domingo, 31 de outubro de 2021

REFORMA PROTESTANTE - 504 ANOS

No início do século 16, a Europa passava por um tempo de terríveis trevas espirituais. Por mais de mil anos, a monarquia e o sistema religioso oficial estavam obrigando o povo a viver como escravos sem ter ao menos a chance de ler a Bíblia por conta própria.

Por causa disso, muitas doutrinas falsas eram ensinadas e o povo acreditava nelas. Para você ter uma ideia de como funcionavam as coisas, o papa Leão X resolveu restaurar a Catedral de São Paulo, mas não tinha dinheiro para a obra. Então resolveu vender uns diplomas chamados "indulgências" que, segundo se cria, tinham o poder de diminuir a punição do pecador. O preço variava de pecado para pecado. Pessoas pobres gastaram todas as suas economias para comprar esses diplomas e os ricos chegaram a fazer depósitos prévios por pecados que ainda iriam cometer.

Um monge agostiniano chamado Martinho Lutero se indignou com isso e, como protesto, publicou em 31 de outubro de 1517 uma lista de 95 teses contra a Igreja Católica. Fixou a lista na porta principal da Catedral de Wittenberg, na Alemanha. O papa o chamou de "alemão bêbado e idiota". Lutero se defendeu, dizendo que seus ensinos estavam baseados na Palavra de Deus e que estaria disposto a renunciar a qualquer de seus ensinos caso alguém lhe mostrasse, pela Bíblia, que ele estava errado.

Em pouco tempo, Lutero estava excomungado e só escapou da fogueira porque se refugiou nas terras de um nobre da Alemanha. Durante o exílio, ele aproveitou para traduzir o Novo Testamento do grego para o alemão, a fim de que o povo pudesse ler. Na época, todas as leituras bíblicas eram feitas durante a missa em latim e poucos compreendiam o significado desse antigo idioma da igreja.

Lutero então se tornou líder de um novo movimento e seus protestos se espalharam por toda a Europa, ganhando a adesão de João Calvino, que sistematizou por escrito os ensinos básicos do protestantismo. Como consequência da Reforma Protestante, Deus fez surgir a Igreja Adventista.

Em comemoração hoje aos 504 anos da Reforma Protestante, sugiro, como reflexão, a leitura deste trecho do livro O Grande Conflito, de Ellen G. White (p. 133):

"Quando inimigos apelavam para os costumes e tradições, ou para as afirmações e autoridade do papa, Lutero os enfrentava com a Bíblia, e com a Bíblia unicamente. Ali estavam argumentos que não podiam refutar; portanto os escravos do formalismo e superstição clamavam por seu sangue, como o fizeram os judeus pelo sangue de Cristo. 'Ele é um herege', bradavam os zelosos romanos. 'É alta traição à igreja permitir que tão horrível herege viva uma hora mais. Arme-se imediatamente para ele a forca!' 

Lutero, porém, não caiu vítima da fúria deles. Deus tinha uma obra para ele fazer, e a fim de o proteger foram enviados anjos do Céu. Entretanto, muitos que de Lutero tinham recebido a preciosa luz, tornaram-se objeto da ira de Satanás, e por amor à verdade sofreram corajosamente tortura e morte.

Os ensinos de Lutero atraíram a atenção dos espíritos pensantes de toda a Alemanha. De seus sermões e escritos procediam raios de luz que despertavam e iluminavam a milhares. Uma fé viva estava tomando o lugar do morto formalismo em que a igreja se mantivera durante tanto tempo. O povo estava diariamente perdendo a confiança nas superstições do romanismo. As barreiras do preconceito iam cedendo. A Palavra de Deus, pela qual Lutero provava toda a doutrina e qualquer reclamo, era semelhante a uma espada de dois gumes, abrindo caminho ao coração do povo. Por toda parte se despertava o desejo de progresso espiritual. Fazia séculos que não se via, tão generalizada, a fome e sede de justiça. Os olhos do povo, havia tanto voltados para ritos humanos e mediadores terrestres, volviam-se agora em arrependimento e fé para Cristo, e Este crucificado."

Linha do tempo da Reforma Protestante

1382 John Wycliffe, conhecido como a “Estrela da Manhã” da Reforma Inglesa, supervisiona a tradução da Bíblia para a língua do povo. Um grupo de Bíblias, conhecido como “Bíblia de Wycliffe”, é traduzido para o Inglês Médio, preparando o cenário para a Reforma Protestante.

1415 O sacerdote e filósofo Jan Hus, fortemente influenciado por John Wycliffe, é queimado na fogueira onde hoje em dia é a República Tcheca por atacar os ensinos e as práticas da Igreja Católica Romana.

1517 O teólogo e sacerdote alemão Martinho Lutero publica uma lista de “disputas”, agora conhecidas como as 95 teses, na porta da Igreja de Todos os Santos em Wittenberg, Alemanha, criticando a prática de indulgências na Igreja Católica Romana. Essa lista efetivamente começa a Reforma Protestante em toda a Europa, enfatizando a salvação somente pela graça e um retorno à Bíblia como a única fonte de autoridade.

1521 Lutero é chamado diante da Dieta de Worms para retrair suas opiniões sobre a salvação apenas pela graça. Ele se recusa a se afastar de suas posições, declarando: “A menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou por uma razão clara, eu estou vinculado pelas escrituras citadas… Não posso nem vou desmentir nada, já que não é seguro nem certo ir contra a consciência”. Como resultado, ele é declarado herege.

1526 O estudioso inglês William Tyndale produz o primeiro Novo Testamento em inglês retirado da língua grega. Uma década depois, ele é condenado como herege e é queimado na fogueira.

1533 Ao longo de cinco anos, começando em 1553, a Rainha Maria I da Inglaterra, conhecida como “Maria Sanguinária”, faz uma campanha para livrar a Inglaterra dos protestantes, executando aproximadamente 250 hereges, incluindo Nicholas Ridley e Hugh Latimer juntos. Latimer excelentemente diz na execução deles: “Tenha coragem, Mestre Ridley, e seja homem! Havemos de hoje acender uma tal luz na Inglaterra, pela graça de Deus, que espero que nunca há de se apagar”.

1620 Fugindo da perseguição na Europa, os peregrinos emigram para o Novo Mundo, criando uma colônia na atual Massachusetts.

1635 Roger Williams é banido de Massachusetts por promover plena liberdade religiosa. Ele foge para a atual Providence e funda Rhode Island, tornando-se o primeiro território a garantir a separação completa entre igreja e estado.

1738 O inglês John Wesley, enquanto participava de uma reunião em Aldersgate, ouve a leitura do Prefácio à Epístola aos Romanos de Martinho Lutero e se converte a Cristo, sentindo seu coração “estranhamente aquecido”. Com seu irmão e escritor de hinos Charles, ele lança o movimento Metodista, liderando um grande reavivamento na Inglaterra e nos Estados Unidos.

1816 O fazendeiro de Nova Iorque William Miller se converte do deísmo para Cristo, entrando em um profundo estudo pessoal da Bíblia, ancorado nos princípios da Reforma do primado da Bíblia, e a Bíblia se explica. Ele finalmente conclui que a segunda vinda de Cristo é iminente e proclama a mensagem no nordeste dos Estados Unidos.

1844 Os “Mileritas” experimentam grande desapontamento quando Cristo não retorna em 22 de outubro, depois de concluir que Ele faria isso com base em uma leitura de Daniel 8:14. Alguns crentes desanimados percebem que, em vez disso, Cristo começou seu trabalho de juízo investigativo nessa data.

1845 A partir de 1845, um grupo de “adventistas” que se formou com o movimento milerita, no compromisso contínuo com a fé na autoridade incomparável da Bíblia, começa a estudar a questão do sétimo dia, sábado, concluindo finalmente que ainda é uma instituição para os cristãos manterem e desfrutarem.

1863 A Igreja Adventista do Sétimo Dia é oficialmente organizada em Michigan como um meio de propagar a “verdade presente” para “todas as nações, tribos, línguas e pessoas” (Ap 14:6) em todo o mundo.

1888 A profetisa adventista Ellen White declara que o “alto clamor” de Apocalipse 18:1-4, que, como a continuação final da Reforma Protestante, difundiria a mensagem do amor de Deus ao mundo inteiro, havia começado na mensagem de justificação pela fé sendo proclamado por dois jovens pregadores, Ellet J. Waggoner e Alonzo T. Jones.

EM BREVE A Reforma alcança o cumprimento climático quando, consistente com Sua Palavra na Bíblia, Jesus vem à Terra em esplendor e traz Seu povo para Sua casa de glória, juntamente com o fim absoluto do mal, do pecado e da tristeza, da morte e da dor.

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

LEAIS UNS AOS OUTROS

"Abandonem toda amargura, todo ódio e toda raiva. Nada de gritarias, insultos e maldades!" (Efésios 4:31 NTLH).

Há os que pensam de si mais do que convém. Falam mal de seus irmãos porque, feito por estes um trabalho, o examinam e dizem quão diferentemente eles o teriam feito; no entanto, sua previsão não teria sido nada melhor do que a de seus irmãos, tivessem eles estado em seu lugar. 

Mantende-vos afastados da cadeira de juiz. Todo julgamento é dado ao Filho de Deus. Satanás atua zelosamente para levar os homens a pecar neste ponto. Aqueles cuja língua é tão franca em proferir palavras de crítica, os habilidosos interrogadores que sabem extorquir expressões e opiniões que foram introduzidas no espírito mediante o lançar sementes de separação, esses são missionários seus. Sabem repetir as expressões extorquidas de outros, como sendo originadas por aqueles que eles tão astutamente levaram para terreno proibido. Essas pessoas parecem ver sempre algo que deva ser criticado e condenado. Entesouram tudo que seja de natureza desagradável, e então envenenam outros. Sua língua está pronta para exagerar todo o mal. Que grande bosque um pequeno fogo incendeia! 

