segunda-feira, 30 de novembro de 2020

O "MILAGRE" DE GROSJEAN

O fortíssimo acidente de Romain Grosjean, da Haas, logo na largada do GP do Bahrein de Fórmula 1 neste domingo (29), chocou o mundo. Pudera. O francês de 34 anos ficou 29 segundos sob as chamas de seu carro, que partiu-se ao meio e foi tomado pelo fogo após ser tocado pela Alpha Tauri do russo Daniil Kvyat, sair da pista e acertar em cheio um guard-rail. A parte de trás do monoposto ficou intacta, já a da frente ficou irreconhecível.


Grosjean saiu andando do meio das chamas e, a princípio, teve queimaduras leves nas mãos e nos tornozelos. Por precaução, foi levado a um hospital. Não demorou para que a imprensa mundial passasse a noticiar o acidente com manchetes dignas das imagens impressionantes que a batida gerou.

"Milagre no Bahrein" e "Acidente brutal" estampou o diário espanhol Marca em sua versão on-line.

"Acidente terrível", disse o Sport, também espanhol.

Na Inglaterra, o The Guardian escreveu: "Grosjean sobrevive"

Na França, país do piloto, o L’Équipe resumiu assim: "Milagre"

De volta à Espanha, o Mundo Deportivo usou "Grosjean nasce de novo", e o AS estampou: "Terror e milagre".

Na Argentina, o portal TyC Sports chamou de "Terrível acidente". Na Itália, o La Gazzetta dello Sport escreveu: "Vivo por um milagre".

A esposa de Romain Grosjean, Marion Jolles usou o Instagram para agradecer pelos “vários milagres” que salvaram a vida do piloto da Haas no assustador acidente do GP do Bahrein de domingo (29). A jornalista considerou que foram os três filhos que empurraram o franco-suíço para fora do carro em chamas em Sakhir.

Se entrarmos na cápsula do tempo e voltarmos até o 6° século a.C, chegando à planície de Dura, em Babilônia, no dia da inauguração da estátua de ouro do rei Nabucodonosor, testemunharemos um dos acontecimentos mais fantásticos da Bíblia, que igualmente chocou mundo. 
 
Você conhece a história: o rei exigiu que, ao ritmo da música, todos adorassem a imagem, mas três jovens hebreus se recusaram a fazê-lo. Como resultado, foram jogados numa fornalha de fogo ardente, talvez a 1.500 graus Celsius. Contudo, não tiveram um único fio de cabelo queimado porque um personagem parecido "com um filho dos deuses" os protegeu. Isso levou o monarca a louvar o Deus do Céu e a proclamar que "nenhum outro deus é capaz de livrar ninguém dessa maneira" (Dn 3:29).

Ellen G. White, no livro Vidas que Falam (p. 253), nos traz uma linda reflexão sobre o que ocorreu em Babilônia:

"O Senhor não esqueceu os Seus. Sendo Suas testemunhas lançadas na fornalha, o Salvador Se lhes revelou em pessoa, e junto com eles andava no meio do fogo. Na presença do Senhor do calor e do frio, as chamas perderam o seu poder de consumir. Do seu real trono o rei olhava, esperando ver inteiramente consumidos os homens que o haviam desafiado. Mas seus sentimentos de triunfo subitamente mudaram. Os nobres que lhe estavam próximo viram sua face tornar-se pálida, enquanto ele descia do trono e olhava atentamente para dentro das chamas ardentes. Alarmado, o rei, voltando-se para os seus cortesãos, perguntou: 'Não lançamos nós três homens atados dentro do fogo? ... Eu, porém, vejo quatro homens soltos, que andam passeando dentro do fogo, e nada há de lesão neles; e o aspecto do quarto é semelhante ao filho dos deuses.' Como sabia o rei pagão a que era semelhante o Filho de Deus? Os cativos hebreus que ocupavam posição de confiança em Babilônia tinham representado a verdade diante dele na vida e no caráter. Quando perguntados pela razão de sua fé, tinham-na dado sem hesitação. Clara e singelamente tinham apresentado os princípios da justiça, ensinando assim aos que lhes estavam ao redor a respeito do Deus a quem adoravam. Eles tinham falado de Cristo, o Redentor vindouro; e na aparência do quarto no meio do fogo, o rei reconheceu o Filho de Deus."

Aquele que andou com os hebreus valorosos na fornalha ardente, estará com os Seus seguidores em qualquer lugar. Sua constante presença confortará e sustentará. Em meio do tempo de angústia — angústia como nunca houve desde que houve nação — Seus escolhidos ficarão firmes. Satanás com todas as forças do mal não pode destruir o mais fraco dos santos de Deus. Anjos magníficos em poder os protegerão, e em favor deles Jeová Se revelará como “Deus dos deuses” (Daniel 2:47), capaz de salvar perfeitamente os que nEle puseram a sua confiança.

sábado, 28 de novembro de 2020

SERPENTES

"Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?" (Mateus 23:33)

Chamar alguém de “serpente”, especialmente de “cascavel” ou “jararaca”, é sempre uma ofensa. No entanto, mesmo as cascavéis podem nos ensinar uma interessante lição.

Ao lutarem entre si, evitam picar-se mutuamente, pois não são imunes ao seu veneno e podem morrer. Sua luta consiste em tentar empurrar a rival para trás, sobre si mesma. As duas adversárias se encaram de frente, erguendo um terço de seu corpo acima do chão, bamboleando e se entrelaçando, uma forçando a outra como num braço-de-ferro. A mais forte derruba a adversária e a imobiliza com o peso de seu corpo por alguns segundos, e então a perdedora vai embora, sem ter sido picada.

Até as cascavéis, portanto, têm o seu código de honra e evitam matar-se. O homem, porém, criado um pouco menor do que os anjos é capaz de assassinar o semelhante. Quando permite que a ira o domine, pode agredir alguém fisicamente ou com palavras que destilam peçonha mortal, tornando-se não apenas inferior aos anjos, mas também aos animais.

A Palavra de Deus compara alguns tipos humanos a animais. Cristo certa vez Se referiu a Herodes como sendo uma raposa (Lc 13:31, 32). Chamou os escribas e fariseus de “raça de víboras”, repetindo os termos de João Batista (Mt 3:7; 23:33). Em outra ocasião, disse aos discípulos que os estava enviando “como ovelhas para o meio de lobos”. E recomendou-lhes que fossem “prudentes como as serpentes e símplices como as pombas” (Mt 10:16). O próprio Cristo é comparado a um cordeiro (Is 53:7), e também a um leão (Ap 5:5).

Ao proferir as bênçãos proféticas sobre seus filhos, Jacó disse que Dã seria uma “serpente junto ao caminho” (Gn 49:17), indicando que essa tribo seria traiçoeira e astuta.

Em nosso jornadear para o reino de Deus encontraremos serpentes à beira do caminho, que tentarão amedrontar-nos, desviar-nos, fazer-nos desistir ou ferir-nos traiçoeiramente. Essas serpentes, sejam elas heresias, más companhias, drogas ou mundanismo em todas as suas formas, são todas filhas da “antiga serpente, que se chama diabo e Satanás” (Ap 12:9). É preciso ter cuidado, mas se formos picados, há um antídoto eficaz:

“Os que foram picados por aquela velha serpente, o diabo, são convidados a olhar e viver [...] Olhai tão-somente a Jesus como vossa justiça e sacrifício. Ao serdes justificados pela fé, a mortal picada da serpente será curada” (Ellen G. White - Filhos e Filhas de Deus, p. 222).

Rubem M. Scheffel (via Com a Eternidade no Coração)

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

POBRES DE ESPÍRITO

Jesus começa as bem-aventuranças dizendo que o reino de Deus pertence aos “pobres de espírito” (Mt 5:3). No original, o termo é ptochos, que indica pobreza extrema. É óbvio que Cristo não está se referindo à classe social, nem tão pouco à pobreza material deste mundo, mas sua declaração nos leva a uma dimensão espiritual, por isso, há uma ênfase na expressão “pobres de espírito”.

Nos dias de Cristo, os guias religiosos do povo julgavam-se ricos em tesouros espirituais. A declaração de Jesus é justamente um ataque direto ao senso de autossuficiência espiritual, que impede a atuação de Deus na vida do crente. O termo ptochos também deriva de ptasso que é “humilhar-se”, “abaixar-se”. Assim, os “pobres de espírito” são pessoas humildes, que em primeiro lugar reconhecem sua pecaminosidade e se inclinam diante de Deus para serem agraciados por Ele.

Diante da maravilhosa e rica graça de Deus somos extremamente pobres. Nosso primeiro dever ao nos aproximar de Deus é reconhecer nossa condição. Como disse C. H. Spurgeon: “Para subirmos no reino é preciso rebaixarmo-nos em nós mesmos”. Aqueles que se humilham diante de Deus recebem Sua maravilhosa graça e são exaltados por Ele já no presente (1Pd 5:5 e 6), porém, acima de tudo, receberão Seu reino eterno no futuro (Mt 5:3). Por isso, bem-aventurados os humildes de espírito!

Confira abaixo a maravilhosa reflexão de Ellen G. White falando sobre o significado de "pobres de espírito" encontrada na Meditação Matinal, Perto do Céu, 2013, p. 180:

"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos Céus" (Mateus 5:3). Essas palavras de conforto proferidas por Cristo não são dirigidas ao orgulhoso, tampouco ao prepotente e presunçoso, mas àqueles que reconhecem a própria fraqueza e pecaminosidade. Os que choram, os mansos que se sentem indignos do favor de Deus e os que têm fome e sede de justiça; todos estão incluídos no termo “pobre de espírito”. 

