quarta-feira, 31 de maio de 2023

144.000

O grupo dos 144 mil é mais um dos muitos detalhes do Apocalipse que têm cativado a curiosidade de milhares de cristãos. E não são poucas as hipóteses quanto à identidade deles. Mas, afinal, o que sabemos de certo sobre esse grupo?

No capítulo 7, João descreve os 144 mil como sendo o número dos selados entre todas as tribos de Israel (v. 4-8), o que significa que, por haverem escolhido permanecer leais a Deus, Ele os protege da apostasia e perseguição final (v. 2, 3; cf. Êx 12:7, 12-13; Ez 9:4).

Descrição mais detalhada encontra-se no capítulo 14. Ali, o grupo especial de seguidores de Jesus (v. 4) aparece em pé com Ele sobre o monte Sião (v. 1). Eles parecem ser aqueles que foram perseguidos e condenados por causa de sua lealdade a Deus (13:7) e que, em lugar da marca da besta, trazem em sua fronte o nome do Cordeiro e do Pai (14:1).

Os 144 mil pertencem a Deus; foram redimidos entre todos os povos da Terra (v. 4); entoam um cântico de vitória diante do trono que ninguém pode cantar (v. 3); mesmo que não pudessem comprar nem vender (13:17), Deus os comprou (14:3); eles se diferenciam por não terem se contaminado com mulheres (v. 4), ou seja, não comprometeram sua lealdade a Deus ao entrar em relação com sistemas religiosos falsos (17:1, 2; 18:2-4) e em cuja boca não se achou dolo (14:5). Em 13:7 e 14:12, os 144 mil são descritos como os “santos” de Deus.

O contexto dos capítulos 7 e 14 não deixa dúvida de que os 144 mil são o povo de Deus no tempo do fim. Em Apocalipse 6:12-14, temos a abertura do sexto selo, que se refere aos sinais que antecedem a volta de Jesus. Diante de todas as calamidades impostas por esses sinais, surge a pergunta: “Quem é que pode suster-se?” (v. 17). A resposta vem em seguida: os 144 mil (7:1-8), que são selados pelos anjos de Deus para que sejam protegidos (v. 2, 3).

Já no capítulo 14 a perspectiva não é tanto a da volta de Jesus propriamente dita, mas a da crise religiosa que a antecede (Ap 13). Nesse contexto, os 144 mil são aqueles que aceitam e proclamam a tríplice mensagem angélica (14:6-12). Isso faz dos 144 mil o remanescente de Deus do tempo do fim, grupo introduzido logo antes da descrição do falso culto que seduzirá toda a Terra (12:17), com exceção dos “santos” que não aceitarão a marca da besta (Ap 13:7-10).

Esse é o mesmo grupo que, em seguida ao surgimento da segunda besta, aparece em pé com o Cordeiro sobre o monte Sião (14:1-5). Portanto, não há dúvida de que os 144 mil do capítulo 14, os santos do capítulo 13 e o remanescente do capítulo 12 são um só e o mesmo grupo. Nesse caso, aquilo que é dito acerca do remanescente (12:17) e dos santos (13:10; 14:12) deve se aplicar aos 144 mil.

No entanto, a pergunta mais recorrente quanto aos 144 mil é se o número é literal ou simbólico. Não há dúvida de que ele deve ser tomado simbolicamente. No capítulo 7, a referência aos 144 mil é imediatamente precedida por uma série de símbolos (v. 1-3). O mesmo ocorre no capítulo 14, no verso 4. Não bastasse a referência ao Cordeiro, que é nitidamente simbólica, se o número fosse literal, então os 144 mil, grupo formado por 12 mil fiéis de cada tribo de Israel (7:4-8), seriam apenas judeus cristãos do sexo masculino que nunca foram casados. Conclusão que beira ao ridículo.

No Apocalipse, “mulher” é um termo simbólico (cf. 12:1-6, 13-17; 17:1-8), como o é “Cordeiro” (cf. 5:1-14; 6:1, 7, 12, 16; 8:1; etc.). Portanto, o número 144 mil – 12 x 12 x 1.000 – também deve ser tido como simbólico, e seu significado seria a plenitude do povo de Deus no tempo do fim. A referência às tribos de Israel também reforça essa interpretação. Além do fato de a tribo de Dã estar ausente da lista e a de Manassés tecnicamente ser parte da tribo de José (note que Efraim, irmão de Manassés e filho de José, não é citado), a maior parte das tribos já não existe. Além disso, no Novo Testamento, “Israel” é utilizado simbolicamente como referência à igreja cristã (Rm 2:28, 29; Gl 6:16).

Assim, os 144 mil representam a igreja de Deus no tempo do fim, aqueles que vão resistir às provações que antecedem a volta de Jesus e que estarão em pé com Ele sobre o monte Sião.

Wilson Paroschi (via Revista Adventista)

terça-feira, 30 de maio de 2023

IMPOSTO DE RENDA E O CRISTÃO

O prazo para entregar a declaração do Imposto de Renda 2023 termina nesta quarta-feira (31). Caso você ainda tenha dúvidas se os dados estão corretos ou mesmo que não tenha todos os documentos, a recomendação dos especialistas é a de cumprir o prazo estipulado pela 
Receita Federal. Ou seja, é melhor entregar incompleta e fazer as correções necessárias posteriormente. Quem não entregar a declaração a tempo está sujeito ao pagamento de uma penalização mínima de R$ 165,74, podendo chegar a 20% do imposto devido - e, dependendo do caso, pode até ficar com o nome sujo e ter o CPF apontado como irregular pelo Fisco.

A Bíblia como regra de fé, de conduta e de salvação, também nos dá o exemplo de como devemos nos comportar diante do imposto de renda exigido pelo governo.

Em Mateus 22:17-21, os fariseus fizeram uma pergunta a Jesus: "Dize-nos, pois: que te parece? É lícito pagar tributo a César ou não? Jesus, porém, conhecendo-lhes a malícia, respondeu: Por que me experimentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo. Trouxeram-lhe um denário. E ele lhes perguntou: De quem é esta efígie e inscrição? Responderam: De César. Então, lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus." 

Ellen G. White comenta: "A resposta de Cristo... foi... uma réplica sincera. Segurando a moeda romana sobre que se achavam inscritos o nome e a imagem de César, declarou que, uma vez que estavam vivendo sob a proteção do poder romano, deviam prestar àquele poder o apoio que lhes exigia, enquanto isso não estivesse em oposição a um mais elevado dever. Mas, conquanto pacificamente sujeitos às leis da Terra, deviam em todos os tempos manter primeiramente lealdade para com Deus" (O Desejado de Todas as Nações, p. 602).

Concordando plenamente, o apóstolo Paulo ensinou: "Por esse motivo, também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo, constantemente, a este serviço. Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra" (Romanos 13:6–7).

Parece haver uma quantidade infinita de impostos aos quais cidadãos e participantes da economia local e global estão sujeitos. Os impostos são impopulares e, às vezes, as agências governamentais encarregadas de coletá-los são julgadas com repugnância, sejam elas corruptas ou não. Isso não é novidade. Coletores de impostos não tinham uma boa reputação nos tempos bíblicos (Mateus 11:19; 21:31-32; Lucas 3:12-13).

De um modo geral, os impostos destinam-se a permitir o funcionamento benéfico da sociedade. Dependendo das prioridades, a receita fiscal nem sempre é usada da melhor forma. A objeção mais frequente ao pagamento de impostos é que o dinheiro está sendo mal utilizado pelo governo ou até usado para fins malignos. Isso, no entanto, não é nossa preocupação. Quando Jesus disse: "Dai a César...", o governo romano não era de modo algum um governo justo. Quando Paulo nos instruiu a pagar impostos, Nero, um dos imperadores romanos mais perversos da história, era o chefe do governo. Devemos pagar nossos impostos mesmo quando o governo não honra a Deus.

Por mais que odiemos os impostos, por mais que acreditemos que o sistema tributário seja corrupto e injusto, por mais que acreditemos que nosso dinheiro poderia ser investido em coisas muito melhores – sim, a Bíblia nos ordena a pagar nossos impostos. Romanos 13:1–7 deixa claro que devemos nos submeter ao governo. O único caso em que podemos desobedecer ao governo é quando nos diz para fazer algo que a Bíblia proíbe. 

Ellen G. White diz: "Cumpre-nos reconhecer o governo humano como uma instituição designada por Deus, e ensinar obediência ao mesmo como um dever sagrado, dentro de sua legítima esfera. Mas, quando suas exigências se chocam com as reivindicações de Deus, temos que obedecer a Deus de preferência aos homens. A Palavra de Deus precisa ser reconhecida como estando acima de toda a legislação humana. Um 'Assim diz o Senhor', não deve ser posto à margem por um 'Assim diz a igreja', ou um 'Assim diz o Estado'. A coroa de Cristo tem de ser erguida acima dos diademas de autoridades terrestres" (Atos dos Apóstolos, p. 69).

A Bíblia não proíbe o pagamento de impostos. De fato, a Bíblia nos encoraja a pagar impostos. Portanto, devemos nos submeter a Deus e à Sua Palavra - e pagar nossos impostos.

Em outra ocasião, Jesus deu-nos um exemplo de boa cidadania ao pagar impostos. A Bíblia diz em Mateus 17:27: “Mas, para que não os escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, tira o primeiro peixe que subir e, abrindo-lhe a boca, encontrarás um estáter; toma-o, e dá-lho por mim e por ti.”

Ellen G. White comenta: "Conquanto Jesus tornasse claro não Se achar sob obrigação de pagar o tributo, não entrou em discussão com os judeus a respeito do assunto; pois teriam interpretado mal Suas palavras, virando-as contra Ele. Para não escandalizá-los por não dar o tributo, fez aquilo que não Lhe poderia com justiça ser exigido" (O Desejado de Todas as Nações, p. 305).