Nunca permitais que vossa língua e voz sejam empregados em descobrir e exagerar os defeitos de vossos irmãos; pois o registro do Céu identifica os interesses de Cristo com aqueles que Ele comprou com Seu próprio sangue. “Quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos”, diz Ele, “a mim o fizestes” (Mateus 25:40). Devemos aprender a ser leais uns aos outros, ser verdadeiros como o aço na defesa de nossos irmãos. Olhai para vossos próprios defeitos. É melhor descobrirdes um de vossos próprios defeitos, do que dez de vosso irmão. Lembrai-vos de que Cristo orou por esses irmãos Seus, para que pudessem ser um, como Ele é um com o Pai. Lutai, no máximo de vossa capacidade, para estar em harmonia com vossos irmãos segundo a extensão da medida de Cristo, assim como Ele é um com o Pai. 

“Sede todos... compassivos, amando os irmãos” (1 Pedro 3:8). O verdadeiro valor moral não procura elevar-se a um lugar mediante pensar mal e falar mal, desmerecendo outros. Toda inveja, todo ciúme, toda maledicência e incredulidade têm de ser afastados dos filhos de Deus.

[Ellen G. White - Nos Lugares Celestiais, p. 181]

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

NINGUÉM DURMA!

"Chegou a hora de vocês despertarem do sono, porque agora a nossa salvação está mais próxima do que quando cremos" (Romanos 13:11).

Se você gosta de música erudita, talvez conheça estas palavras em italiano: "Nessun dorma! Nessun dorma! Tu purê, o Principessa..." Trata-se do início da famosa ária "Nessun Dorma" (Ninguém Durma), que faz parte da ópera Turandot, composta por Giacomo Puccini. Interpretada por nomes como Plácido Domingo, José Carreras, Sarah Brightman, Paul Potts, David Phelps e Andréa Bocelli, foi Luciano Pavarotti quem a tornou popular ao redor do mundo, especialmente com a versão apresentada durante a Copa do Mundo da Itália, em 1990.

A história de Turandot, nome que significa "a filha de Turan", uma região da Ásia central, parte do antigo império persa, foi extraída de uma coleção de contos intitulada Mil e Um Dias. A linda e fria princesa Turandot, em vingança pela morte de uma ancestral, não quer se apaixonar e propõe três enigmas que devem ser respondi­dos por qualquer pretendente. Quem não conseguir é morto. O príncipe Calaf, apai­xonado, bate no gongo e anuncia seu desejo de se candidatar. Ele acerta os enigmas, mas dá uma chance à desolada princesa: ela poderá matá-lo se descobrir seu verda­deiro nome até o dia seguinte. Turandot então determina que ninguém durma, para tentar descobrir o nome do príncipe desconhecido.

O ato 3 se inicia com o príncipe Calaf, certo da vitória, cantando confiantemente a ária: "Que ninguém durma! Que ninguém durma! Você também, ó Princesa, em seu quarto frio, olhe as estrelas, tremendo de amor e de esperança, mas meu segredo permanece guardado dentro de mim..." Por fim, depois de cenas dramáticas, Calaf diz seu nome para que a princesa o anuncie. Ele está pronto para morrer por ela. Vencida e conquistada, a princesa revela que o nome dele é amor, e terminam abraçados. 

Em outro enredo, que daria a maior das óperas e a mais bela das árias, outro Príncipe (Jesus) fez uma proposta a uma princesa (igreja), que, assim como Turandot, parece assustada com a ideia de se unir a ele. Num gesto incompreensível para muitos, esse Príncipe foi além de Calaf, não apenas propondo um enigma e se dispondo a morrer, mas dando realmente a vida pela princesa.

Assim como a princesa da ópera, apavorada com a ideia do amor, ordenou que seu reino não dormisse, o escritor bíblico, deslumbrado pela demonstração de amor, conclama o reino da luz a despertar do sono. Indiferentes à situação ao redor, muitos estão dormindo. Não percebem o drama ao redor. É hora de acor­dar, de descobrir o verdadeiro nome do Príncipe, que é Amor.

Que ninguém durma! Que ninguém durma!


Assista a apresentação do tenor Luciano Pavarotti interpretando Nessun Dorma:


"Estamos rapidamente nos aproximando do fim da história da Terra. O fim está bem próximo, muito mais próximo do que muitos supõem, e sinto a responsabilidade de enfatizar ao nosso povo a necessidade de buscar ao Senhor com sinceridade. Muitos estão dormindo e o que pode ser dito para despertá-los de seu sono carnal? O Senhor deseja ver Sua igreja purificada antes que Seus juízos caiam de modo mais evidente sobre o mundo" (Jesus, Meu Modelo, p. 326).

"O Senhor convida Seu povo para despertar do sono. O fim de todas as coisas está às portas. Quando os que conhecem a verdade forem cooperadores de Deus, aparecerão os frutos da justiça. Pela revelação do amor de Deus no esforço missionário, muitos serão despertados e levados a reconhecer a malignidade de seu procedimento. Verão que no passado seu egoísmo os desqualificou para serem cooperadores de Deus. A exibição do amor de Deus que se vê no abnegado ministério em favor dos outros, será o meio de levar muitas pessoas a acreditar na Palavra de Deus tal qual ela é" (Testemunhos para a Igreja 9, p. 40).

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

ESPINHO NA CARNE

“E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (2 Coríntios 12:7-10).

Espinho - Do grego skolops, “uma peça de madeira indicada”, “um piquete”. Os papiros também utilizam a palavra para se referir ao estilhaço ou lasca deixada sob a pele e impossível de ser removido (CBASD, vol. 6, p. 1017).

No texto não podemos descobrir qual foi o “espinho na carne” do qual Paulo falou. Assim, vamos pesquisar outras referências bíblicas que possam nos ajudar. A primeira delas é Gálatas 4:13-15:

“E vós sabeis que vos preguei o evangelho a primeira vez por causa de uma enfermidade física. E, posto que a minha enfermidade na carne vos foi uma tentação, contudo, não me revelastes desprezo nem desgosto; antes, me recebestes como anjo de Deus, como o próprio Cristo Jesus. Que é feito, pois, da vossa exultação? Pois vos dou testemunho de que, se possível fora, teríeis arrancado os próprios olhos para mos dar”.

Na carne - A enfermidade era física, não era mental nem espiritual. Era algo evidente, e lhe causava considerável constrangimento bem como desconforto e inconveniência" (CBASD, vol. 6, p. 1017).

O verso de Gálatas 6:11 também é esclarecedor: “Vede com que letras grandes vos escrevi de meu próprio punho”. Nestes versos podemos ver que: 1) Como vimos, Paulo tinha uma enfermidade física; 2) Os Gálatas receberam tão bem o apóstolo a ponto de ele afirmar que, se possível, eles arrancariam os próprios olhos para lhe dar; 3) Paulo assinava suas cartas com letras grandes.

Com base nestas informações podemos ver que é muito grande a probabilidade de o “espinho na carne” de Paulo ser um problema de visão. Talvez esta deficiência tivesse surgido com a experiência que ele teve na estrada de Damasco (Atos 9:1-9 e 10-19). Devido à grande luz que veio sobre seus olhos, e, consequentemente, uma espécie de “escamas” (Atos 9:18), ficaram sequelas (mesmo tendo sua visão restabelecida). Ellen G. White nos diz: "Paulo devia levar sempre em seu corpo as marcas da glória de Cristo, em seus olhos, que tinham sido cegados pela luz celestial, e desejava também levar consigo constantemente a segurança da mantenedora graça de Cristo" (História da Redenção, p. 275).

Mensageiro de Satanás - A aflição vinha de Satanás, com permissão de Deus. Do mesmo modo ocorreu com Jó. É da natureza e obra de Satanás infligir sofrimento físico e doença" (CBASD, vol. 6, p. 1017).

Esta experiência de Paulo nos ensina que apesar de Deus curar os Seus filhos, pode haver ocasiões em que Ele prefira não o fazer, aqui neste mundo. O ensino de que todas as doenças vêm diretamente do diabo não é bíblico, mas sim fruto do fanatismo de alguns religiosos. Há enfermidades que surgem por acidentes, falta de exercícios, maus hábitos alimentares, por exemplo. O fato de Deus não curar Paulo não indica que o apóstolo “tivesse pouca fé”.

O servo de Deus teve fé, a ponto de “orar três vezes” (2 Coríntios 12:8) pela cura. Ellen G. White afirma: "Quando Paulo orou para que fosse removido de sua carne o espinho, o Senhor atendeu a sua oração, não mediante o remover o espinho, mas dando-lhe graça para suportar a prova. 'A Minha graça te basta', disse Ele. Paulo alegrou-se com essa resposta à oração, dizendo: 'De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo' (2 Coríntios 12:9). Quando os doentes pedem a restauração da saúde, o Senhor nem sempre atende a sua oração exatamente do modo que desejam. Mas mesmo que não sejam imediatamente curados, Ele lhes dará aquilo que é de muito mais valor: graça para suportar sua doença" (Nos Lugares Celestiais, p. 81).

Mesmo que Deus não tenha respondido como Paulo esperava, assegurou-lhe que a Sua graça bastaria. 

Basta - "No grego, esta palavra está na forma enfática. A prece não libertou o apóstolo da aflição, mas lhe proporcionou graça para suportá-la. Paulo apelou para a libertação da enfermidade, pois cria que ela era um obstáculo a seu ministério. Cristo mais que supriu sua necessidade com uma provisão abundante de graça. Deus nunca prometeu alterar as circunstâncias ou livrar as pessoas dos problemas. Para Ele, enfermidades físicas e circunstâncias desfavoráveis são questões de preocupação secundária. A força interior para suportar é, de longe, mais manifestação da graça divina do que dominar as dificuldades internas da vida. Externamente, uma pessoa pode estar despedaçada, exausta, esgotada e quase enfraquecida; no entanto, internamente, tem o privilégio de desfrutar perfeita paz, em Cristo" (CBASD, vol. 6, p. 1017).