Os pobres de espírito sentem sua pobreza, sua necessidade da graça de Cristo. Percebem que conhecem pouco a respeito de Deus e de Seu grande amor, e que precisam de luz a fim de conhecer e guardar o caminho do Senhor. Não ousam enfrentar a tentação amparados na própria força, pois sabem que não dispõem de força moral para resistir ao mal. Não encontram prazer em se lembrar de sua vida passada, e têm pouca confiança ao olhar para o futuro, pois são enfermos de coração. Para tais, Cristo diz: “Bem-aventurados os pobres de espírito.” Cristo viu que aqueles que sentem sua pobreza podem ser feitos ricos. 

Que grande privilégio se encontra ao alcance dos que sentem a pobreza de seu espírito e se submetem à vontade de Deus! O remédio para a pobreza de espírito se encontra unicamente em Cristo. Ao ser o coração santificado pela graça, ao possuir o cristão a mente de Cristo, ele tem o amor de Cristo – riquezas espirituais mais preciosas do que o ouro de Ofir. Porém, antes que possa existir o intenso desejo pela riqueza contida em Cristo, disponível a todos que sentem sua pobreza, deve existir o senso de necessidade. Quando o coração está repleto de presunção e preocupado com as coisas superficiais da Terra, o Senhor Jesus repreende e disciplina a fim de que a pessoa possa se dar conta de sua verdadeira condição. 

Achegue-se a Jesus com fé e sem demora. A provisão dEle é farta e gratuita, Seu amor é abundante, e Ele lhe concederá graça para tomar Seu jugo e levar Seu fardo com alegria. Você pode reivindicar o direito à bênção dEle em virtude de Sua promessa. Pode entrar em Seu reino, que é Sua graça, Seu amor, Sua justiça, Sua paz e alegria no Espírito Santo. Se você se sente na mais profunda necessidade, pode ser suprido com toda a Sua plenitude, pois Cristo disse: “Não vim chamar justos, e sim pecadores” (Mc 2:17). Jesus o chama.

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

ELLEN G. WHITE, 193 ANOS


Infância e adolescência
Ellen Gould Harmon nasceu na cidade de Gorham, estado do Maine, localizado no nordeste dos Estados Unidos, no dia 26 de novembro de 1827. Seus pais se chamavam Robert e Eunice Harmon, e Ellen e a irmã gêmea Elizabeth eram as mais novas de uma família com oito filhos. Sua educação formal foi interrompida quando ela tinha apenas nove anos de idade, por causa de um incidente que quase lhe custou a vida. No início da adolescência, Ellen e sua família aceitaram as interpretações bíblicas apresentadas pelo pregador batista Guilherme Miller. Juntamente com Miller e outras 50 mil pessoas, ela passou pelo que ficou conhecido como “Grande Desapontamento”, pois esperavam a volta de Jesus no dia 22 de outubro de 1844, a data correspondente ao fim da profecia dos 2.300 dias de Daniel 8.

Chamada por Deus
Em dezembro de 1844, Deus concedeu a Ellen a primeira de um total de cerca de 2 mil visões e sonhos proféticos. Em agosto de 1846, Ellen casou com Tiago White, um pastor com 25 anos de idade que partilhava da mesma convicção de que Ellen fora chamada por Deus para realizar a obra de um profeta. Pouco tempo depois, Ellen e Tiago passaram a guardar o sábado como o dia de descanso ordenado por Deus, de acordo com o quarto mandamento.

Família
Como mãe de quatro filhos, Ellen experimentou a dor de perder dois deles. Herbert morreu com poucas semanas de vida e Henry com 16 anos. Os outros dois filhos, Edson e William, se tornaram pastores adventistas.

Os escritos
Durante sua vida, escreveu mais de 5 mil artigos e 49 livros. Após sua morte, mais de 70 obras foram compiladas e publicadas com textos ainda inéditos em sua maioria. Mais de 150 livros estão disponíveis em inglês, e cerca de 110 em português. Ellen G. White é a escritora mais traduzida em toda a história da literatura. Seus escritos abrangem uma ampla variedade de temas, incluindo religião, educação, saúde, relações sociais, administração, música e liderança. Seu best-seller sobre vida cristã, Caminho a Cristo, já foi publicado em mais de 150 idiomas. (Acesse aqui sua obra)

Comunicadora
Apesar de certa relutância e timidez inicial, Ellen White se tornou uma comunicadora bem conhecida nos Estados Unidos, na Europa e na Austrália. Ela era convidada a falar não apenas em reuniões adventistas, mas também para o público em geral. Era muito requisitada principalmente para falar sobre temperança. Em 1876, ela falou para seu maior auditório – estimado em 20 mil pessoas – em Groveland, Massachusetts, durante mais de uma hora, e naquele tempo não havia microfone.

A mensagem de saúde
Em sua visão de 6 de junho de 1863, Ellen White recebeu instruções sobre assuntos relacionados à saúde, como o uso de drogas, tabaco, chá, café, alimentos de origem animal e a importância de atividades físicas, luz solar, ar puro e regime alimentar equilibrado. Seus conselhos sobre saúde, fundamentados nessa e nas demais visões, têm ajudado os adventistas a desenvolver um estilo de vida que lhes dá em média sete anos a mais de longevidade do que as pessoas em geral.

Leitora voraz
Ellen White lia muito. Ela descobriu que ler outros autores não apenas solidificava sua cultura, mas também a ajudava a apresentar em seus escritos os princípios da verdade a ela revelados em visão. Além disso, às vezes, o Espírito Santo a impressionava a citar em seus artigos ou livros verdadeiras joias literárias extraídas de outros autores. Ela jamais se considerou infalível nem colocava seus escritos em nível de igualdade com a Bíblia, mas cria firmemente que suas visões tinham origem divina e que seus artigos e livros eram produzidos sob a direção do Espírito de Deus. Evangelista por natureza, sua principal preocupação era a salvação das pessoas.

Generosidade
Ellen White era extremamente generosa e dava bom exemplo de cristianismo prático. Durante anos, ela mantinha em casa pedaços de tecido para fornecer a alguma mulher que estivesse necessitando de pano para fazer um vestido. Em Battle Creek (onde morava), ia a leilões para comprar móveis usados, que ela guardava para doar a vítimas de calamidades, como incêndios. Numa época em que ainda não existiam planos de aposentadoria, sempre que ouvia falar de algum pastor idoso que estava precisando de ajuda financeira, ela não hesitava em lhe enviar algum dinheiro, a fim de socorrê-lo naquela emergência.

Sua obra
Ellen White faleceu no dia 16 de julho de 1915. Durante 70 anos, ela apresentou fielmente as mensagens que Deus lhe confiou para Seu povo. Ela jamais foi eleita para alguma função administrativa na igreja, mas seus conselhos eram sempre ouvidos pelos líderes denominacionais. Suas mensagens colocaram em ação as forças que resultaram no amplo sistema educacional adventista, presente em todo o mundo, desde creches até universidades. Embora ela nunca tenha feito cursos na área de saúde, os resultados de seu ministério são notáveis na rede de hospitais adventistas, clínicas e outras instituições médicas presentes em todo o mundo. Ela não foi formalmente ordenada para a atividade pastoral, mas sua obra causou um impacto espiritual sem precedentes na vida de milhões.

Influência permanente
Em novembro de 2014, Ellen G. White foi incluída em uma lista com os nomes dos 100 norte-americanos mais influentes de todos os tempos. A listagem é um trabalho da Smithsonian Magazine. Ainda hoje, os livros de Ellen White continuam a ajudar as pessoas a encontrar o Salvador, aceitar Seu perdão, partilhar essas bênçãos com os outros e viver na expectativa do cumprimento da promessa do breve retorno de Cristo.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

A SEGUNDA VINDA DE CRISTO ESTÁ ATRASADA?

A questão sobre o suposto atraso da vinda de Cristo é complexa, e seria necessário muito tempo para uma discussão detalhada. Aqui apresento apenas os elementos que devem ser tomados em consideração ao procurar responder a essa preocupação. 
 
1. Atraso? Por alguma razão, muitos presumem que Jesus tenha atrasado Seu retorno em glória. A tendência geral tem sido culpar a condição espiritual da igreja: ainda estamos aqui devido ao nosso fracasso espiritual. Dá-se então a impressão de que, se mudarmos essa situação, o Senhor virá. Mas e se Jesus não tiver atrasado Sua vinda? Há na Bíblia alguma evidência que indique que Deus esteja adiando a retorno de Cristo? Não parece ser o caso. Podemos afirmar com certeza: entre a primeira vinda e a segunda epifania de Cristo, Ele está realizando Seu trabalho sacerdotal no Céu, e a igreja está cumprindo sua missão na Terra.
 
2. A missão da igreja. Cristo disse claramente aos Seus discípulos que o tempo entre Suas duas aparições deveria ser preenchido com a missão da igreja (Mt 24:45, 46; At 1:8). Foi exatamente no contexto de tentar descobrir quando Cristo estabeleceria Seu reino que Ele indicou a missão da igreja, proibindo assim especulações sobre o tema (At 1:6, 7). Ele sabia que os debates sobre o tempo da Sua vinda distrairiam Seu povo do cumprimento da missão, causando divisões e criando conflitos entre eles. Segundo Jesus, aqueles que dizem “Meu Senhor está demorando” são os que suscitam controvérsias e prejudicam outros (Mt 24:48, 49). Portanto, Cristo enfatizou a missão, não a especulação nem a fixação de datas em relação ao Seu retorno. 
 
3. Sacerdócio de Cristo. Após Sua ascensão, Jesus assentou-Se à direita do Pai e deu início ao Seu trabalho sacerdotal (At 2:32, 33; Hb 4:14; 8:1). Ele está lá intercedendo por nós, disponibilizando aos pecadores arrependidos os benefícios expiatórios da Sua morte substitutiva (Rm 8:34; Hb 7:25; 9:24). No início do Seu trabalho sacerdotal, o primeiro pedido de Cristo ao Pai foi enviar ao Seu povo na Terra o Espírito Santo, habilitando-o assim a cumprir sua missão. O Pai atendeu ao pedido do Filho (At 1, 8; 2:33). Cristo permaneceria lá até o momento de restaurar todas as coisas (At 3:21; 2:34, 35), a consumação de Sua obra salvadora (cf. Ef 1:10). Agora Ele é inacessível ao olho humano natural, mas, uma vez terminado Seu trabalho no santuário celestial, “aparecerá [harao, passivo, ‘para ser visto’] segunda vez [...] para trazer salvação aos que O aguardam” (Hb 9:28, NIV). Enquanto O aguarda, a igreja está cumprindo sua missão. 
 
