quinta-feira, 30 de junho de 2022

DEUS E O MERCADO

Acordamos diariamente bombardeados por notícias sobre a situação do Sr. “Mercado”. O “Mercado” está calmo, está nervoso, está agitado, está bom ou está ruim. De certa forma, todos nós somos influenciados pelo Sr. “Mercado”. Paradoxalmente, os noticiários pouco falam de Deus!

Deus e o mercado. Não seria exagerado dizer que nosso posicionamento em relação a Deus e ao mercado é um dilema que nos leva a importantes decisões na vida pessoal e principalmente nos negócios.

Ao olharmos para a origem do homem, vemos Adão no Jardim do Éden como fiel depositário da exuberante criação divina. Deus havia acabado de criar a Terra, e culminou este ato com a criação do homem “à Sua imagem” (Gn 1:27). E para comprovar a semelhança da criatura humana à Sua imagem, Deus lhe deu a inteligência, o livre-arbítrio para decidir, a sujeição de todas as demais criaturas, o domínio sobre a Terra (Gn 1:28).

Para o bem do homem – Deus criou o primeiro mercado para o homem. “E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, da banda do Oriente; e pôs nele o homem que havia formado” (Gn 2:8). Não seria esta a primeira experiência do homem com o mercado? Não havia sido dito por Deus que tudo o que havia criado – as ervas verdes, os animais, frutos, etc. – deveria ser para a manutenção da raça humana? (Gn 1:29 e 30). O apóstolo Paulo afirma que todas as coisas criadas por Deus estão sujeitas ao homem (Hb 2:7 e 8). Esta foi a primeira regra do mercado: ele existe para a manutenção do homem.

Na sequência, Deus deu ao homem esta ordem: “De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás” (Gn 2:16 e 17). A relação do homem com o mercado no Éden não foi apenas de sobrevivência biológica; havia também uma relação com o Criador, a qual envolvia valores. Esta foi a segunda regra: no mercado criado por Deus, havia valores.

A terceira regra criada por Deus é a relação do homem com o mercado na dimensão do tempo. Deus descansou no sétimo dia da criação, e mais, Ele abençoou e santificou esse dia. Mais tarde, ao revelar Sua lei a Moisés, Deus deixou claro que o sétimo dia – o sábado – não deveria ser utilizado para as atividades de mercado. Fora estabelecido como um monumento no tempo, em homenagem ao Criador e em Sua lembrança (Gn 2:2 e 3; Êx 20:8-11). A terceira regra é: Deus faz parte do mercado.

Portanto, agora temos uma definição para mercado, de acordo com a ótica divina:

• O mercado foi criado por Deus para a sobrevivência do homem.

• O mercado envolve valores.

• O mercado inclui Deus.

Inversão de valores – Desde a queda de nossos primeiros pais até nossos dias, podemos ver como evoluiu esta relação do homem: Deus e o mercado. Sem generalizar, o que vemos hoje, em grande parte, é uma inversão:

• O homem serve apenas para a sobrevivência do mercado.

• O mercado é o único valor.

• O mercado é o deus deste século.

Deus continua o mesmo, mas o homem e o mercado mudaram muito.

Reflitamos um pouco sobre a primeira regra. No Éden, o mercado destinava-se à sobrevivência do homem. Até o século XV, a produção era para o sustento da própria comunidade, e apenas o excedente era ofertado ao mercado. Hoje, o homem trabalha e vive para a sobrevivência do mercado. Ai de quem não acredita no mercado e em seus profetas – é considerado um desvairado! Milhões de seres humanos têm no mercado uma espécie de oráculo para determinar o caminho a seguir.

Embora não possa ser visto, o mercado exerce seu poder de forma implacável. Determina quem será incluído ou excluído, o que tem valor e o que não tem, o que devemos comer e o que não devemos comer, o que devemos vestir e o que não devemos vestir, o que devemos ler e o que não devemos ler, o que devemos amar e o que não devemos amar. Quando o mercado fica de mau humor, as pessoas também perdem a alegria, pois não sabem o que fazer para acalmá-lo. Quando isso ocorre, famílias perdem tudo o que têm, nações oprimem seus cidadãos, todos nós ficamos mais pobres, milhões e milhões de pesssoas passam fome, mas a “fome” do mercado tem que ser saciada. E ainda cremos que o mercado nos pode dar a sobrevivência...

É evidente que a primeira regra estabelecida por Deus para o mercado foi invertida. A criação não é mais sujeita ao homem – ambos estão sujeitos ao mercado. Toda esta inflexão pode parecer uma utopia, um devaneio, um alerta inconsequente. Mas o ponto aqui é: O que realmente importa em nossa relação com o mercado? É possível agir conforme o plano de Deus? É possível inverter esta ordem, ou seja, sujeitar o mercado ao invés de sermos dominados por ele?

Na igreja apostólica – O princípio divino de que o mercado existe para o homem e não o homem para o mercado, funcionou muito bem no início da Igreja Cristã, ainda sob forte influência da vida e dos ensinamentos de Cristo. A Bíblia relata que os cristãos se tornaram conhecidos por compartilharem tudo o que tinham, e que ninguém passava necessidade entre eles. Além disso, os apóstolos – portanto, os líderes – preocupavamse para que isso de fato ocorresse (ver Atos 4:32-37).

Fico imaginando qual seria a postura dos apóstolos de Cristo, os líderes nomeados diretamente por Cristo, no mundo de hoje, caso tivessem que manejar os recursos das igrejas chamadas “cristãs”, diante da força materialista que determina a lógica do mercado atual. O mundo ocidental, que é o lado cristão do planeta, continua acumulando poder e riqueza, e assim fica cada vez mais difícil exercitar a ordem do Mestre: “Amai-vos uns aos outros.” Esta regra não é do mercado. É de Deus.

A segunda regra estabelecida por Deus é de que o mercado envolve valores. O que dizer sobre os valores no mercado de hoje? Temos ouvido e lido muito a respeito de valores e o quanto é importante tê-los definidos em nossas empresas, instituições e igrejas, para que elas se tornem duradouras. Isto é bom, mas há uma grande diferença entre os valores estabelecidos por Deus, no Éden, e os valores estabelecidos pelo mercado, hoje. O problema é que, mesmo não generalizando, o mercado não é confiável para estabelecer valores. 

Conhecendo profundamente as aspirações que alimentam a ambição do ser humano, e o mercado trabalha intensamente no sentido de satisfazê-las, a satisfação da ambição humana é o “valor” que está por trás da mentalidade voltada para o consumismo. Para satisfazer esse desejo humano, o mercado não tem escrúpulos. A serviço do mercado, entram em cena seus fiéis sacerdotes e sacerdotisas, assim como significativa parte da mídia. O feio é transformado em belo, o errado é visto como certo, o bom já não é bom, e o que era ruim agora é bom.

O deus deste século – Sobre a terceira regra – o mercado no Éden incluía Deus – não houve inversão; na verdade, ocorreu uma completa substituição: o mercado tomou o lugar de Deus. A continuar como estamos, em breve teremos mais shopping centers – o templo do consumismo – do que igrejas. Na era medieval , as mais belas construções eram as catedrais, que agora dão lugar às torres dos bancos, verdadeiros palácios construídos por conta da usura ditada por uma economia global voraz e misteriosa, alimentada por guerras inexplicáveis, e que consagra a riqueza como o maior valor da sociedade.

Para os fervorosos devotos do mercado, não há mais tempo para o culto e a comunhão diária com o verdadeiro e único Deus, pois tudo gira em torno dos índices, cotações, saldos, juros, lucro e participação de mercado. Sobre participação de mercado, até as religiões disputam a oferta de vantagens, prometendo curas espetaculares, vendendo o sucesso pessoal como um pacote promocional de doações aos seus cofres insaciáveis. É o mercado revestido com uma capa de “santidade”.

Tempo para Deus – No plano de Deus, foi instituído o sábado – um dia especial para o relacionamento entre o Criador e a criatura. Nesse dia o mercado deve parar, não se deve trabalhar, é um dia reservado para se pensar nos verdadeiros valores e propósitos divinos. É o dia em que devemos nos libertar dos jugos do mercado e, pelo menos por 24 horas, nos sentirmos livres de servir ao mercado através do consumo ou da luta pelos nossos negócios, para servir a Deus, o doador da vida, o verdadeiro dono de tudo. “O sábado nos liberta dos laços materialistas” (Trudy J. Morgan-Cole).

Mas por que dizer tudo isso? A verdade é que de uma forma ou de outra, corremos o risco de achar que nossa religião não tem nada a ver com o mercado. Durante seis dias da semana esgrimimos tenazmente no mercado e, no sábado, trocamos nossos sapatos e exercemos nossas práticas religiosas como se nada estivesse acontecendo. Isto é possível? De quem somos fiéis discípulos?

A Bíblia diz que “a fé, se não tiver obras, por si só está morta” (Tg 2:17). Como ter fé e amar a Deus neste mercado tão diferente do plano original do Criador? A quem devemos direcionar nossas obras? Para Deus? Para o mercado? Certamente não podemos imaginar nossa vida rompendo com todo este sistema dominador do mundo atual, mas quem já não sentiu alguma inquietação com tudo isso? É suficiente ser membro da igreja, frequentar os cultos aos sábados, acreditar num corpo de doutrinas de acordo com a Bíblia, e ao mesmo tempo ser do mercado nos outros seis dias da semana? Como viver neste dilema? Que decisões tomar?

Se agirmos com sinceridade, Deus nos mostrará o caminho, e assim poderemos produzir nossas obras de acordo com o plano do Criador. Para que isto aconteça, temos que diariamente reservar um tempo para Ele e buscar uma serena devoção e comunhão para que Ele nos dirija na luta do mercado. Precisamos perguntar como Paulo, no caminho de Damasco: “Senhor, que queres que eu faça?” (Atos 9:6).