Paulo, sabendo que Deus sempre quer o melhor e que o sofrimento pode ser um instrumento de Deus para o aperfeiçoamento do caráter (Deus não traz o sofrimento. Pode sim usá-lo), “de boa vontade” aceitou a decisão do Senhor. Isto só é possível pela fé. 

Então, é que sou forte - O paradoxo cristão é que ocasiões de fraqueza podem ser transformadas em situações de força. A derrota sempre pode ser transformada em vitória. A verdadeira força de caráter surge da fraqueza, que, desconfiando do eu, é entregue à vontade de Deus" (CBASD, vol. 6, p. 1017).

Refletindo sobre esse texto, penso que meu espinho na carne me faz entender que sou extremamente dependente de Deus. Sem o seu amor e a sua misericórdia, não passo de alguém que não consegue sequer lutar contra sua natureza corrompida pelo pecado. O meu espinho na carne me faz desejar, cada dia mais, que nosso Salvador e Senhor, Jesus Cristo, volte o quanto antes, pois como disse Paulo, “considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada” (Romanos 8:18 NVI).

Devemos ter a esperança de que quando Jesus voltar em glória (Mateus 24:30-31; Apocalipse 1:7) Deus terminará com toda a dor e sofrimento. E o contentamento de poder ser feliz por toda a eternidade fará com que os problemas que enfrentamos hoje pareçam minúsculos.

“Então, se abrirão os olhos dos cegos, e se desimpedirão os ouvidos dos surdos; os coxos saltarão como cervo e a língua dos mudos cantará, pois águas arrebentarão no deserto, e ribeiros, no ermo” (Isaías 35:5-6).

“Nenhum morador de Jerusalém dirá: estou doente; porque ao povo que habita nela, perdoar-se-lhe-á a sua iniquidade” (Isaías 33:24).

“Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras cousas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras (Apocalipse 21:3-5).

Esperamos que a Palavra de Deus seja uma luz a brilhar diante dos seus olhos para que possa ver o único caminho que conduz à vida eterna: Jesus Cristo (João 14:6).

terça-feira, 26 de outubro de 2021

INFLAÇÃO

A prévia da inflação oficial do país subiu 1,20% neste mês de outubro. Foi o quarto mês seguido de alta do IPCA-15, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15. Foi a maior variação para um mês de outubro desde 1995, quando a taxa ficou em 1,34%. Também foi a maior variação mensal desde fevereiro de 2016, de 1,42%. A prévia do IPCA-15 foi divulgada nesta terça-feira (26) pelo IBGE.

Com a inflação subindo mês após mês no Brasil, muitas famílias têm visto não apenas o seu poder de compra cair, mas também um aumento de gastos para comprar cada vez menos produtos.

O cenário apresenta uma enorme dificuldade para essas famílias, e gera um questionamento: como terminar o mês no azul? Reunimos algumas dicas para ajudar a organizar o orçamento e se preparar para os próximos meses. Confira:

1) Faça uma planilha
Celso Ribeiro Campos, professor da PUC-SP, diz que o primeiro passo para melhorar a saúde financeira da família é construir uma planilha reunindo todas as despesas, de forma detalhada.

“Uma despesa de supermercado precisa ser detalhada em todos os itens adquiridos. A despesa de cartão de crédito precisa também ser detalhada item por item”, diz.

A elaboração da planilha ajuda não apenas a entender para onde está indo o dinheiro, mas também para ver o que pode ser cortado, ou não.

Rodrigo De Losso da Silveira Bueno, professor titular do departamento de economia da FEA-USP, afirma que uma planilha também permite estabelecer metas mensais ou anuais. É possível definir quanto poupar, quando poupar, e também tentar encontrar formas de aumentar a receita familiar, apesar do contexto econômico desafiador.

2) Defina o que é possível cortar
Se em momentos de crise é comum ouvir a sugestão de cortar gastos, é importante lembrar que o processo de escolher o que pode ou não ser cortado não é igual e simples para todas as famílias.

Campos observa que a definição de gasto essencial depende do perfil de cada família. É importante priorizar o que ele chama de consumo de subsistência, ou seja, que não pode ser diminuído.

Para Bueno, produtos são consumidos por hábito, sem muita necessidade. Para ele, é importante que a família se pergunte o que ocorrerá se deixar de consumir o produto, e ver se a resposta justifica continuar a comprá-lo, algo que demanda tempo para uma reflexão. “É preciso identificar os desperdícios e evitá-los.”

Por isso, os cortes de gasto envolvem, primeiro, entender o que realmente é essencial.

3) Mude alguns comportamentos de consumo
Em momentos de crise mais grave é necessário realizar o que Campos chama de redução de “patamar de nível de consumo”, ou seja, da qualidade e preço dos produtos e serviços consumidos.

“Comer carne pode ser essencial, mas essa carne não precisa ser das mais caras, pode ser uma carne de segunda, ou outra mais barata, como carne de frango ou de porco”, explica o professor.

Bueno também aconselha usar critérios como o de saúde na hora de escolher o que cortar. Um consumo excessivo de doces ou produtos industrializados gera danos à saúde, por isso, cortar esse consumo ajuda não apenas o bolso, mas também o corpo.

O professor afirma que “não precisa ser uma redução drástica, mas precisa ter um planejamento para que os efeitos sejam mais suaves”.

Já para os serviços, a principal dica é buscar formas de reduzir gastos com o carro, em um contexto de preços altos dos combustíveis, optando pelo transporte público ou por caronas com vizinhos, amigos e colegas para dividir os gastos.

É recomendável, ainda, buscar reduzir o consumo de energia elétrica e de água, em meio ao aumento da conta de energia com a crise hídrica. Assim, reduzir o tempo do banho, garantir que as torneiras estejam fechadas e que as luzes estejam apagadas em cômodos vazios ajudam o orçamento.

4) Negocie os gastos fixos
Vale a pena tentar reduzir gastos recorrentes que subiram de valor. “Renegociar escola, plano de saúde, planos de telefone celular e internet para pacotes família, que costumam ser mais baratos, e tudo mais que for possível”, diz Bueno.

O professor aconselha ainda que, caso as renegociações já tenham sido feitas, as famílias não tenham vergonha de entrar em contato com essas empresas e admitir que, sem um desconto, não será possível pagar a conta no fim do mês, o que pode abrir espaço para a negociação.

Outra dica é para quem mora de aluguel. Em geral, o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) é a referência para o reajuste nas mensalidades, mas o indicador atingiu níveis bastante elevados em 2021. Assim, Bueno recomenda que as famílias também toquem no assunto com seus locadores.

“Quem paga aluguel deve solicitar a mudança de indexador para o IPCA e evitar o IGP-M”, diz o professor. Ele aconselha que o argumento nessa negociação é a de que, sem a mudança, o locatário terá dificuldades para pagar o aluguel. “O locador deverá preferir quem paga direito mesmo que em um índice de reajuste menor”.

5) Renegocie dívidas
Buscar formas de renegociar dívidas também pode ajudar. “O cartão de crédito ou o cheque especial nunca serão a solução de problemas financeiros. Eles devem ser evitados ao máximo ou até eliminados”, ressalta Campos.

Ele aconselha que famílias endividadas tentem trocar a dívida do cartão ou cheque especial por outra, como de crédito pessoal ou consignado, que possuem taxas de juros menores. Em casos mais difíceis, pode ser necessário vender um produto, como um carro, para pagar uma dívida de compra.

6) Tente novas fontes de renda
Bueno afirma que outra alternativa é tentar encontrar novas fontes de renda, algo difícil no momento atual, mas que é ele classifica como um “esforço importante”.

7) Seja sincero com a família
Mesmo tomando todas essas medidas, é importante que uma família lembre que qualquer tentativa de redução de gastos deve ser sempre coletiva, não individual.

“Não adianta um membro da família fazer todo o trabalho de controle dos gastos se não for ajudado por todos os outros”, afirma Campos.

Para o professor, o diálogo sempre será a melhor opção. “Todos precisam estar conscientes das dificuldades e dos desafios, todos devem se engajar. É como um barco, todos devem remar na mesma direção, se um remar na direção contrária, vai prejudicar o esforço de todos os outros”.

Já Bueno observa que é importante conscientizar toda a família sobre as necessidades e desafios atuais, sem vergonha ou meias-palavras. “Naturalmente alguns sacrifícios serão necessários, ao menos temporariamente, até que voltarem a uma situação mais normal”.

[Com informações da CNN]

"O Senhor sempre nos está adestrando por meio de dificuldades. Orai, orai; sede perseverantes na oração. Entregai tudo a Deus em oração — vossas preocupações financeiras, vossas decepções, vossas alegrias, vossos temores" (Ellen G. White - Este Dia com Deus, p. 16).