4. Momento sigiloso. A segunda vinda de Jesus faz parte do plano da salvação, elaborado por Deus desde a eternidade e incluiu o momento da primeira vinda de Cristo. Deus determinou que, ao final das 70 semanas, o Messias viria, quer as pessoas estivessem prontas ou não (Dn 9:24-27). Deus sempre esteve no comando do tempo e da razão (Dn 2:21; Atos 1:7). Em algum momento, Cristo irá declarar que o destino de todos os seres humanos foi determinado e Ele retornará em glória, encerrando a espera da igreja (Ap 22:11) e o conflito cósmico.

Ángel Manuel Rodríguez (via Revista Adventista)
 
A cronologia dos eventos finais, segundo as profecias bíblicas, está ilustrada nesse gráfico:
 
 
 O conselho inspirado de Ellen G. White para nós hoje é:
 
“'Se eu soubesse que Cristo havia de voltar dentro de alguns anos', diz alguém, 'eu viveria de modo bem diferente'. Mas se cremos que Ele virá, quando quer que seja, devemos viver justamente com a mesma fidelidade que demonstraríamos se soubéssemos que havia de vir dentro de poucos anos. Não podemos ver o fim desde o princípio, mas Cristo proveu suficiente auxílio para cada dia do ano. Tudo com que temos que nos haver, é este dia de hoje. Hoje devemos ser fiéis ao nosso legado. Hoje devemos amar a Deus de todo o coração, e ao nosso próximo como a nós mesmos. Hoje é que nos cumpre resistir às tentações do inimigo, e pela graça de Cristo alcançar a vitória. Isto é vigiar e aguardar a vinda de Cristo. Devemos viver cada dia como se soubéssemos ser ele nosso último dia na Terra. Se soubéssemos que Cristo viria amanhã, não haveríamos então de comprimir no dia de hoje todas as palavras bondosas, todos os atos desinteressados que nos fosse possível? Devemos ser pacientes e amáveis, e possuídos de fervor intenso, fazendo tudo que está em nosso poder para ganhar pessoas para Cristo" (Cuidado de Deus, pp. 368-369).
 
“Sejamos animados pelo pensamento de que o Senhor logo virá. Que essa esperança alegre nosso coração. ‘Porque, ainda dentro de pouco tempo, Aquele que vem virá e não tardará’ (Hb 10:37)” (Testemunhos Para a Igreja, v. 9, p. 287).

terça-feira, 24 de novembro de 2020

PANDEMIA, DEPRESSÃO E FINAL DE ANO

As festividades de fim de ano geralmente representam uma época de diversão e celebração, mas para muitas pessoas talvez isso nem aconteça. A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou nesta segunda-feira, 23, que a “aposta mais segura” para algumas famílias será não realizar reuniões familiares neste Natal e Ano Novo para impedir a disseminação do coronavírus. Festas de Réveillon, com aglomeração, também não são recomendadas. Em uma reunião virtual em Genebra, a líder técnica da OMS, Maria Van Kerkhove, para a covid-19, disse que “em algumas situações, a difícil decisão de não ter uma reunião familiar é a aposta mais segura“.
 
A pandemia do Covid-19 afetou a todos nós. Nada ficou no lugar. O medo do contágio, o isolamento, as alterações das relações sociais e a dificuldade em fazer planos para o futuro são alguns dos fatores que atingiram em cheio a nossa saúde mental. Com isso, muitos problemas emocionais iniciaram ou se agravaram com a pandemia. E não é pra menos, afinal, estresse e ansiedade são reações comuns em um contexto de insegurança, como este que estamos vivendo.

Para minimizar o sofrimento, como defesa, cada um reagiu de uma maneira. Alguns buscaram conforto emocional através da comida, da bebida, utilizando excessivamente a Internet ou se isolando ainda mais, ocasionando um adoecimento psíquico que, para muitos, se manifestou através de reações depressivas.

Assim, o crescimento de casos de depressão já era esperado uma vez que, além da alteração brusca da rotina, a pandemia, para muitas pessoas, resultou na perda de entes queridos, em desemprego, na interrupção dos negócios, no desgaste das relações, e outros desdobramentos nada favoráveis. Contudo, o pior de todos, é a angústia frente à incerteza de quando sairemos desse túnel sombrio, o que potencializa o sofrimento psicológico.

Além de tudo isso, o estresse, a ansiedade e o estado depressivo também atinge inúmeras pessoas, em especial nos meses de novembro e dezembro (e até janeiro), provocando uma sensação de solidão e vazio.

Porque nos sentimos deprimidos entre o Natal e o Ano Novo?
O professor e psicólogo da Universidade de Toronto, Adam K. Anderson, acredita que parte do problema é o bombardeio midiático durante o período de festas, destacando imagens e situações felizes e satisfeitas de forma exagerada –para não dizer forçada. “As pessoas podem começar a questionar a qualidade de seus próprios relacionamentos”, menciona o professor.

A exibição constante de momentos felizes dos outros pode servir como um lembrete doloroso da felicidade e de amor que está faltando em nossas próprias vidas. Por esta razão, o mês de dezembro pode ser uma época particularmente difícil do ano para aqueles que lidam com conflitos familiares, perda, rompimento, divórcio, solidão e problemas de saúde mental.

Muito além da leviandade das comemorações e eventos em família estilo “comercial de margarina” que presenciamos tanto na mídia quanto nas redes sociais, outros fatores podem desencadear a depressão de forma mais assertiva, devendo ser identificada para controlarmos a reação emocional negativa.
 
O isolamento social é um dos maiores preditores da depressão, especialmente durante as festas de final de ano. Pessoas que estão sozinhas ou que têm sentimentos de desconexão, muitas vezes evitam interações sociais nesta época. Infelizmente, tal afastamento muitas vezes agrava os sentimentos de solidão e os sintomas de depressão. Esses indivíduos podem ver outras pessoas passando o tempo com a família ou divertindo-se com amigos –principalmente nos dias de hoje, com a exposição excessiva da vida alheia– e se perguntam: “Por que não pode ser eu?” ou “Por que todo mundo é mais feliz do que eu?”. Neste caso, a melhor solução é procurar interagir com outras pessoas, por mais difícil que isso possa parecer. É preciso encarar a solidão assim como encaramos a sede: procuramos inverter o quadro com uma atitude contrária à situação.

Para muitas pessoas, a época de festas de fim de ano são uma lembrança dolorosa do que um dia já foi. Isto é especialmente verdade para as pessoas que tenham sofrido uma perda significativa, como a morte de um cônjuge ou o término de um relacionamento. A pandemia, para muitas pessoas, resultou na perda de entes queridos. Para estes indivíduos, é importante gerenciar as expectativas, dizem os psicólogos. Ao imaginar como este período irá se desdobrar após uma perda, é preciso incluir todos os altos e baixos em suas expectativas. É recomendável participar de momentos reconfortantes como procurar distrações, caminhar ao ar livre, praticar algum hobbie e se alimentar corretamente. Lembre-se que o luto não é motivo de vergonha!

Buscando ajuda
Se apesar dos esforços você se encontra deprimido, ansioso ou com sintomas físicos como dificuldades para dormir, irritabilidade e aperto no peito, é preciso procurar ajuda profissional para reverter o quadro de depressão. O auxílio de um psicólogo pode ser muito valioso para que seja possível superar de vez essa sensação tão angustiante que custa a passar.

O relacionamento com Deus e o envolvimento com Sua obra também são excelentes remédios para o deprimido. No relacionamento com Deus encontramos a esperança que afasta a desesperança da depressão, e a alegria que afasta a tristeza, assim como a segurança que afasta o medo. No serviço do Senhor, focamos em beneficiar os outros e, tirando o olhar de nós mesmos, podemos ter uma perspectiva mais positiva da vida, além do senso de utilidade que uma vida de serviço nos trás. O Deus Criador é um Deus de amor. Ele deseja ver todos bem e felizes, inclusive você. Ore agora e peça ajuda a Ele para que você consiga superar suas dificuldades e passe um feliz final de ano! 

"Não ceda à depressão, mas deixe que a confortadora influência do Espírito Santo seja bem-vinda em seu coração, para lhe dar conforto e paz. Se quiser obter preciosas vitórias, encare a luz que procede do Sol da justiça. Fale em esperança e fé, e ações de graças a Deus. Seja animada, esperançosa em Cristo. Aprenda a louvá-Lo. Esse é o grande remédio para as doenças da mente e do corpo" (Ellen G. White - Carta 322, 1906).
 
Não deixe que as festas de fim de ano sejam desagradáveis e traumáticas. Ao invés disso, procure prevenir a depressão ao reconhecer os gatilhos que disparam a tristeza nessa época do ano e contorne a situação de forma planejada e sistemática. A sua saúde mental e espiritual agradecem!

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

A ACEPÇÃO DE PESSOAS NA VIDA CRISTÃ

Certo vaqueiro sentiu o desejo de ir a uma igreja. Vestiu sua roupa de
cowboy, entrou no templo e sentou-se na primeira fila de bancos. Em poucos segundos, todos os olhares se dirigiram para ele. Demonstrando intolerância e desagrado, algumas pessoas mudaram de lugar, deixando-o isolado. Ninguém o cumprimentou.

Terminada a reunião, o cowboy dirigiu-se, o mais rápido possível, ao estacionamento. Quando entrava no carro, o pastor se aproximou dele e disse: “Volte no próximo sábado. Mas ore a Deus pedindo que lhe mostre o tipo de roupa que você deve usar na igreja.”