Finalmente, lembremo-nos de que neste conflito entre Deus e o mercado, foi este último que crucificou o Filho de Deus, e que este confronto envolve nossas escolhas a cada dia.

Sidney Storch Dutra (via Revista Adventista)

quarta-feira, 29 de junho de 2022

CRISTÃOS EM BUSCA DO ÊXTASE

Num belo dia, Aristóteles resolveu inventar que o homem é dividido em três: corpo, alma e espírito (ou mente). A ideia se tornou popular, acabou ganhando os séculos, alcançou guarida na teologia católica e grassa absoluta ainda hoje. Corolário dessa ideia é a de que o mundo do corpo é baixo e ruim, ao passo que o mundo superior é o da mente e do espírito, o mundo das ideias e do êxtase.

Êxtase vem do grego ékstasis, que significa estar separado de si. Pessoas espiritualizadas de nossos dias fazem da corrida atrás dele o grande sentido de suas vidas. Experiências místicas, transes sobrenaturais, sensações de arrebatamento em que o corpo, aquela coisa baixa e vil, fica lá longe, e o espírito se desdobra para viver o gozo da plenitude espiritual.

Infelizmente, muitos cristãos pregam a necessidade de se experimentar algo assim, também. Infelizmente porque a Bíblia jamais afirma que somos seres divididos em corpo, alma e mente, como se nosso verdadeiro eu estivesse aprisionado numa casca imperfeita e Deus só Se comunicasse plenamente ao nos libertar dessa casca, e não descreve nenhuma experiência mística como essa.

Ao contrário, a Bíblia afirma que somos seres unos. Diz que nosso corpo, somado a fôlego de vida, forma um ser vivente (Gênesis 2:7), o que equivale dizer que corpo e fôlego de vida separados um do outro não são nada.

A experiência mística que Jesus prega é mais sutil. Acontece quando estamos dentro de nós mesmos, muitas vezes sentindo uma dorzinha nas pernas, uma coceira em algum canto ou frio na ponta do nariz. Passa pela razão, ao invés de subvertê-la, e o arrebatamento que provoca não torna a criatura uma espécie de bêbado ou catatônico, mas alguém que, com espírito e com entendimento, alça louvores a Deus.

Ellen G. White alerta: "Encontramo-nos em constante perigo de colocar-nos acima da simplicidade do evangelho. Há intenso desejo da parte de muitos, de causar sensação ao mundo com alguma coisa original, que exalte o povo a um estado de êxtase espiritual, e mude a presente ordem de conhecimento pessoal. Há, certamente, grande necessidade de uma mudança na presente ordem de experiência; pois a santidade da verdade presente não é apreciada como devia ser, mas a mudança de que necessitamos é uma mudança de coração, e só pode ser obtida buscando individualmente a Deus em procura de Sua bênção, pleiteando com Ele por Seu poder, orando fervorosamente para que Sua graça venha sobre nós, e para que nosso caráter seja transformado. Esta é a mudança de que necessitamos hoje, e para cuja consecução devemos exercer perseverante energia e manifestar sincera resolução" (The Review and Herald, 22 de Março de 1892).

Estamos sujeitos o dia todo a estímulos cujo intuito é não nos permitir olhar para dentro de nós mesmos, parar para pensar. São luzes, cheiros, sons e imagens que vendem experiências, baratos, êxtases. É a cerveja que resolve nossos problemas de desajustamento social, é a roupa ou a bolsa que impõe respeito, é a promessa de ver estrelas comendo um chocolate ou da realização plena num ato sexual libertário.

Cristo propõe um tipo de desafio diferente. Convida a fazermos uma auto-análise honesta e iluminada pela Sua lei. Sugere que passemos tempo com Ele em oração e refletindo em Sua Palavra. Pede que depositemos nEle nossos sentimentos e aspirações, e que esperemos. Esse negócio de esperar não tem muito que ver com êxtases, não é mesmo? É mais parecido com o sacrifício de começar um programa de exercícios físicos: as banhas acumuladas só vão desaparecer depois de um bom período de luta, lentamente, depois que cada exercício for repetido incontáveis vezes com o mesmo zelo, com persistência, e a nova forma alcançada vai demandar prática constante para ser mantida.

Esse é o tipo de arrebatamento que devemos buscar. Ellen White diz: "A vida em Cristo é uma vida de descanso. Pode não haver êxtase de sentimentos, mas deve existir uma constante, serena confiança. Vossa esperança não está em vós mesmos; está em Cristo. Vossa fraqueza se acha unida à Sua força, vossa ignorância à Sua sabedoria, vossa fragilidade ao Seu eterno poder. Não deveis, pois, olhar para vós mesmos, nem permitir que o pensamento demore no próprio eu, mas olhai para Cristo. Que o pensamento demore em Seu amor, na formosura e perfeição de Seu caráter. Cristo em Sua abnegação, Cristo em Sua humilhação, Cristo em Sua pureza e santidade, Cristo em Seu incomparável amor — este é o tema para a contemplação da alma. É amando-O, imitando-O, confiando inteiramente nEle, que haveis de ser transformados na Sua semelhança" (Caminho a Cristo, p. 70).

Infelizmente, o cristianismo de hoje é um cristianismo de êxtase. O problema é que o cristianismo não é uma religião de êxtase. Nunca foi. O cristianismo é uma religião racional. Não racionalista, me entenda. Racional por acreditar que Deus fala ao homem através da razão. Obviamente, há espaço para a fé, pois ela não é contrária à razão. Contudo, a fé cristã consiste em confiar em Deus além das circunstâncias, ou seja, além do êxtase. A fé não é o motor do êxtase, ela é seu carrasco. Os cristãos nunca precisaram do êxtase, pois sempre tiveram Cristo. O Desejado de Todas as Nações torna o êxtase indesejável. A fé não sente Deus. A fé transcende o sentir. E é por isso que ela se apega à Palavra, pois a Palavra transcende o Homem. 

Ellen White adverte: "Satanás leva o povo a pensar que, por terem sentido um êxtase de sentimento, estão convertidos. Sua vida, porém, não experimenta mudança. Seus atos são os mesmos de antes. Sua vida não mostra bons frutos. Eles oram frequente e longamente, e constantemente se referem aos sentimentos que tiveram em tal ou qual ocasião. Mas não vivem a nova vida. Estão enganados. Sua vivência não vai além dos sentimentos. Constroem sobre areia, e ao virem ventos adversos, sua casa é arrebatada" (Youth's Instructor, 26 de setembro de 1901).

O êxtase é o substituto satânico para aqueles que nunca conheceram a Cristo. É disto que a igreja tem que se lembrar: enquanto ela tiver êxtase, ela nunca terá Cristo.

Nota: O título do post faz referência ao livro Cristãos em Busca do Êxtase (CPB) de Vanderlei Dorneles, que discute o fenômeno religioso contemporâneo marcado por intensa busca pela espiritualidade.

terça-feira, 28 de junho de 2022

ORGULHO ESPIRITUAL

François, duque de La Rochefoucauld, disse que “às vezes, a humildade nada mais é que um artifício do orgulho que se abaixa para levantar-se”.

O orgulho se aninhou, como um intruso, no coração de Lúcifer, e, não muito tempo depois, o mesmo pecado que levou o “anjo de luz” à ruina, foi transplantado para o coração humano. Onde há pecado, há orgulho.

O orgulho forja muitas fantasias, e uma delas é a idéia de que o homem é um deus. Essa fraqueza humana possui subtilezas que muitas pessoas desconhecem. Mencionemos algumas:

Falsa Modéstia – Há pessoas que se orgulham de sua humildade, ou seja, orgulham-se de não se acharem orgulhosas. Quando renunciamos a alguma coisa, não por sermos humildes, mas para sermos considerados como tais; quando, para sermos notados, damos atenção a pessoas humildes; quando optamos pelo último lugar, a fim de que os que estão por perto nos tenham na conta de pessoas desprendidas e corteses – então, somos reprovados por Aquele que perscruta os corações.

Quando nos ofendemos – O orgulhoso se ofende por qualquer coisa. Não aceita a menor repreensão. Essa atitude é uma das muitas máscaras do orgulho.

Farisaísmo – Todo legalista se acha superior às demais pessoas. Diz Ellen G. White: “Ergo a voz em advertência contra toda espécie de orgulho espiritual. Existe abundância disto atualmente na igreja” (Testemunhos Seletos, vol. 2, p. 205).

Quando outros sobem – A pior derrota para um coração orgulhoso é a vitória de seus semelhantes. O orgulhoso não sabe perder. Ressente-se do progresso dos outros.

Quando não somos elogiados – Quando realizamos alguma coisa importante e não somos reconhecidos, quase sempre nos sentimos amargurados. Essa pitada de tristeza é sinal de que desejamos chamar a atenção para nosso valor, nossa inteligência e nossa capacidade.

“No dia de Deus – diz Ellen White – muitos hão de ser pesados na balança e achados em falta por causa de sua exaltação pessoal” (Testemunhos Seletos, vol. 1, p. 321).

O orgulho espiritual é um poço escondido em que muitos cristãos inocentes caíram. É especialmente insidioso porque se disfarça como virtude. No Antigo Testamento, o Rei Uzias, foi em geral um bom governante, mas ele caiu por seu orgulho religioso. Ele achava que merecia os mesmos privilégios que os sacerdotes. O rei Saul também perdeu o seu reino, após usurpar as responsabilidades do sacerdócio.