Os cristãos sabem que tudo que temos pertence a Deus. Somos administradores encarregados de investir nosso dinheiro e outros recursos em coisas com valor eterno. Somos chamados a sustentar nossas famílias (1 Timóteo 5:8) e a dar generosamente (2 Coríntios 9:6–8). Também é sábio economizar (Provérbios 6:6-8) e perfeitamente aceitável gastar dinheiro conosco e agradecer a Deus por Suas boas dádivas (Tiago 1:17; Colossenses 3:17). Pagar impostos é um dever de todo cidadão e os cristãos são chamados a ser bons cidadãos. No entanto, os cristãos são, em última análise, cidadãos do céu (Filipenses 3:20). Reduzir nossa carga tributária nesta vida deveria ter como meta investir no reino de Deus para a eternidade.

Fique também com esta linda reflexão de Marcos De Benedicto extraída do livro Meditações Diárias - Um Olhar para o Céu:

No início de 2013, o ator francês Gerard Depardieu foi registrado como residente da cidade russa de Saransk, onde abriria um restaurante. O motivo da nova cidadania não era seu amor pela Rússia, mas a fuga dos altos impostos na sua pátria. No ano anterior, ele já havia se mudado para a Bélgica a fim de evitar um imposto de 75% para os milionários na época.

Imposto é um mal necessário, mais mal do que necessário, que só sobrevive por força da lei. Onde há dinheiro, há imposto. E, às vezes, o imposto existe mesmo onde não há dinheiro. Exorbitante, geralmente injusto, mal empregado, o imposto é tão certo quanto a morte. Por sua natureza e seus efeitos, podemos concluir que o imposto também é parte do salário do pecado!

Na qualidade de bom cidadão, o cristão obedece às leis e paga impostos. O próprio Jesus disse que devemos dar ao imperador o que é do imperador e a Deus o que é de Deus. Mas, certamente, nem o cristão consegue pagar impostos de boa vontade quando sabe que um carro ou computador em seu país custa o dobro do preço em outros países que oferecem infraestrutura melhor.

Do imposto, não dá para fugir. Porém, podemos pagar "imposto" para alguém que concede uma restituição muito maior e melhor. Quando damos a Deus o que é de Deus, podemos ter certeza de que o investimento tem um retorno garantido.

Certa vez, um assessor fiscal foi até um cristão pobre para determinar a quan­tidade de impostos que ele teria que pagar. "Que propriedade você possui?", per­guntou o assessor. "Sou um homem muito rico", replicou o cristão. "Enumere seus bens, por favor", instruiu o assessor. O cristão disse:

Primeiro, tenho a vida eterna (Jo 3:16).
Segundo, tenho uma mansão no Céu (Jo 14:2).
Terceiro, tenho paz que excede todo o entendimento (Fp 4:7).
Quarto, tenho alegria inexprimível (1Pe 1:8).
Quinto, tenho amor divino que nunca falha (1Co 13:8).
Sexto, tenho uma esposa fiel e virtuosa (Pv 31:10).
Sétimo, tenho filhos obedientes e felizes (Êx 20:12).
Oitavo, tenho amigos verdadeiros e leais (Pv 18:24).
Nono, tenho canções à noite (Sl 42:8).
Décimo, tenho a coroa da vida (Tg 1:12).

O assessor fechou o notebook e disse: "Você é verdadeiramente um homem muito rico, mas sua propriedade não está sujeita a impostos."

Dê a Deus o que é de Deus, e você, com uma nova cidadania, terá bens fora do alcance do Fisco. O Leão da tribo de Judá não pega ninguém na malha fina.

DIA DA JOANA D'ARC

No dia 30 de maio de 1431, a jovem francesa Joana D’Arc, nascida na comuna de Domrémy-la-Pucelle, foi queimada em praça pública ao ser acusada de heresia e feitiçaria por um tribunal eclesiástico inglês e francês. Na época, ela tinha somente 19 anos.

Muitos anos se passaram e a história de Joana D’Arc, heroína que garantiu substanciais vitórias ao exército francês durante a Guerra dos Cem Anos (1337 – 1453), foi revisitada, reconsiderada e, hoje, ela é tida como a Santa Padroeira da França.

Abaixo, reunimos em lista fatos sobre a trajetória desta lenda que mescla realidade histórica com fantasia e misticismo:

Nascimento
Joana D’Arc nasceu na comuna de Domrémy (que posteriormente foi nomeada de Domrémy-la-Pucelle em homenagem ao epíteto que a guerreira usava), na região de Lorena, na França.

Não se sabe ao certo a data de seu nascimento, visto que naquela época as pessoas não contavam exatamente as idades. Há uma estimativa de que ela tenha vindo ao mundo em 1412, segundo seu depoimento no julgamento. “Tenho 19 anos, mais ou menos”, revelou ela em 1431.

A garota era a caçula entre quatro filhos do casal de agricultores e artesãos Jacques d’Arc e Isabelle Romée. A família era muito religiosa, inclusive Joana, que frequentava a Igreja com regularidade.

Infância e a Guerra
A infância e pré-adolescência de D’Arc foram marcadas pelo evento histórico conhecido por Guerra dos Cem Anos (1337 – 1453), conjunto de batalhas travadas entre os reinos francês e inglês pela conquista da França.

Tudo começou em 1328, quando rei francês Carlos IV morreu sem deixar herdeiros direitos. Diante a situação, o rei inglês, Eduardo III, afirmou que a posição deveria ser sua, já que ele era sobrinho do falecido monarca. No entanto, a realeza da França não gostou muito da ideia e empossou o conde Felipe VI.

O impasse político e a disputa por territórios entre os dois reinos resultou em sangrentas batalhas e na divisão das duas populações. A Inglaterra não parava de conquistar novos territórios franceses, enquanto o governo da França não conseguia estabilidade: a coroa transitou entre Felipe VI, Carlos V, Carlos VI e Carlos VII.

Ao mesmo tempo em que Carlos VII tentava se impor contra o reino inglês e os borguinhões, parcela de franceses do condado da Borgonha que apoiava os rivais, D’Arc era somente uma criança. Mas isso não a impedia de vivenciar a guerra.

Como contou em seu julgamento, o lugar em que ela cresceu era marcado por crianças brigando entre si e algumas ganhavam até feridas e machucados ensanguentados. Em certa ocasião, seu vilarejo foi até incendiado. É importante lembrar que o conceito de "infância" e "adolescência" sequer existia no século 15. Os jovens eram tratados como adultos em miniatura.

Vozes do além
Aos 13 anos de idade, D’Arc revelou ter ouvido vozes e ter tido visões pela primeira vez. A garota estava no jardim de seu pai e recebeu aparições do que acreditou ser o arcanjo São Miguel, a Santa Catarina de Alexandria e a Santa Margarida de Antioquia, figuras que vieram lhe dizer que ela deveria integrar o exército francês e ajudar o rei Carlos VII na luta contra a Inglaterra.

Com o tempo, esses episódios foram ficando mais claros e frequentes, e D’Arc foi acreditando que se tratavam de mensagens divinas – apesar de médicos especularem hoje em dia que a garota sofria de alguma condição médica, como esquizofrenia ou epilepsia.

Aos 16 anos, D’Arc pediu a uma parente para leva-la até a cidade de Vaucouleurs, onde conversou com o funcionário local do reino francês, Robert de Baudricourt. Lá pediu que o funcionário a levasse até à corte real francesa, em Chinon.

Baudricourt foi sarcástico e não atendeu ao pedido da adolescente, mas isso não a deteve. D’Arc continuou a visitá-lo, até que ganhou aprovação popular e, em 1429, Baudricourt aceitou o pedido, cedendo a ela um cavalo e a proteção de diversos militares que a escoltariam pelo caminho.

Antes de partir para visitar o rei Carlos VII, porém, D’Arc cortou seu cabelo curto e vestiu-se como um homem. Após 11 dias de viagem, a jovem chegou até o reino francês.

O encontro com o rei
Um dos maiores mistérios da história é tentar entender como Carlos VII, o líder máximo da França, aceitou receber uma adolescente analfabeta que alegava receber mensagens divinas em seu gabinete. E mais ainda: como um monarca daquela magnitude acreditaria nas palavras da menina e permitiria que ela liderasse parte de seu exército em uma guerra sangrenta.

“Nós nunca saberemos o que aconteceu em Chinon. Esse é um dos maiores mistérios da história”, escreveu a historiadora Marina Warner, professora da Universidade de Essex (Reino Unido) em sua obra Joan of Arc: The Image of Female Heroism (1981), sem tradução para o português.

É válido mencionar que durante o posterior julgamento de D’Arc, quando ela foi capturada pelos borguinhões, ela recusou contar o que aconteceu em Chinon e apenas disse que o rei Carlos VII havia recebido um sinal para entender que a história que ela contava era verdadeira.

Há fontes que dizem que D’Arc foi capaz de identificar o rei vestido como um simples nobre diante uma multidão, o que garantiu que ele confiasse na palavra da garota.

A situação precária e as constantes derrotas do exército francês também foram uma razão para que o rei e toda a realeza confiassem nas palavras da menina. É isso que sustenta o historiador Stephen W. Richey, autor do livro Joan of Arc: The Warrior Saint (2003), sem tradução para o português, no trecho abaixo:

“Depois de anos de humilhação e de derrotas uma atrás da outra, o exército e a liderança civil da França estavam desmoralizados e em descrédito. Quando Carlos atendeu ao pedido de equipar Joana para a guerra e colocá-la à frente de seu exército, sua decisão deve ter tido como base que todos os ortodoxos e todas as opções racionais haviam sido testadas, mas haviam falhado. Somente um regime em seus últimos momentos de desespero poderia prestar atenção em uma garota analfabeta que alegava ouvir a voz de Deus instruindo-a a tomar conta do exército de seu país e leva-lo à vitória.”

De qualquer forma, D’Arc foi avaliada em diversos aspectos para que suas palavras viessem a ser consideradas pelo rei, tal como ser interrogada por clérigos e ter que realizar exame para confirmar sua virgindade.

Liderando o exército
Depois da conversa com o rei, D’Arc – já com 17 anos – conseguiu a autorização real para integrar o exército, recebeu doações de equipamentos, artigos de proteção e alguns soldados para aliviar a tensão com os ingleses na região de Orleães, na região norte-central da França.

Apesar de existir a crença popular de que D’Arc comandou o exército francês, esse é um assunto incerto que segue sendo debatido por historiadores. Há quem diga que a garota nunca matou nenhum inimigo e que sua presença durante as batalhas eram mais figurativas. Mas também há quem acredite que ela tenha surtido um efeito profundo nas decisões do exército. Ou seja, que seus conselhos eram aceitos e tidos como divinos.