No sábado seguinte, o vaqueiro retornou com a mesma roupa. Dessa vez, a reação dos membros foi pior do que na semana anterior. Quando o visitante indesejado saía do templo, o pastor lhe perguntou:

– Você orou como lhe sugeri?

– Orei.

– O que Deus lhe disse?

– Ele me falou que não sabia o tipo de roupa que eu devia usar porque nunca esteve nesta igreja.

A história fala por si só e nos relembra a seguinte advertência de Tiago:

“Meus irmãos, como crentes em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam diferença entre as pessoas, tratando-as com parcialidade. Suponham que na reunião de vocês entre um homem com anel de ouro e roupas finas, e também entre um pobre com roupas velhas e sujas. Se vocês derem atenção especial ao homem que está vestido com roupas finas e disserem: ‘Aqui está um lugar apropriado para o senhor’, mas disserem ao pobre: ‘Você, fique em pé ali’, ou: ‘Sente-se no chão, junto ao estrado onde ponho os meus pés’, não estarão fazendo discriminação, fazendo julgamentos com critérios errados?” (Tg 2:1-4, NVI).

O vaqueiro deve ter ouvido um belo sermão naquele culto, mas a atitude dos frequentadores do templo não combinava com a mensagem do pregador. A roupa daqueles “cristãos” podia estar de acordo com as normas e regras da igreja, mas o coração deles não estava revestido da justiça de Cristo.

Toda atitude exclusivista destoa da atmosfera que deve reinar no ambiente da igreja. A acepção de pessoas é filha do preconceito, que “tem mais raízes do que os princípios”, de acordo com Maquiavel.

Ainda existem raízes de preconceito em nossos relacionamentos. Em quase todos os níveis da igreja, há pessoas exclusivistas e preconceituosas. Por essa razão, nossa influência sobre os de fora não é tão forte quanto deveria.

Algumas pessoas são “excluídas” da música, da liderança e das atividades da igreja. O lobby das “panelinhas” é poderoso, mas sabemos que ele é fruto de orgulho e inveja. Ele inibe talentos, sufoca vocações e afugenta os que gostariam de cooperar. E o pior: essa atitude escorraça pessoas que ainda não conhecem o amor de Deus.
 
Paulo chama nossa atenção quando lemos o que ele escreveu aos romanos em sua carta, no capítulo 15, verso 7: “Portanto, aceitem-se uns aos outros, da mesma forma que Cristo os aceitou, a fim de que vocês glorifiquem a Deus.” E diz também: "Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas" (Romanos 2:11). A Bíblia diz em Atos 10:34: “Então Pedro, tomando a palavra, disse: Na verdade reconheço que Deus não faz acepção de pessoas.” Deus considera a todas as pessoas iguais, não importa a raça, condição social, cor de pele ou nacionalidade. Deus ama e deseja salvar todas as pessoas. Em Gálatas capítulo 3, verso 28, lemos: "Desse modo não existe diferença entre judeus e não-judeus, entre escravos e pessoas livres, entre homens e mulheres: todos vocês são um só por estarem unidos com Cristo Jesus."

Na verdade, Deus condena o favoritismo, pois isto vai contra ao Seu caráter e amor. A Bíblia diz em Malaquias 2:9: “Por isso também eu vos fiz desprezíveis, e indignos diante de todo o povo, visto que não guardastes os meus caminhos, mas fizestes acepção de pessoas na lei.” A discriminação religiosa é abominável a Deus. Para Ele, todos somos pecadores e carecemos da Sua graça.

"Portanto, sendo os filhos de Deus um em Cristo, como considera Jesus as classes, as distinções sociais, a separação do homem de seus semelhantes, por causa da cor, da raça, posição, riqueza, nascimento ou realizações? O segredo da unidade encontra-se na igualdade entre os crentes em Cristo. A razão de todas as divisões, discórdias e diferenças encontra-se na separação de Cristo. Cristo é o centro para o qual todos devem ser atraídos; pois quanto mais nos aproximamos do centro, tanto mais nos aproximaremos uns dos outros em sentimento, em simpatia, em amor, crescendo no caráter e imagem de Jesus. Para Deus não há acepção de pessoas" (Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 259).

Jesus deixou belíssimos exemplos de inclusão. A mulher pecadora foi acolhida por Ele num momento extremamente delicado. Zaqueu teve a alegria de receber o Mestre em sua casa. A mulher que tinha fluxo de sangue não foi ignorada pelo Médico dos médicos. Jesus comeu com pecadores para atraí-los a Si.

Ellen White afirma que Jesus “procurava derribar as barreiras que separavam as diversas classes sociais, a fim de unir os homens como filhos de uma só família” (O Desejado de Todas as Nações, p. 150). “Não menosprezava ser humano algum, mas buscava aplicar o bálsamo de cura a toda e qualquer alma. Em qualquer companhia que estivesse, apresentava uma lição apropriada ao tempo e às circunstâncias. […] Buscava incutir esperança no mais rústico e menos prometedor dos homens, assegurando-lhes de que poderiam tornar-se irrepreensíveis e inofensivos, e adquirir caráter que deles faria filhos de Deus” (Testemunhos Seletos, v. 3, p. 387).

Como igreja e como indivíduos, precisamos desenvolver uma atitude mais acolhedora. “Não deve haver nenhuma parcialidade, nem hipocrisia. Não deve haver favoritos, cujos pecados sejam considerados como menos pecaminosos que os dos outros” (Evangelismo, p. 369).

Graças a Deus, cresce entre nós o número de igrejas que praticam a inclusão cristã. Já outras precisam permitir que o amor de Cristo as transforme em centros de paz, acolhimento e ternura. Que essa transformação seja operada em mim e você, para que saibamos conviver fraternalmente com os que são “diferentes”!

"É impossível estar unido a Cristo e todavia ser desamorável para com outros, e esquecido de seus direitos. Muitos há que anseiam intensamente por amorosa compaixão. Deus deu a cada um de nós uma identidade particular, nossa própria, que não se pode dissolver na de outro; mas nossas características individuais serão muito menos preeminentes se na verdade pertencemos a Cristo e Sua vontade for a nossa" (Mente, Caráter e Personalidade, vol. 1, p. 85). 

sábado, 21 de novembro de 2020

PÚLPITO EM CRISE

A pregação sempre foi, é e será o ponto alto do culto, a intersecção entre o Céu e a Terra, o momento em que Deus toca mentes e transforma corações. O ministério ganha e transmite vida (ou morte) a partir do púlpito. No entanto, para quem transita por igrejas diversas, já está se tornando lugar-comum a reclamação de que existe uma crise na qualidade da pregação. Onde estão os grandes oradores da atualidade? Por que os nomes associados com a pregação poderosa estão no passado? Qual seria a solução para o suposto declínio do púlpito cristão e adventista?

Sem dúvida, a pregação é um fator essencial na conversão dos pecadores, no sucesso da igreja e na espiritualidade dos membros. As pessoas buscam sermões de qualidade. Entre os cristãos norte-americanos que raramente frequentam a igreja, 18% dizem que não vão porque não gostam do sermão, segundo pesquisa divulgada em agosto de 2018 pelo Pew Research Center. Em outro levantamento feito em 2016, o mesmo instituto constatou que um bom sermão influencia a decisão de quem está procurando uma igreja. Para 83% dos entrevistados, esse é o fator mais importante para a escolha, pesando mais do que o calor humano dos líderes (79%), o estilo do culto (74%) e a localização do templo (70%).

Além disso, no fim do tempo, a pregação tem que crescer tanto em quantidade quanto em qualidade e poder. Os anjos do Apocalipse (14:6-11; 18) que falam com voz poderosa são uma indicação nesse sentido. Nos séculos 18 e 19, quando ocorreu um grande reavivamento na América do Norte e surgiu o adventismo, houve uma explosão no número de pregadores. Segundo dados de Dawn Coleman, num capítulo que focaliza o sermão americano no período antes da guerra, incluído no livro A New History of the Sermon: The Nineteenth Century (Brill, 2010, p. 521), o total de pessoas oficialmente filiadas a igrejas nos Estados Unidos saltou de 17% da população em 1776 para 37% em 1860. Em grande parte, esse crescimento foi catalisado pela pregação, que incendiou a nova república. Coleman completa: “O número de pregadores aumentou de 1.800 em 1775 para 40 mil em 1845 – o que representou não somente um impressionante crescimento bruto, mas também a triplicação no número de pregadores per capita, indo de um pregador para cada 1.500 pessoas a um para cada 500.” 

O sermão era uma força unificadora e transformadora. Além da quantidade, o mundo foi agitado por grandes pregadores dos dois lados do Atlântico, como Charles H. Spurgeon (1834-1892), Dwight L. Moody (1837-1899) e Charles Finney (1792-1875). Isso sem falar na geração anterior, como John Wesley (1703-1791), Jonathan Edwards (1703-1758) e George Whitefield (1714-1770). O resultado foi fenomenal.

CAUSAS DO DECLÍNIO

Se a pregação realmente passa por uma crise, quais são as principais causas? Sem ser exaustivo nem apontar o dedo para ninguém, vou enumerar alguns fatores. Primeiro, nota-se uma superficialidade no conhecimento bíblico. Todavia, ninguém consegue pregar com excelência se não tiver base teológica sólida e familiaridade com a Bíblia. Para pregar bem, não basta inspiração momentânea. Alguns temem que a letra mate o espírito, mas o espírito também pode matar a letra. Sem o conteúdo, o pregador se torna um mensageiro sem mensagem. E não ter nada para dizer no púlpito, mais do que escândalo, é uma traição ao legado do evangelho.

