança real, Deus deixou um exemplo do plano da redenção para os israelitas, a fim de que eles compreendessem a terrível natureza do pecado e percebessem a maneira como Deus salva o pecador arrependido (Hb 9:9; cf. 8:5). A nova aliança foi estabelecida sobre um santuário superior, um sacrifício superior, um sacerdócio superior e promessas superiores. No centro da nova aliança está explícita a seguinte declaração: “Eles serão o Meu povo, e Eu serei o Seu Deus” (Jr 32:38, cf. Ap 21:3). A fórmula dessa nova aliança descreve a íntima relação de Deus com Seu povo e convida você a fazer parte dessa aliança de comunhão com Ele, que permanecerá por toda a eternidade.

Jiri Moskala (via Revista Ministério)

A VERDADEIRA HISTÓRIA DE SÃO JORGE

Talvez poucos saibam, mas dia 23 de Abril é dia dedicado a São Jorge. Famoso por matar o dragão e por ter seu retrato estampado na lua, São Jorge é personagem singular dentro do sincretismo religioso brasileiro e consegue unir cristãos, espiritualistas e até amantes de futebol (é santo padroeiro de um clube de futebol brasileiro). Mas o mais que sabemos sobre ele é apenas fruto de lendas e crendices. Rejeitado pelos cristãos ditos evangélicos tradicionais, São Jorge é uma figura até certo ponto desconhecida. Com o objetivo de ajudar a resgatar a verdadeira história do insigne personagem escondida debaixo das lendas e superstições populares, confira o texto abaixo de Hermes C. Fernandes.

Em torno do século III d.C., quando Diocleciano era imperador de Roma, havia nos domínios do seu vasto Império um jovem soldado chamado Jorge de Anicii. Filho de pais cristãos, converteu-se à fé cristã ainda na infância, quando passou a temer a Deus e a crer em Jesus como o salvador do mundo. Nascido na antiga Capadócia, região que atualmente pertence à Turquia, Jorge mudou-se para a Palestina com sua mãe, após a morte de seu pai. Tendo ingressado para o serviço militar, distinguiu-se por sua inteligência, coragem, capacidade organizativa, força física e porte nobre. Foi promovido a capitão do exército romano devido a sua dedicação e habilidade.

Tantas qualidades chamaram a atenção do próprio Imperador, que decidiu lhe conferir o título de Conde. Com a idade de 23 anos passou a residir na corte imperial em Roma, exercendo altas funções. Nessa mesma época, o Imperador Diocleciano traçou planos para exterminar os cristãos. No dia marcado para o senado confirmar o decreto imperial, Jorge levantou-se no meio da reunião declarando-se espantado com aquela decisão, e, afirmando sua total lealdade a Cristo, recusou-se a prestar culto a qualquer outra divindade . Todos ficaram atônitos ao ouvirem estas palavras de um membro da suprema corte romana, defendendo com grande coragem sua fé.

Indagado por um cônsul sobre a origem desta ousadia, Jorge prontamente respondeu-lhe que era por causa da Verdade. O tal cônsul, não satisfeito, quis saber: "O que é a verdade?". Jorge respondeu: "A verdade é o meu Senhor Jesus Cristo, a quem vós perseguis, e eu sou servo de meu redentor Jesus Cristo, e n'Ele confiando, pus-me no meio de vós para dar testemunho da Verdade." Como Jorge mantinha-se fiel a Jesus, o Imperador tentou fazê-lo desistir da fé torturando-o de vários modos. E, após cada tortura, era levado perante o Imperador, que lhe perguntava se renegaria a Jesus para adorar aos deuses romanos. Porém, este santo homem de Deus jamais abriu mão de suas convicções e de seu amor a Jesus. Todas as vezes em que foi interrogado, sempre declarou-se servo do Deus Vivo, mantendo seu firme posicionamento de somente a Ele prestar culto.

Em seu coração, Jorge de Capadócia discernia claramente o propósito de tudo o que lhe ocorria, lembrando-se das palavras de Jesus aos Seus discípulos: “...vos hão de prender e perseguir, entregando-vos às sinagogas e aos cárceres, e conduzindo-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome. Isso vos acontecerá para que deis testemunho”. (Lucas 21:12:13). A fé deste jovem soldado era tamanha que muitas pessoas passaram a crer em Jesus e confessá-lo como Senhor por intermédio do seu testemunho. Durante seu martírio, Jorge mostrou-se tão confiante em Cristo e em Sua obra redentora na cruz, que a própria Imperatriz alcançou a Graça da salvação eterna, rendendo sua vida a Cristo. Sua fidelidade e amor a Deus contagiaram o coração de toda uma geração de romanos.

Por fim, Diocleciano mandou degolar o jovem e fiel discípulo de Jesus em 23 de abril de 303. Em pouco tempo, a devoção a São Jorge se popularizou. Celebrações e petições às imagens que o representavam se espalharam pelo Oriente e, depois das Cruzadas, tiveram grande aceitação no Ocidente. Como se não bastasse, muitas lendas foram se somando à sua história, inclusive a que diz que ele teria enfrentado e amansado um dragão que atormentava uma cidade.

Em 494, a devoção era tamanha que a Igreja Católica o canonizou, estabelecendo cultos e rituais a serem prestados em homenagem à sua memória. Assim, confirmou-se a devoção a Jorge, até hoje largamente difundida, inclusive em grandes centros urbanos, como a cidade do Rio de Janeiro, onde desde 2002 faz-se feriado municipal na data comemorativa de sua morte.

Jorge é cultuado através de imagens produzidas em esculturas, medalhas e cartazes, onde se vê um homem vestindo uma capa vermelha, montado sobre um cavalo branco, atacando um dragão com uma lança. Ironicamente, o que motivou o martírio deste santo homem foi justamente sua batalha contra a adoração e veneração de imagens fartamente adotadas pelos romanos.

Apesar de tudo, o fato é que Jorge de Capadócia obteve um testemunho reto e santo, que causou impacto e conduziu muitas vidas a Cristo. Por amor ao Evangelho, ele não se preocupou em preservar a sua própria vida; em seu íntimo, guardava a Palavra: “ ...Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte” (Filipenses 1:20). Deste modo, cumpriu integralmente o propósito eterno para o qual havia nascido: manifestou o caráter do seu Senhor e atraiu homens e mulheres ao reino de Cristo.

Se você é devoto deste celebrado mártir da fé cristã, faça como ele e atribua toda honra, glória e louvor exclusivamente a Jesus Cristo, por quem Jorge de Capadócia viveu e morreu. Para além das lendas que envolvem seu nome, o grande dragão combatido por ele foi a idolatria que infelizmente hoje impera em torno de seu nome, e até mesmo em torno do nome do Cristo a quem Ele dedicou sua existência. A melhor maneira de honrá-lo e prestigiá-lo não é com fogos de artifício, promessas e festa, mas imitando-o em sua fé e devoção a Cristo.