Apesar da imprecisão, todos concordam que a força armada francesa gozou de notável sucesso durante o período em que D’Arc o integrou.

De acordo com a filósofa Siobhan Nash-Marshall, autora do livro Joan of Arc: A Spiritual Biography (1999), sem tradução para o português, na primeira batalha que D’Arc participou, na região de Orleães, ela forneceu impulso moral aos civis e soldados franceses: “A moral francesa era tão baixa antes de ela aparecer que os franceses até perdiam as lutas em que eram maiores em exército do que os anglo-borgonheses. Normalmente, eles preferiam simplesmente ficar fora do campo de batalha”, escreve a pensadora.

Com os esforços do exército, a região de Orleães foi garantida pelos franceses, em contrapartida do recuo dos ingleses. Outras batalhas pontuais pela região da França foram repetindo o mesmo padrão.

Para os ingleses, as vitórias dos inimigos e o poderio da jovem camponesa indicavam que ela era, na realidade, uma bruxa possuída pelo diabo. A ideia de que Deus estaria apoiando a França em detrimento deles não era nenhum pouco atraente.

Com as seguintes vitórias franceses, havia chegado o momento ideal para coroar e consagrar a realeza de Carlos VII. A cerimônia aconteceu em 17 de julho de 1429 na cidade de Reims, que estava há pouco sob controle dos anglo-borgonheses e agora, graças aos esforços do exército e de D’Arc, havia voltado a integrar o reino da França.

Esse foi o auge militar e a síntese do objetivo inicial da camponesa.

Em seu posterior julgamento, D’Arc revelou que abraçou o rei recém-coroado aos seus pés e lhe disse: “Gentil rei, agora foi executada a vontade de Deus, que desejava que os cercos de Orleães fossem levantados e que você fosse trazido à Reims para receber sua sagrada consagração, mostrando, assim, que você é um rei de verdade e a quem o reino da França pertence”.

Derrocada e captura
Para legitimar a coroação de Carlos VII, o rei deveria marchar até Paris, a capital da França.

D’Arc e os militares acreditavam que seria melhor uma marcha rápida de Reims até Paris para evitar investidas inimigas, mas a corte real preferiu apostar em uma trégua de batalhas com os borgonheses para o percurso ser mais seguro.

No entanto, o duque de Borgonha, aproveitou o acordo e reforçou a defesa da capital e em outras cidades, pegando de surpresa os franceses pelo caminho.

Sem muitas opções, o exército da França aceitou a rendição em várias cidades sem nem mesmo lutar. Quando chegaram à Paris, em setembro, foram atacados. Foi a partir desse episódio que todo o esforço e luta de D’Arc começaram a falhar.

O governo real decidiu dissolver o exército e iniciou uma campanha em busca de diplomacia e consolidação de seus ganhos anteriores. Com essa nova medida, D’Arc já não tinha mais apoio para empreender sua luta: nem armamento, equipamento e, muito menos, homens. Sem o suporte do rei, ela continuou a participar de batalhas por conta própria com pouquíssimos militares.

Em maio de 1430, a cidade de Compiégne foi tomada pelos inimigos e ela decidiu ir – mesmo já tendo recebido os avisos divinos de que ela seria capturada pelos ingleses. Como era de se esperar, a força do exército anglo-borgonhês era muito maior do que a sua. Em 23 de maio, ela foi capturada pelas tropas de borgonhesas.

Por um valor de 10 mil libras, D’Arc foi vendida ao exército da Inglaterra. Há fontes que dizem que quando a garota soube que iria para as mãos dos inimigos, ela se jogou da torre em que estava presa. No entanto, sua tentativa de suicídio não funcionou.

Em 1431, D’Arc foi levada para julgamento e as acusações que pairavam sobre si eram todas de ordem religiosa. Ela foi chamada de bruxa, herege, possuída pelo demônio, entre outros. Sua virgindade foi questionada e até o fato de ela utilizar roupas masculinas foi uma alegação que os anglo-borgonheses utilizaram para descreditar a camponesa.

Enquanto ela era julgada, o rei Carlos VII não fez nenhum esforço para recuperá-la. “Isso sugere que, por mais difícil que pareça, Carlos e seus conselheiros estavam desiludidos o suficiente para tolerar a condenação dela como herege”, escreve a historiadora Warner.

Em 30 de maio de 1431, Joana D’Arc foi levada para a fogueira. Enquanto o fogo se espalhava por seu corpo e a plateia a chamava de “bruxa”, “mentirosa” e “blasfema", ela pronunciava suas últimas palavras, “Jesus! Jesus! Jesus”, até não conseguir dizer nada mais.

Canonização
Apesar de ter morrido como herege e bruxa, nos séculos seguintes, a história de D’Arc foi revisitada.

Durante a década de 1456, a camponesa foi considerada inocente pelo Papa Calisto III. Em 1909, cinco séculos depois, a Igreja Católica autorizou a beatificação da moça. Em 1920, ela é finalmente canonizada pelo Papa Bento XV.

Hoje, ela é considerada um ícone sagrado na França e também está sincretizada em religiões afro-brasileiras, como a orixá Obá.

Adaptação na mídia
Joana D'Arc foi e ainda é uma figura bastante adaptada em livros, filmes, músicas e outras peças de entretenimento. Em 1899, Georges Méliès digiriu o primeiro filme sobre a heroína, de nome homômimo. Porém, o mais famoso (e mais recente) é o Joana D'Arc (1999), de Luc Besson.

Na literatura, o gaúcho Érico Veríssimo escreveu a biografia romanceada A vida de Joana d'Arc (1935), além das mais variadas biografias elaboradas por historiadores.

No campo musical, a banda Arcade Fire produziu a música "Joan of Arc".

Há até um game que revisita a história da guerreira francesa: Wars & Warriors: Joan of Arc (2004), lançado pela desenvolvedora Enlight Software, além da menção da heroína nos jogos Perfect Dark (2000) e Age of Empires II (1999).

[via Revista Galileu com informações de Live Science]

Ilustração: Joana D'Arc em gravura de Albert Lynch, de 1903

segunda-feira, 29 de maio de 2023

DOENÇAS DA ALMA

Há milênios, a humanidade observa que existe uma relação entre a mente e o corpo no que se refere ao bem-estar e ao surgimento de doenças. Porém, foi somente nos últimos 50 anos que se constatou que essa ligação é mais direta do que se imaginava, e que se passou a estudar empiricamente os mecanismos fisiológicos desses processos.

Por meio de pesquisas nos campos da psicologia, neuroimunologia, biopsicologia, neurogastroenterologia, entre outras áreas, pode-se estabelecer cientificamente essa relação e identificar anatomicamente como ocorre a comunicação entre o cérebro e os demais órgãos. A interface entre as emoções e o organismo humano é chamada de sistema neuroendócrino, que é formado principalmente pelas glândulas pineal e supra-renais, além da hipófise, hipotálamo e tireoide.

Para os que acreditam na veracidade da Bíblia, o primeiro relato que se tem na história humana sobre uma resposta física a um sentimento negativo ocorreu no jardim do Éden. Ao desobedecerem a Deus, a luz que cobria a nudez de Adão e Eva se dissipou e, imediatamente, sentiram medo e se esconderam do Criador (Gn 3:7, 8). Com o conhecimento científico que temos hoje, poderíamos explicar o que ocorreu no corpo deles: a sensação de perigo iminente desencadeou uma sequência de eventos fisiológicos que começou na parte do cérebro conhecida como amígdalas, passando pelo hipotálamo, que, por sua vez, desencadeou a liberação dos hormônios do estresse via glândulas suprarenais, induzindo assim a uma resposta de fuga diante do medo.

Desde essa queda moral, os sentimentos de cobiça, medo, vergonha e culpa têm afetado milhões de pessoas, lançando as sementes das doenças psicossomáticas (junção de duas palavras gregas: psique – alma e soma - corpo), que são respostas patológicas às tensões emocionais. Em Seu ministério terrestre, quando Jesus percebia que um doente sofria também de um forte sentimento de culpa causado pela transgressão dos mandamentos morais e/ou das leis de saúde, Ele aconselhava: “Vá e não peques mais para que não te suceda coisa pior” (Jo 5:14).

Ellen White, pioneira adventista, escreveu que a maioria das enfermidades tem sua origem nos pensamentos e sentimentos. Veja alguns textos impressionantes.

"A afinidade que existe entre a mente e o corpo é muito grande. Quando um é atingido, o outro é influenciado. O estado mental tem muito que ver com a saúde física" (Medicina e Salvação, p. 105).

Interessante essa ligação. Olha o próximo texto:

"Poucos, porém, compreendem o poder que exerce a mente sobre o corpo. Grande parte das doenças que afligem a humanidade têm a sua origem na mente, e podem ser curadas apenas pela restauração da mente à saúde" (Conselhos sobre Saúde, p. 349).

E esta autora inspirada diz outro texto muito interessante:

"Enfermidades mentais prevalecem por toda parte. Nove décimos das doenças das quais os homens sofrem têm aí sua base" (Mente, Caráter e Personalidade 1, p. 59).

Não é interessante? Você percebe então que esse último texto está afirmando que nove entre dez doenças têm origem na mente. É exagero isso? O Dr. Herbert Benson, médico clínico da Universidade Harvard, EUA, diz o seguinte: "60% à 90% dos pacientes que procuram médicos na clínica (ambulatório) têm suas doenças devido a estresse físico e mental. São pessoas que têm tido sintomas físicos como um resultado de problemas sociais e emocionais. A média poderia ser 75%" (Timeless Healing – The Power and Biology of Belief).

Veja esse outro texto mostrando que a maneira como você sente afeta o seu corpo. Diz Ellen White:

"É dever de todos cultivar um espírito prazenteiro, em vez de estar incubando tristezas e dificuldades. Muitos há que, deste modo, não só se fazem infelizes a si mesmos, mas também sacrificam a saúde e a felicidade a uma imaginação mórbida. Há em seu ambiente coisas que não são aprazíveis, e seu semblante traz continuamente o sobrecenho carregado que, mais claramente do que o fariam palavras, expressam descontentamento. Essas emoções deprimentes fazem-lhes grande mal à saúde" (Mente, Caráter e Personalidade 1, pp. 62, 63).

