sexta-feira, 29 de junho de 2018

Em que candidato Jesus votaria?

A eleição é em outubro (7) e o registro oficial dos candidatos é só em agosto. Mas a movimentação de políticos e partidos já é forte em torno de nomes para disputar a sucessão do presidente Michel Temer. Alguns políticos já formam uma lista de pré-candidatos declarados à Presidência da República. Além deles, há casos de políticos que se colocaram à disposição dos partidos, mas ainda não viraram pré-candidatos.

Em que candidato Jesus votaria? Se Ele é o modelo, Seu procedimento deve ser exemplo para tudo. E por que não para as preferências eleitorais?

Em 1896, o pastor norte-americano Charles M. Sheldon, da Igreja Congregacional, publicou o livro Em seus passos o que faria Jesus? Nele, Sheldon inventa a história de uma congregação cristã cujos membros procuram, durante um ano, viver o desafio de tomar cada atitude como resposta à pergunta que intitula o livro. Na história criada por Sheldon, os cristãos votam, nas eleições municipais, a favor de candidatos que estampam princípios cristãos e defendem valores morais, que, no contexto da época, abrangia a defesa da proibição do comércio de bebidas alcoólicas e dos jogos de azar.

Na obra, Sheldon tentou responder a uma pergunta difícil. Os personagens de seu livro presumiram os critérios que Jesus teria usado para definir seu voto. Essa é uma preocupação válida para o cristão. No entanto, Jesus Cristo viveu em um momento histórico em que o sistema democrático não existia na forma como o conhecemos hoje. Nascido no auge do Império Romano (Lc 2:1), Jesus viveu sua vida terrena sem ter que votar como nós. E, surpreendentemente, Ele foi mais indiferente à política de seus dias do que querem alguns.

No entanto, em um aspecto Cristo votou. Ele elegeu pessoas, não para cargos públicos, mas para o Reino dos Céus! Ele escolheu doze homens para serem seus apóstolos (Lc 6:13) e para que se assentassem em tronos a fim de serem juízes celestiais (Mt 19:28). Designou mais setenta para que fossem de dois em dois e o precedessem nas cidades aonde ia (Lc 10:1). Mas, acima de tudo, deu o voto que é suficiente para eleger qualquer pecador indigno à condição de herdeiro do Reino de Deus (Ap 21:7).

Jesus votaria em candidatos corruptos? É exigida honestidade e integridade perfeitas para se candidatar ao Reino de Deus (1Co 6:9, 10). No entanto, até mesmo o mais corrompido pecador pode ter a “ficha limpa”, se for lavado, santificado e justificado por Jesus e pelo Espírito Santo (1Co 6:11).

Foi assim que pelo menos dois funcionários públicos com histórico de corrupção, Levi Mateus (Mt 9:9) e Zaqueu (Lc 19:1-10), foram eleitos por Jesus para o Reino. Semelhantemente, Paulo, o “principal dos pecadores” (1Tm 1:15), um homem que esteve envolvido com a prática de tortura, além de prisões e execuções claramente injustas (At 8:3; 26:10, 11), foi “constituído ministro” das coisas que Deus lhe revelou (At 26:16).

Cristo não hesita em confiar os mais importantes cargos de Seu Reino a pessoas com um passado sujo. Pelo contrário, Ele expressou sua preferência por pecadores (Mc 2:17). Discursando aos pretensiosos fariseus, que se julgavam dignos de se assentarem nas mais importantes posições do governo de Deus (Mt 23:2), Jesus revelou que pessoas de moral duvidosa precederiam muito candidato honesto no Reino dos Céus (Mt 21:31).

Com seu voto, Jesus quer eleger pessoas que, apesar de seu passado, defeitos e falhas, aceitam ser transformadas por Deus. Ele disse: “Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça, a fim de que o Pai lhes conceda o que pedirem em meu nome” (Jo 15:16, NVI).

Quando Cristo regressar, os eleitos pelo voto de Cristo assumirão um cargo mais elevado que o dos anjos (1Co 6:3): eles se assentarão ao lado de Cristo, em seu próprio trono (Ap 3:21), e “reinarão” com Cristo (Ap 20: 6).

Em qual candidato Jesus vai votar nessas eleições? 

Ele talvez não tenha muito o que manifestar sobre a política deste mundo, mas para o Reino dos Céus Ele deseja eleger pecadores como você e eu.

Adaptado de texto de Fernando Dias (via Revista Adventista)

Assista também a esta análise feita pelo prof. Leandro Quadros sobre o cristão e a política:

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Torcer pelos outros: a melhor torcida

É muito bonito ver uma torcida bem organizada, vestindo a camisa de seu time, se alegrando com os melhores momentos e sofrendo junto nos piores.

Mas se a gente reparar bem, existe um tipo de torcida que pode ser traçado nesses moldes e que pode ser muito prazerosa, tal qual nos esportes. É o que podemos chamar de “torcer pelos outros”.

Você já reparou que esse tipo de torcida está cada vez mais escasso?

Parece-me que estamos assumindo uma rivalidade sem causa nem objetivo. Estamos competindo mais do que deveríamos, nos comparando mais do que precisamos fazer também. Em algumas vezes por coisas banais e com pouca relevância. Há quem queira aparecer com a melhor roupa num determinado evento, o melhor carro na família, o prato mais elaborado num almoço entre amigos, a linha do tempo mais chamativa nas redes sociais. E essa disputa, desnecessária e sem justificativas convincentes, faz com que torçamos menos pelo outro, pra que a o nível da competição seja menor.

Não é uma loucura perceber que temos adotado cada vez mais esse tipo de comportamento?

E quando se fica sabendo das novidades das outras pessoas, é cada vez menor o número de pessoas que torce a favor para que o que é bom dure bastante. Parece que, para a vida dos outros, não fazemos questão de nutrir esse desejo; podemos fazer isso inconscientemente, inclusive. Salvamos apenas algumas pessoas mais próximas, o restante dos conhecidos não nos vê com frequência em suas arquibancadas.

Não torcer pelo bem dos outros é um comportamento que precisa ser erradicado, porque é feio e mesquinho.

Não custa nada torcer para que os conhecidos façam uma boa viagem, para que o novo casamento seja duradouro, que o novo emprego seja promissor. Não custa nada curtir as fotos de um visual novo ou de uma viagem, e olhar a felicidade alheia com bons olhos.

Talvez seja a inveja, malvada como si só, a nos impedir; ou talvez seja a baixa autoestima, o motivo que explicará essa nossa falta de torcida. Ou talvez, não estejamos nos lembrando de que a vida é um espelho e reflete o nosso comportamento sobre nós mesmos.

Quem irá torcer pelo nosso bem, se não estiver sentindo emanar de nós, essa contrapartida? – Essa é a conclusão a que muitos estão precisando chegar.

A famosa empatia pode muito bem aplicada quando o assunto é torcer pelo bem das outras pessoas. Próximas ou não tão próximas, todas as pessoas merecem nossos melhores desejos e a nossa torcida. Além de nos sentirmos mais felizes e menos pressionados, teremos companhia sincera quando a alegria ou a tristeza entrarem em campo, na nossa vida.

Alessandra Piassarollo (via Conti Outra)
"Palavras bondosas, olhares de simpatia, expressões de apreciação, seriam para muitas almas lutadoras e solitárias como um copo de água fria a uma alma sedenta. Uma palavra compassiva, um ato de bondade, ergueriam fardos que pesam duramente sobre fatigados ombros. E toda palavra ou ato de abnegada bondade é uma expressão do amor de Cristo pela humanidade perdida." (Ellen. G. White - O Maior Discurso de Cristo, p. 23)

quarta-feira, 27 de junho de 2018

As oito idades – leia e entenda em que “idade” você se encontra

Erik Erikson foi um psicanalista norte-americano que elaborou a teoria do desenvolvimento da personalidade e teve ampla aceitação e divulgação. Embora inicialmente tenha se baseado nos conceitos de Freud, ele se distanciou dos mesmos ao perceber que a influência cultural tinha muito mais importância do que Freud havia mencionado.

Todos nós passamos por momentos de crise e estamos habituados a vê-los como algo negativo. No entanto, para Erik Erikson, as crises são processos que nos levam à evolução e à mudanças. São circunstâncias que nos permitem transcender, crescer e tornar-nos conscientes de nós mesmos.