Idolatria não se resume a prostrar-se ante uma escultura qualquer, mas estabelecer uma relação supersticiosa, onde o santo ou o próprio Deus é visto apenas como alguém a quem recorrer na busca de solução para os seus problemas. Cristo, o Deus que Se humanizou para habitar entre nós, é muito mais do que alguém pronto a atender nossos pedidos. Ele é o Salvador dos homens, o Senhor do Mundo, o Mestre do Amor. Homens e mulheres que o serviram e hoje são considerados santos pela tradição podem ser imitados em sua fé, ter sua memória celebrada, mas jamais considerados semi-deuses prontos a atender nossas solicitações. De acordo com os ensinamentos encontrados nos evangelhos, nossos pedidos devem ser dirigidos ao Pai em nome de Seu Filho Jesus. E Ele tem prazer em nos atender, não com a intenção de mostrar o quão poderoso é, mas simplesmente por nos amar e se importar com cada um de Seus filhos.

A pior idolatria denunciada por Jesus ocorre quando nos devotamos ao dinheiro e a aquisição de bens materiais. Façamos deles um meio para socorrer aos necessitados e não um fim em si mesmos. Nada nesta vida pode tomar o lugar de Deus. Esta foi a grande lição que Jorge da Capadócia nos deixou. O dragão que devemos vencer é o do egoísmo, da ganância, do ódio, do preconceito e de tudo o que nos afasta de Deus e do nosso próximo.

Ilustração de Johann König - Saint George Defeating the Dragon (c.1630)

segunda-feira, 22 de abril de 2024

OS MALES DO NACIONALISMO CRISTÃO

O nacionalismo cristão é uma tentativa de associar o cristianismo à identidade nacional. Ou seja, para ser realmente patriota, é preciso também ser cristão. O nacionalismo cristão ganha força a partir da crença de que forças hostis estão atacando uma nação até então cristã. Diante disso, supostamente os cristãos seriam chamados a reconquistar o território que sua religião perdeu. A questão se complica quando verificamos que na ideologia do nacionalismo cristão há espaço para discursos de ódio, como o racismo e a hostilidade contra minorias étnicas e religiosas.

A Igreja Adventista do Sétimo Dia é absolutamente contrária ao nacionalismo cristão, pois essa ideologia confronta nossa teologia, crenças e história. Uma premissa fundamental da denominação é que suas instituições e representantes não podem se associar a nenhum partido ou ideologia política. Outro princípio é que “não devemos usar nossa influência com líderes políticos e civis para promover nossa fé ou inibir outras manifestações de fé” (Declarações da Igreja [CPB, 2012], p. 156).

Sim, os membros da igreja, individualmente, são incentivados a participar, cuidadosamente e em espírito de oração, da vida cívica, seja por meio do voto, participando do diálogo público ou até mesmo ocupando cargos eletivos. No entanto, em todas essas coisas, o membro age e fala apenas por si mesmo.

Às vezes, a Igreja Adventista fala publicamente sobre suas ideias e toma uma posição a respeito de alguma política pública que se harmoniza com nossos princípios. A liberdade religiosa, por exemplo, é uma área em que a igreja constantemente toma posições públicas. Trabalhamos intensamente para defender o direito que cada pessoa tem de seguir o que diz sua consciência. No entanto, contribuir para o debate público sobre questões específicas é radicalmente diferente das ambições do nacionalismo cristão.

Sendo assim, os adventistas não devem tentar usar o poder político para criar uma esfera pública exclusivamente cristã. Por quê? Nossa compreensão bíblica e dos escritos de Ellen White nos leva a afirmar, inequivocamente, que os esforços para legislar em favor da própria fé estão em completa oposição à natureza da verdadeira religião e à vontade de Deus. Em qualquer de suas formas e variantes, o nacionalismo cristão sempre prejudicará o testemunho do evangelho.

O nacionalismo cristão é também sedutor para muitos pastores e líderes da Igreja. Afinal, é uma forma de exercer poder. Mas, como todo tipo de poder, está envolto em vários perigos:

1) Falta de humildade: geralmente produz arrogância e superioridade religiosa, contrária aos ensinamentos bíblicos de humildade e amor ao próximo.

2) Desvio da missão: desvia a missão cristã e da mensagem do Evangelho a todas as pessoas e foca na defesa de interesses nacionais e eleitorais.

3) A polarização: leva a uma polarização religiosa e política na sociedade, prejudica a unidade e o diálogo entre diferentes grupos. Além disso, a polarização namora as obras da carne ao cultivar dissensão, ira e sectarismo.

4) Foco na política em vez da espiritualidade: o radicalismo leva os evangélicos a se concentrarem mais na política e no poder terreno do que na vida espiritual e no amor ao próximo. É excessivamente ativista e pouco piedoso; é engajado, mas nada generoso; é transtornador, mas nada transformador.

5) Perigo de misturar religião e política: leva a conflitos e violência, e que os evangélicos devem se concentrar em praticar sua fé de forma pacífica e respeitosa. Embora seja impossível cultivar uma religião neutra politicamente, é necessário separar Igreja e Estado, fé e política. Separar não é divorciar completamente, mas é saber discernir quando a aproximação é saudável ou não.

6) Dependência da cultura do medo e teorias conspiratórias: o nacionalismo cristão, como todo nacionalismo, precisa de inimigos, nem que sejam inimigos imaginários inventados em teorias conspiratórias. Em sua guerra cultural, os nacionalistas respiram ameaças e vivem em um mundo binário de constante estado de conflito.

Quando o evangelho cristão é nacionalizado e se torna um instrumento cultural para governar, perde seu poder para produzir liberdade e salvação. Esse nacionalismo cristão não tem nada a ver com o universo evangélico, não tem Bíblia, não importa o que os evangelhos possam dizer. É supremacia e força, a religião como política.

[Com informações de Revista Adventista | Diário do Comércio]

sexta-feira, 19 de abril de 2024

FOGO ESTRANHO

Fogo estranho é a expressão bíblica utilizada para indicar o tipo de fogo trazido por dois sacerdotes e que foi rejeitado pelo Senhor (Levítico 10:1-3). A Bíblia diz que Nadabe e Abiú trouxeram fogo estranho diante de Deus e acabaram sendo consumidos.

Os intérpretes se dividem quanto a melhor interpretação da expressão “fogo estranho”. De fato o texto bíblico não revela explicitamente seu significado. Aqui vale ressaltar que as duas pessoas envolvidas naquele episódio, Nadabe e Abiú, tinham sido instruídas por Deus acerca de como proceder na ministração dos cerimoniais que faziam parte do culto no Tabernáculo.

Levítico 10 fala sobre como os dois sacerdotes se colocaram diante de Deus para lhe oferecer incenso. Porém, Deus não se agradou do que aqueles homens fizeram, e identificou aquilo como “fogo estranho”, algo que o Senhor não lhes tinha ordenado.