Então parece que quanto mais uma pessoa tem dificuldades de tomar consciência de suas emoções, especialmente das emoções dolorosas ou desagradáveis, mais provável é que ela apresente sintomas psicossomáticos, por que o corpo absorve tais sentimentos que a pessoa se sente inapta para vivenciá-las num nível consciente. Isso significa que quanto mais um sintoma psicossomático está enterrado no corpo, mais longe a pessoa está da verdade sobre o sentimento reprimido e somatizado, ou sobre aqueles pensamentos dolorosos que a pessoa não quer pensar naquele momento. Estresse, ansiedade, raiva, medo, entre outros sentimentos podem gerar doenças psicossomáticas. As consequências podem ser leves ou mesmo gravíssimas.

Confira três elementos desencadeantes das doenças psicossomáticas e que requerem atenção para possível tratamento profissional. Veja abaixo:

Ansiedade – É considerada transtorno quando sua qualidade de vida cai. Entre suas reações estão a perda de memória recente, confusão, realidade distorcida e os pensamentos sem interrupções sobre tudo e todos. Há prejuízos sociais nos relacionamentos conjugais, relações no trabalho, com vizinhos e amigos.

Estresse – Em períodos de estresse, quando as pessoas desenvolvem muitas reações emocionais negativas, é mais provável que surjam certas doenças relacionadas ao sistema imunológico como a gripe, herpes, queda de cabelo, fadiga e infecções com vírus oportunistas.

Raiva - Provoca uma grande descarga de adrenalina no organismo e leva a alterações fisiológicas, como o aumento da pressão e dos batimentos cardíacos, tonturas, vertigens, tremores, sudorese e até insônia. Os hormônios por trás da raiva podem se transformar em gatilhos para um infarto ou acidente vascular cerebral (AVC).

A prevenção e cura dessas enfermidades psicossomáticas se encontram na libertação pessoal dos sentimentos e pensamentos que lhe deram origem. Essa tarefa é possível apenas com a ajuda de Deus, o autoconhecimento e, em alguns casos, com assistência psicológica. Particularmente, creio que o aumento de enfermidades neuropsiquiátricas nos últimos 30 anos se deve, em grande medida, à desobediência consciente ou inconsciente das leis moral e de saúde deixadas por Deus. Portanto, tentar tratar as doenças psicossomáticas sem reconhecer essa dimensão do problema pode trazer apenas resultados limitados e transitórios.

A boa notícia é que, para cada sentimento negativo, Deus oferece um remédio: para a cobiça, a liberalidade; para o medo, a fé; para a vergonha, a restauração da dignidade; para o sentimento de culpa, o perdão. Porém, não devemos esquecer que essas mudanças são possíveis somente com nossa permissão para que Deus transforme nossa vontade, formando em nós uma nova natureza.

Diante desse quadro, cabe aos médicos, psicólogos e outros profissionais cristãos da área da saúde não apenas buscar o alívio dos sintomas, mas orar com os pacientes e orientá-los para que encontrem a cura completa em Deus.

Ellen White aconselha: "Há uma enfermidade da alma que nenhum bálsamo pode alcançar, nenhum remédio curar. Orai por esses, e trazei-os a Jesus Cristo" (Beneficência Social, p. 71).

sexta-feira, 26 de maio de 2023

DESENVELHECER

A fonte da juventude seduziu mais um explorador. E desta vez, as suas águas mágicas estão vermelhas. Deslumbrado pelo encantamento do calendário, um magnata vem espantando o mundo com a sua obsessão: rejuvenescer. ⁣⁣

Bryan Johnson está investindo dois milhões de dólares por ano para se tornar mais jovem. Com 45 anos, ele emprega 30 profissionais de saúde dando suporte ao seu sonho. Entre processos químicos, epidérmicos, dietéticos e 65 pílulas diárias com um suco verde, a sua última façanha assombrou o planeta. Ele está trocando o seu sangue pelo do seu filho Talmage de 17 anos. Sim, com transfusões periódicas de um litro de plasma sanguíneo, este pai quer desenvelhecer. Conforme Charles Brenner, bioquímico do National Medical Center, em Los Angeles, “isso é nojento, sem evidências e potencialmente perigoso.” Mesmo assim, o milionário persiste em pagar pela juventude perdida.⁣
Envelhecer é contra tudo pelo qual nascemos. Ninguém quer e ninguém foge. Porque “o salário do pecado é a morte” (Rm 6:23). E se todos pecamos, morreremos - ainda que trocando de sangue, tirando peles, esfoliando rugas ou comendo chicória. Esta realidade que apavora os viventes também serve de dois alertas.⁣

⁣Primeiro, nenhuma pessoa rejuvenesce no ciclo implacável da vida. Fortunas podem retardar certos processos, porém, “o homem é um sopro; seus dias são sombra passageira” (Sl 144:4). E de Matusalém ao seu avô vivo, envelhecer é um poderoso lembrete do próximo alerta. Quer saber?⁣
Todos podemos rejuvenescer no espírito. “Restaura-nos para ti, Senhor, para que voltemos; renova os nossos dias” (Lm 5:21). Isso é espetacular! “Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova dentro de mim um espírito estável” (Sl 51:10). Sabe como desenvelhecer? Renascendo todos os dias em Cristo. Pronto. Sem precisar gastar milhões por isso! E o único sangue permitido na transfusão do seu rejuvenescimento? O sangue de Jesus. No Gólgota, Cristo abriu as comportas da verdadeira fonte da juventude. Elas estão jorrando abundantemente sobre quem quiser. Então, quer ficar mais novo? E para sempre? Receba o Rei dos Médicos Dono da Fonte.⁣
Ah, e mantenha a chicória na dieta.⁣

Odailson Fonseca (via instagram)

"Devido ao pecado, nossa condição não é natural, e deve ser sobrenatural o poder que nos restaura, do contrário, não tem valor. Existe unicamente um poder capaz de quebrar o domínio do mal no coração dos homens, e esse é o poder de Deus em Jesus Cristo. Unicamente por meio do sangue do Crucificado existe purificação do pecado. Sua graça, tão-somente, nos habilita a resistir e subjugar as tendências de nossa natureza caída" (Ellen G. White - A Ciência do Bom Viver, p. 428).

quinta-feira, 25 de maio de 2023

O ÚLTIMO PARALÍTICO DE JERUSALÉM

Alguma vez você já perdeu uma grande oportunidade? Teve a impressão de que várias coisas boas estavam acontecendo com as pessoas ao seu redor, menos com você? Já sentiu que Deus abençoou a todos, mas Se esqueceu de você? Há uma história na Bíblia que pode nos ajudar a lidar com esses sentimentos. Sabemos que o homem paralítico de Atos 3 nasceu nessa condição e tinha mais de 40 anos de idade quando foi curado por Pedro e João, discípulos de Jesus (At 4:22). Sabemos também que todos os dias ele mendigava à porta Formosa do templo de Jerusalém. Ele pode ter sido uma das poucas pessoas na cidade que não foram alcançadas pelo toque curador de Jesus.

UMA POSSÍVEL CONEXÃO
Antes de revisarmos essa história, gostaria de relacioná-la com outros relatos sobre o ministério de Cristo registrados nos evangelhos. O homem curado por Jesus no tanque de Betesda, por exemplo, estava doente havia 38 anos quando se encontrou com o Mestre (Jo 5:2-9). Jesus Se aproximou dele e o curou após um breve diálogo. A cura veio com uma simples ordem do Mestre: “Levanta-te, toma o teu leito e anda” (v. 8).

Um detalhe importante dessa história é que foi Jesus quem abordou o enfermo. Normalmente, os que estavam doentes eram levados até Cristo ou alguém intercedia por eles junto ao Mestre. No entanto, nessa ocasião, de tantas pessoas doentes esperando encontrar a cura no tanque de Betesda (v. 3), Jesus o escolheu.

Fico impressionado com os possíveis elos que existem entre o relato de João 5 e Atos 3. Primeiramente, o tanque de Betesda estava em Jerusalém, e o paralítico que ali foi curado estava doente havia 38 anos. Talvez ele tivesse a mesma idade do paralítico de Atos 3, pois é dito que a idade dele era de 40 anos pouco tempo depois da morte de Jesus (At 4:22). Talvez também o paralítico curado por Pedro e João houvesse estado em Betesda, entre a multidão de “enfermos, cegos, coxos e paralíticos” (Jo 5:3).

Quando Jesus andou por Betesda, antes de chegar ao paralítico que Ele curou, passou por outros doentes, certamente por outros paralíticos também. Ele andou ao lado das camas dessas pessoas, ouviu o clamor delas, mas não as curou. Por quê? Ellen White, pioneira e profetisa adventista, comenta que naquele dia Jesus queria curar mais pessoas. Na verdade, Ele queria ter curado todos, mas, pelo fato de ser sábado, Cristo entendeu que tamanha demonstração de poder iria gerar preconceito e oposição dos judeus, a ponto de interromperem Seu ministério (O Desejado de Todas as Nações, p. 201 e 202).

Sabemos que as ações de Cristo não eram impensadas e que Ele não colocaria em risco o andamento de Seu ministério. Porém, por que Ele escolheu curar aquele paralítico e não outro? Novamente o quadro mais amplo apresentado por Ellen White pode nos ajudar. Ela comenta que o caso daquele pobre homem era desesperador, porque as contínuas frustrações dele em relação à cura “estavam-lhe consumindo rapidamente as restantes energias” (p. 202). Jesus conhecia todos os casos que escolhia.

Fico imaginando se os dois paralíticos em questão não se conheciam. Se eles tivessem se encontrado, posso imaginar a conversa. O paralítico de Atos 3 teria se surpreendido com a cura do homem de João 5 e desejado também a mesma bênção. Talvez tenha começado a perguntar por Jesus e procurado por Ele. Ao que parece, ele nunca se deparou com o Mestre.