Jesus abordou essa falha fatal em uma de suas parábolas mais populares. “Dois homens foram ao Templo para orar. Um era fariseu, e o outro, cobrador de impostos” (Lucas 18:10). Aqui Jesus contrasta duas pessoas que pertenciam à mesma igreja. No tempo de Jesus, os fariseus eram profundamente respeitados por sua religiosidade, enquanto os publicanos eram considerados párias.

Na parábola, “O fariseu, em pé, orava no íntimo: ‘Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho”, enquanto “o publicano ficou a distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito, dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador’“ (Lucas 18:11-13).

De acordo com Jesus, foi o humilde publicano quem foi para casa justificado (Lucas 18:14). Você vê, o fariseu estava orgulhoso de suas boas obras, acreditando que ações espirituais valeriam sua aceitação diante de Deus. Mas o publicano tinha simples confiança na misericórdia de Deus. O publicano foi perdoado, mas o fariseu não. Não podemos perder essa lição, se quisermos crescer em Cristo.

O orgulho espiritual é mortal – e é a desgraça da Igreja de Laodicéia. Quando uma pessoa ou igreja diz: “Eu sou rico, e me tenho enriquecido, e de nenhuma coisa tenho necessidade” isso é nada mais do que o orgulho espiritual egoísta. E Deus tem algo a dizer sobre isso. Ele diz que nós realmente somos “pobres, miseráveis, cegos e nús e não sabemos disso”. Quanto mais você se tornar espiritualmente orgulhoso, mais espiritualmente pobre você é. Mas aqueles que reconhecem e admitem o seu estado espiritual falho, sabem que podem ser salvos apenas pela graça de Cristo, e tem uma vantagem nessa humildade. Jesus promete-lhes: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus.”

No clássico, Parábolas de Jesus, de Ellen White lemos: “O mesmo mal que levou Pedro à queda e excluiu da comunhão com Deus o fariseu, torna-se hoje a ruína de milhares. Nada é tão ofensivo a Deus nem tão perigoso para o espírito humano como o orgulho e a presunção. De todos os pecados é o que menos esperança incute, e o mais irremediável” (p. 154).

É por isso que Jesus disse: “Cuidado com os mestres da lei. Eles fazem questão de andar com roupas especiais, de receber saudações nas praças e de ocupar os lugares mais importantes nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes. Eles devoram as casas das viúvas, e, para disfarçar, fazem longas orações. Estes homens, diz Jesus “… receberão condenação mais severa!” (Marcos 12:38-40).

Você está sobrecarregado com orgulho espiritual? Você está orgulhoso de seu conhecimento das doutrinas da Bíblia? Você vai à igreja zombando daqueles que não vão no mesmo dia que você? Sonde o seu coração para as razões pelas quais você faz as coisas religiosas. O orgulho é a semente que Satanás plantou para ter Jesus pregado na cruz. Em Marcos 15 é nos dito que Pilatos perguntou aos judeus “Vocês querem que eu lhes solte o rei dos judeus? sabendo que fora por inveja que os chefes dos sacerdotes lhe haviam entregado Jesus” (versos 9 e 10). O orgulho ofendido por sentirem que Jesus ameaçava a importância deles entre os povos, fizeram com que eles o matassem.

A Bíblia nos diz repetidamente que Deus quer corações humildes em Seu povo. “O Senhor já nos mostrou o que é bom, ele já disse o que exige de nós. O que ele quer é que façamos o que é direito, que amemos uns aos outros com dedicação e que vivamos em humilde obediência ao nosso Deus” (Miquéias 6:8, NTLH).

O orgulho é uma bússola que aponta sempre para si mesmo. Mas nós podemos escolher resistir a essa tendência natural. Através do Espírito de Deus, podemos optar por sermos humildes. A Bíblia não diz que devemos pedir a Deus para nos humilhar, em vez disso, nós somos repetidamente convidados a nos humilhar “se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra” (2 Crônicas 7:14). Deus certamente pode encontrar formas de fazê-lo recuar em seu orgulho, e isso, porque Ele te ama.

A verdadeira humildade reequilibra nossas emoções, dando-nos a capacidade de aceitar a porção que Deus nos concedeu. Ellen White alerta: "A pessoa que cai em algum pecado grosseiro sente, talvez, sua vergonha e miséria, e sua necessidade da graça de Cristo; mas o orgulho não sente necessidade alguma, e assim fecha o coração a Cristo e às infinitas bênçãos que veio dar" (Caminho à Cristo, p. 30).

Talvez seja preciso lembrar aos orgulhosos, que, historicamente, o orgulho sempre oprimiu, o orgulho sempre devastou, o orgulho sempre colocou os diferentes em posição vexatória, o orgulho sempre dividiu, o orgulho sempre caminha para a supremacia usando os diferentes como degraus. O orgulho não ama, o orgulho usa; ele não se compadece, ele oprime; o orgulho não ouve, ele vocifera; o orgulho não estende a mão, ele cerra os punhos; o orgulho não tem espelho; até porque o orgulho não enxerga muito bem. O orgulho é nefasto. O orgulho é vergonhoso.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

O JOVEM NU

“Um jovem, vestindo apenas um lençol de linho, estava seguindo Jesus. Quando tentaram prendê-lo, ele fugiu nu, deixando o lençol para trás” (Marcos 14:51, 52).

A cidade de Jerusalém estava vivendo a noite mais dramática de sua história. Judas liderava a turba de sacerdotes e soldados que iam prender Jesus. Já era noite. Muitas pessoas apenas observaram a cena, mas um jovem não se conteve. Do jeito que estava, enrolado em um lençol, pulou de sua cama e infiltrou-se no meio da turba que estava levando Jesus preso. Ele não se deu conta de que estava indevidamente vestido e de que poderia ser exposto ao vexame.

Esse jovem é um símbolo daqueles que seguem a multidão, mas sem saber direito o que está acontecendo. Ele representa os seguidores ocasionais e os discípulos de plantão. O jovem estava seguindo a Jesus, mas sem medir as consequências. Estava vestido inconvenientemente e despreparado para enfrentar as dificuldades. Esse texto nos ensina algumas lições:

Primeira - os que se cobrem com um lençol representam os que seguem a Cristo sem compromisso. Aquele jovem tornou-se um discípulo casual, de improviso, que seguia a Jesus movido apenas pela curiosidade. Ainda hoje, muitos estão na igreja, mas não seguem a Jesus de verdade. Estão no meio da multidão, mas não têm qualquer aliança com Ele.

Segunda - os que se vestem com um lençol são um símbolo daqueles que vivem superficialmente. O lençol era a única cobertura que aquele jovem possuía; portanto, era uma proteção superficial. Quando lhe arrancaram o lençol, não havia mais nada para lhe proteger a vergonha. Hoje, ainda há muitas pessoas que vivem uma vida rasa, descomprometida, superficial. Têm apenas um verniz, uma aparência de piedade, mas nenhuma essência de santidade.

Terceira - aqueles que se cobrem com um lençol são adeptos do pragmatismo. Eles preferem o que dá certo em lugar do que é certo. Não era certo sair de lençol, mas naquele momento deu certo. Era noite, e ele pensou que poderia passar despercebido. O lençol enrolado no corpo, à noite, parecia uma vestimenta decente. Sua ética era a ética do momento, da conveniência. Muitos ainda hoje agem da mesma forma. Estão mais preocupados com resultados do que com a Verdade; buscam mais a conveniência pessoal do que fazer o que é certo diante de Deus.

Quarta - aqueles que se cobrem com um lençol são um símbolo daqueles que não podem se defender. Aparentemente favorecido pela escuridão, na verdade o jovem viu-se indefeso quando foi atacado. Ao precisar usar suas mãos, o lençol caiu e ele ficou nu. Eram suas mãos que faziam com que o lençol aderisse ao corpo. Ao liberar as mãos, o lençol caiu e ele ficou vulnerável, exposto, desprotegido. O inimigo agarrou o lençol, a única coisa que lhe protegia. Ficou nu. Fugiu nu.

As máscaras podem nos esconder por um tempo, mas ninguém consegue prendê-las com plena segurança. Uma hora a máscara cai e deixa a pessoa em maus lençóis, ou pior, sem lençol. Muitos se infiltram no meio da multidão despreparados para a luta. Na hora da crise, quem estiver trajando apenas um lençol ficará exposto ao opróbrio e à vergonha.

Você precisa trajar toda a armadura de Deus! Você precisa ser um discípulo de verdade, um seguidor de Cristo pronto a viver e morrer com Ele e por Ele, sem precisar fugir envergonhado.

"Portanto, aconselho que comprem de mim ouro puro para que sejam, de fato, ricos. E comprem roupas brancas para se vestir e cobrir a sua nudez vergonhosa. Comprem também colírio para os olhos a fim de que possam ver. Eu corrijo e castigo todos os que amo. Portanto, levem as coisas a sério e se arrependam. Escutem! Eu estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa, e nós jantaremos juntos. Aos que conseguirem a vitória eu darei o direito de se sentarem ao lado do meu trono, assim como eu consegui a vitória e agora estou sentado ao lado do trono do meu Pai" (Apocalipse 3:18-21 NTLH).

Ilustração: Arte de Antonio Allegri Correggio (1484-1534)

P.S.: A identidade do jovem mencionado no texto está envolvida em conjecturas. A tradição cristã e alguns eruditos têm identificado o rapaz como o próprio João Marcos, tido como autor desse evangelho. Um dos argumentos é o fato de que, em outra situação de perigo, ele abandonou Paulo e Barnabé na primeira viagem missionária feita por eles (At 13:13). Há também a tradicional especulação de que a última ceia teria ocorrido em sua casa, razão pela qual os soldados se dirigiram para lá em busca de Jesus. Estando dormindo, ele teria acordado e, assustado, correu sem se vestir devidamente. De acordo com o costume antigo de se expressar, o jovem não estaria totalmente despido, mas envolvido por um lençol e vestido com roupas íntimas.