Segundo Erik Erikson, o nosso caminho pela vida é composto por oito idades ou ciclos, e cada um deles é marcado por um conflito específico.
“Com vinte anos todos têm o rosto que Deus lhes deu; com quarenta o rosto que a vida lhe deu e com sessenta o rosto que merecem.” (Albert Schweitzer)
Estes ciclos indicam que os seres humanos estão constantemente adquirindo novos conhecimentos e evoluindo por toda a sua existência. Se não for assim, ocorrerão bloqueios em alguma fase do seu desenvolvimento. Algumas pessoas se negam a crescer, enquanto outras amadurecem mais cedo. Tudo isso vai depender, em grande parte, do contexto e do ambiente em que cada um vive.

As idades do homem a partir da perspectiva de Erikson
Os oito estágios do desenvolvimento humano, de acordo com Erikson, são as seguintes:

1- Confiança básica x Desconfiança básica – de 0 a 1 ano
O recém-nascido estabelece uma relação de dependência, especialmente com a sua mãe. Seus cuidados satisfazem plenamente as suas necessidades, garantem a aprendizagem e o desenvolvimento da sua confiança, se as suas necessidades básicas forem prontamente atendidas.

Conforme seus sentidos evoluem, o bebê reconhece o seu ambiente como familiar e sua primeira grande conquista será não sofrer de ansiedade na ausência da mãe e superar o medo de ser abandonado por ela. Caso contrário, crescerá cético e desconfiado.

2- Autonomia x vergonha e dúvida – de 01 a 03 anos
Durante esta fase, a criança adquire autonomia para se deslocar de um lugar para o outro. Gritar ou chorar é a linguagem que utiliza para obter o que deseja. Se o seu ambiente não corresponde às necessidades que experimenta, aparecem a dúvida sobre si mesmo e o medo de tomar iniciativa.

A vergonha na criança é manifestada como uma necessidade de não ser vista: esconde o rosto, o que resulta em ataques de raiva e choro, ou outras manifestações de excesso emocional. O controle dos pais deve ser firme e tranquilizador para desenvolver a sua autonomia.

3- Iniciativa x Culpa – de 03 a 06 anos
Se há alguma coisa que distingue a criança nessa fase é a iniciativa. Especialmente durante as brincadeiras, ela descobre o papel mais significativo para si e o representa. A criança precisa identificar e projetar o seu papel no mundo.

A rivalidade e os ciúmes também aparecem nessa fase. A criança quer ser tratada como alguém especial e rejeita qualquer deferência da mãe pelos irmãos ou outras pessoas. Se não receber um tratamento relativamente privilegiado, desenvolve a culpa e a ansiedade.

4- Habilidade x Inferioridade – dos 06 anos até a adolescência
Nessa fase a criança tem uma vida escolar. Independentemente de se sentir feliz ou insatisfeito, a criança começa a ganhar reconhecimento pelo que faz neste novo ambiente. É capaz de adquirir novos conhecimentos e habilidades para se tornar produtivo.

Nossa cultura já adquiriu altos níveis de especialização que tornam complexa e limitada a iniciativa individual. Nesta fase, se não houver reconhecimento suficiente, pode surgir uma sensação de inadequação que pode levar a um sentimento de inferioridade.

5- Identidade X Confusão de papéis – adolescência
Este período é caracterizado por duvidar de tudo o que se acreditava anteriormente. Duvidam dos conhecimentos, das habilidades e até das experiências. Tudo isso se deve às mudanças sofridas pelo corpo e as crises de personalidade que isso gera.

Os adolescentes se preocupam com a imagem que passam para os outros, estão em constante conflito entre o que foram até agora e o que serão no futuro. Estão confusos quanto a sua identidade, são idealistas e muito influenciáveis. Se atravessarem essa fase com tranquilidade, conseguirão construir uma sólida identidade. Do contrário, estarão sempre fingindo ser o que não são.

6- Intimidade x Isolamento - jovem adulto
Este é o momento em que o jovem adulto é capaz de assumir compromissos sentimentais, profissionais, políticos, sacrificando algo em troca. Se, por medo, esse jovem adulto não conseguir estabelecer essas ligações com o mundo, o perigo é o isolamento.

É uma fase de decisões e desafios para ganhar estabilidade, onde as concepções de trabalho, amizade e família são fortalecidas. Basicamente, é nesta fase que damos um passo definitivo para a vida adulta. É o início da maturidade, aproximadamente o período de namoro e começo da vida familiar.

7- Generatividade x Absorção em si mesmo - idade madura
Erikson se refere a generatividade como o desejo na idade madura de ser produtivo, de orientar as novas gerações. Quando isso não ocorre, começa um processo de estagnação pessoal ligada ao sentimento de não transcender, não ter qualquer interferência sobre o futuro: um sentimento de impotência.

Somente as pessoas que enfrentaram as vitórias e as derrotas, que criaram e colocaram em prática novas ideias, amadureceram gradualmente e alcançaram a plenitude.

8- Integridade x Desespero - a última idade
A última idade da vida pode ser uma etapa serena ou cheia de ansiedade. Tudo depende de como foram vividas as idades anteriores. Uma pessoa idosa deve ser capaz de fazer uma avaliação sensata da sua época e da sua vida, onde prevaleça o reconhecimento da realidade e compreensão do mundo em que vive.

Haverá integridade nesta fase se conseguirmos combinar a reflexão com a experiência. Nos casos em que existem conflitos não resolvidos ou etapas que não foram superadas, normalmente aparece um profundo medo das doenças, do sofrimento e da morte.

"Nossa vida pode ser perfeita em cada fase de desenvolvimento; contudo haverá progresso contínuo, se o propósito de Deus se cumprir em nós." (Ellen G. White - Parábolas de Jesus, p. 65)

Aos filhos da pátria

Toda Copa do Mundo acontece esse fenômeno engraçado: nos tornamos patriotas. As ruas, as vitrines das lojas, os espaços públicos, tudo se enche de verde e amarelo. O fenômeno é curioso porque isolado nesse mês e meio a cada 4 anos. No geral, a autoimagem do brasileiro é dúbia: sente orgulho e vergonha ao mesmo tempo; autoelogia sua criatividade, sua simpatia, suas belezas naturais e sua capacidade de trabalho, mas deplora sua malemolência, sua falta de seriedade, suas instituições que não funcionam, sua corrupção e sua leniência.

Antes de mais nada, importante salientar que não vejo problema algum em engrossar as fileiras da “corrente pra frente” e torcer para que esse nosso time traga o caneco pela sexta vez. Diferentemente do que pensam alguns líderes religiosos, não vejo nessa catarse coletiva em torno de um torneio esportivo nada que seja incompatível com a boa fé cristã. Ao contrário, aliás: é saudável tomar parte em fenômenos festivos culturais como este. Nossa religião é muito mais uma festa constante do que um grande funeral, afinal de contas, nosso Salvador está vivo e a ponto de voltar para nos buscar. A questão aqui não é, portanto, torcer ou não torcer, mas refletir se nosso patriotismo sazonal é algo a ser deplorado ou não.

Eu admito que não saberia dizer se nossa falta de patriotismo fora da época de Copa do Mundo é positiva ou negativa. O patriotismo, a rigor um sentimento nobre e positivo, se analisado friamente é algo excludente. Amamos nossa pátria contra todas as outras. A defendemos em confronto com as demais todas. Nós a queremos no ápice, claro, mas isso implica em que as outras nações estejam em posição de inferioridade em relação a ela. Enfim, o patriotismo tem tudo a ver com a natureza humana, mas é avesso ao sentimento de Jesus Cristo, que nos ensinou humildade e a querer o sucesso do outro. Ou, como preconiza Paulo, “amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros” (Romanos 12:10).

Existe um único patriotismo que estaria completamente coadunado com o sentimento que Jesus Cristo nos recomenda: o patriotismo dos pertencentes à pátria dEle. Essa não é excludente, porque nela há espaço para todos e estão todos convidados a respirarem sua atmosfera já agora, a se deixar pautar por seus valores e pela sua ética. 
“Mas a nossa pátria está nos céus, donde também aguardamos um Salvador, o Senhor Jesus Cristo.” (Filipenses 3:20)
Até que ela chegue, um bom jogo para todos nós! 