Outro aspecto é a mudança no contexto cultural. Vivemos em uma época de ceticismo, entretenimento, consumismo, distração, superficialidade e cinismo. O império do imediato exige tudo para agora. A fragmentação é real em muitas esferas. Essas transformações acabam afetando muitos pregadores, que, buscando agradar o público, nutrem o desejo por popularidade fácil, transformam a plataforma num tablado e pregam a si mesmos. O púlpito se torna um grande cenário para selfies em que Cristo jamais aparece.

Em terceiro lugar, existe a pressão do pluralismo e do relativismo. O nível de incerteza aumenta a cada dia. Nesse contexto, o pregador pode ser tentado a não confiar totalmente na relevância da Bíblia. Passa também a relativizar os aspectos distintivos da teologia e dilui a mensagem. Com isso, ele não prega com convicção. Porém, em uma sociedade instável, a Palavra de Deus deve ser o fator de estabilidade. Para quem crê, Deus é a grande âncora existencial.

Há também a perda de autoridade, potencializada pela facilidade no “preparo” dos sermões. Muitas pregações são entediantes, irrelevantes e dispensáveis. A oferta de materiais na internet tornou-se uma bênção e uma maldição. O pregador que apenas recorta sermões e os apresenta como se fossem seus tem um problema ético. Mas há outra implicação: o corta-e-cola mina a sua autoridade, pois é o processo de preparo que ajuda a solidificar o conhecimento e a espiritualidade do pregador. 

Por fim, vem a incoerência entre o discurso e a vida. Na sociedade, falta integridade, sobra hipocrisia. Pregador e audiência podem ser contaminados por esses vícios. O estilo de vida de muitos pregadores nem sempre transmite confiança. Quando o público percebe o orador como aproveitador, demagogo, egoísta, manipulador, oportunista ou simulador, temos um problema sério. Pior ainda é quando ele leva uma vida incompatível com a ética do evangelho, pois o descompasso entre pregação e vida é um desastre para a autoestima do pregador e o poder da pregação.

MUDANÇA DE PARADIGMA  

Naturalmente, o próprio ato de preparar a mensagem e o estilo da pregação acabam influenciando o resultado. Em termos de técnica para elaborar e apresentar sermões, os estudiosos veem dois paradigmas principais, especialmente no cenário norte-americano, que tem uma forte tradição de grandes oradores: (1) o método dedutivo, começando com um livro clássico de John Broadus, On the Preparation and Delivery of Sermons (1870), e (2) o método indutivo, introduzido por Fred B. Craddock, com As One Without Authority (1971, 1979) e Overhearing the Gospel (1978). Se o método dedutivo é mais lógico, formal e direto, o método indutivo é mais aberto, intimista e indireto.

Enfatizando a “pregação narrativa”, a “nova homilética” de Craddock desbancou a “velha homilética” de Broadus e mudou os púlpitos na América, o que acabou refletindo em outras partes do mundo. Para Craddock, o ouvinte não deve ser um recipiente passivo, apenas absorvendo o conteúdo estruturado por uma figura autoritativa. Por isso, é importante o pregador recriar para o ouvinte o contexto e a experiência da mensagem, adaptando o estilo da pregação ao gênero do texto bíblico. Nessa perspectiva, a pregação envolve o ato de conduzir o ouvinte em uma viagem de descoberta. 

Na verdade, ambos os paradigmas podem ser eficazes. Afinal, forma e conteúdo caminham lado a lado. O estilo grandiloquente de pregar talvez esteja morto, mas a pregação grandiosa não precisa estar. Há muitas maneiras legítimas de apresentar a mensagem: exposição, narrativa, história/biografia, analogia, recriação do mundo contemporâneo dentro da moldura do universo bíblico... A exposição, por exemplo, é um estudo criativo sobre uma seção ou tópico da Bíblia seguindo a moldura e a ênfase do texto. A narrativa leva o ouvinte a se identificar com os personagens e a desejar recriar sua própria história. O importante é apresentar a verdade bíblica com a visão bíblica, nos termos bíblicos, recriando os eventos bíblicos, a fim de iluminar o contexto atual e levar a uma transformação real. O objetivo é transportar a audiência do texto para o contexto, do evento para o advento, da inércia para a ação. O bom conteúdo, é claro, não pode faltar. Pregar é fazer teologia ao vivo.

Independentemente do paradigma adotado, como enriquecer a pregação? Aqui estão dez sugestões:

1. Direcione os holofotes para Deus. Pregação é uma arte e, como toda boa arte, o foco dela não deve estar na técnica nem no artista. Por isso, o aparato de recursos usados para construir o sermão deve permanecer oculto, assim como o conhecimento do pregador não deve ser o destaque. O foco é a teologia, não a habilidade; a mensagem, não o mensageiro; Cristo, não o ser humano. A pregação é eficaz porque procede de Deus, não porque o orador tem carisma. 

2. Fundamente a pregação na Bíblia. Este foi o conselho do apóstolo Paulo a Timóteo: pregue a Palavra (2Tm 4:2). Deus fala, e o pregador retransmite as palavras divinas, vivendo de tudo o que procede da boca do Senhor (Dt 8:3). As Escrituras têm poder para salvação, o que não ocorre com notícias de jornal e historinhas adocicadas. Sermão não é comédia, entretenimento nem sessão de terapia. A Bíblia é o livro do Deus vivo e contém palavras de vida. Ela tem o poder de regenerar e transformar. Para pregar com propriedade, é preciso ter uma visão da teologia de todo o livro em que se encontra a passagem do sermão. Não basta ler a Palavra superficialmente; é necessário conhecê-la profundamente. Pregar a mensagem certa, no tom certo, com o efeito certo, é bênção certa. Na Bíblia, a preocupação não é primariamente com a retórica, mas com a verdade.

3. Adote a pregação cristocêntrica. Há muitas passagens indicando que Jesus era o foco da proclamação dos apóstolos e de outros líderes, até porque desejavam convencer o mundo de que Ele era o Messias (At 5:42; 8:35; 11:20; 17:18; Rm 16:25; 1 Co 1:23; 2:2; 2Co 1:19; 4:5; Gl 1:16; Fp 1:15). No Novo Testamento, o nome “Cristo” é mencionado cerca de 530 vezes e “Jesus” aproximadamente 917 vezes. Dos 260 capítulos dessa parte da Bíblia, Cristo aparece em 251 (96,5%). Jesus é também o centro do Antigo Testamento, a Bíblia usada pelo Salvador e os discípulos (Lc 24:13-27, 44-48; Jo 5:39). Portanto, é essencial tornar Jesus o elemento central da pregação, sem forçar o texto bíblico e sem esquecer a relação de Cristo com as outras pessoas da Divindade. Inserir um conceito artificialmente no texto seria uma fraude exegética. 

4. Descubra e aperfeiçoe seu estilo. Há vários tipos de pregadores: o criativo, que tem um senso estético e valoriza a beleza e a originalidade; o pragmático, que prefere falar de coisas práticas e de seu funcionamento; o intelectual, que tem talento literário e gosta de burilar o sermão; o comunicador, que tem uma habilidade natural para transmitir conceitos; o evangelista, que se especializa em apelos e busca converter os ouvintes; o exortador, que tenta convencer o público a fazer mudanças; o motivador, que usa estratégias emocionais para propagar sonhos e levar à ação; o homilético, que prefere mensagens devocionais; o professor, que adota o estilo instrucional do ensino; o visionário, que apresenta grandes ideias para ampliar os horizontes. Um pregador quer que você aja, outro deseja que pense, outro quer que entenda, outro ainda deseja que sinta, e assim por diante. Não importa qual seja seu estilo, procure desenvolvê-lo. O mais importante é que você pratique, sinta-se confortável e se torne eficaz.

5. Considere o perfil do público. Todo bom orador leva em conta a maneira pela qual a audiência vive, pensa e se comporta. Isso é o que se chama pregar com inteligência cultural, estabelecendo pontes. Por exemplo, a pregação dos negros norte-americanos faz muito sucesso na tradição protestante e mesmo entre os adventistas. É algo diferente, um tipo de pregação que valoriza a dimensão social do evangelho e em que o conteúdo define o estilo e a retórica. “A pregação negra norte-americana é uma realidade identificável”, escreveu Calvin B. Rock no artigo “Black SDA Preaching” na revista Ministry de setembro de 2000. “Sua energia e imagens a tornam uma proclamação singular do evangelho. É uma forma de arte nascida da fé, enraizada no amor, orientada pela esperança, moldada na provação, nutrida pela fé, mentoreada no sofrimento e autenticada pelo tempo.” Apesar de suas qualidades, alguns públicos podem achá-la exuberante demais. Evite os “ruídos” e busque se conectar com a audiência.  

6. Use todas as avenidas para impactar o ouvinte. O evangelho é apreendido pelo intelecto e aceito no coração. A grande pregação envolve o aspecto cognitivo e o afetivo, cabeça e coração. Na medida do possível, ela precisa ser multissensorial. Por isso, o pregador tem que pensar nessas dimensões. Excesso de emoção ou emoção na hora imprópria pode ser prejudicial, mas a emoção em si não é ruim. Apenas monstros e mortos não têm emoção. É preciso equilibrar fatos e experiência, ter o que dizer e saber como dizer, para obter o maior efeito. Como escreveu Ellen White, “o alvo da pregação não é apenas apresentar informação nem meramente convencer o intelecto”, mas “alcançar o coração dos ouvintes” (Review and Herald, 22 de dezembro de 1904). 

Floyd Bresee, meu ex-professor de homilética, ilustrou esse aspecto da seguinte maneira: “Como você pode conhecer melhor o Oceano Pacífico: estudando um mapa ou sentindo a areia da praia sob seus pés e o respingar do mar na sua face? Para realmente conhecer o oceano, você precisa de fatos e sentimentos. Como você pode conhecer melhor a Cristo: estudando a teologia que Ele ensinou ou experimentando a sensação de como Ele amou e tratou as pessoas? Para realmente conhecer a Cristo, você precisa de ambos” (Ministry, março de 1984, p. 8).