Os evangelhos registram pelo menos duas circunstâncias em que Cristo curou várias pessoas de uma vez em Jerusalém. Ambas as curas ocorreram no templo: uma no início e outra no fim do Seu ministério (Jo 2 e Mt 21). Ellen White escreveu sobre a primeira ocasião. Depois de purificar o templo, Jesus atendeu todos que foram a Ele, e cada pessoa que O procurou foi curada, não importava sua doença (p. 163). A escritora acrescenta que aqueles que voltaram ao pátio do templo naquele dia “ficaram paralisados diante da maravilhosa cena. Viram os enfermos curados, os cegos restaurados à vista, os surdos ouvindo e os coxos saltando de prazer” (p. 592). Dessa vez, também, parece que o paralítico de Atos 3 não estava presente novamente. Talvez ele tivesse razões para pensar que nunca estava no lugar certo e na hora certa.

OUTRA CHANCE
Em algumas ocasiões, Jesus tomou a iniciativa de ir ao encontro de quem necessitava Dele, como a mulher samaritana (Jo 4:4), a cananeia (Mt 15:21) e o endemoninhado de Gadara (Mc 5:1). Contudo, o paralítico de Atos 3 não se encaixa em nenhum dos grupos que foram curados por Jesus: (1) as pessoas que Ele procurou, (2) as que foram até Ele, e (3) as que precisaram da intercessão e ajuda de alguém para chegar próximo ao Mestre (Mc 2).

Com o auxílio de Ellen White, temos informações adicionais sobre esse personagem bíblico. “Esse infeliz havia durante muito tempo desejado ver Jesus para ser curado, mas encontrava-se quase ao desamparo, e estava muito afastado do cenário dos labores do grande Médico” (Atos dos Apóstolos, p. 57). O caso dele era desesperador. Jesus não o havia procurado, ele não havia encontrado Jesus e ninguém o tinha levado até o Mestre.

De acordo com Ellen White, o último esforço dele para encontrar o Mestre foi implorar aos seus amigos que o levassem à porta do templo. Porém, quando ali chegou, soube que Jesus havia sido morto cruelmente (p. 57 e 58). Imagine como ele se sentiu. Posso imaginá-lo gritando: “Por que, Senhor? Todos foram curados, menos eu!” Quarenta anos sem poder andar. Quarenta anos de sonhos quebrados.

Quarenta anos tentando ser curado. Ele sempre esteve no lugar errado. E, quando finalmente achou que poderia chegar perto de Jesus, descobriu que sua chance de voltar a andar havia sido crucificada junto com o Nazareno. Depois de lamentar por um bom tempo, talvez tenha aceitado com resignação que nunca seria curado. Enxugando as lágrimas, talvez tenha decidido não ser um fardo para ninguém. Viveria se mantendo de esmolas para o resto da vida.

“Por favor, levem-me ao templo”, provavelmente tenha pedido aos amigos. Quando lemos a história dessa maneira, tudo faz sentido. O homem era levado todos os dias à porta do templo e, por isso, quando ele viu Pedro e João, pediu-lhes esmolas (At 3:3). Veja, ele não pediu um milagre, apenas esmolas. Ele queria sobreviver.

ALGO MELHOR
No entanto, quando os discípulos se aproximaram, Pedro disse ao homem: “Olhe para nós”. E ele prestou atenção, esperando receber alguma coisa deles. Então Pedro disse que não tinha prata nem ouro (v. 5 e 6). Aquilo deve ter sido a “gota d’água”, uma piada de mau gosto para o paralítico. Porém, gosto de imaginar que Pedro também tenha dito: “Não tenho nada do que você está esperando, porque sou um viajante do tempo. Estou aqui para lembrá-lo do seu sonho. Vim para lhe dar o que sempre procurou. Trouxe algo de Jesus de Nazaré para você.”

Ellen White acrescentou que o semblante do coxo descaiu ao ouvir a primeira parte da resposta de Pedro, mas logo seu rosto tornou-se radiante quando Pedro ordenou que, em nome de Jesus, ele se levantasse e andasse (Atos dos Apóstolos, p. 58). O quê? Em nome de Jesus? Cristo estava vivo? “E de um salto pôs-se em pé e começou a andar. Depois entrou com eles no pátio do templo, andando, saltando e louvando a Deus” (At 3:7-9). Que história maravilhosa!

CURA PARA TODOS
Não sei como nem quanto você se identifica com essa história. Talvez tenha sido curado imediatamente há muito tempo em Betesda. Ou quem sabe alguém o levou até Jesus ou ainda seus verdadeiros amigos pediram a Ele que o curasse. Talvez você esteja como o paralítico de Atos 3, sentado à porta do templo, com seus sonhos desmoronados e o sentimento inegável de que Deus passou você por alto.

Se você se sente como o último paralítico de Jerusalém, sua história ainda não terminou. Os caminhos de Deus são inescrutáveis, inatingíveis e incompreensíveis. Pois, quando menos esperarmos, um mensageiro de Deus pode cruzar nosso caminho e falar conosco em nome de Jesus de Nazaré.

Por outro lado, nós também passamos diariamente por pessoas que se sentem como aquele paralítico. Pessoas que já não pedem mais um milagre, porque se sentem esquecidas por Deus. Nossa missão, como a de Pedro e João, é lembrá-los, em nome de Jesus, da promessa de que um dia todos poderão caminhar, pular e louvar a Deus.

Daniel Bosqued (via Revista Adventista)

quarta-feira, 24 de maio de 2023

ENGANOS DO TEMPO DO FIM

Nosso mundo contemporâneo se tornou um caldeirão do sobrenatural e do místico, incrementado por Hollywood, que não tem problemas em fazer filmes com temas religiosos e místicos em uma miscelânea de erro e engano. A velha mentira: “É certo que vocês não morrerão” (Gn 3:4) inspirou alguns dos livros mais lidos e filmes mais assistidos das últimas décadas, bem como muitos videogames populares. Inegavelmente, somos expostos ao terreno encantado de Satanás e somos tentados por ele, que pode aparecer em inúmeras formas e até, em alguns casos, vir escondido no verniz da ciência.

Neste artigo, estudaremos sobre alguns enganos do fim dos tempos, como o misticismo, experiências de quase morte, reencarnação, necromancia, culto aos ancestrais e outros. São assuntos perigosos aos quais devemos estar atentos, mas sem nos expormos às suas influências.

Misticismo
O mundo tem sido inundado pelo misticismo. A palavra “misticismo” é um termo complexo que engloba enorme variedade de ideias. Do ponto de vista religioso, a palavra sugere a união do indivíduo com o Divino ou Absoluto em algum tipo de experiência espiritual ou transe. Isso caracteriza a experiência de adoração até mesmo de certas igrejas. Os fenômenos variam em forma e intensidade, mas a tendência é substituir a autoridade da Palavra de Deus pelas experiências subjetivas. A Bíblia perde muito de sua função doutrinária, e o cristão fica vulnerável às suas próprias experiências. A religião subjetiva não protege contra os enganos do tempo do fim.

Há uma tendência no mundo cristão pós-moderno de minimizar a relevância das doutrinas bíblicas, considerando-as ecos entediantes de uma forma obsoleta de religião. Nesse processo, os ensinamentos de Cristo são artificialmente substituídos pela Pessoa de Cristo. O argumento é que uma ou outra história bíblica não pode ser verdadeira porque Jesus, conforme O veem, nunca teria permitido que acontecessem como está descrito. Sentimentos e gostos pessoais acabam sendo os critérios de interpretação das Escrituras ou até mesmo para rejeitar totalmente o que a Bíblia ensina de forma clara, muitas vezes sobre a obediência a Deus, que, como disse Jesus, é essencial para construir a casa sobre a rocha (Mt 7:21-27).

Os que pensam que não importa em que doutrina creem, desde que acreditem em Jesus, estão em terreno perigoso. Os inquisidores romanos que condenaram à morte incontáveis protestantes acreditavam em Jesus Cristo. Aqueles que expulsam demônios em nome de Cristo (Mt 7:22) creem Nele. Ellen G. White diz: “A teoria que diz que não importa o que as pessoas creiam é um dos enganos mais bem-sucedidos de Satanás. Ele sabe que a verdade, recebida por amor, santifica a alma de quem a recebe; portanto, está constantemente procurando substituí-la por falsas teorias e fábulas ou por outro evangelho” (O Grande Conflito, p. 434, 435).

Experiências de quase morte
Alguns dos argumentos modernos mais populares para “provar” a teoria da imortalidade natural da alma são as experiências de quase morte. Em seu livro, Vida Depois da Vida: O que acontece quando uma pessoa morre? Uma pesquisa séria e impressionante do fenômeno da sobrevivência à morte física (Rio de Janeiro, RJ: Editorial Nórdica, 1979), Raymond A. Moody Jr. apresentou os resultados de seu estudo de cinco anos acerca de mais de cem pessoas que experimentaram “morte clínica” e foram reanimadas. Essas pessoas afirmaram ter visto um ser de luz amoroso e caloroso antes de voltarem à vida. Isso tem sido considerado “prova incontestável da sobrevivência do espírito humano depois da morte” (contracapa). Muitos outros livros promovem a mesma ideia.

Todas as experiências de quase morte relatadas na literatura moderna são de pessoas consideradas clinicamente mortas, porém não mortas de fato, em contraste com Lázaro, que estava morto havia quatro dias e cujo cadáver estava apodrecendo (Jo 11:39). Os que ressuscitaram nos tempos bíblicos jamais mencionaram qualquer experiência de vida após a morte, seja no paraíso, no purgatório ou no inferno. Esse é um argumento do silêncio, mas está de pleno acordo com os ensinamentos bíblicos sobre o estado inconsciente dos mortos! (1Rs 17:22-24; 2Rs 4:34-37; Mc 5:41-43; Lc 7:14-17; Jo 11:40-44).

Mas e as experiências de quase morte? Se aceitarmos o ensino da inconsciência dos mortos (Jó 3:11-13; Sl 115:17; 146:4, Ec 9:10), restarão duas possibilidades principais: ou se trata de uma alucinação psicoquímica natural sob condições extremas, ou pode ser uma experiência enganosa sobrenatural satânica (2Co 11:14). O engano satânico poderia ser a explicação, porque, em alguns casos, as pessoas afirmam ter falado com parentes mortos! Contudo, pode ser uma combinação dos dois fatores.