Com base em todo esse contexto, algumas possibilidades são apresentadas quanto ao melhor significado do que seria o “fogo estranho” apresentado pelos filhos de Arão. Vejamos:

Em primeiro lugar, a expressão “fogo estranho” pode se referir ao modo ilícito que os dois sacerdotes apresentaram o incenso a Deus. Talvez eles não tivessem observado a ordenança divina que regulamentava aquele procedimento.

Deus havia prescrito o tipo de incenso correto que deveria ser oferecido, e proibido qualquer tipo de “incenso estranho”. Deus também havia indicado como o incenso deveria ser ascendido e queimado (cf. Êx 30:37). O incenso deveria ser queimado continuamente, de manhã e de tarde. As brasas para ascender o incenso deveriam vir do próprio altar (cf. Lv 16:12,13).

Então Nadabe e Abiú podem ter utilizado incenso errado, ou mesmo usado incensários inadequados; ou ainda ascendido os incensários com brasas de fogo de outra fonte, e não do altar. Nesse último caso, os dois sacerdotes teriam literalmente trazido fogo estranho diante de Deus.

"No pátio da tenda da consagração, havia fornos onde os sacerdotes preparavam sua comida, e pode ser que Nadabe e Abiú tomaram o fogo desse lugar" (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 1, p. 809).

Ellen G. White afirma: "Os filhos de Arão tomaram fogo comum, o qual Deus não aceitava, e insultaram ao infinito Deus, apresentando fogo estranho diante dele" (No Deserto da Tentação, p. 97).

Em segundo lugar, os dois filhos de Arão podem ter adotado uma prática que não havia sido prescrita. Talvez eles tivessem tentado executar certo cerimonial num momento inadequado, ou trazido uma oferta que não havia sido ordenada por Deus. Ainda nesse sentido, também existe a possibilidade de os dois sacerdotes terem se apropriado de funções que não lhes cabiam. Alguns intérpretes sugerem que eles acabaram usurpando uma função que era exclusiva do sumo sacerdote, e talvez tentaram até entrar no Santo dos Santos.

"Entrar no Santo dos Santos sem a aprovação divina poderia levar à morte. O mesmo fogo divino que consumira o sacrifício inaugural, provendo expiação para o povo, consome agora aqueles que se aproximaram do altar divino de maneira desautorizada. Assim, a mesma ira divina contra o pecado, que caiu sobre Cristo no Seu sacrifício vicário pelo Seu povo, cairá sobre aqueles que rejeitarem esse sacrifício e, mesmo assim, tentarem se aproximar de Deus com seus pecados" (Bíblia de Genebra).

Em terceiro lugar, muitos estudiosos relacionam o fogo estranho trazido por Nadabe e Abiú com a exortação acerca da embriaguez na sequência do mesmo texto (Levítico 10:8-11). Então pode ser que os dois homens tenham entrado diante da presença do Senhor embriagados.

"Vinho e bebida forte podem entorpecer as faculdades de modo que a pessoa perca a clara distinção entre o certo e o errado, entre o santo e profano e entre o puro e o impuro. … naquela condição, eles não viam qualquer diferença. Fogo era fogo, não era? Deus, porém, examinou o coração dos dois e viu o que ninguém podia ver. Havia uma diferença. De modo semelhante, o primeiro dia da semana é tão bom quanto o sétimo dia, pelo raciocínio humano – exceto pela ordem de Deus; e isso faz uma diferença vital, a diferença entre a vida e a morte" (CBASD, vol. 1, p. 810).

Independentemente do que a expressão “fogo estranho” possa significar literalmente naquele contexto, fica evidente que a ideia principal transmitida por ela indica uma profanação do culto ao Senhor. Deus não tolerou o pecado de Nadabe e Abiú. O texto bíblico diz que “saiu fogo de diante do Senhor e os consumiu; e morreram perante o Senhor” (Levítico 10:2).

Basta uma leitura superficial deste capítulo para que muitos pintem uma tela de um Deus carrasco que tinha prazer em fulminar pecadores. Atentando, porém, para o contexto da época, pela necessidade geral e urgente de educar um povo para fazer “diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo” (v.10), fica mais fácil de entender as medidas que o Senhor teve de tomar a fim de preservar toda uma nação. Apesar das muitas deficiências e limitações daquele povo, era dele que viria o Messias, o Salvador do mundo. O Senhor precisava intervir e impedir que a insensatez daqueles sacerdotes fosse causa de apostasia entre o povo.

O silêncio de Arão diante de tão terrível tragédia familiar marcou o início de seu sacerdócio com o derramamento de sangue mais difícil de seu ministério. Ele pôde sentir a agonia que Deus Pai sentiria quando contemplasse a morte de Seu Unigênito. Arão não pôde chegar perto dos corpos de seus filhos e nem sequer pôde chorar ou observar o período e os rituais de luto. Deveria permanecer no tabernáculo com os filhos que lhe restaram somente a ouvir e contemplar a lamentação de “toda a casa de Israel” pelo “incêndio que o Senhor suscitou” (v.6). Quão machucado não deveria estar o coração do velho sacerdote! Como comer das ofertas daquele dia diante de tamanho infortúnio?

Querido leitor, em matéria de adoração, Deus não abre mão de que sejam observados os princípios por Ele estabelecidos em Sua Palavra. Em nenhum outro momento da vida de Jesus encontramos Ele reagindo de forma tão enérgica quanto quando expulsou os cambistas do pátio do templo. O local designado para adorá-Lo deve ser um lugar onde tão somente o resultado seja a verdadeira adoração através da manifestação do fogo do Espírito. Quando o homem age pelo impulso de suas próprias paixões e vontades, confundindo adoração com sensações, está acendendo “fogo estranho” em lugar sagrado, incitando a ira de um Deus que é “Santo, Santo, Santo” (Ap 4:8). 

Cultuamos a Deus segundo os termos dEle ou temos levado “fogo estranho” para o culto? Na pregação, na adoração e no louvor deve prevalecer a vontade de Deus, não nossas preferências. Somos povo sacerdotal, portanto, também devemos nos abster de tudo o que entorpece os pensamentos. Nossa mente está suficientemente sóbria/temperante para não oferecer “fogo estranho” a Deus?