A retórica fazia parte da arquitetura do pensamento no mundo antigo, que empregava técnicas criativas para tornar os discursos e os escritos mais vivos, bonitos e convincentes. Três elementos integravam o arsenal de recursos retóricos: a confiabilidade do orador (ethos), o apelo à razão (logos) e o toque nas emoções (pathos). Ainda hoje, esses elementos têm sentido. O objetivo não era apenas criar efeito estético, mas persuasivo. 

Como parte da retórica persuasiva, empregue ilustrações (do latim lux, “luz”) para iluminar na medida certa a mensagem, facilitar a compreensão, chamar a atenção e cativar o público. Se luz demais ofusca, luz de menos não clareia. As ilustrações e as metáforas servem para maximizar o efeito da verdade no interior. A boa pregação é uma epifania, uma revelação, o descortinar dos movimentos divinos. Para ser profunda, ela não precisa ser árida; pode combinar ensino e imaginação, conteúdo sólido e criatividade.

7. Planeje suas pregações para relembrar o que precisa ser lembrado. A melhor maneira de programar as mensagens é idealizar séries para sábados, domingos e quartas. No sábado, pregue temas bíblicos mais expositivos; no domingo, apresente mensagens evangelísticas; na quarta, coloque assuntos devocionais e práticos. Isso permitirá que você saia do “mesmismo”, dê sequência aos assuntos e sistematize a apresentação do conteúdo. Leve em conta o calendário, a necessidade da igreja e o momento. Ao planejar o cardápio espiritual da sua congregação, é possível equilibrar várias temáticas e contemplar assuntos que costumam ser pouco explorados. 

As séries permitem resgatar mais facilmente os grandes temas bíblicos. Pregação não é apenas explicar, aplicar e motivar, mas relembrar.

COMO ESTRUTURAR O SERMÃO

O sermão não é apenas um instantâneo efêmero dos gestos e ênfases de um pregador; é um retrato de atitudes, ideias, pensamentos e sentimentos sobre Deus, a Bíblia, o corpo, a sociedade, o casamento, a vida, a morte, o Céu, a Terra, o presente, o futuro... Como parte de um sistema de comunicação, é o reflexo de um tempo. Assim, quando os intelectuais do futuro olharem para os sermões de hoje, o que encontrarão? 

Para ser eficaz, a pregação deve ser bem preparada. Nesse sentido, Derek Morris sugere 12 passos no livro O Poder da Pregação Bíblica (CPB, 2016, p. 17-25): 

1. Escolha uma passagem para pregar. Considere o impacto pessoal ao ler um texto bíblico, sua preocupação como líder espiritual, a necessidade social e a ocasião.

2. Estude a passagem escolhida e faça anotações. Leve em conta o contexto e pense nas palavras-chave.

3. Descubra a ideia exegética da passagem. Identifique a grande ideia do texto.

4. Formule a ideia central da pregação. Elabore uma frase simples e marcante que você deseja que seus ouvintes se lembrem e pratiquem na vida diária.

5. Estabeleça seu objetivo. Saiba por que você está pregando tal mensagem.

6. Escolha a forma do sermão. Expositivo, narrativo, tópico?

7. Reúna os materiais de apoio. Isso inclui fatos, citações, ilustrações.

8. Desenvolva a introdução. Ela deverá atrair a atenção dos ouvintes, se relacionar a uma necessidade deles e introduzir a parte principal do sermão. 

9. Elabore a conclusão. Ela visa fazer um resumo da mensagem, a aplicação e o apelo. 

10. Escreva o sermão. Use um estilo oral.

11. Internalize o sermão. Repasse-o como se estivesse caminhando por ele como um guia turístico, pensando na maneira de proferir a mensagem e até pronunciar as palavras. 

12. Ouça a Deus, você mesmo e o público enquanto prega. Procure se libertar do texto e prestar atenção a essas “vozes”.

Marcos De Benedicto (via Revista Adventista)

Nota do blog: Confira mais algumas considerações de Ellen G. White sobre o assunto:

"Deus pede um reavivamento e uma reforma. As palavras da Bíblia, e a Bíblia somente, deviam ser ouvidas do púlpito. Mas a Bíblia tem sido roubada em seu poder, e o resultado é visto no rebaixamento do tono da vida espiritual. Em muitos sermões de hoje, não existe aquela divina manifestação que desperta a consciência e leva vida à alma. Os ouvintes não podem dizer: 'Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos abria as Escrituras?' (Lc 24:32). Há muitos que estão clamando pelo Deus vivo, ansiando pela divina presença. Permiti que a Palavra de Deus lhes fale ao coração. Deixai que os que têm ouvido apenas tradição e teorias e máximas humanas ouçam a voz dAquele que pode renovar a alma para a vida eterna" (Profetas e Reis, p. 626).

“Há homens que ficam nos púlpitos como pastores, professando alimentar o rebanho, enquanto as ovelhas estão morrendo por falta do pão da vida. Há longos e arrastados discursos grandemente compostos de narrativas de anedotas; mas o coração dos ouvintes não é tocado. Pode ser que os sentimentos de alguns sejam tocados, podem derramar algumas lágrimas, mas seu coração não foi quebrantado. […] O Senhor, Deus do Céu, não pode aprovar muito do que é trazido ao púlpito pelos que professam estar falando a Palavra do Senhor. Não inculcam ideias que sejam uma bênção para os que o ouvem. Alimento barato, muito barato é colocado diante do povo” (Testemunhos para Ministros, pp. 336-337).

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

CONSCIÊNCIA NEGRA

Assassinado por policiais em maio deste ano nos Estados Unidos, George Floyd se tornou símbolo do debate sobre racismo em todo o mundo. Sua morte, por meio de ações do movimento Black Lives Matter, escancarou a perversidade da violência policial que tira a vida de milhares de pessoas todos os anos.


Além de Floyd, em 2020, policiais norte-americanos, brancos, também fizeram outras vítimas: Breonna Taylor, Daniel Prude, Rayshard Brooks e Jacob Blake, que ficou paraplégico após ser alvejado pelas costas, são apenas alguns dos casos que ganharam notícia.

No Brasil, a cada 23 minutos um jovem negro é vítima da violência policial. 8 a cada 10 pessoas assassinadas pela polícia são negras.

Em resposta a um cenário que, além da violência, é marcado pela impunidade, milhares de pessoas saíram às ruas para cobrar respostas aos crimes raciais. Michigan, Nova York, Atlanta, Filadélfia e outras cidades dos EUA arderam em chamas, sob vozes que, a plenos pulmões, mostravam ao mundo que ‘sem justiça não há paz’.

E foi além. Das ruas para as quadras da NBA, NFL, para a Fórmula 1 até chegar ao Brasil, onde “Vidas Negras Importam” virou bandeira entoada nas manifestações contra a escalada da violência policial que, apesar da pandemia em curso, fez inúmeras vítimas em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.

A exemplo do menino João Pedro, de apenas 14 anos, assassinado, em maio desse ano, dentro de casa durante operação policial no complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ). E David Nascimento dos Santos, sequestrado e assassinado por policiais da Rota em abril, na favela do Areião, zona oeste da capital paulista.

E neste cenário, o número de mortos pela PM em 2020 bateu recorde em SP. Na região metropolitana, os batalhões mataram 70% mais. E apenas de janeiro a maio deste ano, 442 pessoas foram vítimas da violência policial em todo o estado de São Paulo, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Racismo e pandemia
Em meio à maior crise sanitária dos últimos 100 anos, também é possível falar sobre como o racismo impacta a vida de milhões de pessoas. Não só no Brasil, como no mundo.

Nos Estados Unidos, pesquisa divulgada pelo laboratório APM Research Lab mostra que negros morrem três vezes mais de Covid-19 do que brancos. Por aqui não é diferente. A cada dez brancos que morrem vítimas da Covid-19 no Brasil, morrem 14 pretos e pardos. Ao todo, morrem 40% mais negros que brancos em função da doença, indica levantamento da CNN.

Fatores como desigualdade, acesso à saúde, moradia e trabalho contribuem para essa realidade. “O que a pandemia tem evidenciado é o que vários estudos já mostravam em relação ao maior prejuízo da população pobre e negra ao acesso da saúde. A covid-19 encontra um terreno favorável porque essas pessoas estão em um cenário de desigualdade de saúde e de precarização da vida”, afirma Emanuelle Góes, pesquisadora do Cidacs/Fiocruz sobre desigualdades raciais e acesso a serviços de saúde.

Além disso, o desemprego que, historicamente, já atinge em maioria a população negra, registrou recorde histórico desde o início da pandemia, quando aumentou 27%. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em maio, a população desocupada era de 10,1 milhões e chegou a 12, 9 milhões em agosto.
 
Eleições: reflexo do cenário mundial
Diante de um cenário que suscita debate coletivo e soluções imediatas, as eleições de 2020 podem ser consideradas reflexo do colapso social vivido mundialmente. Nos Estados Unidos, articulação das populações negras em diferentes regiões do país tiveram papel fundamental para a derrota de Donald Trump e eleição de Kamala Harris, a primeira mulher negra vice-presidente dos Estados Unidos.

Em seu primeiro discurso após a vitória de Joe Biden, Harris fez questão de defender a redução das desigualdades raciais e de gênero. “Eu posso ser a primeira mulher neste cargo, mas não serei a última. Porque cada garotinha que está assistindo esta noite vê que este é um país de possibilidades. (…) Estou pensando nela e nas gerações de mulheres negras, mulheres asiáticas, brancas, latinas e nativas americanas ao longo da história de nossa nação que pavimentaram o caminho para este momento esta noite.

Mulheres que lutaram e se sacrificaram tanto pela igualdade, liberdade e justiça para todos, incluindo as mulheres negras, que muitas vezes são esquecidas, mas que tantas vezes provam que são a espinha dorsal de nossa democracia.