Marco Aurélio Brasil (via Nova Semente)

terça-feira, 26 de junho de 2018

A mulher rixosa

A Bíblia fala sobre um tipo específico de mulher, que merece nossa atenção: a mulher rixosa. Como essa não é uma palavra muito comum, temos de entender exatamente o que significa. Segundo o dicionário, “rixosa” é uma pessoa “que promove contenda”. Ou seja, uma mulher briguenta, que causa discórdia ou desavença, que com enorme frequência está de mau humor. Ela é irritadiça, explode por qualquer coisa, descarrega suas tensões e frustrações em cima dos outros, ira-se num piscar de olhos, tem sempre uma boa desculpa para despejar sua cabeça quente e falta de mansidão sobre os demais – eles que aguentem. Ela tem prazer em comprar briga. E, por tudo isso, é intragável. Bem… por que tratar especificamente desse tipo de mulher? Pois, acredite, é um dos tipos sobre os quais a Bíblia mais fala – certamente, não à toa.

Vejamos algumas verdades que as Escrituras expõem sobre a mulher que promove contendas: 
“Melhor é morar no canto do eirado do que junto com a mulher rixosa na mesma casa.”
Essa mesma afirmação é tão séria que ocorre em duas passagens: Provérbios 21:9 e 25:24. O que esse versículo está dizendo é que a mulher rixosa é alguém tão insuportável que ninguém consegue conviver debaixo do mesmo teto com ela. Quando chega da rua, em vez de trazer alegria para o lar traz uma nuvem negra sobre a cabeça e contamina todos ao redor com seu mau humor crônico. É aquela que, quando você dá “bom dia” parece que ela responde “o que há de bom nele?!”. A mulher rixosa afasta os outros de si. Ela destrói seu casamento, leva os filhos à ira e sabota a harmonia do lar. Dificilmente ela cede e nunca admite que está errada. A culpa de tudo é sempre do outro – que, por isso, precisa ouvir umas boas verdades. Desculpar-se? Jamais, pois acredita que pedir perdão é diminuir-se em vez de engrandecer-se. Em suma, a mulher rixosa faz você querer estar em qualquer lugar do mundo, menos perto dela. A Bíblia avança na descrição desse tipo de mulher: 
“Melhor é morar numa terra deserta do que com a mulher rixosa e iracunda.” (Pv 21:19)
Essa afirmação parece semelhante à anterior, elevada ao quadrado. Uma terra deserta não tem água, é um lugar onde você morre de sede. A comida é escassa, restrita a animais rastejantes e peçonhentos. De dia, o calor é abrasador, queima a alma, tira o ânimo, mata por desidratação. As noites são gélidas e congelam quem anda por ali. Uma terra deserta tem tempestades de areia que tornam a vida de quem está na região um inferno, pois açoitam sua pele, enchem seus orifícios de sedimentos, impedem a visão, tornam a caminhada impossível. O deserto é o último lugar do mundo em que você quer morar, porque a qualidade de vida ali é a pior que há. No entanto, a Bíblia diz que é melhor morar nesse local insuportável do que com uma mulher iracunda e rixosa. É… a coisa é grave. Mas não para por aí. A sabedoria bíblica afirma: 
“O gotejar contínuo no dia de grande chuva e a mulher rixosa são semelhantes.” (Pv 27:15)
Os antigos chineses tinham um método conhecido de tortura, simples e eficaz. Quando capturavam um inimigo, o amarravam de modo que ficasse imóvel. Em seguida, punham uma fonte qualquer de água sobre a cabeça daquele pobre coitado, para que um gotejar contínuo caísse sobre o mesmo ponto de sua cabeça. Uma gota. Duas gotas. Três. Quatro. Vinte. Cem. Mil. Dez mil. E por aí vai. Não parece grande coisa, mas os relatos históricos revelam que essa simples forma de tortura, após dias seguidos de pingos intermináveis, era capaz de levar os torturados simplesmente à loucura. Isso mesmo. Guerreiros fortes e bem treinados, com resistência a grandes dores e sofrimentos, eram quebrados e enlouqueciam devido a um gotejar contínuo. E é a isso que o texto bíblico compara a mulher que vive em contendas. Em outras palavras: a mulher rixosa é capaz de te levar à loucura. Ela tira qualquer um do sério e a convivência com ela torna-se uma tortura insuportável.

A mulher rixosa age, portanto, de modo errado, indigno e vergonhoso. Muitas vezes vemos homens casados definharem depois de conviver por anos com esposas do tipo. Eles perdem o viço, o vigor, a alegria e, muitas vezes, a saúde. É fácil entender a razão: 
“A mulher virtuosa é a coroa do seu marido, mas a que procede vergonhosamente é como podridão nos seus ossos.” (Pv 12:4) 
Pela medicina, apodrecimento ósseo ocorre em algumas poucas circunstâncias. Uma é uma condição chamada osteonecrose, uma consequência da má circulação sanguínea dentro do osso, que causa a morte de células e tem como resultado o apodrecimento do osso e, consequentemente, fraturas e dor no local. A única solução para a osteonecrose é remover o osso e substituí-lo por uma prótese. A outra situação que faz o osso apodrecer? A morte. Deu para entender a que a Bíblia compara esse tipo de mulher?

A mulher rixosa vive de modo oposto ao que o evangelho propõe. Ela precisa urgentemente de uma mudança de vida. Não acredito que uma mulher rixosa tenha intimidade com Deus. Simplesmente porque a natureza de um cristão autêntico exclui totalmente o prazer por promover a contenda. Paulo admoesta que devemos fazer tudo “sem murmurações nem contendas” (Fp 2.14), logo, viver estimulando a rixa contraria a vontade divina. 
“O ódio excita contendas, mas o amor cobre todas as transgressões." (Pv 10:12)
Vemos, então, que a rixa é fruto do ódio e, por sua vez, o ódio é contrário à natureza de Cristo, como deixam claro algumas passagens das Escrituras: 
“Aquele que diz estar na luz e odeia a seu irmão, até agora, está nas trevas.” (1Jo 2:9)
“Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino; ora, vós sabeis que todo assassino não tem a vida eterna permanente em si.” (1Jo 3:15) 
Por outro lado, o amor é a essência de Deus: 
“Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele.” (1Jo 4:16)
Uma mulher rixosa, ou seja, que promove contendas, faz exatamente o contrário do que a Bíblia estipula como o comportamento ideal de uma mulher de Deus. Paulo condena as contendas em passagens como 2 Timóteo 2:23, Romanos 13:13 e Tito 3:9. Em 1 Coríntios 3:3, o apóstolo de Cristo associa diretamente as rixas à carnalidade: 
“Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem?”
Isso é totalmente corroborado por Tiago, quando o irmão de Jesus diz: 
“De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne?” (Tg 4:1)
Mais claro, impossível: ser rixoso é ser carnal – logo, é viver distante de Deus.

Meu objetivo ao chamar sua atenção para a deformação espiritual que é ser uma mulher rixosa, é despertá-la para uma reflexão. Pense sobre a sua vida. Será que as pessoas vivem se afastando de você? Será que seu marido tem preferido ficar em qualquer outro lugar que não seja ao seu lado? Será que os irmãos fogem de sua companhia? Será que seus filhos evitam ficar muito tempo com você? Se a resposta a alguma dessas perguntas foi “sim”, não necessariamente significa que você é rixosa, pode haver outras explicações. Mas… pode ser que sim. Talvez as suas atitudes e o seu temperamento precisem ser reavaliados, o que é algo excelente: 
“Honroso é para o homem o desviar-se de contendas, mas todo insensato se mete em rixas.” (Pv 20:3)
A boa notícia é que isso tem jeito. Se você perceber que tem vivido a insensatez do mau humor constante, saiba que rabugice tem cura. Um espírito belicoso tem cura. Uma alma amarga tem cura. E a cura tem nome: Jesus de Nazaré.

Jesus é o Príncipe da Paz. Ele é o manso Cordeiro. Ele é o Senhor dos exércitos que foi humilhado sem revidar. 
“Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma.” (Mt 11:29)
Aproxime-se de Cristo. Procure crescer em intimidade com Ele. Busque-O na oração e no estudo de Sua Palavra. Viva uma vida com Deus. Negue-se a si mesmo e siga-O. Aprenda a pedir perdão, isso não diminui ninguém – muito pelo contrário. Reconheça seus erros, pois só almas grandiosas são capazes disso. Fale palavras de edificação e afirmação e não de diminuição e destruição. Aprenda a dar o braço a torcer. Ceda. Prefira os outros em honra. Sorria. Ame.