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

COMPLETOS

Uma foto. Um mundo nela. Formidável e espantosa. Amoleceu minhas pernas. Amor, dor, revolta, esperança. Tudo ali. Imagem que seca a garganta, embrulha o estômago e reposiciona valores. Imediatamente. Começar a semana vendo isso faz dos problemões, probleminhas.⁣⁣

Ela acaba de ganhar o prêmio máximo de Foto do Ano no Siena International Photo Awards 2021. O fotógrafo Mehmet Aslan eternizou um lírio no pântano. Sorrisos impossíveis. O pai perdeu a perna na explosão de um mercado sírio. O filho nasceu sem as pernas por deformações resultantes dos remédios que sua mãe tomou após ser envenenada com gás sarin. Ambos se completando no que falta.⁣
Confesso que me emocionei. Tenho uma filha. Temos nossos sonhos. E nossas lutas. Até atravessar o oceano pra notar a felicidade mais improvável que existe. A guerra na Síria já interrompeu 388 mil vidas. Seu bizarro aniversário de 10 anos machucando gente merece um golpe mortal na insensibilidade. E esta foto faz isso. Mata a morte com esperança.⁣
“Os sofrimentos de Cristo transbordam sobre nós, também por meio de Cristo transborda a nossa consolação” (2Co 1:5). Percebe a plenitude na saudade? O que nos falta é do tamanho do que Deus preenche. Se o amor de um pai e um filho se imortalizou num instante, o Calvário é outro instante que nos eterniza perante o universo.⁣
Está difícil? Desalentador? Quer desistir? Deserto insuportável? Traiçoeiro? Na terra arrasada dos seus dias há uma promessa germinando onipotente: “Nunca o deixarei, nunca o abandonarei” (Hb 13:5). Você pode olhar esta imagem pela limitação injusta e desanimadora. Ou ver a superação indescritível da fé no que a humanidade tem como maior grandeza: amar acima da falta do amor.⁣
Por isso, acredite na ternura do Pai do Céu. Ele também carrega marcas de guerra. O pecado nos amputou a todos. Mas Seus braços nos sustentam com mãos perfuradas. Cicatrizadas. Podemos sentir a brisa das alturas. Tudo passará. Vai melhorar. Renascer. Até que o tempo não conte mais tempo.⁣
Em um sorriso sem fim.⁣

Odailson Fonseca (via instagram)

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

O DIA DA DECEPÇÃO

Era 1844. As folhas de carvalho silvestre espalhadas pelos ventos do outono indicavam a breve chegada de mais uma temporada de frio e neve no hemisfério norte. Elas também poderiam simbolizar uma mensagem que havia alcançado milhares de pessoas na América do Norte. Convictas da iminente volta de Cristo, anunciada por Guilherme Miller e diversos pregadores voluntários, elas aguardavam com entusiasmo o dia 22 de outubro, a gloriosa data em que teria fim a história do pecado e começaria uma existência de eterna alegria no reino dos céus.

Frustração
Quando o sol raiou em 23 de outubro, muitos mileritas descobriram que, em vez das mansões celestiais, o que encontrariam em pouco tempo seriam os rigores do inverno americano. O dia 22 de outubro tornou-se conhecido no calendário milerita como a data da Grande Decepção, ou Grande Desapontamento. Alguns continuaram crendo que o retorno de Cristo aconteceria ainda naquele mês ou naquele ano, ou até mesmo em uma data não muito distante. Mas a passagem do tempo desfez todas as esperanças marcadas com prazo de validade.

Depois desse período, Miller continuou crendo no breve retorno de Cristo, mas deixou as funções de pregador itinerante e voltou às atividades em sua propriedade rural em Low Hampton. Josué Himes, o grande propagandista milerita, tentou durante algum tempo manter a unidade do movimento e liderou a assistência aos seguidores que necessitavam de amparo material. Porém, passados alguns meses, os mileritas eram como um vaso partido em muitos fragmentos.

Em busca de resposta
Alguns abandonaram não apenas o movimento, mas também a fé cristã e a esperança em uma redenção futura. Entre os que permaneceram, impunha-se a pergunta: o que realmente havia acontecido em 22 de outubro de 1844? Se os cálculos proféticos estivessem corretos, onde estaria o erro?

Para importantes líderes do movimento milerita, como Himes, algum equívoco relacionado à interpretação do tempo de cumprimento das profecias tinha ocasionado o desapontamento. Outros passaram a crer que a data e o evento estavam corretos, mas haviam se cumprido “espiritualmente”. Cristo teria voltado para o coração dos crentes. Essa era uma das interpretações apontadas pelos espiritualizadores.

Em meio às mais diversas teorias, um grupo passou a analisar novamente a Bíblia, sugerindo que a natureza do evento profetizado talvez devesse ser mais bem compreendida. Josias Litch, um dos líderes mileritas, antes mesmo do desapontamento de 22 de outubro, já havia apresentado essa possibilidade.

O santuário celestial
Uma ramificação do movimento, bem pouco expressiva após o desapontamento, seguiu a trilha apontada por Litch: a profecia havia se cumprido; porém, para entender seu cumprimento, seria necessário estudar novamente o texto sagrado à luz do ministério da salvação desenvolvido no antigo tabernáculo israelita. Só assim seria possível compreender o texto-chave dos mileritas: “Até duas mil e trezentas tardes e manhã e o santuário será purificado” (Dn 8:14).

Para esse grupo, o significado das 2.300 tardes e manhãs estava bem claro, pois havia sido estudado exaustivamente naqueles últimos anos (veja o quadro). A questão era compreender o significado da purificação do santuário. Para Miller, seria a volta de Cristo à Terra. Porém, após buscar a Deus em oração, logo após o desapontamento, o milerita Hiram Edson vislumbrou outra interpretação enquanto caminhava por um milharal próximo à sua propriedade. Ele viu que, ao se completarem os 2.300 dias proféticos, Jesus Cristo adentrava ao lugar santíssimo do santuário celestial, onde teria uma obra a realizar antes de Seu retorno à Terra.

Ao estudar a Bíblia em companhia de amigos como Owen Crosier e Franklin Hahn, Edson uniu a visão à convicção vinda da Palavra de Deus. Com base no livro Millennial Fever and the End of the World, de George Knight, podemos considerar as principais conclusões às quais chegaram Edson e seus companheiros de estudo:

1. Há um santuário literal no Céu (Hb 8:1-5).

2. O santuário terrestre era uma representação visual do plano da salvação e um modelo do tabernáculo celestial (Êx 25:8; Hb 9:23).

3. Assim como o santuário israelita tinha um ministério realizado em duas fases, sendo a segunda delas o ritual do Dia da Expiação, o santuário celestial também tem duas fases. A primeira tem início no lugar santo, com a ascensão de Cristo ao Céu. A segunda é realizada no lugar santíssimo, começando em 22 de outubro de 1844, data profética que assinala o Dia da Expiação escatológico.

4. A primeira fase do ministério de Cristo diz respeito fundamentalmente ao perdão dos pecados. A segunda parte trata principalmente da extinção do pecado e da purificação do santuário e também dos crentes.

5. A purificação do santuário de Daniel 8:14 referia-se a uma limpeza do pecado realizada por meio do sangue de Cristo e não pelo fogo.

6. Cristo não retornará até que a obra de purificação do santuário celestial esteja completa.

Caminho iluminado
Ellen G. White e seu esposo, Tiago, estavam entre aqueles que abraçaram essas convicções e tiveram a experiência espiritual renovada após o período sombrio do desapontamento. Ele relata: “Muitos de nosso povo não reconhecem quão firmemente foram lançados os alicerces de nossa fé. Meu esposo, o pastor José Bates, […] o pastor [Hiram] Edson e outros que eram inteligentes, nobres e verdadeiros achavam-se entre os que, expirado o tempo em 1844, buscavam a verdade como a tesouros escondidos. Reunia-me com eles e estudávamos e orávamos fervorosamente. Muitas vezes ficávamos reunidos até alta noite, e às vezes a noite toda, pedindo luz e estudando a Palavra” (Cristo em Seu Santuário, p. 10).

Antes mesmo que a razão para o desapontamento fosse plenamente compreendida à luz da Bíblia e propagada, Deus havia concedido a Ellen G. White uma visão de encorajamento que deveria ser apresentada ao povo do advento. Nessa primeira de muitas visões, Ellen contemplou uma luz que brilhava no início de um caminho “reto e estreito” trilhado pelos que esperavam a segunda vinda. Um anjo identificou a luz como o “clamor da meia-noite”, termo que designa a intensa pregação milerita no verão e no outono de 1844, anunciando a volta de Cristo. O caminho era mais longo do que inicialmente se acreditava, mas Cristo conduzia Seu povo à cidade santa. Os que “negavam a existência da luz atrás deles” logo se consideravam em um caminho errado e caíam para o mundo “tenebroso e ímpio”. Mas os que valorizavam a luz disponível olhavam para Cristo e para a cidade e venciam.

Firme alicerce
Com base na revelação divina apresentada por meio de visões e confirmada com criterioso estudo do texto sagrado, esse pequeno grupo de crentes encontrou coragem e esperança em meio ao despontamento. Com os olhos abertos para a realidade bíblica do ministério de Cristo no santuário celestial tiveram a certeza de que Deus os estava guiando em meio às provações. “Eu sei que a questão do santuário se firma em justiça e verdade, tal como a temos mantido por tantos anos”, afirmou Ellen G. White (Cristo em Seu Santuário, p. 11).

Passados 170 anos da decepção experimentada pelos mileritas, a Igreja Adventista do Sétimo Dia é a mais destacada ramificação do antigo movimento. Enquanto outros grupos mileritas se extinguiram ou se tornaram irrelevantes, os adventistas alcançaram o globo com a mensagem do breve retorno de Cristo. A incessante busca pela revelação divina e pela correta compreensão da Palavra de Deus transformou uma aparente derrota em vitória. Porém, os triunfos dos pioneiros não podem degenerar-se em ufanismo triunfalista. A fidelidade às revelações divinas é o firme alicerce para aqueles que aguardam o encontro com Cristo. Referindo-se à mensagem sobre o santuário celestial, Ellen G. White afirmou: “Não devemos desviar-nos da plataforma da verdade em que fomos estabelecidos.”