Contrariando a crença de que o jovem era Marcos, há o argumento de que, no momento da prisão de Cristo, todos os discípulos haviam fugido (Mc 14:50), o que torna inviável a presença dele. Além disso, embora a narrativa pareça ter sido feita por uma testemunha, esse não seria o caso desse evangelho. Marcos foi um narrador que relatou fatos que chegaram a seu conhecimento. Papias de Hierápolis, escritor do 2º século, afirmava que Marcos apenas reproduziu as lembranças de Pedro.

À parte dessas opiniões, tudo indica que Jesus era tão especial para aquele moço que pouca importância deu ele à sua condição, a fim de estar perto do Mestre. Embora tenha fugido, aparentemente depois de ter resistido ao ataque da turba, permanece o fato de que nenhuma barreira de constrangimento por não estar devidamente vestido foi tão forte para impedi-lo de se aproximar de Cristo. A veste material não lhe parecia mais importante que a veste espiritual do amor, da graça e aceitação de Jesus.

sexta-feira, 24 de junho de 2022

APAGÃO

Desmaio sempre assusta, mas desmaiar dentro d’água apavora. Foi o que aconteceu no Mundial de Esportes Aquáticos de Budapeste, na Hungria. A americana Anita Álvares, 25 anos, encantava o mundo com sua performance impecável na final do solo livre de nado artístico. Seu olhar concentradíssimo já antevia a medalha molhada. Forte e feliz. Até tudo escurecer. De repente. Um apagão físico desligou sua consciência sepultando seu corpo desfalecido no fundo da piscina. A arquibancada ficou sem ar nos segundos eternos que petrificaram todos que assistiam. Desespero. Só que a bailarina das águas não estava sozinha no palco.⁣⁣

Ao perceber algo errado, Andrea Fuentes, sua técnica, mergulhou ‘de roupa e tudo’ direto na sua direção. Não se pensa duas vezes quando a vida clama contra a morte. As imagens impressionam. Certeira e rápida, a mentora subiu com a atleta até a superfície. Ninguém se afogaria naquele dia! Após o atendimento médico, ficou tudo bem e Anita ainda classificou em 7º lugar.⁣
O que seriam de uns sem os outros? “Cada um cuide, não só dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros” (Fp 2:4). Menos bisbilhoteiros e mais salva-vidas. “Devemos suportar a fraqueza dos fracos, e não agradar nós mesmos” (Rm 15:1). Fantástico! O ego precisa ouvir, ou a sociedade vira um latão de egoístas. E o risco sob a muralha d’água? “Ninguém tem maior amor do que o que dá sua vida pelos seus amigos” (Jo 15:13). Aquela treinadora acabou treinando o mundo todo com seu exemplo de altruísmo, coragem, rapidez, segurança e cuidado.⁣
Agora, e nossos apagões? Também nos mergulharam em um tanque muito maior - e com águas mais turvas. Profundas. A exaustão extrema por tantas batalhas desmaia nossos ânimos. O que Deus faz? “Tens ajudado ao que não tem força e sustentado o braço que não tem vigor” (Jó 26:2). Nem que seja no abismo de um oceano o Pai do Céu mergulha atrás de Seus filhos. Ele nos emerge junto aos Seus braços. Resgatados. Até à superfície cuja graça toca o horizonte da esperança. Ali respiraremos paz.⁣
Portanto, aguentemos um pouco mais. Provações são finitas. Soluções são infinitas. Nosso Treinador não está distraído. ⁣
Todo apagão clareará.⁣

Odailson Fonseca (via instagram)

"Estamo-nos aproximando do tempo em que Cristo virá com poder e grande glória para levar ao lar eterno os Seus resgatados" (Ellen G. White - Testemunhos para a Igreja 8, p. 253).

quinta-feira, 23 de junho de 2022

O PERIGO DA BAJULAÇÃO

Você sabe o que significa bajular alguém? Essa é a ação de elogiar, ajudar ou falar com alguém apenas por interesse. Barack Obama pronunciou uma frase célebre sobre esse assunto: “Livre-se dos bajuladores. Mantenha perto de você pessoas que o avisem quando você erra.” François La Rochefoucauld afirmou: A bajulação é a moeda falsa que só circula por causa da vaidade humana." E Francis Bacon disse: "A baixeza mais vergonhosa é a adulação."

Alguns bajulam o chefe no trabalho, outros bajulam o professor na escola, outros bajulam os pastores, e outros, os ricos e poderosos. No entanto, homens de Deus nunca bajulam ninguém. Elias nos dá o exemplo.

O profeta havia profetizado três anos de seca em Israel como resultado dos pecados do rei Acabe e de sua família. O rei ímpio não admitia ser culpado por nada e buscava encontrar o profeta a qualquer custo. Um dia, esse encontro aconteceu, e cada um deles revelou o seu caráter.

“Quando viu o profeta, Acabe disse: – Então é você que está aí, você, o maior criador de problemas de Israel!” (1 Reis 18:17, NTLH). Nessa hora, Elias poderia fazer duas coisas, pelo menos. Ele poderia bajular o rei e aliviar sua mensagem ou poderia agradar a Deus e ser fiel ao que acreditava. Elias decidiu ser fiel e disse: “Eu não sou criador de problemas para o povo de Israel! […] Você e o seu pai é que são criadores de problemas, pois abandonaram os mandamentos do Senhor Deus e adoraram as imagens de Baal” (1 Reis 18:18, NTLH).

O profeta do Carmelo poderia ter bajulado o rei, mas ele era um homem de Deus e agiu como tal. Ellen G. White faz o seguinte comentário sobre esse episódio: “Consciente de sua inocência perante Acabe, Elias não tentou se justificar ou bajular o rei. Também não procurou desviar a ira do rei anunciando as boas-novas de que a seca estava chegando ao fim. Ele não tinha desculpas a pedir. Indignado e preocupado em preservar a honra de Deus, Elias devolveu a acusação de Acabe, declarando ousadamente que eram os pecados do rei e de seus pais que haviam trazido sobre Israel essa terrível calamidade” (Profetas e Reis, p. 140, linguagem adaptada).

Tiago também criticou duramente qualquer tipo de distinção social ou bajulação na comunidade cristã:

"Meus irmãos, vocês que creem no nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, nunca tratem as pessoas de modo diferente por causa da aparência delas. Por exemplo, entra na reunião de vocês um homem com anéis de ouro e bem-vestido, e entra também outro, pobre e vestindo roupas velhas. Digamos que vocês tratam melhor o que está bem-vestido e dizem: 'Este é o melhor lugar; sente-se aqui', mas dizem ao pobre: 'Fique de pé' ou 'Sente-se aí no chão, perto dos meus pés.' Nesse caso vocês estão fazendo diferença entre vocês mesmos e estão se baseando em maus motivos para julgar o valor dos outros. ... Se vocês obedecerem à lei do Reino, estarão fazendo o que devem, pois nas Escrituras Sagradas está escrito: 'Ame os outros como você ama a você mesmo.' Mas, se vocês tratam as pessoas pela aparência, estão pecando, e a lei os condena como culpados" (Tiago 2:1-9, NTLH)

Ellen White adverte: "O mundo hoje está cheio de bajuladores e dissimuladores, mas Deus proíbe que os que pretendem ser guardiães de sagrados depósitos traiam os interesses da causa de Deus, insinuando sugestões e expedientes do inimigo de toda a justiça" (Testemunhos para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 471).

Bajulação não é uma característica daqueles que servem a Deus. Nem Deus deve ser bajulado, Ele deve ser adorado, o que é muito diferente. O Céu nos desafia a falarmos sempre o que precisa ser dito, com educação e amor, sem importar quem precisa ouvir. Deus faz assim conosco. Siga Seu exemplo!

Ellen White conclui: "Precisamos evitar tudo quanto estimule o orgulho e a presunção; portanto, devemos acautelar-nos de fazer ou receber lisonjas ou louvores. Lisonjear é obra de Satanás. Procede ele tanto com bajulações, quanto acusando e condenando. Deste modo procura causar a ruína da alma. Aqueles que louvam os homens, são usados por Satanás como agentes seus. Esquivem-se os obreiros de Cristo de toda palavra de elogio. Elimine-se de vista o próprio eu. Cristo, somente, deve ser exaltado. Dirija-se todo olhar e ascenda o louvor de cada coração 'Àquele que nos ama, e em Seu sangue no lavou dos nossos pecados' (Apocalipse 1:5)" (Parábolas de Jesus, p. 81).

Confira esta seleção de passagens bíblicas sobre o assunto.

1. "Eu não aceito glória dos homens, mas conheço vocês. Sei que vocês não têm o amor de Deus. (...) Como vocês podem crer, se aceitam glória uns dos outros, mas não procuram a glória que vem do Deus único?" (João 5:41, 42, 44).

2. "Acaso busco eu agora a aprovação dos homens ou a de Deus? Ou estou tentando agradar a homens? Se eu ainda estivesse procurando agradar a homens, não seria servo de Cristo" (Gálatas 1:10).

3. "Cada um mente ao seu próximo; seus lábios bajuladores falam com segundas intenções. Que o Senhor corte todos os lábios bajuladores e toda língua arrogante" (Salmos 12:2, 3).

4. "Vocês bem sabem a nossa linguagem nunca foi de bajulação nem de pretexto para ganância; Deus é testemunha" (1 Tessalonicenses 2:5).

5. "Essas pessoas vivem se queixando e são descontentes com a sua sorte, seguem os seus próprios desejos impuros; são cheias de si e adulam os outros por interesse" (Judas 1:16).