Deus é misericordioso e cheio de graça, mas Levítico 10 mostra que mesmo a paciência dEle tem limite. Ele não Se deixa escarnecer e põe fim aos estragos que um profano pode causar. Vivamos à luz de Seus mandamentos e sejamos fiéis; assim tudo dará certo. Ao entrarmos nos últimos dias da história da Terra, adoremos a Deus com reverência em espírito de santidade e verdade.

quarta-feira, 17 de abril de 2024

FILHOS FORA DA IGREJA

Filhos fora da igreja. Que triste! Mas ainda dentro do coração imenso de uma mãe que ora. Do pai também. É de cortar a alma. Enquanto isso, lágrimas escrevem a palavra “saudade” com os leitos dos seus rios serpenteando até os joelhos calejados. 
⁣⁣
O coro silencioso de pais intercessores jamais ficará mudo aos ouvidos de Deus. A Onipotência ouve porque se importa, e responde pelo tanto que ama. ⁣
Desta vez, conclamo este exército de leitores sentir empatia genuína pelos colos vazios de filhos crescidos. Se a liberdade de escolha virou o Éden do avesso, a escolha de perder a liberdade também é um direito. Afinal, ninguém consegue ser livre longe do Senhor. É prisão na escuridão. ⁣
Se você está no grupo dos madrugadores de plantão, clamando pelo retorno de uma filha aos braços de Jesus, continue até o sol raiar. Persista enquanto as pedras não clamam. Nada move mais a volta de um bumerangue do que a força do vento contrário do Espírito.⁣
Chega o momento em que deixar ir também é uma expressão de amor, ainda que devastadora. E se a camisa-de-força não serve de modelo para as vestes celestiais, o brado de uma prece ecoa até os fundamentos do abismo.⁣
“Pais e mães deveriam muitas vezes erguer seu coração a Deus em humilde súplica por si e por seus filhos” (Ellen G. White, Orientação da Criança, p. 518). E quer algo ainda mais poderoso? “As orações das mães cristãs não são desatendidas pelo Pai de todos” (p. 526).⁣
Sobre a parábola mais conhecida de Jesus? A Bíblia omitiu uma personagem que eu peço permissão para acrescentar. Posso imaginar? O pai do filho pródigo estava no portão todos os dias enquanto a mãe dele orava lá no quarto todas as noites. Ambos gemeram pela falta do filho tão amado. ⁣
Faço um urgente apelo: não desanimem ainda que o inferno pareça zombar. Existe aí um lugar vazio gritando a falta de alguém no Lar do Céu? Vamos orar. Interceder. Suplicar. Eles voltarão. A oração pode impossíveis.⁣

Odailson Fonseca (via instagram)

Deixo mais dois lindos pensamentos de Ellen G. White:

“O amor de Deus anela sempre aquele que dEle se afastou, e põe em operação influências para fazê-lo tornar à casa paterna. [ … ] Uma cadeia dourada, a graça e compaixão do amor divino, é atada ao redor de toda pessoa em perigo” (Parábolas de Jesus, p. 202).

“O Céu aguarda e anela a volta dos pródigos que vagueiam longe do rebanho. Muitos dos que se extraviaram podem ser trazidos de volta, pelo amoroso serviço dos filhos de Deus” (Nos Lugares Celestiais, p. 10).

NOVO FILME "THE HOPEFUL"

Um novo filme adventista intitulado The Hopeful, que conta a história das origens da Igreja Adventista do Sétimo Dia, desde William Miller até John N. Andrews e os seus filhos, será exibido nos cinemas dos Estados Unidos nos dias 17 e 18 de abril.

John N. Andrews foi o primeiro missionário enviado pela Igreja Adventista para um destino fora dos Estados Unidos. O filme, realizado por Kyle Portbury, centra-se no viúvo Andrews que viaja para a Suíça com os seus filhos. Ele conta-lhes histórias, que são retratadas no filme, sobre os primórdios do movimento Adventista e os pioneiros que nele se destacaram. À medida que o filme recua no tempo, leva o público na viagem emocional da dor, decepção, alegrias e esperanças dos pioneiros da igreja, e como o desenvolvimento do movimento levou a família Andrews ao seu posto no estrangeiro.

A descrição do filme, feita pelos produtores, diz o seguinte:

A fé de William Miller está em ruínas. Depois de sobreviver milagrosamente a uma batalha feroz na Guerra de 1812, Miller questiona porque é que Deus o poupou. A sua busca por sabedoria leva-o a uma profecia surpreendente - o mundo vai acabar. The Hopeful é a história de um homem sobrecarregado com o conhecimento da volta de Cristo. A mensagem de Miller ressoa em alguns - mesmo quando é desprezada por outros. Quando uma jovem chamada Ellen Harmon ouve um dos seus sermões, ela é transformada. E, através do seu testemunho, a mensagem começa a ganhar força. A sua pregação cresce para além da profecia e desenvolve-se numa visão mais holística de como os cristãos devem viver e adorar. Vemos florescer as sementes de um novo movimento global de fé - a Igreja Adventista do Sétimo Dia. The Hopeful é a história verídica de uma comunidade cujas vidas foram transformadas ao aprenderem o que significa esperar verdadeiramente por Jesus. Este drama arrebatador, que se desenrola na Nova Inglaterra do século XIX, convida o público de todas as idades a imaginar como a esperança pode mudar o mundo.

Os produtores da Hope Studios desenvolveram The Hopeful para que fosse partilhado.

Em maio de 2023, o filme foi o centro das atenções sendo a projeção principal no Festival Internacional de Cinema Cristão (ICFF) em Orlando, Florida. O ICFF, fundado pelo cineasta adventista do sétimo dia Marty Jean-Louis, cresceu e tornou-se o maior festival de cinema cristão do mundo, ostentando uma lista internacional de mais de 20 mil assinantes. Embora o festival organize normalmente várias projeções simultâneas, The Hopeful reivindicou um estatuto único, como a única sessão de quinta-feira à noite, atraindo a maior audiência. Participantes em representação de várias denominações cristãs elogiaram a cinematografia e a narrativa do filme, tendo muitos expressado que este lhes serviu de apresentação ao Adventismo do Sétimo Dia e à sua história.

As exibições do filme destacaram o seu potencial para ser uma ferramenta eficaz para evangelismo e divulgação, disseram os produtores, e culminaram com o apoio oficial da Divisão Norte-Americana na sua Reunião de Final de Ano em Outubro de 2023.

O filme tem a duração de 1 hora e 30 minutos e foi produzido pelo Hope Studios, sediado no Hope Channel International, no edifício sede da Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. A Hope Studios forneceu recursos para a promoção do filme.

Assista o trailer:

 

terça-feira, 16 de abril de 2024

VOCÊ TEM SIDO CONIVENTE COM PECADOS ALHEIOS?

Não, você não verá nenhum pastor pregar sobre o pecado da conivência. Afinal, não é um pecado mencionado pelo nome na Bíblia, por isso, muitos têm dificuldade de enxergá-lo. Infelizmente, vivemos uma geração de cristãos para quem parece que pecado é só sexo ilícito, tomar um porre e apoiar o partido político de que eu não gosto. Fora disso, parece que tudo está liberado: injustiças, ira, ódio, egoísmo, arrogância, ofensas, deboche, vaidade, ganância… e conivência.

Mas o que, afinal, é o pecado da conivência? Por definição, conivência é: “Cumplicidade por tolerância. Colaboração moral no delito por deixá-lo perpetrar, podendo evitá-lo”. Em outras palavras, o conivente é o que peca por tomar conhecimento de um pecado, uma injustiça, um absurdo e apoiar, ou tolerar, o ato. É fazer-se participante do mal por não denunciar o mal como mal nem fazer nada contra ele. É tornar-se tão mau quanto o mau.