Se Cristo fizer morada no seu coração, os seus pensamentos se tornarão os pensamentos de Jesus, a sua mente será renovada e você se tornará uma mulher exemplar, como a de Provérbios 31:10-31: amada por todos, elogiada e que deixa um rastro de alegria e vida por onde passa.

Ah, sim: se você é um homem rixoso, não pense que está em melhor situação. Tudo o que leu neste post se aplica a você também.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,

Maurício Zágari (via Apenas)

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Sempre haverá pobres na terra

Deuteronômio 15:11 nos mostra uma profecia que diz: “Sempre haverá pobres na terra”. A pobreza provém de vários fatores, causando a longo prazo desigualdades sociais. É normal pensarem: “E se toda a riqueza dos homens mais ricos do mundo fossem divididas igualmente, viveríamos numa sociedade mais justa?” Ellen White enxergava a questão da pobreza e da desigualdade social para além do prisma econômico, observando que o próprio Deus possui propósitos diferentes para cada pessoa. 
"Não é plano de Deus que a pobreza desapareça do mundo. As classes sociais jamais deveriam ser igualadas; pois a diversidade de condições que caracteriza nossa raça é um dos meios pelos quais Deus tem pretendido provar e desenvolver o caráter. Muitos têm insistido com grande entusiasmo em que todos os homens devem ter parte igual nas bênçãos temporais de Deus; não era este, porém, o propósito do Criador. Cristo afirmou que sempre teremos conosco os pobres. Os pobres, bem como os ricos, são comprados por Seu sangue; e, entre os Seus professos seguidores, na maioria dos casos, os primeiros O servem com singeleza de propósito, enquanto os últimos estão constantemente colocando as suas afeições nos tesouros terrenos, e Cristo é esquecido. Os cuidados desta vida e a ambição das riquezas eclipsam a glória do mundo eterno. Seria a maior desgraça que já sobreveio à humanidade se todos devessem ser colocados em posição de igualdade em posses terrenas." (Conselhos Sobre Saúde, p. 230)
Ellen White disse que o sofrimento e miséria não precisariam existir:
"Se os homens cumprissem o seu dever como fiéis mordomos dos bens de Deus, nenhum clamor haveria por pão, nenhum sofredor em penúria, nenhum desagasalhado em necessidade. É a infidelidade de homens que gera o estado de sofrimento em que está mergulhada a humanidade. Se aqueles a quem Deus fez mordomos tão somente utilizassem os bens do seu Senhor no propósito para que lhes foram entregues, este estado de sofrimento não existiria." (Review and Herald, 26 de junho de 1894)
"Muitos há que se queixam de Deus por estar o mundo tão cheio de necessitados e sofredores, mas Deus jamais desejou que existissem o sofrimento e miséria. Nunca foi de Sua vontade que uma pessoa tivesse abundância de luxos na vida enquanto os filhos de outros clamassem por pão. O Senhor é um Deus de benevolência." (Testimonies, vol. 6, p. 273)
"A razão por que Deus tem permitido que alguns membros da família humana sejam tão ricos e outros tão pobres será sempre um mistério para os homens até a eternidade, a menos que entrem em correta relação com Deus e ponham em prática o Seu plano em vez de agirem com base em suas próprias idéias egoístas." (Testemunhos para Ministros, p. 280)
Ellen White também disse que devemos praticar o amor e a misericórdia:
"Na providência de Deus os acontecimentos têm sido ordenados de maneira que sempre tenhamos os pobres conosco, a fim de que sejam no coração humano um constante exercício dos atributos do amor e da misericórdia. O homem deve cultivar a bondade e compaixão de Cristo; não deve distanciar-se dos tristes, dos aflitos, dos necessitados e angustiados." (Signs of the Times, 13 de junho de 1892)
"A obra de recolher o necessitado, o oprimido, o aflito, o que sofreu perdas, é justamente a obra que toda igreja que crê na verdade para este tempo devia de há muito estar realizando. Cumpre-nos mostrar a terna simpatia do samaritano em acudir às necessidades físicas, alimentar o faminto, trazer para casa os pobres desterrados, buscando de Deus todo dia a graça e a força que nos habilitem a chegar às profundezas da miséria humana, e ajudar aqueles que absolutamente não se podem ajudar a si mesmos. Isto fazendo, temos favorável ensejo de apresentar a Cristo, o Crucificado." (Beneficência Social, p. 74)

A Bíblia é machista? Deus é machista?

Logo de início, devemos entender que machismo é a situação pela qual se privilegia o homem nas circunstâncias em que homens e mulheres têm direitos iguais. E isso não acontecia nos tempos em que a Bíblia foi redigida. Como sabemos, os livros da Bíblia foram escritos no contexto em que a mulher não tinha todos os direitos do homem. 

As passagens bíblicas que parecem diminuir a figura feminina devem ser entendidas à luz desse contexto. Analisemos alguns textos que parecem diminuir a mulher ou mostrá-la de maneira desfavorável: 

1. “O teu desejo será para o teu marido, e ele te governará” (Gn 3:16). Essas palavras divinas foram proferidas após Adão e Eva haverem comido do fruto proibido. A mulher, em vez de ser uma “auxiliadora” para o marido (Gn 2:18), tornou-se sua tentadora (3:6) e, assim, foi posta sob seu domínio. Essa seria a única maneira de se ter relativa paz entre o casal, visto que, com a natureza pecaminosa e egoísta, o homem e a mulher poderiam se envolver em eterna luta por supremacia. A submissão da mulher ao marido poderia atenuar um pouco as situações de estresse que surgissem entre ambos. É de lamentar que os homens extrapolaram a sentença divina e, em muitas culturas, trataram a mulher como verdadeira escrava – algo totalmente contrário à vontade de Deus para a mulher. 

2. A purificação da mulher durante 40 dias pelo nascimento de um menino e 80 dias pelo nascimento de uma menina (Lv 12). Essa instrução divina parece incompreensível a nós hoje. Por qual razão os dias de purificação da mulher, após ter dado à luz uma menina, era o dobro do tempo de quando tinha um menino? Uma possível explicação poderia ser o entendimento de que a menina era uma mulher em potencial e haveria de menstruar. A perda de sangue era símbolo da perda de vida (Gn 9:5). Assim, a parturiente ficava 80 dias em situação de purificação por si e pela filha recém-nascida. 

3. O voto da mulher poderia ser desaprovado pelo pai ou marido (Nm 30). Esse capítulo mostra que, se o pai (no caso de filha solteira) ou o marido (no caso de mulher casada) se calava ao ouvir um voto feminino, este era válido. Se o desaprovava, então o voto se tornava inválido. Essa normatização pode ser entendida tendo-se em conta que, nos tempos bíblicos, a mulher estava sob o domínio de algum homem: do pai, enquanto solteira, ou do marido, quando se casava. Isso não é preconceito contra a mulher, mas apenas reflete o ambiente cultural no qual os livros da Bíblia foram escritos. 

4. As constantes advertências contra a “mulher adúltera” no livro de Provérbios (por exemplo, 6:20-35). Deve-se entender que as advertências contidas em Provérbios estão direcionadas a homens jovens (capítulos 1-10), homens adultos (capítulos 11-20) e a homens em posição de autoridade, como reis, príncipes, governadores e juízes (capítulos 21-31). Portanto, é compreensível que haja advertências a esses homens contra o mau uso do sexo, que deve ser praticado com responsabilidade e dentro do casamento. Se Salomão escrevesse hoje, certamente falaria às mulheres e as advertiria contra o “homem adúltero”. 

5. Entre mil homens encontrou-se alguém reto, mas não entre mil mulheres (Ec 7:27, 28). Talvez Salomão tivesse procurado encontrar mulheres retas entre as mil com as quais se casou – na maioria das vezes, devido a tratados políticos. Muitas dessas mulheres eram pagãs, ciumentas e briguentas. Assim, não é de admirar a avaliação negativa dele para com as mulheres. Com certeza, se tivesse buscado no lugar certo (em Israel e em famílias piedosas), teria encontrado mulheres retas e piedosas, como no caso da Sulamita, com a qual parece ter se casado por amor (Ct 6:8, 9). 