Portanto, é crucial nos apegarmos à Bíblia, independentemente das experiências que contradizem a Palavra, sejam essas experiências nossas ou de outras pessoas.

Reencarnação
A noção pagã de uma alma imortal provê a base para a teoria não bíblica da reencarnação ou transmigração da alma. Essa teoria é adotada por algumas das principais religiões do mundo. Enquanto a maioria dos cristãos acredita na existência de uma alma imortal que fica em um Céu ou inferno permanente após a morte, aqueles que acreditam na reencarnação sustentam que essa alma imortal passa por muitos ciclos de morte e renascimento na Terra.

Para alguns, a reencarnação é considerada um processo de evolução espiritual que permite ao espírito atingir níveis cada vez mais elevados de conhecimento e moralidade em sua jornada para a perfeição. Os hindus acreditam que a alma eterna passe por uma progressão de consciência ou “samsara” em seis classes de vida: aquática, plantas, répteis e insetos, pássaros, animais e seres humanos, incluindo os residentes do Céu.

Se Jesus morreu apenas “uma vez” (Hb 9:28; 1Pe 3:18) e da mesma forma todos os seres humanos morrem apenas “uma vez” (Hb 9:27), por que até mesmo alguns supostos cristãos acreditam em alguma forma de reencarnação? Muitas pessoas acreditam não no que deveriam, mas no que querem acreditar. Se uma teoria lhes traz paz e conforto existencial, isso é suficiente para resolver a discussão. Mas, para aqueles que levam a Bíblia a sério, não há como aceitar a teoria da reencarnação.

Primeiro, essa teoria contradiz os ensinos bíblicos da mortalidade da “alma” e da ressurreição do corpo (1Ts 4:13-18). Segundo, ela rejeita a doutrina da salvação pela graça através da fé na obra redentiva de Jesus Cristo (Ef 2:8-10) e a substitui por obras humanas. Terceiro, a teoria contradiz o ensino bíblico de que o destino eterno é decidido para sempre pelas decisões da pessoa nesta vida (Mt 22:1-14; 25:31-46). Quarto, essa teoria minimiza o significado e a relevância da segunda vinda de Cristo (Jo 14:1-3). E, quinto, a teoria propõe oportunidades após a morte para alguém ainda superar as dificuldades espirituais de sua própria vida, o que não é bíblico (Hb 9:27).

Em suma, não há lugar para a ideia de reencarnação na fé cristã.

Necromancia e culto aos ancestrais
A palavra “necromancia” deriva dos termos gregos nekros (“morto”) e manteia (“adivinhação”). Praticada desde os tempos antigos, a necromancia é uma forma de convocar os supostos espíritos ativos dos mortos para obter conhecimento, muitas vezes sobre eventos futuros. O culto aos ancestrais, por sua vez, é o costume de venerar os ancestrais falecidos, visto que ainda são considerados familiares, e cujos espíritos podem, acredita-se, influenciar os assuntos dos vivos. Essas práticas pagãs podem ser muito atraentes para aqueles que acreditam em uma alma imortal e que também sentem falta de seus entes queridos falecidos.

A Bíblia afirma claramente que todos os espíritas, médiuns, feiticeiros e necromantes, na antiga teocracia israelita, eram abomináveis ao Senhor e deveriam ser mortos por apedrejamento (Lv 19:31; 20:6, 27; Dt 18:9-14). Saul havia destruído todos os médiuns e espíritas de Israel segundo essa lei (1Sm 28:3, 9).

Porém, depois de ter sido rejeitado por Deus, o próprio Saul foi à cidade cananeia de En-Dor para consultar uma médium (1Sm 28:6, 7, 15; compare com Js 17:11, Sl 83:10). Ele pediu a ela que trouxesse o falecido profeta Samuel, o qual supostamente tenha aparecido e falado com Saul. O espírito enganador, que fingiu ser Samuel, disse a Saul: “Amanhã, você e os seus filhos estarão comigo” (1Sm 28:13-19). Ao predizer a morte de Saul, o espírito enganador, assumindo a forma de Samuel, reafirmou a teoria da imortalidade da alma. Foi um engano poderoso, do qual Saul deveria estar ciente, em vez de se envolver com o que ele mesmo havia condenado antes.

Mais de dois séculos depois, o profeta Isaías escreveu: “Quando disserem a vocês: ‘Consultem os médiuns e os adivinhos, que sussurram e murmuram’, será que um povo não deveria consultar o seu Deus? A favor dos vivos se consultarão os mortos? À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, jamais verão a luz do alvorecer” (Is 8:19, 20; também Is 19:3).

Personificações e outras aparições
As personificações demoníacas dos mortos e outras aparições demoníacas são semelhantes à necromancia. As personificações podem ocorrer na forma de um familiar falecido, amigo ou pessoa. A aparência física e a voz são semelhantes às do falecido. Esses artifícios serão usados para enganar os que não estão fundamentados na Bíblia. Ellen G. White adverte: "Não é difícil para os anjos maus representar tanto os santos como os pecadores que morreram, e tornar essas representações visíveis aos olhos humanos. Essas manifestações serão mais frequentes e aparecerão desenvolvimentos de caráter mais sensacional à medida que nos aproximarmos do fim do tempo. É o mais fascinante e bem-sucedido engano de Satanás - com a intenção de atrair as simpatias daqueles que depositaram seus entes queridos na sepultura. Anjos maus vêm na forma desses entes queridos, relatam incidentes relacionados com sua vida e efetuam atos que eles realizaram enquanto viviam. Desse modo, levam as pessoas a crer que seus amigos falecidos são anjos que pairam sobre essas pessoas e se comunicam com elas. Esses anjos maus, que aparentam ser os amigos falecidos, são encarados com certa idolatria e, para muitos, suas palavras têm mais valor do que a Palavra de Deus" (Eventos Finais, p. 161).

E quais devem ser nossas salvaguardas contra tais enganos demoníacos? O apóstolo Paulo nos adverte que “a nossa luta não é contra o sangue e a carne, mas contra os principados e as potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestiais” (Ef 6:12). Só podemos ser protegidos contra esses enganos estando vestidos com “toda a armadura de Deus” descrita em Efésios 6:13-18.

As personificações e aparições satânicas podem ser assustadoras e enganadoras, mas não podem enganar os que são protegidos por Deus e estão fundamentados na Sua Palavra. Do ponto de vista doutrinário, os que acreditam na doutrina bíblica da imortalidade condicional do ser humano sabem que qualquer aparição ou comunicação com os mortos é de origem satânica e precisa ser rejeitada pela graça de Deus. Não importa quão poderosa, convincente e aparentemente real seja a manifestação, devemos permanecer firmes no ensino de que os mortos estão dormindo na sepultura.

Imagine, porém, perder um ente querido e depois crer que ele apareceu para você. E se ele lhe expressar amor, dizer o quanto sente sua falta e falar coisas que só ele saberia? E se ele disser que agora está em um lugar melhor? Se uma pessoa não está fundamentada no que a Bíblia ensina sobre o estado dos mortos, imagine com que facilidade ela poderá cair nesse engano. Especialmente porque querem acreditar nisso.

Conclusão
Misticismo, relatos de experiências de quase morte, crença na reencarnação, necromancia, culto aos ancestrais e espiritismo contribuem para a normalização de tais coisas em nossa sociedade e para a confusão a respeito da vida após a morte. Mas Deus leva muito a sério qualquer coisa que tenha a ver com o espiritismo, e a Bíblia nos adverte em linguagem extremamente forte contra essas práticas, pois são um engano de Satanás. 

O livro do Apocalipse acrescenta às admoestações encontradas anteriormente que, no tempo do fim, a obra enganosa de Satanás só aumentará (ver em especial Ap 9:5, 6, 10, 11, 19; 12:9; 16:13, 14). Portanto, ter armas contra esse engano é extremamente importante. Devemos estar fundamentados na Palavra de Deus e cheios do Espírito Santo para nos apegarmos à verdade e não cairmos nos esquemas de Satanás. Ellen G. White conclui: "Todos aqueles que não viverem de acordo com a fé estabelecida na Palavra de Deus, serão enganados e vencidos. Satanás atua com “todas as formas de engano da injustiça” (2 Tessalonicenses 2:10), e seus enganos aumentarão. Mas aqueles que desejam conhecer a verdade e se tornar puros através da obediência, encontrarão um refúgio seguro no Deus da verdade" (A Grande Esperança, p. 50).

segunda-feira, 22 de maio de 2023

RACISMO

Aconteceu de novo... O Campeonato Espanhol viveu mais um episódio lamentável neste domingo, 21, na partida entre Real Madrid e Valência, no Mestalla. A partida foi interrompida no segundo tempo após Vinicius Jr ser vítima (outra vez) de racismo. Parte da torcida adversária chamou o brasileiro de “macaco” e o atacante denunciou o caso para a arbitragem. Após confusão dentro de campo, Vini Jr ainda foi expulso.

Após todo o episódio, com a cabeça fria, Vinicius Jr se manifestou nas redes sociais e reafirmou o caso de racismo. O brasileiro destacou que “não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira” e criticou de maneira enfática os organizadores da competição: “O racismo é o normal na LaLiga. A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas”.

O atacante do Real Madrid concluiu lamentando a situação e deixando em aberto a possibilidade de deixar a Espanha por conta dos episódios: “Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas. E, infelizmente, por tudo o que acontece a cada semana, não tenho como defender. Eu concordo. Mas eu sou forte e vou até o fim contra os racistas". Mais de 10 casos de racismo contra Vinicius Jr foram registrados desde que o brasileiro virou titular do Real Madrid. (Placar)

Um dos males mais odiosos dos nossos dias é o racismo, a crença ou prática que vê ou trata certos grupos étnicos como inferiores e, portanto, objetos de dominação, discriminação e segregação. Embora o pecado do racismo seja um fenômeno antiquíssimo baseado na ignorância, no medo, na alienação e no falso orgulho, algumas das suas mais hediondas manifestações têm ocorrido em nosso tempo. O racismo e os preconceitos irracionais operam em um circulo vicioso.