Fica claro que conivência é um pecado intimamente ligado à covardia e ao egoísmo: melhor ficar na minha do que ter a coragem de me posicionar diante do que é errado. Às vezes, o conivente opta por esse pecado por ingenuidade, cegueira espiritual e influência de outras pessoas, mas, na maioria dos casos, é uma opção pura e simples pelo erro mesmo – para não perder vantagens pessoais ou para não se prejudicar, por exemplo.

"A conivência com o mal impede a luz que Deus deseja brilhar a partir de Seus servos" (Testemunhos para a Igreja, vol. 7, p. 200).

Ser conivente é extremamente confortável, pois não te fará se indispor com ninguém. Já fazer o certo vai te custar caro, principalmente porque vai testar amizades. Já perdi amigos por não querer pecar por conivência. Lembro de pessoas que eu admirava e que tiveram atitudes vergonhosas. Quando me posicionei contra os absurdos cometidos, fui acusado de deslealdade. Resultado? Passaram a me boicotar e me ver com maus olhos. Paciência. Quando você tem de optar entre o pecado da conivência e o apoio ao que é justo, puro, amável, de boa fama e virtuoso, o cristão não pode pensar duas vezes, ou isso pesará em sua consciência pelo resto da vida. Como já cometi pecados tenebrosos na vida e, apesar de me saber perdoado, os carregar dolorosamente na lembrança, sei que não vale o preço. É melhor perder amigos do que a paz de espírito e com o Espírito.

Não vou enganar você. Tenha esta certeza: optar por não pecar por conivência sempre terá um custo. Sempre. Não é te custará barato escolher o que é justo. 

"Não nos podemos esquivar à verdade, não nos podemos separar dos retos princípios, sem abandonar Aquele que é nossa força, nossa justiça, e nossa santificação. Devemos estar firmemente arraigados na convicção de que seja o que for que, em qualquer sentido, nos desvie da verdade e da justiça em nossa associação e parceria com os homens, não nos pode beneficiar, e desonra grandemente a Deus. Toda espécie de engano ou conivência com o pecado é aborrecível ao Senhor" (Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 130).

Tenho visto muita gente pecar por conivência. A boa notícia é que o conivente revela muito do seu caráter e da sua fé ao se tornar conivente com injustiças, mentiras e atos reprováveis. E você passa a conhecer quem as pessoas realmente são e quais são as suas prioridades. Conivência, por mais enojante e decepcionante que seja, é um ato revelador.

Meu irmão, minha irmã, convido você a um exame de consciência. Será que você tem sido conivente com pecados alheios? Você tem mantido silêncio diante de atitudes vergonhosas, injustas e anticristãs, a fim de não se indispor com pessoas, manter algum tipo de benefício ou levar algum tipo de vantagem? Tem balançado a cabeça, afirmativamente, quando as pessoas falam mentiras?

"Precisamos guardar-nos contra a indevida severidade no trato com os que erram; mas precisamos também ser cuidadosos para não perder de vista a excessiva malignidade do pecado. Há necessidade de mostrar-se paciência e amor semelhantes aos de Cristo pelo que erra, mas há também o perigo de se mostrar tão grande tolerância pelo seu erro que ele se considerará não merecedor de reprovação e a rejeitará como inoportuna e injusta" (Atos dos Apóstolos, p. 283).

Como tem sido sua postura diante da inverdade, de atos de injustiça ou de posicionamentos anticristãos de supostos cristãos – ou não? Quão gritante tem sido o seu silêncio diante da maldade? Desperte! “Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando” (Tg 4:17).

"Deus nos manda falar, e não ficaremos silenciosos. Caso haja erros claros entre Seu povo, e os servos de Deus passem adiante, indiferentes a isso, estão por assim dizer apoiando e justificando o pecador, e são igualmente culpados, incorrendo tão certo como ele no desagrado de Deus; pois serão tidos como responsáveis pelos pecados do culpado" (Testemunhos Seletos, vol. 1, p. 334, 335).

Não ache você que conivência é um pecado menor do que adultério, aborto ou qualquer outro dos pecados mais frequentes nos lábios e nas redes sociais dos pregadores. Simplesmente porque a conivência com atos de injustiça contraria frontalmente a essência do Deus que é justiça. É, portanto, a sabotagem do projeto de Deus na terra.

"Deus não o terá por inocente se tiver conivência com um procedimento incorreto, exerça embora o que assim procede uma grande influência, ou sejam grandes suas responsabilidades" (Obreiros Evangélicos, p. 102).

“Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o pensamento de vocês. O que também aprenderam, receberam e ouviram de mim, e o que viram em mim, isso ponham em prática; e o Deus da paz estará com vocês” (Fp 4:8‭-‬9).

Fica o convite: arrependa-se. Confesse. Deixe. E a misericórdia de Deus virá sobre você.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,

Maurício Zágari (via Apenas)

A inserção de textos de Ellen G. White, em negrito, foram feitas pelo blog.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

GUERRA DOS TRONOS

A expressão “guerra dos tronos” foi popularizada devido a uma violenta fantasia épica escrita por George R. R. Martin. A saga seduziu uma multidão de fãs ao apresentar o que a humanidade tem de pior. Os livros deram origem a uma das séries de TV mais caras da história, intitulada em inglês Game of Thrones. Imprópria para os cristãos, ela pode representar mais um passo para condicionar uma geração às estratégias do diabo no tempo do fim.

Esse enredo é ficção, mas uma guerra real pelo trono do Universo ocorreu há muito tempo. Felizmente, o lado luminoso venceu, e os rebeldes foram expulsos do Céu (Ap 12:7-9). Ocorre que o conflito teve novos desdobramentos, em outros cenários, e agora ganha intensidade e dramaticidade no fim dos tempos (v. 12).

O tema do trono permeia o Apocalipse, um mosaico dos grandes enfoques bíblicos, e mostra que os eventos retratados nesse livro que encerra o cânon incluem uma disputa mortal pelo poder, com repercussões eternas. No caso do oponente de Deus, o poder é apenas uma tentativa de controlar o mundo e receber adoração. Mas por que o trono ganhou tal destaque?

SÍMBOLO DE SOBERANIA
Trono é uma cadeira especial, ricamente ornamentada, tendo um assento alto, um encosto retangular e braços e pernas torneados, às vezes com figuras de animais, onde costumam sentar-se reis, monarcas, papas e outros dignitários poderosos. Em sentido abstrato, é uma metáfora para o poder real, um lugar de onde saem decisões e ordens, favores e sentenças, bênçãos e maldições, vida e morte.

A palavra vem do grego, com o sentido de assento ou cadeira com um apoio para os pés. No grego antigo, a expressão Dios thronos era usada para descrever o “suporte dos céus”, o eixo do mundo. Desde a antiguidade, reis e divindades sentados em tronos são comuns na iconografia do Oriente Próximo.

De acordo com Homero, os aqueus costumavam colocar tronos vazios nos palácios reais e nos templos para que os deuses pudessem sentar-se neles, caso desejassem. Por sua vez, os romanos tinham um trono para o imperador e um para a deusa Roma. Estátuas dela eram colocadas sobre os tronos, que se tornavam centros de adoração. O problema é que desses tronos não poderia surgir nenhuma ajuda. O auxílio também não podia vir dos tronos gravados nas moedas romanas e associados a vários deuses, tampouco dos tronos vazios, com apenas um capacete, símbolo da guerra e do governo.