Negros superam brancos em candidaturas
Afundado em um clima de polarização política, o Brasil assistiu ao recorde de candidaturas negra nas eleições municipais deste ano. Dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que 276 mil candidatos negros concorreram nas eleições de 2020, o que representa 49,95% do total. Já as candidaturas brancas representam 48,04%.

O crescimento tem relação com a política de cotas de gêneros e distribuição de verba de campanha e propaganda eleitoral aprovadas pelos tribunais superiores em 2018, para mulheres, e para negros, neste ano.

Em todo o país, 13 mulheres negras foram eleitas em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Vitória, Cuiabá, Curitiba, Belém, Maceió e Salvador. Foram eleitos 56 vereadores quilombolas em vários estados, além do vice-prefeito de Alcântara (MA), Nivaldo Araújo, e um prefeito. Ao todo, 32% dos prefeitos eleitos no primeiro turno são negros.

E, ainda que esteja distante da realidade populacional brasileira, é possível considerar que 2020 pode ficar marcado como o início de novos tempos, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Em que os direitos da população negra se façam presentes.

Racismo: saiba como denunciar
Racismo é crime previsto pela Lei 7.716/89 e deve sempre ser denunciado, mas muitas vezes não sabemos o que fazer diante de uma situação como essa, nem como denunciar, e o caso acaba passando batido.

Para começar, é preciso entender que a legislação define como crime a discriminação pela raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, prevendo punição de 1 a 5 anos de prisão e multa aos infratores.

A denúncia pode ser feita tanto pela internet, quanto em delegacias comuns e nas que prestam serviços direcionados a crimes raciais, como as Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), que funcionam em São Paulo e no Rio de Janeiro.

No Brasil, há uma diferença quando o racismo é direcionado a uma pessoa e quando é contra um grupo. Saiba mais como denunciar e o que fazer em caso de racismo e preconceito neste link.
 
Com informações de Catraca Livre

Nota do blog: Conforme lemos na Declaração da Igreja Adventista sobre o Racismo, "o racismo está entre os piores dos arraigados preconceitos que caracterizam seres humanos pecaminosos. Suas consequências são geralmente devastadoras, porque o racismo facilmente torna-se permanentemente institucionalizado e legalizado. Em suas manifestações extremas, ele pode levar à perseguição sistemática e mesmo ao genocídio. A Igreja Adventista condena todas as formas de racismo. Os adventistas querem ser fiéis ao ministério reconciliador designado à igreja cristã. Como uma comunidade mundial de fé, a Igreja Adventista deseja testemunhar e exibir em suas próprias fileiras a unidade e o amor que transcendem as diferenças raciais e sobrepujam a alienação do passado entre os povos."

A norma para os adventistas está reconhecida na Crença Fundamental nº 14 da Igreja, “Unidade no Corpo de Cristo”, baseada na Bíblia. Ali é salientado: “Em Cristo somos uma nova criação; distinções de raça, cultura e nacionalidade, e diferenças entre altos e baixos, ricos e pobres, homens e mulheres, não deve ser motivo de dissenções entre nós. Todos somos iguais em Cristo, o qual por um só Espírito nos uniu numa comunhão com Ele e uns com os outros; devemos servir e ser servidos sem parcialidade ou restrição.”

Qualquer outra abordagem destrói o âmago do evangelho cristão.

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

DIA DA BANDEIRA

A história nos conta que a bandeira foi inventada na Idade Média, onde os exércitos começaram a utilizar pedaços de pano com suas cores, para não se confundirem uns com os outros. Pequenas tiras de tecidos eram amarradas em varetas retiradas das árvores, hasteadas em locais visíveis. Aos poucos foram sendo aperfeiçoadas, tornando-se mais bonitas e com símbolos específicos.


No Brasil, existe um dia especial para se comemorar o Dia da Bandeira, que é 19 de novembro, devido à bandeira de nosso país ter sido criada nesta data, no ano de 1889, quatro dias após a Proclamação da República de nosso país.

A bandeira é a identidade de alguém, de um povo, de um movimento. Quando vemos a bandeira que alguém carrega, literalmente falando, ou bandeira essa defendida por suas filosofias e ideias, conseguimos identificá-lo. Atualmente vemos tantas bandeiras, tantos grupos e ideias diferentes que às vezes ficamos perdidos no meio delas. Quando alguém levanta uma bandeira, levanta junto tudo que está implícito naquela bandeira, tudo aquilo que ela representa.

Moisés edificou um altar ao Senhor e o chamou de "O Senhor é Minha Bandeira" (Êx 17:15), ou seja, sua identidade era marcada pelo Senhor. E também queria deixar claro que à sua frente estava o Senhor, a vontade dEle e não a sua. Portanto, que a nossa bandeira seja o SENHOR e que possamos hastear a bandeira do Reino de Deus acima de tudo aquilo que é impuro, carnal e passageiro. E, quando Jesus vier para os Seus, não terá problemas em nos reconhecer. Nossa bandeira estará clara!

"Oro fervorosamente para que a obra que fazemos a este tempo se grave profundamente no coração, mente e alma. Aumentarão as perplexidades; como crentes em Deus, porém, encorajemo-nos uns aos outros. Não abaixemos a bandeira, antes conservemo-la alçada bem alto, olhando Àquele que é o Autor e Consumador de nossa fé" (Ellen G. White - Conselhos para a Igreja, p. 366).