O racismo está entre os piores dos arraigados preconceitos que caracterizam seres humanos pecaminosos. Suas consequências são geralmente devastadoras, porque o racismo facilmente torna-se permanentemente institucionalizado e legalizado. Em suas manifestações extremas, ele pode levar à perseguição sistemática e mesmo ao genocídio.

As Escrituras ensinam claramente que todas as pessoas foram criadas à imagem de Deus, que “de um só fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da Terra” (At 17:26). A discriminação racial é uma ofensa contra seres humanos iguais, que foram criados à imagem de Deus. Em Cristo, “não há judeu nem grego” (Gl 3:28). Portanto, o racismo é realmente uma heresia e em essência uma forma de idolatria, pois limita a paternidade de Deus, negando a irmandade de toda a espécie humana e exaltando a superioridade racial de alguém.

Em Cristo somos uma nova criação; distinções de raça, cultura e nacionalidade, e diferenças entre altos e baixos, ricos e pobres, homens e mulheres, não devem ser motivo de dissensões entre nós. Todos somos iguais em Cristo, o qual por um só Espírito nos uniu numa comunhão com Ele e uns com os outros; devemos servir e ser servidos sem parcialidade ou restrição. Qualquer outra abordagem destrói o âmago do evangelho cristão.

Apesar da rima, racismo é incompatível com cristianismo. Até por seu fundamento, o cristianismo não pode ser racista, porque Jesus não era racista (Jo 4:9; Lc 10:30-37). Ele destruiu o muro de divisão entre a humanidade (Ef 2:13-18) e com Seu sangue comprou para Deus pessoas de todas as tribos e nações (Ap 5:9). O racismo perpetua o DNA do pecado, a linguagem do ódio e a estrutura da morte.

Por tudo isso e muito mais, se a lei não obrigasse, se a origem comum não fosse suficiente, se o exemplo do Salvador não bastasse, se o amor não unisse, teologicamente não haveria desculpa, pois em Cristo somos um. Se você ainda tem racismo no olhar e nas palavras, coloque Jesus no coração, para que Ele o transforme, porque racismo, além de crime, é pecado. E o pecado destrói tudo que a humanidade tem de bom.

Ellen G. White diz: “Quando for derramado o Espírito Santo, haverá um triunfo da humanidade sobre o preconceito em buscar a salvação de todos os seres humanos. Deus dominará as mentes. Os corações humanos amarão como Cristo amou. E a barreira da cor será considerada por muitos de maneira bem diferente daquela em que é considerada agora. Amar como Cristo ama eleva a mente a uma atmosfera pura, celestial e altruísta. Quem se acha intimamente ligado a Cristo é elevado acima do preconceito de cor ou casta. Sua fé apodera-se das realidades eternas” (Testemunhos para a Igreja, vol. 9, p. 209).

Racismo: saiba como denunciar
Racismo é crime previsto pela Lei 7.716/89 e deve sempre ser denunciado, mas muitas vezes não sabemos o que fazer diante de uma situação como essa, nem como denunciar, e o caso acaba passando batido. No Brasil, há uma diferença quando o racismo é direcionado a uma pessoa e quando é contra um grupo. 

Para começar, é preciso entender que a legislação define como crime a discriminação pela raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, prevendo punição de 1 a 5 anos de prisão e multa aos infratores.

A denúncia pode ser feita tanto pela internet, quanto em delegacias comuns e nas que prestam serviços direcionados a crimes raciais, como as Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), que funcionam em São Paulo e no Rio de Janeiro. 

Para denunciar casos de racismo em páginas da internet ou em redes sociais, o usuário deve acessar o portal da Safernet e escolher o motivo da denúncia. Além disso, é necessário enviar o link do site em que o crime foi cometido e fazer um comentário sobre o pedido. Após esses passos, será gerado um número de protocolo, que o usuário deve usar para acompanhar o processo.

Se atente em unir provas! O primeiro passo é tirar prints da tela para que você possa comprovar o crime e ter como denunciar. Depois, denuncie o usuário pelo serviço de denúncias da rede social em que ocorreu o ato.

O Disque 100 é serviço do Governo Federal para receber denúncias de violações de direitos humanos. Desde 2015, o serviço conta com dois módulos novos: um que recebe denúncias de violações contra a juventude negra, mulher ou população negra em geral e outro específico para receber denúncias de violações contra comunidades quilombolas, de terreiros, ciganas e religiões de matriz africana. O serviço também aceita denúncias online de discriminação ocorrida em material escrito, imagens ou qualquer outro tipo de representação de idéias ou teorias racistas disseminadas pela internet.

A denúncia contra crime de racismo também pode ser feita em delegacias comuns e naquelas especializadas em crimes raciais e delitos de intolerância. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, as Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) cumprem essa função. Atualmente, o Decradi está vinculado ao Departamento Estadual de Homicídio e Proteção a Pessoa (DHPP), em São Paulo, e ao Departamento Geral de Polícia Especializada da Polícia Civil, além de estar inserida no programa Delegacia Legal, no Rio. Em outros estados, existem delegacias especializadas em crimes cometidos em meio eletrônico, que podem ser acionadas em situações de injúria racial virtual.

Posso processar o agressor? Sim! Tanto para racismo quanto para injúria racial, após o boletim de ocorrência, é possível ingressar com duas ações, sendo uma criminal e cível. O processo criminal é importante para dar força ao processo cível, que tem por objetivo conseguir uma indenização.

No caso do crime de racismo, o processo fica a cargo do Ministério Público e a indenização deve ser direcionada ao grupo atingido ou a uma entidade que represente esse grupo. Caso seja crime de injúria racial a indenização é para a vítima direta do crime.

sexta-feira, 19 de maio de 2023

OS ANIMAIS IRÃO PARA O CÉU?

A Bíblia não menciona a ressurreição dos animais. Podemos ler apenas citações sobre a ressurreição dos justos para a salvação e acerca da ressurreição dos maus para a perdição (João 5:28 e 29; Apocalipse 20:5 e 6, etc.). Conquanto as Escrituras não confirmem a existência de animais no Céu, afirmam que eles existirão na Nova Terra. Eis alguns textos sobre o assunto: 
"Lobos e ovelhas viverão em paz, leopardos e cabritinhos descansarão juntos. Bezerros e leões comerão uns com os outros, e crianças pequenas os guiarão. Vacas e ursas pastarão juntas, e os seus filhotes descansarão no mesmo lugar; os leões comerão capim como os bois. Criancinhas brincarão perto de cobras e não serão picadas, mesmo que enfiem a mão nas suas covas. Em Sião, o monte sagrado, não acontecerá nada de mau ou perigoso, pois a terra ficará cheia do conhecimento da glória do Senhor assim como as águas enchem o mar" (Isaías 11:6-9).
"'Pois eu estou criando um novo céu e uma nova terra; o passado será esquecido, e ninguém lembrará mais dele. (...) Os lobos e os carneirinhos pastarão juntos, os leões comerão palha como os bois, e as cobras não atacarão mais ninguém. E no meu monte santo não acontecerá nada que seja mau ou perigoso.' O Senhor falou" (Isaías 65:17 e 25).
Ellen G. White nos descreve assim sua visão da cidade celestial: "Vi outro campo repleto de todas as espécies de flores; e, quando as apanhei, exclamei: 'Elas nunca murcharão.' Em seguida vi um campo de relva alta, cujo belíssimo aspecto causava admiração; era uma vegetação viva, e tinha reflexos de prata e ouro quando magnificamente se agitava para glória do Rei Jesus. Entramos, então, num campo cheio de todas as espécies de animais: o leão, o cordeiro, o leopardo, o lobo, todos juntos em perfeita união. Passamos pelo meio deles, e pacificamente nos acompanharam" (Eventos Finais, p. 288). "Ali o homem será restaurado à sua perdida realeza, e a ordem inferior de seres de novo reconhecerá o seu domínio; os animais ferozes tornar-se-ão mansos e os ariscos, confiantes" (Visões do Céu, p. 149).

Não temos como explicar plenamente como Deus trará os animais à existência na Nova Terra. O que encontramos na Bíblia é um Deus amoroso, que se preocupa com todos os animaizinhos, por menores que sejam. Veja:
“Lembrou-se Deus (aqui o termo indica o interesse de Deus e Sua graça em favor de alguém) de Noé e de todos os animais selváticos e de todos os animais domésticos que com ele estavam na arca” (Gênesis 8:1). Ao orientar Noé a sair da arca, além de abençoar a raça humana o Senhor abençoou também os animais (Gênesis 8:15-17).

“Se encontrares desgarrado o boi do teu inimigo ou o seu jumento, lho conduzirás. Se vires prostrado debaixo da sua cerca o jumento daquele que te aborrece, não o abandonarás, mas ajudá-lo-ás a erguê-lo” (Êxodo 23:4 e 5).

“Seis anos semearás a tua terra e recolherás os seus frutos; porém, no sétimo ano, a deixarás descansar e não a cultivarás, para que os pobres do teu povo achem o que comer, e do sobejo comam os animais do campo" (Êxodo 23:11).

“Seis dias farás a tua obra, mas, ao sétimo dia, descansarás; para que descanse o teu boi e o teu jumento” (Êxodo 23:12). Mesmo os animais devem ter o direito ao repouso sabático! (Conferir Êxodo 20:8-11).

“Quando nascer o boi, ou cordeiro, ou cabra, sete dias estará com a mãe; do oitavo dia em diante, será aceito por oferta" (Levítico 22:27). Aqui vemos que um animal recém nascido não era aceito como oferta. Deus queria que ele ficasse com a mãe. (Ver também Êxodo 22:30).

“Se de caminho encontrares algum ninho de ave, nalguma árvore ou no chão, com passarinhos, ou ovos, e a mãe sobre os passarinhos ou sobre os ovos, não tomarás a mãe com os filhotes" (Deuteronômio 22:6). (Conferir também o verso 7, que mostra a preocupação de Deus com a preservação das espécies).

“Não atarás a boca ao boi quando debulha” (Deuteronômio 25:4). Deus não queria que o boi fosse maltratado. Ao debulhar espigas na frente dele, com certeza iria salivar de tanta vontade de comer.

“Os leõezinhos rugem pela presa e buscam de Deus o sustento” (Salmo 104:21).