Bispos representantes da Igreja Católica, da Igreja Ortodoxa e da Igreja Anglicana, entre outras, também se assentam em um trono, a cathedra, que representa sua autoridade formal sobre o rebanho. O trono do papa (a Cathedra Romana) é localizado na Basílica de São João de Latrão, a catedral do bispo de Roma. Contudo, nenhum deles pode realmente defender os súditos.

No contexto bíblico, o trono tem um lugar de destaque. No Antigo Testamento, em que o termo “trono” aparece 135 vezes, vemos muitas referências ao trono de Deus como símbolo de seu poder e personificação de sua justiça, especialmente nos Salmos. “O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; cetro de equidade é o cetro do teu reino”, diz o poeta (Sl 45:6). “Justiça e direito são o fundamento do teu trono; graça e verdade te precedem”, acrescenta (Sl 89:14). “Nos céus, estabeleceu o Senhor o seu trono, e o seu reino domina sobre tudo”, lemos em outro lugar (Sl 103:19).

O Altíssimo tem um trono esplendoroso, e alguns profetas tiveram o privilégio de contemplá-lo. Em sua visão espetacular, Isaías (6:1-3) viu “o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono”, circundado por serafins. Usando linguagem parecida, Jeremias (17:12) diz: “Trono de glória enaltecido desde o princípio é o lugar do nosso santuário.” Com palavras pitorescas, Ezequiel (1:26, NVI) descreve: “Acima da abóboda sobre as suas cabeças havia o que parecia um trono de safira, e, bem no alto, sobre o trono, havia uma figura que parecia um homem.”

Ao redor do trono divino sempre estão seres servindo, louvando e adorando aquele que vive para todo o sempre, o único digno de receber toda a glória e honra. Durando mais do que as estrelas, o trono divino está firme “desde a antiguidade” (Sl 93:2) e “subsiste de geração em geração” (Lm 5:19). Além de ser fundamentado na justiça e revestido de santidade, ele é o depósito dos infindáveis tesouros celestiais.

MOLDURA CONCEITUAL
Se o trono é mencionado em muitos lugares da Bíblia, é no Apocalipse que ele ganha destaque e centralidade. Das 62 vezes em que a palavra “trono” aparece no Novo Testamento, 47 se encontram nesse livro, sendo que 36 vezes (76,6%) se referem ao trono de Deus. Você acha que isso é coincidência?

“Estruturalmente, a parte visionária do livro (4:1–22:5) começa e termina com visões que fortemente enfatizam a centralidade do trono: a primeira no contexto celestial (4:1–5:14) e a última no contexto terrestre de uma nova criação (22:1-5)”, escreveu Laszlo Gallusz num estudo publicado no Journal of the Adventist Theological Society. “Essa inclusão sugere que o livro tenha sido organizado dentro da moldura das visões do trono.”

A visão da sala do trono, em Apocalipse 4 e 5, com seu duplo foco no trono de Deus (capítulo 4) e do Cordeiro (capítulo 5), concentra 19 menções ao trono em 25 versos. Como disse Elisabeth Schüssler Fiorenza em seu livro Revelation: Vision of a Just World, essa visão estabelece “o fundamento retórico e provê as imagens simbólicas, chave para tudo o que vem a seguir”. Para Gallusz, que é professor no Seminário Teológico de Belgrado (Sérvia), “o status que o Cordeiro recebe no capítulo 5 se torna inteligível somente em relação ao trono divino”.

A primeira coisa que João viu depois que a porta do Céu se abriu foi o trono (4:2), o que pode ser uma forma de indicar a mudança para a esfera celestial na visão. “Portanto”, conforme sublinha o teólogo, “o trono de Deus é retratado em Apocalipse 4 como o eixo do mundo, o centro imóvel de toda a realidade”. Deus e o Cordeiro estão no centro porque sãos os criadores de tudo, efetuaram a salvação da humanidade, garantem a justiça no Universo e merecem a adoração de todos os seres. O Cordeiro (arnion), principal título cristológico no livro, aparece 29 vezes, sendo 28 delas aplicadas a Cristo, que é o fator decisivo para a solução do conflito cósmico.

Como se fosse um arco-íris, o Apocalipse retrata uma série de círculos concêntricos, mostrando Deus e Cristo no centro, depois os quatro seres viventes, os 24 anciãos, uma hoste de anjos e os redimidos de todos os tempos e lugares. As expressões “ao redor do trono”, “rodeando o trono” e equivalentes (4:3, 4, 6, 8; 5:11; 7:11), tradução dos termos gregos kyklothen e kyklo (“círculo”, “anel”), sugerem um arranjo circular. Essa ideia de que o Céu é “diagramado” em círculos concêntricos com um trono no meio não é exclusividade do Apocalipse, pois aparece também nos livros apócrifos de Enoque.

As cenas de tronos em Apocalipse envolvem aspectos do ambiente do culto (vindos da tradição litúrgica judaica) e do mundo político (voltados ao contexto greco-romano). Os hinos de louvor, que aparecem em vários lugares do livro e acompanham seus eventos principais, indicam adoração. Em seu livro Revelation’s Hymns, Steven Grabiner argumentou que o tema do conflito cósmico é fundamental para a compreensão da narrativa do Apocalipse, e os hinos devem ser lidos nesse contexto. O conflito começou no templo celestial, onde a soberania absoluta de Deus foi desafiada, e os hinos de louvor ao Criador ocorrem nesse ambiente. Por sua vez, o ato de lançar as coroas diante do trono divino (4:10), indicando que apenas Deus merece toda honra, pode ser compreendido em contraposição aos cerimoniais reais helenísticos e romanos, em que os conquistados depositavam suas coroas aos pés do conquistador (Tácito, Anais 15.29). Por isso, o trono está ligado aos temas da adoração e da disputa pelo poder, coisas que formam o epicentro dos eventos finais.

A ideia de que o motivo do trono estrutura todo o conteúdo do Apocalipse, como defende Gallusz, precisaria de um estudo mais aprofundado, mas não há dúvida de que esse é um dos temas centrais do livro. Não por acaso, a partir do capítulo 4, o autor retrata Deus como ocupando o trono celeste nada menos do que 12 vezes, empregando seis formas gramaticais diferentes.

O trono não tem que ver apenas com o lado político da guerra, mas com a vindicação do caráter de Deus. A leitura do Apocalipse e da história religiosa do mundo a partir do plano da salvação, típica dos evangélicos, precisa ser completada por essa dimensão do grande conflito (ver Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 68). Uma perspectiva começa com o mundo e termina com o fim dele. A outra começa antes da criação e continua na eternidade.