6. "Todavia lisonjeavam-no com a boca, e com a língua lhe mentiam. Porque o seu coração não era reto para com ele, nem foram fiéis na sua aliança" (Salmos 78:36, 37).

7. "Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos simples" (Romanos 16:18).

8. "O que repreende o homem gozará depois mais amizade do que aquele que lisonjeia com a língua" (Provérbios 28:23).

9. "Quem adula seu próximo está armando uma rede para os pés dele" (Provérbios 29:5).

10. "A língua falsa odeia aos que ela fere, e a boca lisonjeira provoca a ruína" (Provérbios 26:28).

11. "Não serei parcial com ninguém, e a ninguém bajularei, porque não sou bom em bajular; se fosse, o meu Criador em breve me levaria" (Jó 32:21, 22).

12. "Muitos adulam o governante, e todos são amigos de quem dá presentes" (Provérbios 19:6).

quarta-feira, 22 de junho de 2022

SEM ESPAÇO PARA DEUS

“Não ouviram falar do homem louco que, em plena luz do dia, liga uma lanterna e corre pela praça pública, gritando sem parar: ‘Procuro Deus! Procuro Deus!’ Como ali havia muitos que não acreditavam em Deus, seus brados causaram gargalhadas: ‘O quê? Perderam Deus?’, perguntou alguém. ‘Está perdido como uma criança pequena?’, indagou outro. ‘Será que está escondido? Com medo de nós? Ele viajou? Emigrou?’ Assim gritavam e riam numa grande confusão.

O louco foi até eles e os fulminou com os olhos: ‘Para onde Deus foi? Digo a vocês’, esbravejou. ‘Nós O matamos! Vocês e eu! Todos nós somos assassinos! Como podemos fazer isso? Como pudemos esvaziar o mar? Quem nos deu a esponja para secar o horizonte? O que fizemos ao separarmos esta Terra do vínculo com o seu sol? Para onde vão agora seus movimentos? Longe de todos os sóis? Não caímos constantemente? Para frente, para trás e para todos os lados? Há, ainda assim, um acima e um abaixo? Não vamos como itinerantes através de um nada infinito? Não nos persegue o vazio com seu alento?

Não faz mais frio? Não veem escurecer cada vez mais e mais? Não é necessário ligar lanternas em pleno meio-dia? Não ouvimos o som dos coveiros que enterram Deus? Ainda não sentimos o mau cheiro da decomposição divina? Os deuses também se decompõem! Deus está morto e fomos nós quem O matamos! Como nos consolaremos uns aos outros, assassinos entre os assassinos? O que o mundo tinha de mais sagrado e poderoso está se esvaindo em sangue sob nossa faca. Quem excluirá de nós esse sangue? Que água poderá nos purificar? Que expiações, que articulações nos veremos forçados a inventar?’” (La Gaya Ciencia, p. 137, 138).

Essas dolorosas e excessivamente lúcidas palavras foram escritas no livro La Gaya Ciencia por quem tem sido considerado o mais cruel e vigoroso ateu da história, arqui-inimigo do cristianismo: o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). Ele é tido por muitos como o “profeta da pós-modernidade” e um dos pensadores mais influentes da história.

Nietzsche não acreditava na morte literal de Deus porque era ateu. Porém, como tantos outros céticos, ele acreditava que Deus fosse uma idealização humana; um produto meramente cultural, criado por mentes primitivas, débeis e supersticiosas como um mecanismo de defesa; um “bastão” existencial para suportar as lutas da vida e ter a ilusão de uma transcendência eterna que compense as dores desta existência terrena.

Por isso, para Nietzsche, a “morte de Deus” não era objetiva, literal, mas subjetiva, na consciência, na cosmovisão e no sentir do homem ocidental. Isso ocorreu especialmente a partir do movimento iluminista, no século 18, com a revolução cartesiana preparando o caminho para as ideias do racionalismo (cogito, ergo sum: penso, logo existo), que na Revolução Francesa (1789) ganhou tal força a ponto de se decretar a não existência de Deus. O abandono de Deus como centro da vida, do pensamento e da ação fez com que o teocentrismo (Ele como parâmetro de todas as coisas), que imperou do início da humanidade até a Idade Média, fosse substituído pelo antropocentrismo ou humanismo da Modernidade (o homem é o parâmetro de todas as coisas) e, mais recentemente, pela Pós-Modernidade, também chamada Era Pós-Cristã e Pós-Moral.

Causas do ateísmo
Desde então, vivemos marcados por um clima de ceticismo generalizado no Ocidente, em que Deus é a grande lacuna na vida de milhões de pessoas. O ponto é que a incredulidade se manifesta em diversos graus. Os deístas, por exemplo, creem que Deus existe, mas desistiu de Sua criação e não Se interessa nem intervém na vida humana. Portanto, pouco sentido faz ­interessar-se por Ele. Por sua vez, os agnósticos não se atrevem a negar veementemente a existência de Deus, tampouco acreditam que haja suficiente evidência para afirmá-la. Logo, deduzem que não se pode saber se Ele existe ou não. Por fim, os ateus, que já decidiram sobre isso, afirmam: Deus não existe. Ponto. A questão é: qualquer que seja o nível de descrença, estamos imersos em um clima de secularismo, materialismo e antirreligiosidade que se observa no cotidiano, nos meios de comunicação de massa, e especialmente, nas universidades.

Sendo que até a Modernidade todas as civilizações e culturas eram religiosas, como se produziu esse fenômeno do ceticismo? O fenômeno é muito complexo. As causas são múltiplas e respondem a um processo que levou séculos para se consolidar. Em resumo, ainda que não devamos cair em reducionismos simplistas, esse fenômeno pode ser interpretado como uma atuação do inimigo de Deus para remover o Criador do coração dos seres humanos (2Co 4:3, 4). Evidentemente que o diabo não costuma atuar no vácuo, mas por meio de processos psicológicos, morais, religiosos, sociológicos, científicos, políticos e históricos, a fim de levar seu plano adiante.

Neste sentido, há uma declaração muito orientadora do documento Gaudium et Spes (disponível no site vatican.va), elaborada no Concílio Vaticano II, num contexto de diálogo do catolicismo com a sociedade: “Aqueles que voluntariamente pretendem afastar Deus de seu coração e negligenciar as questões religiosas ignoram o ditame de sua consciência e, portanto, não são desprovidos de culpa. Porém, os crentes também têm sua parte de culpa nisso. Porque o ateísmo, considerado em sua totalidade, não é um fenômeno inicial, mas derivado de várias causas, entre as quais se deve contar a reação crítica contra as religiões e, em algumas regiões do mundo, principalmente contra a religião cristã. Pelo que nessa gênese do ateísmo podem ter parte considerável os próprios crentes, ao passo que, com o descuido da educação religiosa ou com a exposição inadequada da doutrina, ou inclusive com os defeitos de sua vida religiosa, moral e social, eles têm ocultado, mais que revelado, o genuíno rosto de Deus e da religião” (capítulo 1, p. 19, parágrafo 3).

Nessa autocrítica que a Igreja Católica fez ao analisar o fenômeno do ­ateísmo, a instituição colocou a responsabilidade por esse descolamento, em grande parte, sobre as próprias ­religiões. É uma estranha e lamentável ironia: aqueles que supostamente são os representantes de Deus na Terra, em maior ou menor grau, acabaram causando o desprezo da sociedade pela vida religiosa. É como se os cristãos tivessem ocultado o verdadeiro rosto de Deus diante dos homens, em vez de revelá-lo ao mundo.

E de que maneira os religiosos contribuem para a “morte de Deus” na cultura ocidental? Abaixo sugiro cinco posturas:

1. Secularismo. Negamos a Deus quando professamos crer Nele, mas vivemos do mesmo modo que as pessoas não religiosas: nos portando de maneira imprópria, abusando emocionalmente das pessoas próximas, explorando o trabalhador e utilizando linguagem grosseira. Negamos a Deus também quando vivemos em função das conquistas materiais e dos prazeres pecaminosos, como escravos das últimas tendências da moda e da tecnologia e pagando o alto custo da ostentação. Por meio de nossas atitudes comunicamos que nossa fé não tem poder de transformar e reorientar nossa vida. Talvez tenha sido por isso que Voltaire, aquele incrédulo pensador do movimento iluminista, disse: “Acreditaremos quando os que pregam o Redentor viverem como redimidos.”

2. Legalismo. No outro extremo temos a atitude do legalista, que, em vez de viver de modo voluntário e alegre a conduta moral da religião, entende o cumprimento das regras como uma moeda de troca para ser aceito por Deus e salvo da condenação. A imagem que esse tipo de crente transmite acerca de Deus é que Ele é um “grande ditador cósmico”, que necessita alimentar Seu ego controlando Suas criaturas, sob a pena de retirar delas Seu favor e destruí-las de modo sádico no juízo final. Portanto, os que servem a Deus são aduladores e rebeldes reprimidos, que Lhe obedecem por medo ou interesse.

Sem saber ou querer, esse grupo apoia Satanás na acusação de que Deus é um tirano celestial e que ter um relacionamento com Ele significa perder a liberdade. Além disso, essa visão leva os legalistas a nutrir um coração duro em relação àqueles que não cumprem a vontade de Deus “tão bem” quanto eles. Tornam-se espiões da conduta alheia e juízes sem misericórdia do próximo. O efeito para o testemunho cristão é que os não religiosos passam a ver o cristianismo como uma “camisa de força”, pela qual não querem ser aprisionados.