Entenda como se chegou à data de 22 de outubro de 1844
Grande parte dos esforços de Guilherme Miller e seus seguidores foi dedicada a desvendar o significado da passagem de Daniel 8:14: “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs e o santuário será purificado.” Veja a seguir alguns passos que ligam a profecia de Daniel à data anunciada pelos mileritas e atualmente aceita pelos adventistas do sétimo dia:

- Usando o princípio de interpretação profética dia-ano (Nm 14:34; Ez 4:4-7), é possível concluir que a profecia trata de um longo período de 2.300 anos.

- Para descobrir o tempo de seu cumprimento, é necessário encontrar a data que teria dado início à contagem profética. Conectando a passagem de Daniel 9:24-25 ao texto encontrado em 8:14, identifica-se a ordem para restaurar e edificar Jerusalém, após o cativeiro babilônico, como o evento inaugural da profecia.

- Em Esdras 7:7-9 encontra-se a referência temporal à ordem do rei persa Atarxerxes para a reconstrução de Jerusalém. Assim, com ajuda da história é possível identificar o ano 457 como o início da profecia.

- O cumprimento da profecia das 70 semanas proféticas, ou 490 anos (Dn 9:24), a primeira parte da grande profecia dos 2.300 anos, se deu com a morte de Cristo no ano 27, na metade da última semana profética (Dn 9:27).

- Selada com a morte de Cristo no calvário, a profecia das 2.300 tardes e manhãs teve cumprimento em 1844, com o início do Dia da Expiação escatológico.

- A data de 22 de outubro foi proposta com base no Dia da Expiação realizado no 10º do 7º mês do calendário judaico (Lv 16:29-30).

Guilherme Silva (via Revista Adventista)

Ilustração: Cena do filme Como Tudo Começou. Assista abaixo:


"O assunto do santuário foi a chave que desvendou o mistério do desapontamento de 1844. Revelou um conjunto completo de verdades, ligadas harmoniosamente entre si e mostrando que a mão de Deus dirigira o grande movimento do advento. Os adventistas admitiam, nesse tempo, que a Terra, ou alguma parte dela, era o santuário. Entendiam que a purificação do santuário fosse a purificação da Terra pelos fogos do último grande dia, e que ocorreria por ocasião do segundo advento. Daí a conclusão de que Cristo voltaria à Terra em 1844. Mas o tempo indicado passou e o Senhor não apareceu. Os crentes sabiam que a Palavra de Deus não poderia falhar; deveria haver engano na interpretação da profecia; onde, porém, estava o engano? Aprenderam, em suas pesquisas, que não há nas Escrituras prova que apoie a ideia popular de que a Terra é o santuário; acharam, porém, na Bíblia uma completa explicação do assunto do santuário, quanto à sua natureza, localização e serviços. Os que seguiram a luz da palavra profética viram que, em vez de vir Cristo à Terra, ao terminarem em 1844 os 2.300 dias, entrou Ele então no lugar santíssimo do santuário celeste, a fim de levar a efeito a obra final da expiação, preparatória à Sua vinda. Então, no lugar santíssimo, contemplaram de novo seu compassivo Sumo Sacerdote, prestes a aparecer como Rei e Libertador. Seguindo-O pela fé, foram levados a ver também a obra final da igreja. Obtiveram mais clara compreensão das mensagens do primeiro e segundo anjos, e ficaram habilitados a receber e dar ao mundo a solene advertência do terceiro anjo de Apocalipse 14" (Ellen G. White - A Fé Pela Qual Eu Vivo, pp. 282-283).

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

DIA DO ECUMENISMO

O Dia do Ecumenismo é comemorado anualmente em 21 de outubro, no Brasil. Esta data celebra o ato ecumênico que, de acordo com a definição eclesiástica do termo, consiste na busca da unificação entre as diferentes vertentes do cristianismo – católica, protestante e pentecostal.

O movimento ecumênico teve início há mais de cem anos, mas o verdadeiro marco foi a criação do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) em 1948, principal organização ecumênica no mundo, presente em mais de 120 países.

Não há dúvida de que a unidade cristã é essencial para o estabelecimento do Reino de Deus. Mas, seria o ecumenismo necessário e adequado para obter a unidade cristã?

Por que os adventistas não adotam o ecumenismo?
O adventismo tem tido uma postura consciente e coerente desde o início: existem bandeiras que podem ser compartilhadas e há um ecumenismo ideológico e comprometedor que deve ser evitado. Cooperar em boas causas comuns, como saúde, liberdade religiosa e projetos sociais, não significa ecumenismo no sentido negativo. O próprio adventismo começou como uma espécie de “ecumenismo”, reunindo pessoas de muitas denominações.

Os adventistas não são um grupo sectário e respeitam todas as denominações, mas ao mesmo tempo reconhecem seu papel especial. A crença fundamental número 13 expressa bem esse paradoxo: “A igreja universal se compõe de todos os que verdadeiramente creem em Cristo; mas, nos últimos dias, um tempo de ampla apostasia, um remanescente tem sido chamado para guardar os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.” Ao falar sobre o futuro sinal da besta, Ellen White reconheceu: “Há cristãos verdadeiros em todas as ­igrejas, inclusive na comunidade católico-romana” (Evangelismo, p. 234).

“Ecumenismo” vem da palavra grega oikoumene, que significa “o mundo inteiro habitado”. Na antiguidade, o termo se referia ao Império Romano. Por expressar a ideia de universalidade, o conceito foi também usado para designar os sete grandes concílios cristãos até o racha de 1054. Porém, a tentativa de recuperar essa união ­global ganhará cada vez mais destaque.

Infelizmente, a perspectiva não é boa. O Apocalipse fala de um ecumenismo sinistro em que “espíritos de demônios” unirão os reis do “mundo inteiro” (oikoumenes holes) contra o Todo-Poderoso (Ap 16:13-14). Trata-se de uma grande confederação ecumênica que resultará em guerra contra o povo de Deus.

Ao mesmo tempo, há um claro chamado para as pessoas saírem do ecumenismo do mal (Babilônia) e se unirem ao ecumenismo do bem (Ap 14:6-7; 18:1-4). O sonho de Cristo para a igreja inclui a unidade (Jo 17), mas ela deve ser buscada com base no amor e na verdade. O ecumenismo autêntico se dá em torno de Cristo, é movido pelo Espírito, regido pela Palavra e voltado para a glorificação de Deus e o bem das pessoas.

Em Sua belíssima oração sacerdotal, Jesus Cristo disse: “Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17:20-21).

De que unidade Jesus Cristo está falando? Estaria Ele dando a base para o ecumenismo?

O que o Mestre está destacando nesses versos é a unidade de comunhão vital com Deus, através do Espírito Santo na fé, mediante a conexão com o Cristo glorificado”. Em favor de um grupo que ainda briga por supremacia, como as contendas que vinham ocorrendo entre os doze (Lucas 22:24-30), Jesus Cristo roga ao Pai por unidade na mesma crença, espírito e objetivos. Então, o que se enfatiza nesses versos não é aproximação entre diversas religiões, mesmo porque o ensino estava sendo ministrado aos discípulos; o que se destaca é a união com o Pai e o Filho.

Assim, a união que importa é a que nos leva para perto de Cristo, não para meramente ou primariamente termos nossos projetos ou agendas comuns, mas porque uma vida realmente abençoada é aquela que é vivida somente no Espírito de Cristo, união esta que nos faz entender, viver e promover Sua agenda.

Desafios decorrentes do ecumenismo
Como afirma o teólogo Ángel Manuel Rodríguez, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, embora algumas vezes tenha se envolvido em conversas inter-religiosas, nunca teve o propósito de buscar a unidade com outros corpos eclesiásticos. Em vez de objetivar o ecumenismo, a Igreja Adventista utiliza essas conversas como um meio de compartilhar sua verdadeira identidade e missão com os outros, e como uma forma de eliminar maus entendimentos e preconceitos contra ela.

Ao estabelecer diálogo com outras denominações, é prudente saber que conversas ou ações ecumênicas, sejam estas formais ou informais, contêm riscos, dentre os quais:

1. Colocar a unidade da Igreja em risco. Numa época em que a autoridade é facilmente questionada, alguns membros da igreja podem ver conspiração em tudo o que líderes e teólogos da igreja fazem. E se ouvem que está havendo diálogo com outra igreja, rapidamente podem suspeitar que as crenças estão sendo alteradas ou comprometidas. Isso pode afetar a unidade e, consequentemente, a missão, pois um povo desunido acaba se movendo com lentidão e desconfiança.

2. As crenças podem ser colocadas em risco. Se o objetivo é buscar a unidade a todo custo, há o risco de falsificar ou minimizar as diferenças para torná-las mais palatáveis ​​ao interlocutor na conversa, enquanto que, ao mesmo tempo, se supervalorizam as semelhanças. O resultado disso é que, a seguir, negociam-se princípios e crenças em nome do bom diálogo.

3. O evangelismo pode ser colocado em risco. Se, como resultado do diálogo, conclui-se que todos são bons cristãos, boas pessoas, a missão de pregar o evangelho desaparece, e a tarefa de fazer discípulos de todas as nações (Mateus 28:18-20) perde todo sentido.

Como afirma Ángel Manuel Rodríguez, “o proselitismo não é errado, mas é um aspecto intrínseco da liberdade com que Deus dotou a raça humana e uma forma saudável de manter o equilíbrio da diversidade que é fundamental para a busca da verdade”.

[Com informações de Revista Adventista e ANN]

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

DEUS E O DIA DO POETA

O Dia do Poeta é celebrado anualmente em 20 de outubro. Esta data celebra o profissional, que pode (e deve) ser reconhecido como um artista escritor, que usa de sua criatividade, imaginação e sensibilidade para escrever, em versos, as poesias que faz.