VOCÊ NO TRONO
O trono divino revela claramente o poder de Deus, mas também sua santidade e seu amor. Por isso, ele está ligado aos principais eventos do plano da salvação. Conforme destacado por Gallusz, “as visões do trono aparecem em cinco contextos no Apocalipse: nas cenas do templo celeste, na descrição do ‘dia da ira’, na resolução do conflito cósmico, na cena do julgamento milenial e na visão final da nova criação”.

Esses aspectos colocam outros grupos do Apocalipse em relação direta com o trono de Deus, seja na categoria de aliados (em que a esfera de ação é o Céu) ou na categoria de adversários (cuja esfera de ação é a Terra). A besta, que tem seu próprio trono (16:10), o que indica que ela tenta usurpar o poder de Deus, seguindo o espírito de Satanás, entra na segunda categoria.

Na visão adventista, besta é o poder romano cristianizado, ou o cristianismo romanizado. A vitória do cristianismo sobre seu rival, o paganismo, criou um império alternativo. A ambição pelo poder brilhou nos olhos de alguns líderes dos primeiros séculos e eles se uniram a um império que criava seus próprios deuses. Surgiu então a igreja imperial. No livro Igreja: Carisma e Poder, lançado em 1981 e que o levou a ser silenciado pelo Vaticano, Leonardo Boff criticou a hierarquia “piramidal”, “personalizada”, “cósmica e sagrada” da igreja de Roma, em que a voz do superior é a voz de Deus.

Falando da besta do mar descrita em Apocalipse 13, identificada por uma série de intérpretes como a Roma cristã, Jacques Doukhan escreveu em seu livro Secrets of Revelation: “Por trás da máscara de religiosidade esconde-se a aspiração totalmente humana pelo poder. Deus não tem importância para a igreja. É tudo um jogo político.” A aparente democracia do Vaticano na atualidade é vista por muitos como apenas uma estratégia para recuperar o poder e a influência de outros tempos. Isso pode demorar, pois Roma “pensa em séculos”, mas é o alvo final.

A questão não é apenas estar no trono, pois no Apocalipse Jesus promete que os vencedores poderão sentar-se com ele em seu trono (3:21). Os santos receberão autoridade para julgar e se assentarão em tronos (20:4). A questão é sentar-se no trono para tentar tomar o lugar que pertence exclusivamente a Deus e a Cristo.

Ao longo do livro, o trono serve para destacar a legitimidade do poder divino e a vindicação do caráter de Deus, pois o livro se encerra com as relações restauradas. No fim do Apocalipse (22:1-5), numa linguagem típica da criação e do Jardim do Éden, incluindo o rio e a árvore da vida, o fim da maldição e a vida novamente na presença de Deus, o conflito termina e tudo volta ao estado original. O trono de Deus (partilhado pelo Cordeiro), que aparece como a fonte dessas bênçãos (v. 1), estará no meio da cidade (v. 3), sem opositores e com milhões que celebram a vitória.

“A cena visionária final também resolve a questão do poder, que é o assunto central no livro”, observa corretamente Gallusz. “Ela retrata o lado vitorioso do conflito cósmico, os legítimos ocupantes do trono, mas ao mesmo tempo ressalta a diferença fundamental entre a natureza do governo de Deus e a do governo dos poderes terrestres. Enquanto o regime da besta é voltado para si e nega a vida, o reinado de Deus promove a vida, pois busca o bem-estar da criação.”

No novo mundo pós-conflito, Deus será o centro de toda a criação outra vez, e todos se regozijarão ao redor de seu trono. Se o trono de justiça foi usado para vencer e julgar, agora o trono de graça será a fonte de eterna felicidade. A melhor notícia é que Deus está no trono e sempre estará. O trono não está vago. O Universo não é governado por um déspota, mas pelo Rei amoroso e justo. Na verdadeira guerra dos tronos, o lado bom vence.

Marcos De Benedicto (via Revista Adventista)

quinta-feira, 11 de abril de 2024

OS FARISEUS DO SÉCULO XXI

Os fariseus, no tempo de Jesus, organizavam-se em comunidades ou fraternidades que chamavam de “haburot”. Para entrar nelas, deviam ser testados duramente num período de cerca de um ano, às vezes menos. Ao ser aceito, ficava-se ligado por uma série de votos, cada um mais complexo e secreto. Em muitas ocasiões, como escreve Paulo, a condição de fariseu era passada de pai para filho (“fariseu filho de fariseus”). Calcula-se que podiam chegar a mais de seis mil membros, distribuídos pelo território de Israel e na diáspora.

Quando o sujeito era admitido na comunidade fariseia (alguns a chamavam de “chabura”), a família passava automaticamente a fazer parte das referidas irmandades. Quanto mais alto na escala, mais puro e mais honorável aos olhos dos homens e de Yaveh. Não podiam vender a ninguém que não fosse “santo e separado”. Os negócios, como sempre, ficavam entre eles mesmos. Os do primeiro grau eram conhecidos como “chaber” ou “bem hacheneseth” (“filho da união”). Tratava-se dos fariseus ordinários (a maioria dos que Jesus encontrou ao longo da vida). Os três graus restantes eram designados pelo nome genérico de “teharoth” (“purificações”).

O “chaber”, ou fariseu comum, tinha a obrigação de pagr o dízimo (por tudo que consumia) e de se manter puro, a qualquer custo. Neste último quesito, era fundamental que o fariseu jamais se misturasse, sob nenhum pretexto, aos chamados “am-ha-arez” (o povo comum). Isso significava o pior dos pecados; ou seja, a impureza total.

Os “am-ha-arez”, eram considerados incultos, ignorantes da Lei de Moisés e, em consequência, em permanente pecado aos olhos de Deus. O pior é que, além de se contaminar com os “am”, os fariseus de primeiro grau podiam contagiar a impureza a seus irmãos de segundo grau, e estes, por sua vez, aos de terceiro; e estes, naturalmente, aos que quarto grau. Como se pode ver, aquilo era uma loucura. As mulheres dos “santos e separados” não pertenciam a nenhum dos graus da irmandade fariseia. E, apesar de todo esse preconceito explícito, o povo judeu os tinha em considerável estima. As disposições contra os “am” (ou povo comum) contavam-se às centenas. Vejamos um exemplo:

“Quando a esposa de um “haber” deixa que a esposa de um “am” moa no moinho da sua casa, se o moinho parar, a casa ficará impura; se ela continuar moendo, só ficará impuro aquilo que ela puder tocar estendendo a mão” (Toh 7,4). Quando alguém se contaminava com impureza, sua obrigação era fazer uma oferenda, obtendo assim, o perdão de Deus pela suposta culpa. Isso, claro, significava dinheiro. Um dinheiro para o Templo (na realidade, para os sacerdotes).

E foi justamente com os fariseus que chegou a adoração à “Torah Oral”. Até o aparecimento dos “santos e separados”, o povo judeu se guiava pela Torah Escrita; ou seja, o manifestado por Deus a Moisés. Essas manifestações integram o Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia) – as chamadas Escrituras Sagradas, ou, a Lei. Mas os fariseus foram além e estimaram que o dito por Yaveh a Moisés havia sido muito mais e muito mais complexo e importante que o registrado na Torah Escrita. Foi assim que nasceu a Torah Oral: milhares de normas e interpretações que, segundo os fariseus, constituíam a correta interpretação e o desenvolvimento último da Torah Escrita.