3. Alienação. É a atitude daquele que, em nome de sua fé em Deus, se aliena da realidade, perde contato com ela e foge dos deveres cotidianos sob o pretexto de que sua devoção religiosa legitima sua irresponsabilidade. Pessoas assim geralmente possuem uma espiritualidade mais mística e acreditam que receberam um chamado especial de Deus para um trabalho específico no mundo. Em nome dessa vocação, eles negligenciam a própria saúde e o cuidado financeiro e emocional da família. Alguns beiram ao disparate, argumentando que ouviram alguma orientação do Espírito Santo, quando não ouviram nada. Eles são especialistas em mecanismos de autossugestão e autoconvencimento.

Além disso, religiosos desse tipo costumam interpretar a realidade com exagero, sem considerar a racionalidade dos fenômenos e suas possíveis causas naturais. Veem a intervenção direta de Deus, mas especialmente do diabo, em quase tudo. Diante dessa postura, os incrédulos tendem a considerar os crentes como loucos.

4. Comodismo. Muitos dos religiosos podem não se enxergar como pessoas más, hedonistas nem materialistas, mas podem padecer de uma espiritualidade sutilmente egoísta. Seu principal interesse é a salvação pessoal ou, quando muito, de seus amigos e familares. Não se preocupam com o próximo nem têm autêntica compaixão pelo necessitado. São semelhantes ao sacerdote e ao levita da parábola do bom samaritano (Lc 10:25-37), que não desejam se comprometer com a dor alheia.

Esse grupo também costuma se assegurar no fato de que tem a verdade doutrinária e não incorre em nenhuma conduta duvidosa (moral passiva). São aqueles que se contentam, por exemplo, em ser bons adventistas: o que significa não usar joias, evitar o consumo de certos alimentos, músicas e filmes, além de frequentar as reuniões regulares da igreja. Tais religiosos falham no que poderíamos chamar de moral ativa: não possuem consciência social (o que não significa necessariamente engajamento político-partidário), e a solidariedade prática não é uma prioridade em sua agenda missionária. Quando o cristianismo é vivido assim, os religiosos reforçam para os incrédulos a ideia de que estamos sozinhos no mundo lutando pela nossa sobreviência. Dessa forma, em vez de ser um sinal da presença de Deus no mundo, a igreja acaba sinalizando Sua “ausência”.

5. Anti-intelectualismo. A Modernidade, com sua exaltação da razão como “deusa” suprema diante da superstição da fé, foi, em grande medida, uma reação não apenas aos abusos religiosos da igreja medieval (é difícil esquecer os horrores da Inquisição), mas também aos intelectuais.

Eles sustentaram e impuseram ideias científicas supostamente fundamentadas na Bíblia, mas que não tinham outro fundamento a não ser preconceitos, ideias preconcebidas e a força de paradigmas científicos dominantes durante milênios (como a teoria geocêntrica, que imperou durante séculos, até ser desbancada pela teoria heliocêntrica).

Não se entendeu corretamente a relação entre o mundo natural e o sobrenatural, crendo que todo fenômeno explicável correspondia à ordem natural, ao passo que tudo o que não tinha explicação científica correspondia à ordem sobrenatural, milagrosa, de intervenção direta de Deus… ou dos demônios. Evidentemente, quanto menos explicações científicas havia, mais “gigantesca” era a intervenção de Deus na natureza.

No entanto, conforme explicou o paleontólogo Richard M. Ritland, quanto mais a ciência foi encontrando explicação para os fenômenos naturais, Deus foi ficando cada vez menor diante da mente científica, até praticamente desaparecer (A Search for ­Meaning in Nature [A Busca por Significado na Natureza], p. 11-27). Embora a fé seja um fenômeno suprarracional (que excede a razão e o conhecimento humano, não depende deles para sua demonstração), não é de modo algum irracional (que vai contra a razão). O cristão deve usar a fé e a inteligência para viver seu relacionamento com Deus. Lamentavelmente, em nome da fé, muitas vezes os crentes tiram conclusões de ordem filosófica, psicológica, política e científica que são disparates que desacreditam sua religião, a revelação bíblica e, em última instância, Deus.

A morte de Deus e a pós-modernidade
A Pós-Modernidade, herdeira direta do movimento que proclamou a morte de Deus, acabou com a ideia de que a realidade pode ser interpretada objetivamente (verdade absoluta). Para os filósofos pós-modernos, a verdade não é mais que uma interpretação mediada pela linguagem. Logo, a subjetividade da linguagem assume o papel principal, a ponto de colocar o que o leitor de um texto entende sobre ele como mais importante do que o que o autor intencionou comunicar.

Esse “relativismo hermenêutico” levou à morte do autor. No caso da Bíblia, isso resultou na morte do Autor. Em outras palavras, a Bíblia é despojada de duas características essenciais: seu Autor não existe e sua mensagem não é autoritativa. Como cristãos hoje, temos o desafio de mostrar que a Bíblia foi inspirada por um Deus vivo e que contém objetivamente as respostas corretas às nossas perguntas essenciais.

Foi para estabelecer essas pontes que procurei explicar brevemente neste artigo algumas possíveis causas para o ceticismo. Dessa maneira podemos compreender melhor nossos familiares, amigos, vizinhos e colegas de trabalho que, por ora, não acreditam em Deus e desconfiam de tudo que tenha “cheiro” de religião.

É certo que, para muitas pessoas, o ceticismo é um mecanismo para justificar uma vida centrada no eu e independente de Deus (Rm 1:28). No entanto, em outros casos o ceticismo tem origem psicológica, histórica e sociológica, provavelmente uma reação de indignação ou incompreensão da postura institucional e individual de religiões e religiosos. Para essas situações, algumas atitudes dos cristãos podem contribuir com o trabalho de conversão do Espírito Santo. Termino o artigo sugerindo algumas:

1. Ore. A verdadeira conversão não é fruto da eloquência da argumentação humana, mas do trabalho milagroso do Espírito.

2. Respeite. Entenda o que essas pessoas pensam e sentem a respeito de Deus e das religiões. Não se escandalize com a antirreligiosidade delas e reconheça com humildade que há certo grau de razão na postura delas. Aproveite a oportunidade para fazer uma autocrítica.

3. Seja coerente. Comprometa-se a viver realmente como cristão. Ninguém deve esperar perfeição moral de você, porque é um pecador como os demais em processo de cura. Porém, se você se entregar para ser transformado por Cristo, haverá uma harmonia essencial entre sua fé e conduta. Viver como cristão é sua primeira atitude missionária.

4. Seja sensato. Concilie sua racionalidade com sua fé na revelação bíblica. Estude com seu amigo, por exemplo, sobre as evidências de um design inteligente na natureza, o caráter sobrenatural da Bíblia, a veracidade histórica de Cristo e a grandeza espiritual e filosófica da mensagem cristã. Não discuta nunca, principalmente acerca de assuntos que você não domina.

5. Seja um sinal do reino. Viva com genuína preocupação pelo próximo e seja um “pequeno Cristo” para o que sofre, a fim de que você manifeste o verdadeiro rosto de Deus ao mundo. Dessa maneira, será mais fácil testemunhar sobre o que Jesus representa para você a apresentá-Lo como o único caminho a ser seguido.

Pablo Marcelo Claverie (via Revista Adventista)

terça-feira, 21 de junho de 2022

O INVERNO DO CRISTÃO

Penso que nosso prazer do tempo de estio é intensificado pela lembrança dos longos e frios meses de inverno; e por outro lado, a esperança do verão nos ajuda a suportar mais corajosamente o reino do inverno. Se permitíssemos que a mente demorasse na nudez e desolação com que o rei gelo nos circunda, poderíamos sentir realmente infelizes; mas, sendo mais sábios que isso, olhamos para o futuro, antecipando a próxima primavera que nos devolverá os pássaros, despertará as flores adormecidas, revestirá a terra com as verdejantes roupagens e encherá o ar de luz, fragrância e cânticos. A estada do cristão neste mundo pode-se com propriedade comparar a longo e frio inverno.

Aqui experimentamos provas, aflições e decepções, mas não devemos permitir que a mente aí repouse. Olhemos antes com esperança e fé o verão vindouro, quando havemos de ser acolhidos em nosso lar edênico, onde tudo é luz e alegria, onde tudo é paz e amor. Não houvessem nunca os cristãos experimentado as tempestades da aflição neste mundo, nunca seu coração se houvesse abatido ante a decepção ou oprimido ante o temor, mal saberia ele apreciar o Céu. Não fiquemos acabrunhados, se bem que muitas vezes fatigados, tristes, cheios de pesar; o inverno não há de perdurar para sempre. O estio da paz, da alegria e do prazer eterno está prestes a vir. Então Cristo habitará conosco e nos guiará às fontes de águas vivas, e enxugará toda lágrima de nossos olhos.1

Não permitais que coisa alguma vos prenda agora a atenção, impedindo de fazerdes obra cabal para a eternidade. A vida futura deve ser assegurada. Ricas, plenas e gloriosas são as promessas. Não haverá ali ventos enregelantes, nem frios hibernais, mas perpétuo estio. Há luz para o intelecto, amor sincero, permanente. Haverá saúde e imortalidade; para cada faculdade, vigor. Ali ficarão para sempre excluídos toda dor e todo pesar.2

A Terra é o lugar de preparação para o Céu. O tempo passado aqui é o inverno do cristão. Aqui os ventos gelados da aflição sopram sobre nós, e as ondas de angústias rolam contra nós. Mas no futuro próximo, quando Cristo vier, sofrimento e lamentação terão fim, para sempre. Então será o veraneio do cristão. Todas as provas terão findado e não haverá mais doença ou morte.3

A tristeza vem e vai; é o quinhão do homem; não devemos procurar aumentá-la, mas antes falar naquilo que é brilhante e aprazível. Quando o inverno estende sobre a terra sua gélida coberta, não deixamos nossa alegria enregelar-se juntamente com as flores e regatos, lamentando continuamente por motivo dos dias sombrios, e dos ventos minuanos. Ao contrário, nossa imaginação antecipa o verão próximo, com seu calor, vida e beleza. Ao mesmo tempo desfrutamos toda a luz do Sol que nos chega, e encontramos bastante conforto, apesar do frio e da neve, enquanto esperamos que a natureza se revista das roupagens novas, brilhantes, portadoras de alegria.4

Textos extraídos das seguintes obras de Ellen G. White:

1. Carta 13, 1875
2. Carta 4, 1885
3. Manuscrito 28, 1886
4. Nos Lugares Celestiais, p. 281

segunda-feira, 20 de junho de 2022

A PEDRINHA BRANCA

“Aos que conseguirem a vitória eu darei do maná escondido. E a cada um deles darei uma pedra branca, na qual está escrito um nome novo que ninguém conhece, a não ser quem o recebe" (Apocalipse 2:17).