Se, devido ao pecado, a situação da mulher geralmente tem sido de desprezo, discriminação e agruras, em Cristo sua situação deve ir se assemelhando ao que era no Éden: a de uma companheira igual em valor pessoal ao marido (e as solteiras em relação aos pais, irmãos e outros parentes do sexo masculino), pois em Cristo todos somos um (Gl 3:28). O que parece ser machismo na Bíblia é perfeitamente explicado tendo-se em conta os costumes sociais da época em que os livros que a compõem foram escritos. Em resumo, pode-se dizer que Deus não é machista. Ele apenas adaptou Suas instruções à cultura dos tempos bíblicos. Se fizesse o contrário, não teria sido compreendido pelos leitores originais da Bíblia. 

Ozeas C. Moura (via Revista Adventista)

A jornalista, escritora, palestrante e youtuber Fabiana Bertotti também comenta sobre esse assunto no vídeo abaixo: 

sexta-feira, 22 de junho de 2018

A Grande Batalha do Armagedom

Muitas teorias especulativas têm sido propostas na tentativa de interpretar o Armagedom mencionado em Apocalipse 16:12-16. Hoje, uma das mais populares é a de que ele será uma guerra nuclear de grandes proporções. Como já ocorreram duas guerras mundiais, e o texto bíblico fala que nesse confronto estarão envolvidos os “reis do mundo inteiro” (verso 14), muitos imaginam que o Armagedom só poderá ser uma terceira guerra mundial. Por mais fascinante e lógica que essa ideia possa parecer, ela não passa de uma teoria especulativa, sem base bíblica.

Conflitos bélicos certamente continuarão existindo, e mesmo se intensificando, até o fim dos tempos (ver Mt 24:6-8). Mas o Armagedom é descrito no livro do Apocalipse como “a peleja do grande Dia do Deus todo-poderoso” (16:14), travada entre os poderes demoníacos da “besta” e dos “reis da terra, com os seus exércitos”, de um lado, e o “Rei dos reis e Senhor dos senhores” e “o seu exército”, do outro (19:16 e 19).

A natureza essencialmente espiritual desse conflito é confirmada pela participação nele tanto de Cristo, o “Rei dos reis e Senhor dos senhores” que monta o “cavalo branco” (Ap 19:11, 16, 20), quanto do “dragão”, que é Satanás, e de outros “espíritos de demônios” (Ap 16:13 e 14 e 12:9). Os dois grupos conflitantes serão definidos pelo seu relacionamento com os “mandamentos de Deus” e o “testemunho de Jesus” (Ap 12:17). De um lado, estarão “os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus”, e que, consequentemente, não adoram “a besta e a sua imagem”; e, do outro, estarão os que adoram “a besta e a sua imagem”, e que, por conseguinte, não “guardam os mandamentos de Deus” e que não “têm o testemunho de Jesus” (Ap 12:17, 14:912).

Longe de ser um mero conflito bélico-nuclear, o Armagedom será o confronto cósmico final entre as forças do bem e os poderes do mal, no qual será decidido, para sempre, quem é digno de adoração (comparar com 1Rs 18). Embora os ímpios se prepararão belicamente para a batalha (Ap 16:14; ver também 20:7-9), cremos que os justos jamais assumirão uma postura de combatência militar (ver Mt 5:38-48, Rm 12:17-21). Nesse conflito espiritual (ver Ef 6:10-18), Cristo e os Seus anjos pelejarão em favor dos justos, triunfando definitivamente sobre Satanás e suas hostes (Ap 20:1-21:8).
"Precisamos estudar o derramamento da sétima taça. Os poderes do mal não darão por encerrado o conflito sem uma peleja. Mas a Providência divina tem uma parte a desempenhar na batalha do Armagedom. Quando a Terra for iluminada com a glória do anjo de Apocalipse dezoito, os elementos religiosos, bons e maus, despertarão do sono, e os exércitos do Deus vivo tomarão o campo. 
Toda forma de mal há de lançar-se em intensa atividade. Anjos maus unem seus poderes com homens maus, e, como têm estado em constante conflito e obtido uma experiência nos melhores métodos de engano e combate, tendo-se fortalecido durante séculos, eles não capitularão na última grande contenda sem uma furiosa luta. O mundo inteiro estará de um lado ou do outro da questão. Será travada a batalha do Armagedom, e esse dia não deverá encontrar nenhum de nós adormecido. Devemos estar bem despertos, como as virgens prudentes, tendo azeite em nossas vasilhas e em nossas lâmpadas. 
O poder do Espírito Santo deve estar sobre nós, e o Capitão do exército do Senhor estará à frente dos anjos do Céu para dirigir a batalha. Ainda ocorrerão diante de nós solenes acontecimentos. Soará uma trombeta após a outra, será derramada uma taça após a outra sobre os habitantes da Terra. Cenas de estupendo interesse estão precisamente diante de nós. 
Quatro poderosos anjos seguram os poderes da Terra até que os servos de Deus sejam assinalados na fronte. As nações do mundo são ávidas de conflito; mas elas são detidas pelos anjos. Quando for removido esse poder repressor, haverá um tempo de aflição e angústia. Serão inventados mortíferos instrumentos de guerra. Navios, com sua carga viva, serão sepultados nas profundezas do mar. Todos os que não possuem o espírito da verdade unir-se-ão sob a liderança de agentes satânicos. Mas devem ser mantidos sob controle até chegar o tempo para a grande batalha do Armagedom."
(Meditação Matinal de Ellen G. White – Maranata, O Senhor Vem!, 1977, p. 255)
Alberto R. Timm (via Centro White)

O prof. Leandro Quadros comenta a lição desta semana:

quinta-feira, 21 de junho de 2018

O único método

O método de Cristo é o único que trará verdadeiro êxito em alcançar o povo. O Salvador misturava-Se com as pessoas como alguém que desejava o bem delas. Mostrava simpatia por elas, ministrava às suas necessidades e ganhava sua confiança. Então dizia: “Siga-Me”.

É necessário se aproximar das pessoas através do contato pessoal. Se fosse gasto menos tempo em pregar sermões, e mais tempo fosse dedicado ao serviço pessoal, maiores resultados seriam vistos.
 Os pobres devem ser auxiliados, os doentes cuidados, confortados os aflitos e os que sofreram perdas, os iletrados instruídos e os inexperientes orientados. Devemos chorar com os que choram e alegrar-nos com os que se alegram. Aliada ao poder da convicção, da oração e do amor de Deus, essa tarefa jamais ficará sem frutos. […]

Muitos não têm fé em Deus e perderam a confiança no ser humano. Mas apreciam os atos de simpatia e prestatividade. O coração dessas pessoas é tocado ao verem alguém, sem nenhum estímulo de recompensa, ir a sua casa, ministrando ao doente, alimentando o faminto, vestindo o nu, confortando o triste e amavelmente falando de Jesus, Aquele de cujo amor e misericórdia somos meros mensageiros. Então surge a gratidão. Acende-se a fé. Veem que Deus cuida deles e, finalmente, estão receptivos a ouvir a Palavra. 

Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007), p. 143, 145 (linguagem atualizada) - [via Missão Pós-Moderna]

quarta-feira, 20 de junho de 2018

O inverno do cristão

“Porque eis que passou o inverno, cessou a chuva e se foi; aparecem as flores na terra, chegou o tempo de cantarem as aves." (Cântico dos Cânticos 2:11, 12)
Penso que nosso prazer do tempo de estio é intensificado pela lembrança dos longos e frios meses de inverno; e por outro lado, a esperança do verão nos ajuda a suportar mais corajosamente o reino do inverno. Se permitíssemos que a mente demorasse na nudez e desolação com que o rei gelo nos circunda, poderíamos sentir realmente infelizes; mas, sendo mais sábios que isso, olhamos para o futuro, antecipando a próxima primavera que nos devolverá os pássaros, despertará as flores adormecidas, revestirá a terra com as verdejantes roupagens e encherá o ar de luz, fragrância e cânticos. A estada do cristão neste mundo pode-se com propriedade comparar a longo e frio inverno.