A poesia de Deus
Espanta-me muitas vezes a forma como certos cristãos falam sobre Deus e as coisas pertinentes a Ele. Usam de uma frieza e de uma dureza que me soam como se o Senhor fosse alguém destituído de sensibilidade, de afetos, de amor. Tratam do evangelho como um martelo de ferro batendo em rocha dura, passando a imagem de que o Criador é alguém frio e calculista, como um daqueles vilões de filmes de Chuck Norris, que matam impassíveis montes de pessoas sem mexer um músculo do rosto. Um Deus de pedra. Um Deus estátua-de-gelo, com peito oco e alheio a toda forma de sensibilidade.

Gosto de ver o Senhor como um poeta. Não por fazer poetismos melosos e sem função, mas por ter atributos típicos dos poetas: Sua grande veia artística, Seu enorme coração, Sua capacidade de ver beleza onde há aridez, Sua habilidade de transformar realidades difíceis em palavras expressivas, e Seu amor sem fim – expresso em Sua graça, em Sua misericórdia, em Sua compaixão.

Quando me lembro que Deus foi quem soprou cada uma das palavras dos Salmos no coração e na mente dos salmistas, me encanto com Seu espírito criativo. Quando me recordo que de Seu interior nasceu o Cântico dos Cânticos e aquelas porções da Bíblia que os teólogos gélidos preferem esquecer que existem, vejo um ser que pulsa em emoção. Quando leio que Jesus curava os enfermos “movido por íntima compaixão”, enxergo um Cristo mais amoroso do que os poetas mais parnasianos. O mesmo Jesus que chorou ao ter Sua sensibilidade entranhavelmente abalada pela dor dos amigos do Lázaro morto, incapaz de permanecer alheio ao sofrimento dos que amava, mesmo sabendo que traria o defunto de volta da morte. Poetas são assim: choram com muita frequência.

Aliás, por falar de amor, fico profundamente comovido ao ler que o Todo-poderoso nos enviou o Filho pelo fato de nos ter amado. E não amado de um modo qualquer. Amado… “de tal maneira”. Ou seja: amou de forma rasgada, desbragada, entregue e devotada. Meu irmão, minha irmã, nós, que fomos resgatados pela graça e o amor do Senhor, somos a Sua poesia. Ele nos compôs impulsionado pelo amor mais extraordinário já visto. Como as linhas de uma canção de amor, nascemos de sua inspiração, fomos idealizados em sua mente e acabamos concretizados como as palavras mais lindas do Verbo que se fez carne e que, de poeta, se faz poesia.

Deus sente. Deus sente, meu irmão, minha irmã. Que lamentável é vermos quem enxergue o Senhor de modo tão estático, frio e impassível como uma estátua. Em outras palavras, como um ídolo de barro.

Encanta-me saber que Jesus mandou que olhássemos para as flores quando quis falar do cuidado de Deus com nossas necessidades. Ele não teceu um tratado teológico cheio de notas se rodapé, paradigmas, cosmovisões, tabelas e gráficos explicativos. Simplesmente mandou que olhássemos para os lírios do campo. Que extraordinário! Profundas realidades espirituais em forma de poesia. “Você está preocupado? Olhe para as flores…”, disse o Mestre, com a simplicidade de um soneto.

Louvo a Deus por, ao nos fazer à sua imagem e semelhança, ter posto em nós lascas do gigantesco Espírito poético que Ele tem. Porque a poesia não é um atributo de origem humana e seria muita petulância achar isso. O que temos de sensibilidade e arte é uma tênue reprodução daquilo que pulsa no coração do Senhor. A Bíblia que eu leio me mostra um Deus poeta. Sensível. Criador. Criativo. Amante da beleza. Artístico. E que fez questão de inserir muita poesia na sua Palavra revelada, no livro que revela sua essência – acredito eu que para revelar que no Senhor há poesia. Caso contrário, qual seria a função de haver poesia na Bíblia?

Obrigado, Senhor, pelo dom de sentir. De me encantar. De ver beleza. De chorar ante uma flor, ante uma música, ante o sofrimento de um irmão. Obrigado, Senhor, por ter-se revelado esse poeta tão magnífico. E obrigado, acima de tudo, pela poesia da cruz: dois riscos que se cruzam e trazem na sua interseção um coração sangrando de tanto amar.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,

Maurício Zágari (via Apenas)

Nota do blog: Confira também estes pensamentos de Ellen G. White:

"Como fator de educação, a Bíblia é de mais valor do que os escritos de todos os filósofos de todos os séculos. Há ali poesia que provocou o pasmo e admiração do mundo. Em resplendente beleza, em majestade sublime e solene, em comovente piedade, não se rivalizam com ela as mais brilhantes produções humanas" (Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, p. 428).

"A Bíblia contém a mais profunda filosofia, a poesia mais doce e sublime, mais apaixonada e patética" (Educação, p. 125).

"A poesia bíblica suscita o espanto e a admiração do mundo. Com beleza cintilante, em sublime e solene majestade, com sentimentos tocantes, é inigualada pelas mais brilhantes produções do gênio humano" (Um Convite à Diferença, p. 95).

terça-feira, 19 de outubro de 2021

ADÃO E EVA

Como eram Adão e Eva? Infelizmente, a Bíblia não fala muita coisa acerca disso. Sabemos que, no aspecto moral, Adão e Eva eram semelhantes a Deus, pois foram criados à Sua imagem e semelhança. Ellen G. White assim descreve Sua criação:

"Criados para serem a 'imagem e glória de Deus', Adão e Eva tinham obtido prerrogativas que os faziam bem dignos de seu alto destino. Dotados de formas graciosas e simétricas, de aspecto regular e belo, o rosto resplandecendo com o rubor da saúde e a luz da alegria e esperança, apresentavam eles em sua aparência exterior a semelhança dAquele que os criara. Esta semelhança não se manifestava apenas na natureza física. Todas as faculdades do espírito e da alma refletiam a glória do Criador. Favorecidos com elevados dotes espirituais e mentais, Adão e Eva foram feitos um pouco menores do que os anjos (Hebreus 2:7), para que não somente pudessem discernir as maravilhas do universo visível, mas também compreender as responsabilidades e obrigações morais" (Educação, p. 20).

"Depois que a Terra com sua abundante vida animal e vegetal fora suscitada à existência, o homem, a obra coroadora do Criador, e aquele para quem a linda Terra fora preparada, foi trazido em cena. A ele foi dado domínio sobre tudo que seus olhos poderiam contemplar. Deus criou o homem à Sua própria imagem. Não há aqui mistério. Não há lugar para a suposição de que o homem evoluiu, por meio de morosos graus de desenvolvimento, das formas inferiores da vida animal ou vegetal. Tal ensino rebaixa a grande obra do Criador ao nível das concepções estreitas e terrenas do homem. Os homens são tão persistentes em excluir a Deus da soberania do Universo, que degradam ao homem, e o despojam da dignidade de sua origem. Posto que formado do pó, Adão era filho "de Deus". Ele foi posto, como representante de Deus, sobre as ordens inferiores de seres" (Patriarcas e Profetas, pp. 44, 45).

No aspecto físico, somente podemos analisar e discorrer sobre poucas características:

1. Cor da pele – A origem do nome “Adão” dá uma boa pista sobre a cor da pele deles. A origem da palavra “humanidade” também. A palavra adam está relacionada a outra palavra hebraica, adamah, que significa “terra” ou “solo”. O conceito prevalecente entre os eruditos hebraicos é que ambas as palavras derivam da hebraica adom, que significa “vermelho”. O Dicionário Teológico do Velho Testamento (1974; em inglês) sugere um possível motivo da derivação de “solo” da palavra “vermelho”, ao mencionar que a terra pode ter contido ferro e, assim, ter parecido vermelha. De modo similar, algumas autoridades, que afirmam que adam (Adão, homem) vem de adom (vermelho), especulam que Adão pode ter tido pele de cor avermelhada.

“Humano” vem de húmus, igualmente “terra”. Assim, pesquisadores criacionistas acreditam que Adão tinha cor de terra, da qual foi feito. Não era negro, nem branco, talvez mais para o “apache”.

Ellen White diz: “Ao sair Adão das mãos do Criador... Sua cútis não era branca ou pálida, mas rosada, reluzindo com a rica coloração da saúde" (Exultai-O, p. 40).

2. Altura – A Terra “primitiva” (período pré e pós-diluviano) era muito diferente do que é hoje. Isso possivelmente forneceu muitas vantagens (estatura e sobrevida) para a vegetação (árvores imensas), grandes insetos, animais de grande porte (dinossauros) e para os seres humanos. Nesse sentido, as evidências científicas são claras em demonstrar que tanto o planeta Terra quanto o ser humano estão involuindo (degenerando), ao invés de estarem evoluindo em níveis ascendentes, como postulado pelo paradigma evolutivo. A Bíblia mais uma vez mostra a legitimidade de seu conteúdo científico à frente de seu tempo.

A entrada do pecado deu origem não só ao aparecimento de espinhos em plantas, mortes e/ou diminuição de espécies, mas, principalmente, à diminuição dos níveis de elementos químicos essenciais na atmosfera, como o oxigênio. A Bíblia afirma que a Terra sempre possuiu oxigênio (a partir do terceiro dia da semana da criação). Antes do dilúvio, o clima era temperado e possuía muito mais oxigênio do que hoje em dia. Isso contribuía para que as espécies de animais e os humanos fossem maiores em estatura do que são hoje. A altura estimada para Adão, segundo projeções, seria de 4 a 5 metros.

Veja estas duas afirmações de Ellen White: “Ao sair Adão das mãos do Criador, era de nobre estatura e perfeita simetria. Tinha mais de duas vezes o tamanho dos homens que hoje vivem sobre a Terra, e era bem proporcionado. Suas formas eram perfeitas e cheias de beleza. Eva não era tão alta quanto Adão. Sua cabeça alcançava pouco acima dos seus ombros. Ela, também, era nobre, perfeita em simetria e cheia de beleza. Esse casal, que não tinha pecados, não fazia uso de vestes artificiais. Estavam revestidos de uma cobertura de luz e glória, tal como a usam os anjos. Enquanto viveram em obediência a Deus, esta veste de luz continuou a envolvê-los” (História da Redenção, p. 21).