“Tornou o Senhor: tens compaixão da planta que te não custou trabalho, a qual não fizeste crescer, que numa noite nasceu e numa noite pereceu; e não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que há mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem discernir entre a mão direita e a mão esquerda, e também muitos animais?” (Jonas 4:10 e 11).

“Não se vendem cinco pardais por dois asses? Entretanto, nenhum deles está em esquecimento diante de Deus” (Lucas 12:6).

“Observai os corvos, os quais não semeiam, nem ceifam, não têm despensa nem celeiros; todavia, Deus os sustenta" (Lucas 12:24).
Além disso, a Bíblia diz que os filhos de Deus têm responsabilidades para com os animais: 
“O justo atenta para a vida dos seus animais, mas o coração dos perversos é cruel” (Provérbios 12:10). 
Ellen G. White assim se expressou a respeito: “É por causa do pecado do homem que 'toda a criação geme e está juntamente com dores de parto' (Rm 8:22). O sofrimento e a morte foram assim impostos não somente ao gênero humano, mas aos animais. Certamente, pois, ao homem toca procurar aliviar o peso do sofrimento que sua transgressão acarretou sobre as criaturas de Deus, em vez de aumentá-lo. Aquele que maltrata os animais porque os tem em seu poder, é tão covarde quanto tirano. A disposição para causar dor, quer seja ao nosso semelhante quer aos seres irracionais, é satânica. Muitos não compreendem que sua crueldade haja de ser conhecida, porque os pobres animais mudos não a podem revelar. Mas, se os olhos desses homens pudessem abrir-se como os de Balaão, veriam um anjo de Deus, em pé, como testemunha, para atestar contra eles no tribunal celestial. Um relatório sobe ao Céu, e aproxima-se o dia em que se pronunciará juízo contra os que maltratam as criaturas de Deus” (Patriarcas e Profetas, p. 443).

Noutro pensamento surpreendente, Ellen G. White diz: “A inteligência apresentada por muitos mudos animais chega tão perto da inteligência humana, que é um mistério. Os animais vêem e ouvem, amam, temem e sofrem. Eles se servem de seus órgãos muito mais fielmente do que muitos seres humanos dos seus. Manifestam simpatia e ternura para com seus companheiros de sofrimento. Muitos animais mostram pelos que deles cuidam uma afeição muito superior à que é manifestada por alguns membros da raça humana. Criam para com o homem apegos que se não rompem à custa de grandes sofrimentos de sua parte” (A Ciência do Bom Viver, pp. 315 e 316).

A Palavra de Deus também afirma que um dia o Criador virá a este mundo para dar o castigo àqueles que destroem a natureza (plantas, animais, rios, etc.): 
“Na verdade, as nações se enfureceram; chegou, porém, a tua ira, e o tempo determinado para serem julgados os mortos, para se dar o galardão aos teus servos, os profetas, aos santos e aos que temem o teu nome, assim aos pequenos como aos grandes, e para destruíres os que destroem a terra” (Apocalipse 11:18).
Todos esses versos (entre outros) são bem claros: Deus ama muito os animais e se preocupa com o bem estar de cada um deles. Isso indica que o Criador tem bons planos para tais criaturinhas. Não há como ter dúvidas.

Não podemos afirmar com base na Bíblia que teremos o mesmo animalzinho de estimação na Nova Terra e muito menos que não o teremos! Os textos que lemos devem nos confortar com a certeza de que Deus fará aquilo que for melhor para a nossa felicidade. Com toda a certeza, nosso Criador tem poder para recriar o mesmo animalzinho de estimação que um dia perdemos.

No mundo restaurado, teremos muitas surpresas; por que nos admirarmos de que o Senhor possa querer alegrar Seus filhos com os animais domésticos que tanto lhes fizeram bem? Gosto muito de ver a Deus como um pai que se alegra em dar ao seu filho um presente que ele menos espera.

Confie no amor de Deus e descanse em Suas promessas. O que Ele fez na cruz do calvário (João 3:16; Romanos 5:6-8) é suficiente para nos provar que o Seu amor por todas as Suas criaturas é infinito.

quinta-feira, 18 de maio de 2023

A VERDADEIRA BELEZA

A beleza física é o atributo pessoal mais altamente valorizado em nossa e em outras culturas. E este fator acompanha o ser humano do nascimento à morte. Por essa razão, muitas mães ficam um tanto deprimidas, na maternidade, ao verem o filho recém-nascido. Elas esperavam dar à luz um verdadeiro “bebê Johnson”, com cabelos loiros, encaracolados, grandes olhos azuis, faces rechonchudas e coradas, e sorridente, mostrando já quatro dentinhos.

Em vez disso, trouxeram-lhes um pedaço de gente todo avermelhado, desdentado, careca, e berrando a plenos pulmões. A aparência é, em geral, decepcionante nos recém-nascidos. Moisés, entretanto, parece ter sido uma exceção à regra, pois a Bíblia declara três vezes que ele era um bebê formoso: “E a mulher concebeu e deu à luz um filho; e, vendo que era formoso, escondeu-o por três meses” (Êx 2:2; ver também At 7:20; Hb 11:23).

É claro que sua mãe, Joquebede, o teria amado fosse qual fosse sua condição, pois as mães, com frequência, devotam seu mais profundo amor a crianças fracas e doentias. Mas ela sentiu que as qualidades observadas no seu bebê eram um sinal de que Deus lhe estava reservando uma tarefa especial no futuro, e por isso decidiu salvá-lo, com risco da própria vida.

Em muitos casos, porém, quando a beleza física não esteve associada à beleza de caráter e à fé em Deus, ela contribuiu para a ruína de heróis da Bíblia, como aconteceu com Sansão. A beleza de Dalila, “que agradava aos seus olhos”, custou-lhe, literalmente, “os olhos da cara”. Davi, atraído pela beleza proibida da mulher de Urias, foi levado a cometer adultério e homicídio. Quando os filhos de Sete se uniram às filhas de Caim, atraídos unicamente por um rosto bonito e um corpo esbelto, o mundo antediluviano descambou para a corrupção generalizada que resultou no dilúvio.

Podemos também aprender com a história de Salomão. Conta Ellen G. White: "Absorveu-se tanto com a ostentação exterior, que se esqueceu de elevar a mente pela constante ligação com o Deus da sabedoria. A perfeição e a beleza de caráter foram passadas por alto em sua tentativa de alcançar a beleza exterior. Vendeu a honra e a integridade do caráter na busca de glorificação própria diante do mundo (...) Primeiro, corrompeu-se no coração, depois se afastou de Deus e se tornou por fim adorador de ídolos" (Testemunhos para a Igreja, v. 4, p. 628).

Voltando para os nossos dias, é impressionante o quanto ainda somos vulneráveis às aparências. Olhamos o frasco e pouco nos importamos com aquilo que ele contém. O mundo é pautado naquilo que ostenta; belos sorrisos, corpos esculpidos, cabelos sedosos, peles impecáveis, rugas subtraídas em caríssimos procedimentos dermatológicos. Vemos o que nos é mostrado e perseguimos uma beleza externa como se ela fosse a garantia de uma vida mais feliz. Quanto engano!

Muitas vezes, seduzidos por belíssimos invólucros, somos atraídos para gente que exala veneno internamente. Gente vazia que se vale de uma casca perfeita para enganar e atrair. E como somos tolos o suficiente para nos deixar enganar, vamos nos afastando daquilo que deveria ser uma prioridade: o que nos vai por dentro.

Como diz Ellen G. White, a verdadeira beleza está no caráter: “É justo amar e desejar a beleza; Deus, porém, deseja que amemos e procuremos primeiro a mais alta beleza – aquela que é imperecível. As mais seletas produções da perícia humana não possuem beleza que se possa comparar com a beleza do caráter, que à Sua vista é de grande preço” (Educação, pp. 248, 249). Enquanto o padrão de beleza muda a cada ano, o valor do caráter nunca sai de moda.

Também não há problema nenhum em se achar bonito ou bonita, mas cuidado pra não fazer disso sua razão de viver. Ellen White alerta: "Dói-me o coração ao ser-me mostrado quantos há que fazem do próprio eu seu ídolo. Cristo pagou o preço da redenção por elas. A Ele pertence o serviço de todas as suas faculdades. Seu coração, porém, está cheio de amor-próprio, e do desejo de se adornarem a si mesmas. Não refletem nas palavras: 'Se alguém quiser vir após Mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-Me' (Mc 8:34)" (Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 80).

Ellen White também faz uma séria advertência: "Irmãs, no dia em que forem ajustadas as contas de todos, experimentarão vocês alegria ao ser passada em revista sua vida, ou sentirão que a beleza do ser exterior é que foi buscada, enquanto a beleza interior ficou quase de todo negligenciada?" (Filhas de Deus, p. 121).

Há gente que parece certos livros: lindas capas e nenhum conteúdo. Mas também há aqueles cuja aparência simples e supostamente inadequada esconde verdadeiros tesouros. Diz a Palavra de Deus: "A beleza de você deve estar no coração, pois ela não se perde; ela é a beleza de um espírito calmo e delicado, que tem muito valor para Deus" (1Pe 3:4 NTLH). E Ellen White amplia este pensamento: "A beleza natural consiste da simetria ou da harmoniosa proporção das partes, de uma para com outra; mas a beleza espiritual consiste na harmonia ou semelhança de nossa alma com Jesus. Isso tornará seu possuidor mais precioso que o ouro fino, mesmo o ouro de Ofir. A graça de Cristo é, de fato, adorno de incalculável preço. Eleva e enobrece seu possuidor, reflete raios de glória sobre outros, atraindo-os também para a fonte de luz e bênçãos" (Orientação da Criança, p. 423).

Se você é bonito, não se orgulhe. Louve a Deus por isso, pois o mérito é dEle, não seu. Lúcifer orgulhou-se de sua formosura e caiu. Se não é bonito, lembre-se de que é dito que Cristo “não tinha aparência nem formosura; olhamo-Lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse” (Is 53:2). “Aos olhos do mundo, não possuía beleza para que O desejassem; e não obstante era o encarnado Deus, a luz do Céu na Terra” (O Desejado de Todas as Nações, p. 23).