O Pentateuco, enfim, segundo a filosofia farisaica, não era suficiente para servir a Yaveh. Essas normas complementares procediam dos tempos do exílio na Babilônia (584 a.C.) e foram “atualizadas” pelas gerações seguintes. Nos tempos do Mestre Jesus contava-se 613 preceitos (365 proibições e 248 mandamentos positivos), com uma constelação de “subpreceitos”; um monumento jurídico, que, segundo os fariseus, procedia diretamente de Deus.

As ramificações da chamada Torah Oral eram tantas que o povo se sentia incapacitado para cumpri-las. Nem mesmo os especialistas – os escribas – estavam em condições de reter na memória tamanha teia jurídica. Era o “pesado julgo” a que o Filho do Homem fez alusão. Para os fariseus, a Torah Oral era mais importante que a escrita. Isso foi uma fonte de conflitos com outro grupo judaico: os saduceus. A fidelidade à Torah Oral levava as irmandades farisaicas a todo tipo de extravagâncias. Eles diziam que a Torah Oral dá resposta a qualquer ordem da vida diária. Tudo estava na Lei (eles chamavam de “tradição dos pais”, “tradição dos anciãos”, ou “halakah”). A “halakah”, também conhecida como “a trilha pela qual transita Israel”, continha todos os aspectos imagináveis da conduta humana e contemplava todo tipo de ritos, dízimos, pureza, impureza, orações, mandamentos, comportamento durante o sábado, relações conjugais, festas de todo tipo e disposições legais, tanto nas leis civis quanto nos assuntos criminais. Os fariseus consideravam a Torah Oral o fundamento da nação judaica. Ninguém podia questioná-la. Jesus, ao defender o espírito da Lei de Deus e não a letra, tornou-se inimigo da casta dos “santos e separados”.

Os fariseus eram homens arrogantes e vaidosos, orgulhosos de si mesmos, que olhavam por cima do ombro todos os que não eram da fraternidade. Sua religiosidade ficou reduzida a um pacto comercial com Yaveh. Deus lhes dava e eles devolviam. Nada era gratuito. Jamais faziam nada por altruísmo. Na hora de entregar as esmolas, faziam-se acompanhar por outros fariseus que tocavam o sino ou a trombeta, chamando a atenção da vizinhança. Como dizia o Mestre, “esses já tiveram sua recompensa”. Para os “santos e separados”, a caridade fazia parte de sua filosofia e era feita não por piedade ou generosidade, mas porque acreditavam que essas obras eram retribuídas em curto, médio ou longo prazo por Yaveh. Sabiam da misericórdia de Deus, mas esse perdão divino, de acordo com os fariseus, era apenas para os justos. Os pecadores não mereciam essa misericórdia. Com outras palavras, os fariseus eram os exclusivistas religiosos de outrora que negavam a Lei do Amor em troca de leis comportamentais fanáticas.

Se, como ensina Jesus, os fariseus são aqueles que abandonaram “o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”, nossa época está cheia deles. E nem é preciso procurar muito.

O Mestre disse: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos” (Isaías 29:13).

"Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens" (Marcos 7: 6-8).

A igreja cristã hoje em dia, infelizmente, também tem vários “fariseus”. Refiro-me aos líderes religiosos/as que ficam estabelecendo regras de comportamento para as outras pessoas e cobrando seu cumprimento.

Essas regras podem alcançar diversas áreas das vidas das pessoas, como a forma de se vestir, os lugares que podem frequentar, o que lhes permitido fazer para se divertir, como podem se relacionar e assim por diante. Em algumas igrejas, são tantas as regras e tal o rigor na sua aplicação, que as pessoas ficam sufocadas, tornando-se verdadeiras prisioneiras. A modéstia, o bom senso e a temperança - são princípios naturais para todo aquele que segue a Lei do Amor. Não é uma listinha de moralidades, mas discernimento espiritual. Não há barganhas com Deus, há relacionamento.

Os “fariseus” não acabaram nos tempos de Jesus, o que é uma pena. Eles mudaram de roupagem e estão aí, bem vivos e influentes, causando o mesmo tipo de estrago que causaram dois mil anos atrás. Então, muito cuidado com eles.

“Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês fecham o Reino dos céus diante dos homens! Vocês mesmos não entram, nem deixam entrar aqueles que gostariam de fazê-lo” (Mateus 23:13).

“Em verdade vos digo, que os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus” (Mateus 21:28-32).

Muitos cristãos deixam de cumprir o mais importante da lei de DEUS que é a JUSTIÇA, a MISERICÓRDIA, o AMOR e a FÉ - pela qual somos salvos. Desde o princípio Deus já dizia através dos profetas que o que Ele realmente queria de nós é a MISERICÓRDIA - que significa compadecer-se da miséria alheia, e não o sacrifício – “Afinal, o que desejo é misericórdia, e não sacrifícios; entendimento quanto à pessoa de Elohim, Deus, mais que ofertas e holocaustos” (Oséias 6:6).

“A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei" (Romanos 13:8).

“Pois toda a Lei se resume num só mandamento, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Gálatas 5:14).


"O maior dos enganos do espírito humano, nos dias de Cristo, era que um mero assentimento à verdade constituísse justiça. Em toda experiência humana, o conhecimento teórico da verdade se tem demonstrado insuficiente para a salvação. Não produz os frutos de justiça. (...) Os fariseus pretendiam ser filhos de Abraão e se vangloriavam de possuir os oráculos de Deus; todavia, essas vantagens não os preservavam do egoísmo, da malignidade, da ganância e da mais baixa hipocrisia. (...)

O mesmo perigo existe ainda hoje. Muitos se têm na conta de cristãos simplesmente porque concordam com certos dogmas teológicos. No entanto, não introduziram a verdade na vida prática. Não creram nela nem a amaram; não receberam, portanto, o poder e a graça que advêm mediante a satisfação da verdade. As pessoas podem professar fé na verdade; mas, se ela não os tornar sinceros, bondosos, pacientes, dominados, tomando prazer nas coisas de cima, isso é uma maldição a seu possuidor e, por meio de sua influência, uma maldição ao mundo.

A justiça ensinada por Cristo é conformidade de coração e de vida com a revelada vontade de Deus. Os pecadores só se podem tornar justos à medida que têm fé em Deus e mantêm vital ligação com Ele. Dessa forma, a verdadeira piedade elevará seus pensamentos e enobrecerá a vida. Então, as formas externas da religião se harmonizarão com a interior pureza cristã. Nesse caso, as cerimônias exigidas no serviço de Deus não são ritos destituídos de sentido, como os dos fariseus hipócritas" (Ellen G. White - A Fé Pela Qual eu Vivo, p. 108).