“Adão e Eva no Éden eram nobres em estatura e perfeitos em simetria e beleza. Estavam sem pecado e em perfeita saúde. Que contraste com a humanidade agora! A beleza perdeu-se. A saúde perfeita é desconhecida. Por toda parte vemos doenças, deformidade e imbecilidade” (Conselhos sobre o Regime Alimentar, p. 145).

3. Força – Em 2010, um livro publicado pelo antropólogo Peter McAllister apresentou pesquisas que sugeriram que os homens de hoje são mais fracos e não seriam páreo para seus antepassados em uma batalha de força ou velocidade. Além disso, sabe-se que o genoma humano está deteriorando (diminuindo de tamanho) devido ao acúmulo de mutações deletérias a cada geração.

Acompanhe estas duas declarações de Ellen White: "Deus dotou o homem de tão grande força vital que ele tem resistido ao acúmulo de doenças lançadas sobre a raça em consequência de hábitos pervertidos, e tem sobrevivido por seis mil anos. Este fato, por si mesmo, é suficiente para nos mostrar a força e a energia elétrica que Deus conferiu ao homem na criação. Foram necessários mais de dois mil anos de delitos e de condescendência com as paixões inferiores para trazer sobre a raça humana enfermidades físicas em grande escala. Se Adão, ao ser criado, não houvesse sido dotado de vinte vezes maior vitalidade do que os homens possuem agora, a humanidade, com seus presentes métodos de vida que constituem uma violação da lei natural, já estaria extinta. Por ocasião do primeiro advento de Cristo, o gênero humano degenerara tão rapidamente que um acúmulo de doenças pesava sobre aquela geração, suscitando uma torrente de aflição e uma carga de sofrimento indescritível" (Conselhos Sobre Educação, p. 8).

"Se Adão, ao ser criado, não houvesse sido dotado de vinte vezes maior força vital do que os homens possuem agora, a humanidade, com seus presentes métodos de vida que constituem uma violação da lei natural, já estaria extinta" (Eventos Finais, p. 289).

4. Longevidade – Gênesis 5:3 relata que Adão viveu 930 anos e que em seu tempo havia gigantes (Gênesis 6:4). Vários fatores poderiam ter contribuído para essa longevidade. O clima, a dieta, a ação do pecado e da morte no mundo ainda sem força, entre outras situações.

Ellen White diz: "Os patriarcas desde Adão até Noé, com poucas exceções, viveram quase mil anos. Depois do tempo de Noé, a duração da vida tem diminuído gradualmente. Os que sofriam de enfermidades eram levados a Cristo de toda cidade, vila e aldeia para serem curados por Ele; pois eram afligidos por toda sorte de doenças. E a doença tem aumentado constantemente através das gerações sucessivas desde aquele período. Em virtude da continuada violação das leis da vida, a mortalidade tem aumentado de modo alarmante. Os anos de vida dos homens têm diminuído a tal ponto, que a geração atual desce à sepultura, antes mesmo da idade em que as gerações que viveram durante os dois primeiros mil anos, após a criação, se lançavam ao campo de ação" (Fundamentos da Educação Cristã, p. 24).

5. Inteligência – Adão era perfeito e sabemos que a ele foram dadas instruções sobre o Éden e sobre como tudo deveria funcionar. Até foi dada a ele ordem para nomear os animais. Então, Adão deve ter sido capaz de falar. Ele deve ter tido linguagem complexa desde o início. Ele nem sequer teve que aprender a falar, como nós. Ele foi feito como um ser humano maduro.

Ellen White afirma: "Adão foi coroado rei no Éden. Foi-lhe dado domínio sobre todos os seres viventes que Deus tinha criado. O Senhor abençoou Adão e Eva com inteligência tal que Ele não tinha dado a nenhuma outra criatura. Conferiu a Adão o poder sobre todas as obras criadas, de Suas mãos. O homem, feito à imagem divina, poderia contemplar e apreciar as obras gloriosas de Deus na Natureza. Favorecidos com elevados dotes espirituais e mentais, Adão e Eva foram feitos um pouco menores do que os anjos" (A Maravilhosa Graça de Deus, p. 34).

6. Peso - Se Adão tinha, segundo Ellen White, “mais de duas vezes o tamanho dos homens que hoje vivem sobre a Terra”, podemos imaginar que tivesse entre quatro e cinco metros. Para facilitar, vamos ficar com quatro metros. Com base nessa medida, vamos calcular qual teria sido o provável peso de Adão e sua esposa, Eva. Acompanhe:

Tomando como referência valores médios de altura de homens e mulheres nos Estados Unidos, respectivamente, 1,77 m e 1,62 m, bem como um IMC ao redor de 25, podemos imaginar um homem com 78 kg e uma mulher com 66 kg. Se Eva tinha uma altura tal que o topo de sua cabeça ficava pouco acima dos ombros de Adão, e se Adão tinha 4 m de altura, então Eva deveria ter algo em torno de 3,5 m de altura. Vamos imaginar que a densidade e as proporções de Adão e Eva fossem as mesmas das pessoas hipotéticas descritas acima; então podemos calcular a massa corporal deles, lembrando que ela é proporcional ao volume do corpo, que é proporcional ao cubo da altura.

Chamando a massa de Adão de M e a massa de um homem atual de m, e de H a altura de Adão e h a altura de um homem atual, a fórmula para o cálculo da massa de Adão é: M = m(H/h)³ = 78(4/1,77)³. O que resulta em cerca de 900 kg.

Para a mulher, vale a mesma fórmula com os respectivos dados: M = 66(3,5/1,62)³. O que resulta em cerca de 660 kg. Ou seja, uma top model com quase 700 kg!

Só podemos imaginar as capacidades físicas, mentais e espirituais que nossos primeiros pais tiveram, e que um dia, quando a Terra for recriada por Deus, serão nossas novamente. Que venha logo esse dia a partir do qual a raça humana voltará ao plano original!

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

NAS GARRAS DO IMPOSSÍVEL

A vida é cheia de impossíveis. Amores impossíveis. Curas impossíveis. Sonhos impossíveis. Companhias impossíveis. Empregos impossíveis. Vidas impossíveis. A impossibilidade nos cerca, nos esmaga, nos devasta. Esticamos a mão, mas não alcançamos. Queremos mas não temos. Pois esse animal leproso chamado “o impossível” nos açoita com azogues diários. Só você e Deus sabem qual e como é o teu impossível, mas tenha ele a cara que tiver, certamente é horripilante, assustador. Todo impossível é venenoso e tem ferrões que furam a alma e abatem o espírito.

E o impossível, como uma fera que arrasta atrás de si sua longa cauda, traz consigo dor. A dor do impossível. É uma das dores mais insuportáveis que há, pois é uma dor que não depende de nós para ser superada. Nada podemos fazer. Somos impotentes, manietados, presos em nossas limitações. O impossível é um animal feroz que devora nossas entranhas e nos joga na cara quem nós somos: pó. Limitados. Impotentes. Meros humanos. O impossível dá lições de humildade, pois mostra ao autossuficiente que ele é dependente. Nós olhamos nos olhos do impossível e ele nos encara com seu olhar injetado, suas garras sujas e afiadas e seu hálito de morte.

E o que fazer quando o impossível surge em nossas vidas? Sinceramente? Nada. Não há nada a fazer. Perdoem-me os triunfalistas, os que falam que dizem que tendo fé se resolve qualquer parada, os que declaram, decretam e “tomam posse” da vitória. Pois por vezes isso não adianta nada. Somos encurralados pelo impossível e só nos resta chorar de horror e esperar um milagre para subverter o curso das coisas. Quando o impossível nos encurrala contra uma parede, não há para onde correr, não há! Senão o impossível não se chamaria im…possível.

A única esperança é um milagre. E o único que pode fazer esse milagre se chama Jesus de Nazaré.

Lucas 1:37 – “Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as Suas promessas.”

Lucas 18:27 – “Mas Ele respondeu: Os impossíveis dos homens são possíveis para Deus.”

Há uma única escapatória das presas sanguinolentas do impossível: o milagre de Deus. O grande problema é que não sabemos qual é a vontade absoluta dEle.

Nós ali, de costas contra a parede, encurralados pelo impossível, que como uma besta-fera sadicamente caminha de um lado ao outro esperando a hora da devora. E, de repente, pode acontecer que apenas ouviremos a voz distante do Nazareno dizer “a minha graça te basta”. E aí teremos de conviver com a realidade da fúria do impossível. Mas pode acontecer que, diante de nossas lágrimas e de nosso clamor, o Mestre chegue. E com apenas uma única palavra, o impossível caia fulminado e inerte no chão.

Como vencer a angústia dessa espera? O Mestre virá? Nunca sabemos. Pode ser que Ele queira que nos fortaleçamos ao encarar o impossível. Pois “o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Se alguém descobrir o segredo me avise. Não tenho respostas para tudo e vivo os meus impossíveis do meu modo: oro ao Senhor e, se o impossível dá botes, dentadas e unhadas, procuro esmurrá-lo com quaisquer tocos de madeira que haja ao alcance da minha mão, esperando retardar sua ação. Esforçando-me, enquanto isso, para acreditar que o socorro virá.

Encurralado. Com medo. O hálito fétido do impossível se entranha em minhas narinas. Nessa hora elevo os meus olhos para os montes, buscando desesperadamente ver de onde me virá o socorro. E então me lembro que o meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra… E que Ele não permitirá que os meus pés vacilem.