Aqui experimentamos provas, aflições e decepções, mas não devemos permitir que a mente aí repouse. Olhemos antes com esperança e fé o verão vindouro, quando havemos de ser acolhidos em nosso lar edênico, onde tudo é luz e alegria, onde tudo é paz e amor. Não houvessem nunca os cristãos experimentado as tempestades da aflição neste mundo, nunca seu coração se houvesse abatido ante a decepção ou oprimido ante o temor, mal saberia ele apreciar o Céu. Não fiquemos acabrunhados, se bem que muitas vezes fatigados, tristes, cheios de pesar; o inverno não há de perdurar para sempre. O estio da paz, da alegria e do prazer eterno está prestes a vir. Então Cristo habitará conosco e nos guiará às fontes de águas vivas, e enxugará toda lágrima de nossos olhos. 1

Não permitais que coisa alguma vos prenda agora a atenção, impedindo de fazerdes obra cabal para a eternidade. A vida futura deve ser assegurada. Ricas, plenas e gloriosas são as promessas. Não haverá ali ventos enregelantes, nem frios hibernais, mas perpétuo estio. Há luz para o intelecto, amor sincero, permanente. Haverá saúde e imortalidade; para cada faculdade, vigor. Ali ficarão para sempre excluídos toda dor e todo pesar. 2

A Terra é o lugar de preparação para o Céu. O tempo passado aqui é o inverno do cristão. Aqui os ventos gelados da aflição sopram sobre nós, e as ondas de angústias rolam contra nós. Mas no futuro próximo, quando Cristo vier, sofrimento e lamentação terão fim, para sempre. Então será o veraneio do cristão. Todas as provas terão findado e não haverá mais doença ou morte. 3

A tristeza vem e vai; é o quinhão do homem; não devemos procurar aumentá-la, mas antes falar naquilo que é brilhante e aprazível. Quando o inverno estende sobre a terra sua gélida coberta, não deixamos nossa alegria enregelar-se juntamente com as flores e regatos, lamentando continuamente por motivo dos dias sombrios, e dos ventos minuanos. Ao contrário, nossa imaginação antecipa o verão próximo, com seu calor, vida e beleza. Ao mesmo tempo desfrutamos toda a luz do Sol que nos chega, e encontramos bastante conforto, apesar do frio e da neve, enquanto esperamos que a natureza se revista das roupagens novas, brilhantes, portadoras de alegria. 4

Textos extraídos das seguintes obras de Ellen G. White:

1. Carta 13, 1875 / 2. Carta 4, 1885 / 3. Manuscrito 28, 1886 / 4. Nos Lugares Celestiais, p. 281

terça-feira, 19 de junho de 2018

A crise econômica adoece a saúde mental dos brasileiros

As recentes pesquisas têm indicado de que 7 de cada 10 brasileiros avaliam que a situação do país se deteriorou, ainda mais, com a crise. A saúde mental dos cidadãos está à mercê do “mau humor” da atual crise econômica, que gerou 12,7 milhões de desempregados, aumento da inflação, endividamento das famílias e das empresas.

A vida da maioria dos brasileiros está sendo afetada diretamente por essa desordem. Nesse cenário – a ansiedade e a angústia – tomaram proporções assustadores, que atingem a nossa dimensão corporal e psíquica, tendo como principais sintomas: cansaço mental e físico, aceleração cardíaca, transpiração, lapso de memória e bloqueio mental, que nos dificultam resolver os problemas básicos do cotidiano.

O consumo de drogas, de álcool e de outras substâncias químicas, inclusive a incidência de suicídios, são fenômenos que vem crescendo com o colapso econômico. Antes tínhamos a prevalência das neuroses, que cedeu espaço aos casos de transtornos de personalidade, já que a crise nos “rouba” a esperança de uma vida melhor.

A economia neoliberal, além de gerar a crise, criou uma concepção ilusória de que existem apenas dos tipos de indivíduos: os bem-sucedidos e os perdedores, deixando evidente que tal sistema acumula riqueza nas mãos de poucos. Porém, quem perde são os assalariados da classe trabalhadora e da classe média. Segundo o Papa Francisco, essa economia mata, transforma o capital em ídolo, em que a ambição sem limites pelo dinheiro comanda tudo.

No afã da competição têm pessoas que levam suas vidas como se fossem empresas. Não é à toa, a busca de respostas “mágicas” fornecidas pela teologia da prosperidade ou pelo mito do sucesso a qualquer custo, tornando-se um “deslumbre” na mente de quem acredita nisso.

É preciso reagir à força adoecedora da crise. Valorizando as atividades psicossociais, como por exemplo: cuidar da espiritualidade, participar de atividades comunitárias, estar entre amigos e familiares, aprender a solucionar as dificuldades de forma coletiva. Também é vital desacelerar a nossa mente, acalmar o ritmo cardíaco, diminuir a hiperconectividade, dando vazão às emoções positivas que expandem a consciência humana.

Além disso, temos que exigir um atendimento digno da população na rede pública de atenção à saúde mental. Mas, mesmo assim, devemos criticar esse modelo econômico, que adoece a saúde mental dos brasileiros. De acordo com Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, o exercício da crítica nos permite mudar o estado de agente passivo para agente ativo, onde vamos questionar e refletir sobre as ações e as razões das coisas na sociedade, a fim de reverter a lógica neoliberal da modernidade líquida.

Jackson César Buonocore (via Conti Outra)
"Nunca permitais que Satanás vos desanime. O Senhor sempre nos está adestrando por meio de dificuldades. Sede perseverantes na oração. Entregai tudo a Deus em oração — vossas preocupações financeiras, vossas decepções, vossas alegrias, vossos temores." (Ellen G. White - Este dia com Deus, p. 16)

Como ser feio(a), segundo Salomão

Que Deus ama a beleza, isto é fato. A Bíblia é cheia de conselhos de como termos uma boa imagem. Gosto de ver como o conceito de Deus sobre a beleza é mais profundo e verdadeiro que o nosso. Mas hoje vamos descobrir como ser feio(a), e não bonito(a). Que proposta estranha, não é?

Sejam escandalosos
“Como joia de ouro no focinho de uma porca é a mulher formosa sem discrição” (Pv 11:22). 
Adoro esse verso, e acho até graça nele. Quando eu era adolescente e morava numa cidade bem pequena e pacata, nossa diversão do sábado à noite com os amigos era sentar num banquinho da praça pra bater papo (era muito bom). Lembro-me que quando a gente estava saindo de casa pra esse programinha, meu pai falava o seguinte pra mim e pra minha irmã:

— Meninas, não fiquem dando risada escandalosa lá, ?

Pode parecer estranho pra você, mas a gente entendia o que ele queria dizer. Meu pai gostava que a gente tivesse postura de princesa. Imaginar que as filhas estavam na praça rindo alto, chamando a atenção de todo mundo, o deixava incomodado. Sim, vale ser elegante e discreta até mesmo no jeito de falar e gargalhar. Isto vale para os homens também.

Mantenham a cara fechada
“O coração alegre aformoseia o rosto” (Pv 15:13). 
Então, podemos concluir que o coração amargurado “enfeiura” o rosto. Já vi tanta gente longe dos padrões modernos da beleza, mas muito bem resolvida no amor, tendo muitos amigos e sendo admirada por onde passa. Esse provérbio é bem literal, além de poético. Pessoas sorridentes e de bem com a vida transmitem autoconfiança e beleza da forma mais natural possível.

Meninas, nada como ser bonita até em acampamento de igreja, acordando com a camiseta do Quebrando o Silêncio, sem chapinha nem nada. O melhor adorno de todos é um sorriso sincero e contagiante, mesmo que seja com prótese dentária ou aparelho ortodôntico. Não importa! Quem fica de mau humor e de cara fechada carrega na testa uma placa que diz: “Eu escolhi espantar”.

Sejam entediantes e sem vontade de viver
“A beleza dos jovens está na sua força” (Pv 20:29). 
Sabe aquele tipo de pessoa desanimada, sem força de vontade, sem garra nem determinação pra nada? Ela leva tédio e baixo astral por onde passa. É como se tivesse se “pintado de cinza” pra ser o mais sem graça possível. Quem convive com uma pessoa assim foge dela em cada oportunidade. Aposte na força que Deus lhe dá. Com Ele, você pode tudo! Grande parte da sua beleza está na sua força, disse Salomão.