O texto escolhido pertence às promessas dirigidas aos vencedores nas mensagens às sete igrejas do Apocalipse. Na estrutura destas mensagens, repetem-se estas promessas cheias de colorido, de simbolismo intenso e, ao mesmo tempo em muitas delas, de significado histórico, no contexto cultural em que foram dadas.

No que diz respeito à pedra branca prometida aos vencedores da Igreja de Pérgamo, o símbolo devia ser inteligível para os leitores da carta, de outro modo dificilmente poderiam compreender o seu significado espiritual. A palavra empregue é psêfos, que significa 'pequena pedra alisada pela água', 'seixo arredondado'. Não se trata, consequentemente, de uma pedra preciosa nem de uma joia. O texto acrescenta o adjetivo leuké, 'branca'. Ora bem, esta pedrinhas estavam relacionadas com os tribunais de justiça, onde os juízes expressavam o seu veredito por meio de uma pedrinha, branca, se o acusado era absolvido, preta, se era condenado. Fora do Apocalipse, no Novo Testamento, este termo é utilizado apenas quando o apóstolo Paulo conta ao rei Agripa que ele, Paulo, dava o seu veredito acusatório quando condenava à morte os cristãos (Atos 26:10).

Também se utilizava uma pedrinha branca como bilhete ou entrada nos festivais públicos organizados pelo Imperador ou nas assembleias reais. Em certas religiões tribais, no final de uma cerimônia de iniciação, após o noviciado, um membro da tribo recebia um nome novo e uma pedrinha branca ou um cristal de quartzo. Era o símbolo de uma aliança sagrada e secreta.

No Apocalipse, a cor branca é sempre símbolo de coisas celestiais; o nome é expressão da identidade, do caráter, e sinal de pertença, adesão e filiação; e o adjetivo 'novo' faz sempre referência à renovação de todas as coisas, à glória futura reservada aos redimidos. Podemos, então, assumir que a pedrinha branca com o novo nome é uma mensagem de promessa para os vencedores que foram absolvidos pelo tribunal divino, que lhes dá direito a entrar no festival celeste (as bodas do Cordeiro) e, além disso, é o sinal secreto da nossa iniciação numa aliança eterna com o nosso Deus. O novo nome será a expressão da nossa nova identidade, do nosso caráter para a eternidade, da mudança definitiva da nossa natureza de pecado operada pelo próprio Cristo quando voltar nas nuvens dos céus.

Acerca do novo nome, John Wesley, religioso anglicano e evangelista que fundou o movimento metodista, afirma com muita propriedade: “Após sua vitória, Jacó recebeu o novo nome de Israel. Você gostaria de saber qual será seu novo nome? A maneira de fazer isso é clara: vencer. Até então, todas as indagações de nada valem. Então você o lerá em uma pedra branca.”

Eu quero, nesse momento, receber a minha pedrinha branca. E você?

sexta-feira, 17 de junho de 2022

ANTÍDOTO PARA O DESESPERO

Alguma vez você já se sentiu a ponto de desistir de tudo? Pareceu-lhe estar no limite da sua sanidade? Pensava estar no paredão?

Estar no limite é um assunto a respeito do qual nós, cristãos, não nos sentimos bem ao falar. Entretanto, muitos de nós têm chegado ali. Às vezes, sentimos que as circunstâncias da vida nos sufocam. Sentimos que mergulhamos no desespero. Podemos até perguntar: “Por que Deus não nos impede que nos afastemos do abismo? Por que não nos permite apenas prosseguir?”

Desespero
Nos anos de 1970, Seligman desenvolveu uma das primeiras teorias filosóficas explicando por que as pessoas se tornam depressivas. Sua teoria era fundamentada em certo número de experimentos com ratos. Seligman verificou que os ratos que ficavam trancados numa gaiola dividida em dois compartimentos, quando recebiam choque elétrico em um dos lados da gaiola, aprenderam a passar para o outro lado e evitar o choque. Se naquele lado fossem igualmente submetidos ao choque, voltavam para o primeiro compartimento. Mas, se os ratos tomassem choques elétricos continuamente, não se importavam com o lado da gaiola em que estivessem. Apenas ficavam ali, indefesos, pois eram incapazes de prever ou evitar o evento desagradável. A este fenômeno, Seligman denominou “aprendizado por meio do abandono”. Sua teoria sugere que, quando enfrentamos a depressão, o desespero, semelhante à experiência dos ratos, estamos experimentando o “aprendizado por meio do abandono”. Incapazes de prever ou evitar as circunstâncias adversas, as intempéries da vida, ficamos paralizados, presos na armadilha.

"Distúrbios mentais são tão comuns que cerca de uma pessoa em cada seis em idade útil tem problemas de saúde mental” (National Service Framework for Mental Health). As estatísticas a respeito da saúde mental são bem significativas: De cada mil pessoas que consultam anualmente o médico, 334 o fazem com relação a problemas mentais. Mulheres entre 25 e 44 anos são três vezes mais propensas a queixar-se de depressão que os homens. Alguns assim denominam a depressão: o “frio comum” dos problemas mentais. Treze a vinte por cento da população são declarados em estado de depressão (Gelder, Gath, Mayou e Cowen). Um cartaz de campanha de advertência dos Samaritanos declara: “Você sabia que, no Reino Unido, existem mais pessoas dependentes de antidepressivos do que de ídolos populares?

Distúrbios mentais são assunto sério em toda sociedade e atinge a cada um, incluindo os cristãos. O Departamento Britânico de Estatísticas da Saúde estima que cem pessoas cometem suicídio, semanalmente, na Inglaterra, o que significa aproximadamente 5 mil por ano, em média de uma pessoa em cada treze horas. O grupo mais afetado é o de rapazes. Suicídio é a causa mais comum de óbitos entre homens abaixo de 35 anos.

O desespero nos cega impedindo-nos de ver qualquer raio de esperança. Deixa-nos paralizados, inativos e nos afasta para longe dos sonhos. Leva-nos para a beira do abismo, nos deprime, pesa sobre nós e grita: “Volte! Desista!” Martin Luther King Júnior disse: “Se um homem ainda não descobriu algo pelo que possa dar a própria vida, esse não serve para viver.” Vamos arrumar essa declaração em nossa mente: “Se alguém não descobriu a razão de viver, este não está pronto para morrer.” Para que vivemos? Já descobrimos o propósito para o qual fomos criados? Já o conhecemos antes de sermos engolidos pelo curso da vida fazendo com que percamos nosso alvo?

Esperança
Esperança é o oposto de desespero. A esperança é o que Satanás procura tirar de nós, porque ela é a base e fundamento da fé. Em Hebreus 11:1 está registrado o seguinte: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem.” A fé é, ao mesmo tempo, verbo e substantivo – uma palavra de ação. É esperança em ação.

A esperança é representada mais claramente na vida de Abraão: “Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia. ... Porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (versos 8 e 10). Por que Abraão deixou o conforto, a segurança e os lugares conhecidos para trilhar caminhos que lhe eram desconhecidos? É que ele tinha uma esperança de algo mais do que seus olhos humanos podiam ver, mais do que suas mãos podiam tocar.

Quando Satanás fomenta a dúvida, a desesperança e o desespero em nossa vida, podemos achar que nossa fé pereceu. Em tais ocasiões é difícil andar pelos caminhos desconhecidos e confiar em Deus. Mas a esperança abre nossos olhos para a razão pela qual fomos chamados; para o propósito pelo qual Deus nos criou – mesmo diante da adversidade.

Jesus foi claro a respeito de Seu propósito de vida. Mesmo quando precisou enfrentar as predições de Sua morte na cruz, Ele disse: “Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo” (João 18:37). Jesus estava dizendo: “Eu nasci por uma razão, vivo por esta causa e estou preparado para morrer por essa causa.” O propósito de Jesus era testificar da verdade; a verdade do Rei e do reino!

Enquanto peregrinamos pela vida, e a fim de banir o desespero, mesmo quando formos confrontados com a adversidade, calamidade, tristeza, perda e temor, devemos conhecer a razão pela qual vivemos. Se fixarmos os olhos nesse alvo, Deus poderá insuflar vida à nossa visão, mais do que sempre sonhamos ser possível.

Preparados para a Causa
De que modo podemos eliminar de nossa vida o desespero? Apresentamos aqui cinco estratégias:

1. Guardar nossa mente. João Batista conhecia a causa pela qual vivia e passava muito tempo preparando a mente para enfrentar o ataque de Satanás. Ele deve ter-se apresentado de maneira diferente das pessoas de seu tempo. Isolava-se nas montanhas e ia às aldeias apenas para proclamar a mensagem do juízo. Não deve ter sido fácil para ele. Ellen G. White escreveu: “Pesava sobre ele a responsabilidade de sua missão. Meditando e orando, na solidão, buscava cingir a alma para a obra de sua vida. Cerrava, quanto possível, toda entrada a Satanás; não obstante, assaltava-o ainda o tentador. Sua percepção espiritual, porém, era clara; desenvolvera resistência de caráter e decisão e, mediante o auxílio do Espírito Santo, era habilitado a pressentir a aproximação de Satanás, e resistir-lhe ao poder” (O Desejado de Todas as Nações, p. 102).