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

CRENÇAS FUNDAMENTAIS

As 28 Crenças Fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia expressam a unidade da igreja mundial em torno dos principais ensinamentos bíblicos e nos relembra que, como adventistas, temos uma história para contar – a história de Deus e de nosso relacionamento com Ele, em Jesus Cristo. Cada crença apresenta uma declaração concisa sobre determinado aspecto do plano de Deus para a salvação e aponta nosso lugar nesse plano.
Entretanto, essas declarações de crença não são um fim em si mesmas. Elas nos conduzem à Bíblia que, como a “infalível revelação da vontade [de Deus]”, transmite essencialmente “o conhecimento necessário para a salvação”, constitui “o padrão de caráter, a prova da experiência, o revelador definitivo de doutrinas”, e contém “o registro fidedigno dos atos de Deus na História” (ver a Crença Fundamental 1).
Este artigo traz como argumento que as 28 Crenças Fundamentais do adventismo são resumos da grande narrativa bíblica e, desse modo, mostra que somente a Bíblia apresenta respostas coerentes e confiáveis para questões centrais da vida, como: Qual é o principal fundamento da realidade? Quem somos nós? O que está errado e qual é a solução? Como devemos viver? Para onde vamos? 
De acordo com a Bíblia, Deus Se mantém como a base da realidade e, portanto, provê o fundamento no qual os seres humanos podem existir e dar sentido à sua vida. É verdadeiramente significativo que nossa primeira declaração de crença afirme a convicção bíblica de que Deus fala a nós de tal maneira que aqueles cuja mente é iluminada pelo Espírito Santo conseguem entender a revelação que Deus faz de Si mesmo nas Santas Escrituras. Ao contrário do pensamento extra-bíblico que retrata a Divindade como incapaz ou não disposta a Se comunicar com os habitantes da Terra, a Bíblia afirma que Deus, um Ser pessoal, pode e realmente revela Seu caráter, Seus atos, Sua vontade e planos para o ser humano em Sua Palavra escrita.
Desse modo, a compreensão da Bíblia como a revelação de Deus apresenta o fundamento para todas as outras declarações de crença que se seguem, iniciando com as próximas quatro que conduzem à compreensão bíblica de Deus. Aceitamos o ensinamento bíblico de um Deus que existe em uma unidade de três Pessoas coeternas: Pai, Filho e Espírito Santo. Embora alguns tenham negado a realidade ou a utilidade da declaração bíblica de um Deus triúno, esse ensinamento bíblico sobre a natureza da Divindade não pode deixar de ser enfatizado.
Por exemplo: “Somente um Deus que é triúno pode ser um Deus pessoal e, portanto, um Deus de amor. O amor humano não pode refletir a natureza de Deus, a menos que Deus seja uma trindade de pessoas que vivem em união e comunhão. Uma mônada solitária não pode amar e, como não pode amar, também não pode ser uma pessoa. E se Deus não fosse um Deus pessoal, também não poderíamos ser – e se não fôssemos pessoas, não poderíamos amar” (Robert Letham, “God Is Love”, Tabletalk Magazine, maio de 2004, p. 9). Portanto, mais do que um conceito teológico, o ensinamento bíblico sobre a Trindade apresenta os fundamentos para nossa compreensão de Deus, para nosso relacionamento com Ele e a fé Nele. A partir dessa compreensão, emanam todos os demais aspectos do plano da salvação e da vida cristã. Assim, a convicção bíblica absoluta de que Deus nos ama não somente dá significado à nossa vida aqui e agora – ela também fundamenta nossa experiência de fé em uma vida eterna com Deus no mundo porvir.
De extrema importância para os cristãos adventistas do sétimo dia é o conceito da criação. Com relação a isso, a narrativa bíblica fica em flagrante contraste com a cosmologia moderna que concebe o cosmos como um sistema autogerador, vindo a produzir seus processos biofísicos e astronômicos sem qualquer causa fora de si mesmo (ver Roy R. Gould, Universe in Creation: A New Understanding of the Big Bang and the Emergence of Life [Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 2018] e Stephen Hawking, Brief Answers to the Big Questions [New York: Bantam Books, 2018]).
Segundo as Escrituras, Deus criou o mundo em seis dias literais e descansou no sétimo dia (Gênesis 2:1-3). Deus criou o homem e a mulher como obra-prima de Sua atividade criadora (Gênesis 1:26-28; 2:7). Entretanto, os seres humanos não existem para si mesmos, mas vivem em relacionamento uns com os outros – para compartilhar a Terra com outras criaturas e exercer seu cuidado como mordomos responsáveis sobre toda a criação. Os seres humanos são a imagem de Deus introduzida no mundo. Como tal, devem representar Deus para a ordem criada. É nisso que reside o valor e a dignidade dos seres humanos, e a base fundamental para os direitos humanos. De todos os seres criados, é dito que apenas os humanos foram criados à imagem de Deus. Por outro lado, quando comparamos o poder e a grandeza do Deus criador e as dimensões cósmicas da realidade, vem-nos à lembrança: “Que é o homem, para que com ele Te importes? E o filho do homem, para que com ele Te preocupes?” (Salmo 8:4).
Na verdade, somos criaturas muito frágeis. Viemos do pó e ao pó retornaremos. E, ao contrário das opiniões não bíblicas sobre a humanidade, não fomos criados com uma alma imortal, mas como uma unidade holística de corpo, mente e espírito, e dependemos de Deus para a vida, respiração e tudo o mais. Essa compreensão da natureza humana é essencial em relação a algumas doutrinas bíblicas, como a do juízo investigativo e a ressurreição (na verdade, a suposição de que a alma da pessoa vai para o Céu após a morte torna o juízo investigativo e a ressureição dos mortos desnecessários, para não dizer sem sentido).
Ao mesmo tempo, porém, nos lembramos de que, quando ao ser humano: “Tu o fizeste um pouco menor do que os seres celestiais e o coroaste de glória e de honra. Tu o fizeste dominar sobre as obras das Tuas mãos; sob os seus pés tudo puseste” (Salmo 8:5, 6).
Então, afinal, quem somos nós? Com base em uma perspectiva secular, conforme Pascal observou, os seres humanos são incorruptos ou incuráveis. Mas a boa coisa é que: “A religião cristã sozinha foi capaz de curar esses dois vícios, não por excluir um por meio do outro, de acordo com a sabedoria do mundo, mas excluindo ambos segundo a simplicidade do evangelho, pois ele ensina os justos e os eleva até mesmo a uma participação na própria Divindade; que, neste estado sublime, eles ainda carregam a fonte de toda a corrupção que os torna sujeitos ao erro, à miséria, à morte e ao pecado durante toda a sua vida, e proclama aos mais ímpios que eles podem receber a graça de seu Redentor” (Blaise Pascal: Thoughts, Letters, and Minor Works, Part 48 Harvard Classics, Charles W. Eliot, ed. [New York: P. F. Collier & Son, 1910], p. 149).
Em comparação com o Criador e as dimensões cósmicas da realidade criada, os seres humanos são menos que nada, isto é, são pó (Jó 10:9). No entanto, por terem sido criados à imagem de Deus, a Quem nem mesmo o pecado pode obliterar, os seres humanos são a obra-prima da criação de Deus e o alvo supremo de Seu plano redentor (João 3:16).
Por mais que apreciemos a vida, sabemos que há alguma coisa fundamentalmente errada com a realidade, quando a vivenciamos. O horroroso espectro do mal paira por todo lado. Os seres humanos, às vezes, fazem coisas terríveis aos seus semelhantes, a outras criaturas e ao próprio meio ambiente. Ao relatar que aconteceu algo errado com a boa criação de Deus, as Escrituras revelam a realidade do pecado. Um conflito cósmico teve início no Céu, na própria sede de governo do Deus do Universo (Isaías 14:12-15; Ezequiel 28:12-19). Uma das mais elevadas criaturas se rebelou contra Deus e, ao ser expulsa do Céu, foi bem-sucedida ao trazer o pecado para o nosso planeta. Assim, o conflito que iniciou no Céu se espalhou por toda a Terra e provocou grande devastação em toda a criação de Deus.
Nossos primeiros pais transgrediram as ordens de Deus no Éden e fizeram com que o pecado afetasse Sua criação. Desde então, uma batalha cósmica se seguiu entre Deus e as forças do mal. Entretanto, “na plenitude dos tempos” (Gálatas 4:4), Deus enviou Seu Filho Jesus para reverter o pecado de Adão e Eva (Romanos 5). Foi isto que Jesus disse a Nicodemos naquela memorável conversa na calada da noite: “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o Seu Filho Unigênito, para que todo o que Nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). Por meio de Seu sacrifício na cruz, Jesus fez a provisão para o perdão de cada um de nós, pois somente Aquele que é totalmente Deus poderia fazer a expiação pelos nossos pecados. Mas Ele também, “tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público”, tornando conhecidos os resultados do mal diante do Universo (Colossenses 2:14, 15). Assim, embora a entrada do pecado tenha causado danos à criação de Deus e trazido tanto sofrimento às Suas criaturas, ao aceitarmos Jesus, somos restaurados à completa comunhão com Deus enquanto aguardamos o tempo em que toda a criação será redimida do pecado e de suas consequências.
É interessante notar que mais de um terço das nossas Crenças Fundamentais dizem respeito a como devemos proceder em nossa vida, à luz da narrativa bíblica.
Assim, somos lembrados de que Cristo nos garantiu a vitória sobre as forças do mal. Elas nos apresentam também algumas perspectivas em relação à igreja, ao remanescente, aos dons espirituais, à força permanente da lei de Deus, à mordomia, estilo de vida e família.
Vale lembrar que, nos tempos antigos, o sucesso de uma pessoa estava ligado ao de sua família ou aldeia, ou aos seus sócios. As pessoas encontravam significado para sua vida na comunidade.
A nossa época, por sua vez, é marcada por um individualismo quase patológico. Nossa competitividade pelo sucesso pessoal tem a tendência de nos tornar indiferentes ao papel espiritual da igreja e da família.
Temos a inclinação de assumir que nossas escolhas pessoais são algo que pertence exclusivamente a nós, e ao mesmo tempo nos esquecemos de que nossas palavras, convicções e estilo de vida exercem seu impacto sobre aqueles que estão ao nosso redor. Esse conjunto de declarações nos faz lembrar de como devemos viver, não somente como cristãos, individualmente, mas também como membros do corpo de Cristo.
Na verdade, não existimos apenas como indivíduos, mas como parte de uma comunidade de crentes.
A experiência da salvação não deve ficar confinada à vida particular de cada um, pois é algo que deve ser apreciado e compartilhado com a comunidade de crentes, onde as pessoas alcançam todo o seu potencial em união com Cristo e no serviço para Ele. Em outras palavras, somos chamados para ser discípulos de Jesus e viver um estilo de vida com base no amor e no serviço aos outros. Desse modo, vivemos um estilo de vida alternativo, comprometidos a seguir Jesus e imitá-Lo em nosso relacionamento com o nosso próximo. Embora estejamos vivendo neste mundo, aguardamos ansiosamente a concretização futura do eterno reino de Deus no mundo vindouro.
A futura inutilização do Universo, predita pela cosmologia científica, encontra sua contrapartida na experiência pessoal e social da desesperança galopante que se alastra na sociedade moderna. De acordo com o modelo cosmológico padrão, a história cósmica teve início com o Big Bang, há cerca de 13,8 bilhões de anos e, dentro de mais alguns milhões de anos poderá acabar tanto como uma batata frita ou será destruída por congelamento (Ver Jonghyung Kim, “Cosmic Hope in a Scientific Age: Christian Eschatology in Dialogue with Scientific Cosmology” [Ph.D. diss., Graduate Theological Union, 2011]; John Davis Jefferson, “Cosmic Endgame: Theological Reflections on Recent Scientific Speculations on the Ultimate Fate of the Universe,” Science & Christian Belief 11: 1 [1999], p. 15-27).
Entretanto, diante de um cenário de desespero e sem significado como esse, a história bíblica culmina em um futuro de esperança para o Cosmos e para a humanidade. Essa esperança, deve-se salientar, está fundamentada na Divindade (Provérbios 23:18; Salmo 39:8). As Escrituras nos asseguram que a realidade atual, do mal e do sofrimento, dará lugar a uma nova criação. As Crenças Fundamentais 21 a 28 apresentam claros resumos dessa história maravilhosa: Cristo está no santuário celestial ministrando em nosso favor e está providenciando tudo de que necessitamos (Hebreus 8:1, 2); Jesus virá em breve para levar Seu povo ao lugar que Ele preparou (João 14:1-3); a morte será tragada pela vitória (1 Coríntios 15:54); no Céu, após a Segunda Vinda de Jesus, os salvos passarão por um tempo de reflexão e juízo (Apocalipse 20); e, finalmente, Deus fará a Terra toda nova outra vez (Apocalipse 21:1) Portanto, pela graça e poder de Deus, podemos resistir às impressões de abandono e sentimentos de desespero.
Essa esperança, segundo as Escrituras, serve como “uma âncora da alma” (Hebreus 6:19). Até que o reino venha em sua plenitude, podemos viver nessa esperança e fazer com que nossa vida seja significativa neste mundo.
Sabemos que nossa história não terminará em morte nem com a destruição do Cosmos. Nossa história culminará na ressurreição para a vida eterna a todos os que crerem e no estabelecimento do novo Céu e da Nova Terra.
CONCLUSÃO - As 28 Crenças Fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia nos lembram de que estamos unidos em nossa compreensão da Bíblia. Em verdade, o fato de podermos nos considerar parte da história bíblica permite confrontarmos a aparente desesperança da condição humana. Podemos nos sentir encorajados com a promessa de que “nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 8:38, 39). Portanto, podemos esperar o futuro com alegre expectativa, porque o melhor ainda está para vir.
Ellen White expressou com rara beleza essa consumação final: “O grande conflito terminou. Pecado e pecadores não mais existem. O Universo inteiro está purificado. Uma única palpitação de harmonioso júbilo vibra por toda a vasta criação. Daquele que tudo criou emanam vida, luz e alegria por todos os domínios do espaço infinito. Desde o minúsculo átomo até o maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é amor” (O Grande Conflito, 1993, p. 678).
ELIAS BRASIL DE SOUZA, PhD, é diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, em Silver Spring, Maryland (EUA)
(Artigo publicado originalmente na edição n° 1 de 2019 da revista Diálogo)