Valorize e priorize sua “carcaça”, pois ela é tudo!
“A beleza é enganosa e a formosura é passageira, mas a mulher que teme o Senhor será elogiada” (Pv 31:30). 
Já vimos que a felicidade está intimamente ligada à beleza, e a melhor forma de garantir a felicidade plena é sendo um com Cristo. Não importa quanta grana ou força de vontade você tenha. De qualquer forma, você vai enrugar, ficar com o cabelo sem viço e com o corpo menos esguio. Baseie sua autoestima e beleza em algo que o tempo não pode estragar nem tirar de você — assim será daqueles vovozinhos fofos que dá até vontade de guardar num potinho (com um furinho pra respirar, claro). Gracinhas à parte, que o tesouro da sua beleza esteja no Céu, guardado no coração de Deus, pois lá nada pode ser destruído.

Emanuelle Sales (via Imagem & Semelhança)
"A beleza natural consiste da simetria ou da harmoniosa proporção das partes, de uma para com outra; mas a beleza espiritual consiste na harmonia ou semelhança de nossa alma com Jesus. Isso tornará seu possuidor mais precioso que o ouro fino, mesmo o ouro de Ofir. A graça de Cristo é, de fato, adorno de incalculável preço. Eleva e enobrece seu possuidor, reflete raios de glória sobre outros, atraindo-os também para a fonte de luz e bênçãos." (Ellen G. White - Orientação da Criança, pp. 423 e 424)

segunda-feira, 18 de junho de 2018

O número 666 e o Vicarius Filii Dei

Nesse artigo faço uma busca histórica da origem e do uso da expressão Vicarius Filii Dei como interpretação de Apocalipse 13:18 nos círculos adventistas. Após esse background histórico, discorrerei brevemente sobre o uso desse título no meio adventista, bem como sobre a validade hermenêutica dele para a interpretação do número 666. As interpretação mais popular no meio adventista para o número 666, citado em Apocalipse 13:18 é a utilização do suposto título papal Vicarius Filii Dei. Entre as muitas questões a serem levantadas a partir desse assunto, o que nos interessa neste artigo é a confiabilidade histórica dessa expressão e a validade de seu uso nos círculos adventistas.
ORIGEM DO TÍTULO
O documento Doação de Constantino é a mais antiga referência do suposto título papal Vicarius Filii Dei. Tendo sido escrito no período da Idade Média, esse é o mais antigo relato eclesiástico que confere a Pedro a autoridade de ser “substituto do Filho de Deus”.[2] Por quase 600 anos, o catolicismo o considerou como genuíno, mesmo porque aproximadamente dez papas o utilizaram como prova de sua autoridade temporal.[3] A menção do nome Constantino sugere que esse documento deve ter sido escrito nos dias desse imperador, no século 4 d.C.. Porém, Lorenzo Valla, por algum tempo secretário do papa humanista Nicolau V, em 1440 escreveu uma crítica literária e histórica demonstrando que a Doação de Constatino era um documento forjado, que provavelmente foi composto em meados do século 9 d.C.[4]
VICARIUS FILII DEI EM AUTORES PROTESTANTES
O escritor protestante mais antigo a relacionar a expressão Vicarius Filii Dei ao número 666 foi o alemão Andreas Helwig (ca. 1572-1643). Esse erudito foi professor de línguas bíblicas e letras clássicas por quase três décadas. Em 1612, Helwig escreveu sua obra Antichristus Romanus, na qual reuniu 15 títulos nas línguas latina, grega e hebraica, que na soma de suas letras dariam a cifra apocalíptica. Tal obra não enfatizou o título Vicarius Filii Dei, mas o considerou apenas como mais uma das pretensões da Igreja de Roma. Segundo Helwig, quatro fatores eram essenciais para um nome ser aplicado ao número apocalíptico: (1) a soma deveria dar a cifra correta; (2) teria que concordar com a ordem papal; (3) deveria ser um nome do próprio anticristo, não um título dado por seus inimigos; (4) teria que ser um título usado pelo anticristo para a sua auto-ostentação. Porém, essa interpretação se tornou comum entre autores de diversas denominações em meados da Revolução Francesa (1789-1799), quase duzentos anos após a publicação de sua obra.[5]
Autores protestantes como Amzi Armstrong (1771-1827),[6] os presbiterianos William Linn (1752-1808)[7] e David Austin (1760-1831)[8] e Robert Shimeall[9] aplicaram ao número 666 os títulos Ludovicus (latim), Lateinos (grego), Romith (hebraico) e Vicarius Filii Dei. Referente a esse último, John Bayford, em sua obra Messiah’s Kingdom (ca. 1820), afirmou que sua utilização era “dificilmente satisfatória” e que a expressão correta ainda estava para ser descoberta.[10] Percebe-se, assim, que desde o século 19, já havia certa relutância em aplicar esse título ao número 666.
VICARIUS FILII DEI EM AUTORES ADVENTISTAS
Muitos dos pioneiros do movimento adventista foram contemporâneos dos autores protestantes mencionados anteriormente. Sendo assim, é natural encontrarmos semelhança entre as interpretações de Apocalipse 13:18 de ambos os grupos. Foi por meio dos trabalhos de Uriah Smith, decano da interpretação profética nos círculos adventistas,[11] que se atribuiu a expressão Vicarius Filii Dei ao papado. Smith assim entendia: a expressão mais plausível que temos visto sugerir contendo o número da besta é o título que o papa toma para si mesmo e permite que outros lhe apliquem. Esse título é Vicarius Filii Dei, que quer dizer “Substituto do Filho de Deus”. Tomando as letras desse título que os latinos usavam como numerais e dando-lhes seu valor numérico, temos exatamente 666.[12]
A interpretação de Smith causou um impacto significativo no adventismo, a ponto de John N. Andrews, o expoente teológico mais importante dessa denominação, adotá-la na reimpressão de sua obra The Three Angels of Revelation XIV, 6-12, em 1877. Os anos posteriores presenciaram uma expansão dessa visão, por meio dos trabalhos públicos e impressos de alguns evangelistas adventistas ao redor do mundo. Stephen. N. Haskell, por exemplo, ao tratar do tema de Apocalipse 13, enfatizou apenas Vicarius Filii Dei.[13] O mesmo foi feito pelo autor brasileiro Aracely Mello ao afirmar que existem “fatos comprobatórios de que Vicarius Filii Deié o título verdadeiro do papa e de Roma Papal.”[14] Roy Alan Anderson, importante nome no evangelismo adventista, utilizou títulos como stur (aramaico), italika ekklesia, he latine Basiléia(grego) e Vicarius Filii Dei (latim).[15] Por sua vez, o evangelista argentino Daniel Belvedere limitou a interpretação do número 666 à expressão “substituto do Filho de Deus”[16], e C. Mervyn Maxwell adotou essa mesma posição.[17]
Esse quem sabe seja o principal motivo para o título Vicarius Filii Dei ser associado com Apocalipse 13:18 por tantos adventistas. Porém, por mais popular que seja essa interpretação, é inegável que existem inúmeros problemas na sua aplicação ao relato bíblico.
PROBLEMAS INTERPRETATIVOS
Como vimos anteriormente, o documento mais antigo a mencionar esse título é a Doação de Constantino. A implicação disso é que essa interpretação se baseia num falso decreto da Idade Média. Da mesma forma, há certa controvérsia envolvendo a inscrição de Vicarius Filii Dei na mitra papal. A publicação Our Sunday Visitor, uma popular revista católica americana, mencionou por duas ocasiões que havia, de fato, uma inscrição na tiara do papa. A primeira menção foi em 1914, e a segunda no ano seguinte. Porém, existe uma terceira citação que nega qualquer tipo de inscrição na coroa do pontífice romano. E não há qualquer tipo de evidência que prove o contrário.[18]
Provavelmente, esse assunto teve início com um incidente envolvendo W. W. Prescott, um dos pioneiros da segunda geração adventista. Um evangelista chamado C. T. Everson visitou o Museu do Vaticano e tirou algumas fotografias de diversas tiaras papais, usadas ao longo dos séculos. Nenhuma inscrição havia em sequer uma delas. Prescott foi autorizado a utilizar as fotos na ilustração de um dos seus artigos. Porém, a Southern Publishing Association, quando preparava a publicação da versão atualizada da obra de Smith, contratou um artista que inseriu as palavras Vicarius Filii Dei. A sede mundial da Igreja Adventista ordenou que a impressão fosse interrompida e que removessem as fraudes fotográficas.[19]
Em 1935, a revista Our Sunday Visitor desafiou o periódico adventista Present Truth, que nessa época tinha como editor Francis D. Nichol, a provar que a expressão “substituto do Filho de Deus” era um título oficial do papa. Nichol consultou Prescott para solucionar esse problema. Prescott afirmou que não era possível responder ao desafio, já que os adventistas baseavam essas argumentações em fontes questionáveis.[20] Devido a esse incidente, a sede mundial da IASD sugeriu que tal interpretação jamais fosse utilizada novamente.[21] Ironicamente, hoje essa é a interpretação mais popular entre os adventistas.
Em novembro de 1948, Leroy E. Froom publicou sua resposta para uma pergunta referente à inscrição na tiara do papa. Após negar qualquer tipo de grafia na mitra papal, Froom afirmou que “como arautos da verdade, devemos proclamá-la verdadeiramente”, e que “em nome da verdade e honestidade este periódico protesta contra algum membro da associação ministerial da denominação adventista do sétimo dia”. Segundo ele, “a verdade não necessita de fabricação para ajudá-la”.[22]
Além desses problemas, é necessário dizer que esse recurso é exegeticamente desnecessário. O pregador escocês Robert Fleming Jr. (ca. 1600-1716), por exemplo, jamais utilizou Vicarius Filii Dei em suas abordagens sobre o anticristo e chegou à mesma posição dos adventistas a respeito desse poder, isto é, o catolicismo apostólico romano.[23]
CONCLUSÃO
É evidente, portanto, que o uso da expressão Vicarius Filii Dei aplicado ao número 666 de Apocalipse 13:18 é controvertida e questionável. Visto que sua origem está ligada a um documento forjado. Como declarou Froom, nesse assunto, “nós devemos honrar a verdade e meticulosamente observar o princípio da honestidade ao lidar com as evidências sobre todas as circunstâncias”.[24]
(Luiz Gustavo S. Assis é formado em Teologia pelo Unasp e doutorando no Boston College)
Referências:
  1. Bettenson, H. Documentos da igreja cristã, São Paulo, ASTE, 1998, 171.
  2. Coleman, Christopher B. The Treatise of Lorenzo Valla on the Donation of Constantine, Canada: University of Toronto Press, 1993, 1 e 2. Essa obra foi originalmente publicada em 1922.
  3. Cairns, Earle E. O cristianismo através dos séculos, São Paulo, Vida Nova, 2006, 213.
  4. Froom, Leroy E. The Prophetic Faith of Our Fathers, Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association, 1954, v. 2, 605-608.
  5. O título da obra é “A syllabus of lectures on the visions of the Revelation”.
  6. O título de seu trabalho é “Discourses on signs of the times”.
  7. O título de sua obra é “A prophetic leaf”, citada em Froom, op. cit., 342.
  8. Damsteegt, P. Gerard. Foundations of the Seventh-day Adventist Message and Mission, Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1997, 206.
  9. Froom, op. cit., 412.
  10. Timm, Alberto R. O santuário e as três mensagens angélicas: fatores integrativos no desenvolvimento das doutrinas adventistas. Engenheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária Adventista, 2004, 137-138.
  11. Nichol, Francis D. (ed.). Seventh-day Adventist Biblical Commentary. Hangesrtown, MD: Review and Herald Publishing Association, 1980, v. 10, 1009.
  12. Haskell, Stephen. N. The Story of the Seer of Patmos. Nashville, TN: Southern Publishing Association, 1905. p. 105.
  13. Mello, Aracely S. A verdade sobre as profecias do Apocalipse. Taquara, RS: Grafiacs, 1982. 202-203.
  14. Anderson, Roy A. As Revelações do Apocalipse. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988. 151.
  15. Belvedere, Daniel. Seminário revelações do Apocalipse. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1987, 102.
  16. C. Mervyn Maxwell. Uma nova era segundo as profecias do Apocalipse. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1998. 431.
  17. Nichol, Francis D. ed. op. cit., v. 9. 1071.
  18. Valentine, Gilbert. W.W. Prescott: Forgotten Giant of Adventism’s Second Generation. Washington D.C.: Review and Herald Pub. Association, 2005. 317.
  19. Ibid., 318.
  20. Ibid., 319.
  21. Froom, Leroy E. “Dubious Pictures of the Tiara”, The Ministry, novembro de 1948, 35.
  22. Torres, Milton Luiz. “Contenções Quanto à Interpretação Tradicional de 666 em Apocalipse 13:18”. Revista teológica SALT-IAENE, Cachoeira, BA, v. 2, n. 1, 1998. 64.
  23. Froom. “Dubious Pictures of the Tiara”, 35.
[via blog do Michelson Borges]