Jamais sabemos, por antecipação, quando ou como Satanás virá para desencorajar nossa fé e roubar nossa esperança. Porém, uma coisa sabemos com certeza: Ele virá e nos tentará a descrer de Deus e questionar Seu amor.

2. Confiar em Deus. Podemos passar horas, semanas e anos perturbados ou preocupados, tentando descobrir por que esta ou aquela condição se instala, ou como podemos escapar, ou mudar uma situação ruim. Podemos procurar respostas em toda parte, exceto no único lugar em que está a esperança. Consideremos o comentário de Ellen White a respeito da mulher do poço (João 4): “[Ela] olhava atrás, aos pais, e ao futuro, à vinda do Messias, ao passo que a Esperança desses antepassados, o próprio Messias, estava ao seu lado, e ela O não conhecia. Quantas almas sedentas se acham hoje junto à fonte viva, e olham todavia a distância, em busca das fontes da vida!” (O Desejado de Todas as Nações, p. 184).

Talvez o leitor diga: “É fácil para você dizer apenas confiar nEle. Mas, creia-me, isto não é fácil. Só recentemente eu passei a me ancorar e depor em Deus a minha confiança. Meu reconhecimento da estabilidade, segurança e força que há em Deus ocorreu no verão passado enquanto eu passava um feriado nas Bermudas. Certo dia, sentada diante da praia, enquanto o Sol se punha, eu observava uma grande rocha magnificente sobressaindo das profundezas do mar. As ondas se abatiam contra a rocha parecendo querer engolfá-la, mas a rocha permanecia inamovível. Subitamente, ocorreu-me o pensamento: “Preciso firmar em Deus a minha confiança, esperança e fé. Ele é seguro, constante, e dEle depende a vida. “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais” (Jr 29:11). Repousei naquele momento de segurança.

3. Encher de coisas puras a mente e a vida. Deus quer renovar nossa mente. O apóstolo Paulo escreveu: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12:2). Conforme o desejo de Deus, o que deve preencher nossa mente? Outra vez, o apóstolo escreveu: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Fp 4:8).

Não muito tempo atrás, percebi que eu acordava com a mente em disparada, repleta de tantas coisas que eu precisava fazer, preocupada, planejando o que eu faria, tentando elaborar da melhor maneira o caminho para prosseguir adiante. Isto começou a me fazer implodir, e eu acordava sentindo-me cansada como se não tivesse dormido.

Fui a uma reunião de oração em que estudamos o sermão da montanha, proferido por Jesus (Mt 5-7), uma bem-aventurança por semana. Naquela semana, a bem-aventurança considerada foi: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus (Mt 5:8). O ancião que dirigia o culto de oração declarou que são necessários 21 dias para mudar de hábito. Decidi permitir que Deus renovasse a minha mente e mudasse minha maneira de concentrar-me nos pensamentos negativos para os pensamentos puros de louvor. Quando me veio a preocupação, mencionei uma promessa, por exemplo: “Acima de tudo, Deus deseja que eu prospere e desfrute de boa saúde.” Então orei: “Senhor, Tu disseste que desejas boas coisas para mim. Não posso ver o que Tu fazes, mas vou confiar em Ti. Por favor, revela-me de alguma forma o que estás fazendo.”

Passados 14 dias, eu havia parado de acordar com a mente agitada, preocupada. Diz Ellen White: “Na vida futura, os mistérios que aqui nos inquietaram e desapontaram serão esclarecidos. Veremos que as orações na aparência desatendidas e as esperanças frustradas têm lugar entre as nossas maiores bênçãos” (A Ciência do Bom Viver, p. 474).

Algumas vezes, nossas preocupações, estresse e desespero são causados por expectações ilusórias. Eu percebi a importância de aceitarmos nossas limitações. Por vezes, nossa mente fica repleta de preocupações, estressada porque não estamos contentes com as bênçãos que temos. O pastor da minha igreja apresentou uma estratégia prática de reduzir o estresse e o descontentamento. Ele disse: “Às vezes, precisamos cortar nossa ambição para adequar-se à nossa condição.”

Contentamento é o segredo da mente pura – a mente esperançosa. Levo comigo, para meu trabalho diário, uma porção de contentamento e isto me ajuda a retomar a concentração da mente quando começo a me sentir cansada e a ter pensamentos descontentes: “Felicidade não é ter o que se quer, mas querer o que se tem.” A esperança vive onde Deus está, não nos braços de alguém, nem em ter montanhas de dinheiro, emprego novo, um carro, uma casa.

Nossa conduta social também auxilia nosso coração e mente a manter atitude positiva. Devemos cercar-nos de pessoas positivas, que nos encorajem, que orem em nosso favor. Em minha família da igreja, tenho alguns bons amigos que fortalecem minha esperança. Estou participando de um grupo de oração e afirmo: É difícil desistir quando se sabe que alguém está orando em nosso favor.

4. Esperar no Senhor. Martin Luther King Júnior disse: “A verdadeira medida de alguém não é mantida em momentos de conforto e conveniência, mas onde essa pessoa permanece em tempos de desafios e controvérsias.” Problemas e crises virão. Coisas terríveis, imprevisíveis ocorrerão na Terra. Mas algo é certo, duradouro, não muda: Deus. A certeza que Ele nos concede é de que, se nEle descansarmos em meio à adversidade, Ele será nossa esperança e não precisaremos nos desesperar. Sua promessa é: “Quando passares pelas águas, Eu serei contigo; quando, pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti” (Is 43:2).

Portanto, não necessitamos ficar abalados com todo sentimento, situação ou emoção. Podemos ancorar nossa esperança em Deus, que é constante.

5. Orar a Deus continuamente. A expressão de louvor de Davi serve de modelo que bem faríamos em seguir: “Bendirei o Senhor em todo o tempo, o Seu louvor estará sempre nos meus lábios” (Sl 34:1).

Nem tudo o que nos suceder será bom, mas em todas as coisas podemos encontrar algo pelo que podemos louvar a Deus.

A fé é a audácia da esperança. Se alguém ainda não descobriu uma razão pela qual viver, não está pronto para morrer. Para que estamos vivendo? Onde está depositada nossa esperança?

Se você está em tal estado de desespero, sentindo que a esperança não mais existe, então eu o desafio a apegar-se diariamente a Deus. Escolha viver pela causa de Deus, andar com Ele, apoiar-se nEle, fundamentar suas esperanças, seus sonhos, na Rocha.

Conforme as palavras registradas em Efésios 1:18, que possamos dizer com o apóstolo Paulo: “[Oro para que sejam] iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento.”

Hermine L. Graham (via Revista Adventista)

quinta-feira, 16 de junho de 2022

SOBRE O NOME "ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA"

Quando o Movimento Adventista dava seus primeiros passos, não tinha um nome oficial. Em 1852, Ellen G. White escreveu que os crentes deviam ser chamados de "Adventistas do Sétimo Dia". Contudo, só em 1860 um grupo de 25 obreiros de cinco estados se reuniu em Battle Creek, Michigan (de 28 de setembro a 1º de outubro), para a escolha de um nome para a igreja.

Na ocasião, Tiago White defendeu o estabelecimento de uma organização para incorporar legalmente a casa publicadora, mas algumas pessoas se opuseram à escolha de um nome, achando que isso levasse os adventistas a se tornar uma denominação a mais. Pior ainda, a igreja poderia ser vista como "Babilônia".

Várias sugestões foram apresentadas, entre as quais, "Igreja de Deus", que recebeu apoio de muitos, inclusive de Tiago White, inicialmente. Já outros acharam que esse nome tinha conotação presunçosa, além do fato de que outras igrejas o estavam usando. Finalmente, no dia 1º de outubro, David Hewitt, o primeiro converso de José Bates em Battle Creek, em 1852, propôs a adoção do nome "Adventista do Sétimo Dia". Seguiu-se uma longa discussão, mas o nome foi votado favoravelmente 24-1.

Logo após a escolha do nome, Ellen G. White escreveu: "O nome Adventista do Sétimo Dia exibe o verdadeiro caráter de nossa fé e será próprio para persuadir aos espíritos indagadores" (Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 224).

O nome Adventista do Sétimo Dia reflete as crenças da igreja em três palavras. “Adventista” indica a segurança do breve retorno (advento) de Jesus a esta Terra. “Sétimo Dia” se refere ao Sábado bíblico de descanso que foi graciosamente dado por Deus para a humanidade na criação e observado por Jesus durante a Sua encarnação. Juntos, os dois termos falam do evangelho que é a salvação em Jesus Cristo.

Em 1861, a obra de publicações foi incorporada ao nome "Adventista do Sétimo Dia". No mesmo ano, as igrejas do estado de Michigan foram organizadas em "associação". Algum tempo depois, outras associações foram estabelecidas.

No dia 21 de maio de 1863, líderes de seis associações se reuniram em Battle Creek e decidiram formar a Associação Geral, a fim de prover orientação para as igrejas em oito estados. Em 1865, as oito associações existentes decidiram ficar sob o guarda-chuva da Associação Geral.

A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem, hoje, quase 22 milhões de membros em todo o mundo, e seu nome se tornou amplamente conhecido e respeitado. De acordo com Ellen G. White, "não podemos adotar outro nome melhor do que esse, que concorda com a nossa doutrina, exprime a nossa fé e nos caracteriza como povo peculiar" (Ibid., p. 223).