O impossível está aí, Pai. Espero de ti os teus possíveis. É tudo o que posso fazer.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Maurício Zágari (via Apenas

"Às vezes, deixamos de orar em certas circunstâncias porque, a nosso ver, a situação é sem esperança. Mas nada é impossível com Deus. Nada é tão emaranhado que não possa ser te mediado, nenhuma relação humana é tão tensa que Deus não possa trazê-la à reconciliação e à compreensão; nenhum hábito é tão profundamente enraizado que não possa ser vencido; ninguém é tão fraco que Ele não possa tornar forte. Ninguém é tão doente que Ele não possa curar. Nenhuma mente é tão obscura que Ele não possa tornar brilhante. Se alguma coisa nos causa preocupação ou ansiedade, paremos de propagá-la e confiemos em Deus por restauração, amor e poder" (Ellen White - Review and Herald, 7 de Outubro de 1865).

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

O MELHOR PROFESSOR DE TODOS OS TEMPOS

Muitos estudiosos da didática e da metodologia do ensino consideram Jesus Cristo o professor mais marcante de todos os tempos. Há dezenas de livros a esse respeito. O fato é que Seu ensino criativo e transformador alcançou e alcança milhões de pessoas.

O mestre Jesus Cristo, um carpinteiro, sem jamais ter deixado registrada uma palavra sequer, sem jamais ter produzido um artigo, pesquisa, monografia ou livro, impactou a humanidade de um jeito impressionante. Como nos lembra o Dr. James Kenedy, com 12 discípulos Jesus Cristo exerceu influência civilizatória que dura até hoje![1]

É irrefutável que a vida do jovem galileu causou grande impacto em Sua época e em nossa época. E o mais espetacular: fez tudo isso até os 33 anos de idade apenas. Isso é extraordinário! Como diz o respeitado J. M. Price, em seu clássico A Pedagogia de Jesus, “ninguém esteve melhor preparado, e ninguém se mostrou mais idôneo para ensinar do que Jesus. No que toca às qualificações, bem como noutros mais respeitos, Jesus foi o mestre ideal. Isto é verdade tanto visto do ângulo divino como do humano. No sentido mais profundo, Jesus foi um mestre vindo da parte de Deus”.[2]

Características de Jesus como professor
O mestre Jesus é surpreendente. E, se olharmos para algumas de Suas características de personalidade, temos que admitir que Ele é um padrão de absoluto equilíbrio, bom senso e profissionalismo. Seguindo as percepções de Roy Zuck,[3] pensemos um pouco em algumas de Suas características enquanto mestre.

Jesus Cristo é referencial de maturidade. Lucas 2:40 nos diz que “o menino [Jesus] crescia e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre Ele”. Da perspectiva humana, Jesus era uma pessoa madura; como Filho de Deus e como membro da Trindade, obviamente era espiritualmente maduro. Devemos seguir Seu exemplo, procurando crescer mentalmente, espiritualmente, fisicamente e socialmente.

Jesus veio à Terra para revelar o Pai (João 17:26). Desta maneira, podemos entender que Ele possuía todo conhecimento e era capaz de discorrer sobre qualquer tema com maestria. Certamente isso fazia com que o povo ficasse fascinado “pelas Suas palavras” (Lucas 19:48). Os professores são responsáveis pelo que afirmam e, portanto, ao abordarem algum tópico, precisam fazê-lo com autoridade, a qual é resultado de tempo gasto em oração, pesquisa e reflexão.

Sendo autoridade em qualquer assunto, Jesus sempre falava com convicção, jamais deixando alguma dúvida do que Ele ensinava. Era com plena certeza que Ele fazia afirmações como “Eu Sou o caminho, a verdade e a vida” (João 14:6); ou: “Vocês ouviram o que foi dito… Mas Eu lhes digo que…” (Mateus 5:21, 22). O educador cristão precisa se expressar com convicção, transmitindo segurança aos seus ouvintes; isto é resultado, claro, de estudo profundo numa área específica do conhecimento, mas também resultado de uma vida conduzida pelo Espírito Santo.

O apóstolo Paulo afirma que Jesus “humilhou-se a si mesmo” (Filipenses 2:8). Uma clara demonstração da humildade do Mestre pode ser vista em Sua atitude de servir e não ser servido (Mateus 20:28). Os professores cristãos não obtém respeito dos colegas e dos alunos pela auto-exaltação, senão pela humilde postura de servo. Afinal, o orgulho causa repulsa, enquanto que a humildade atrai.

Diferentemente de nossa educação conteudista, orientada pelo assunto a ser transmitido, o mestre Jesus não tinha um conteúdo curricular fechado, e nem mesmo parecia preocupar-se com o que deveria ensinar a cada dia. Obviamente Ele queria ensinar algumas coisas, mas o fazia com espontaneidade, esperando o momento certo, quando o coração e a mente de Seus ouvintes estavam dispostos. Foi assim, por exemplo, na ocasião em que acalmou a tempestade (Mateus 8:23-27); esse foi o momento oportuno para ensinar sobre a fé e o medo do ser humano, bem como sobre o ilimitado poder de Deus. Nas ocasiões informais as pessoas podem ter maior disposição para ouvir e captar ensinos que modificarão para sempre sua vida.

De vez em quando escutamos alguns alunos reclamando que ficam confusos na hora da aula, pois, às vezes, alguns professores falam de muitas coisas ao mesmo tempo. Outros dizem que não entendem o que é dito, pois alguns docentes usam palavras e expressões desconhecidas. Em relação ao mestre Jesus, podemos dizer que havia tal clareza em Seus ensinos e discursos, “que as crianças, os idosos e o povo comum o ouviam com prazer e ficavam encantados com as suas palavras”.[4] Se quiserem ensinar com clareza, os professores precisam escolher adequadamente as palavras e expressões que usam; e sempre que houver necessidade de usar uma palavra técnica, incomum aos alunos, precisam explicá-la de modo claro, exemplificando-a se possível.

Em Seu ministério, Jesus ensinava com senso de urgência, pois sabia que não tinha todo o tempo do mundo. Em pouco mais de três anos deveria transmitir à humanidade os ensinos que se demonstrariam capazes de transformar a rotina da vida humana. Portanto, não havia tempo a perder. Em João 7:33 Ele afirma: “Estou com vocês apenas por pouco tempo”. O Mestre tinha senso de urgência. Todavia, Ele não se deixou dominar pela agenda: Ele nunca estava apressado e nunca cancelou um encontro. Sempre tinha tempo para ministrar as necessidades das pessoas. Os professores cristãos precisam aprender a administrar melhor o tempo, “aproveitando ao máximo cada oportunidade” (Efésios 5:16), não desperdiçando o precioso tempo da sala de aula. O tempo é ouro, e deve ser administrado de tal modo que o professor nunca venha a se arrepender por ter usado o tempo de modo irresponsável.

No ministério de Cristo são evidentes sua simpatia e empatia, manifestas em seu amor e cuidado pelas pessoas. O evangelho de Lucas diz que “todos falavam bem dele e estavam admirados com as palavras de graça que saíam de seus lábios (4:22). O educador Antônio Tadeu Ayres nos lembra que “nenhum professor é considerado bom simplesmente por acaso. Os alunos sabem perceber muito bem o mestre que conhece o que ensina, tem prazer de instruir e sabe como fazer isso. Percebem também a personalidade, o temperamento, os valores éticos e a capacidade de compreensão. Nesta questão particular, será bem-sucedido o professor que de fato pratica a empatia”.[5] De uma perspectiva cristã, os alunos não são meramente clientes, e sim, acima de tudo, candidatos ao reino de Deus. Portanto, os professores precisam exercer paciência, simpatia e empatia. Afinal, o ensino cristão é muito mais do que conteúdo. É também a demonstração de um genuíno interesse pelas pessoas.

Finalmente, o Mestre Jesus jamais ensinou algo que não fosse pertinente ou necessário aos Seus ouvintes. Tudo o que Ele falou tinha relevância e aplicabilidade à vida das pessoas. É também o desafio de cada professor não meramente falar bonito, mas tornar a aula relevante à vida dos alunos, fazendo com que os ensinamentos sejam pertinentes para cada estudante que ouve e participa das aulas. Agindo dessa forma, o professor e a professora terão como resultado um ensino que transforma.

* "Os professores devem estudar as lições de Cristo e o caráter de Seu ensino. Devem ver sua libertação do formalismo e da tradição, e apreciar a originalidade, a autoridade, a espiritualidade, a bondade, a benevolência e a praticabilidade do Seu ensino. Em lugar de introduzir em nossas escolas livros que contêm teorias dos grandes autores do mundo, eles dirão: Não se me induza a desconsiderar o maior Autor e o maior Mestre, por cujo intermédio obtenho a vida eterna. Ele jamais erra. É a grande Fonte de onde flui toda sabedoria. Semeie portanto todo professor a semente da verdade no espírito dos estudantes. Cristo é o Professor-Modelo" (Conselhos sobre Educação, p. 146).

Adolfo Suárez (via Ouvindo a Voz de Deus
 
[1] James KENEDY e Jerry Newcombe. E Se Jesus não Tivesse Nascido? São Paulo: Vida, 2003, p. 21.
[2] J. M. Price. A Pedagogia de Jesus. 3ª edição. São Paulo: JUERP, 1983, p. 5.
[3] Roy B. Zuck. Teaching as Jesus Taught. Grand Rapids: Baker, 1995, p. 63 a 89.
[4] Ellen G. White. Fundamentos da Educação Cristã. 2ª edição. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996, p. 242.
[5] AYRES, Antônio Tadeu. Prática Pedagógica Competente: Ampliando os Saberes do Professor. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004, p. 55.

* Comentário de Ellen G. White inserido pelo blog.