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Shabat Digital - Um tempo para se desconectar das ferramentas tecnológicas

A cultura moderna e a tecnologia desajustaram a relação do homem com o tempo. Mas muitos hoje querem desacelerar, e a mensagem do sábado pode ser a resposta que eles buscam

Por atuar há mais de 17 anos em grandes empresas do segmento de mídia e tecnologia, Débora Bonazzi tem uma visão ampla sobre a relação das pessoas com a cultura digital. Um dos aspectos defendidos por ela é o maior equilíbrio entre o tempo on e off-line. Para a publicitária adventista, a ideia do “shabat digital”, um tempo para se desconectar das ferramentas tecnológicas, parece ser uma tendência hoje. Nesta entrevista, ela reforça o fato de que a mensagem do sábado parece ganhar ainda mais relevância nesta época em que algumas pessoas começam a reagir ao excesso de velocidade.

Débora Bonazzi
Como a tecnologia mudou a maneira de as pessoas se relacionarem com o tempo?

A tecnologia trouxe e continuará trazendo muita conveniência. Comprar uma passagem, ir ao banco ou pedir um táxi são facilidades que ela oferece. Nesse sentido, a tecnologia nos adiciona tempo. Por outro lado, se não tivermos consciência do que estamos fazendo em nossos celulares, nosso tempo será minado, sem nem mesmo percebermos.

Como a lógica da conexão ininterrupta tem desafiado os adventistas em relação à guarda do sábado?

Antigamente, as coisas estavam em caixas bem definidas: a compra estava no shopping, o ­conteúdo secular e o resultado do jogo estavam na TV, as notas estavam no boletim que ficava na escola ou na gaveta em casa. Hoje, quase tudo está no celular. No mesmo dispositivo que usamos para ler o texto bíblico durante o sermão, podemos ver o resultado do jogo que está sendo transmitido pela TV naquele instante. A linha é muito tênue…

A expressão “shabat digital” tem se popularizado nos últimos anos com o surgimento de movimentos como o “Sabbath Manifesto” e “Digital Detox”, que nasceram nos Estados Unidos. O que esses grupos pregam?

Esses movimentos defendem a pausa da tecnologia por um período (pode ser por horas, dias, viagens desconectadas, etc.) e atividades que conectem as pessoas e proporcionem momentos de relacionamento na vida real. Muito parecido com o que defendemos para o sábado, não é verdade?

A mensagem do sábado tende a atrair esse público?

Talvez esta seja uma grande oportunidade para nós. Nunca se discutiu tanto a pausa e nunca ela foi tão necessária como agora.

Como o próprio repouso sabático pode ajudar a mudar a maneira de nos relacionarmos com a tecnologia?

O sábado é uma enorme oportunidade que temos para refletir sobre o assunto. Um verdadeiro presente. Não quero defender a bandeira de que devemos guardar o celular trancado na gaveta aos sábados (a menos que a pessoa decida fazer isso), mas sim que aproveitemos essas horas para buscar o equilíbrio e o uso consciente.

Neste mundo tão dependente de internet, qual é o caminho para conseguir se desligar da tecnologia sem assumir uma postura anti-tecnológica?

Recomendo sempre buscar o equilíbrio. Duas dicas para começar: (1) Ter consciência de quem está no comando: eu ou o celular? Tenha a certeza de que é você. (2) Ter seus lugares e momentos sagrados. Combine com você mesmo, com sua família, com seu(sua) namorado(a), com seus amigos ou com seus colegas de trabalho quais serão os momentos em que todos estarão 100% concentrados na vida real e em que seu celular vai estar descansando um pouco… e você também.

Márcio Tonetti (via Revista Adventista)