quinta-feira, 29 de julho de 2021

REBECA

É prata de ouro! Após três cirurgias, e chegando a caminhar duas horas para treinar no ginásio, o Brasil se depara com outra história épica de superação. ⁣⁣

Rebeca Andrade, 22 anos, conquista a primeira medalha da história brasileira em Ginástica Feminina nos Jogos Olímpicos. O metal não importa. É primeiríssima colocada neste país de desafios, lutas, descasos, ousadias e berço de gente cuja raça e garra tatua nosso DNA. ⁣
É bonito de ver. De Guarulhos para o mundo, esta filha com seus sete irmãos provou que não há provação capaz de reprovar uma gigante incomodada por sonhar grande demais. “Esforçai-vos, e animai-vos; não temais, nem vos espanteis diante deles” (Dt 31:6). Consegue entender? Com pódio, ou sem, a medalha que vale é aquela que coroa um coração determinado.⁣
Gosto de conhecer os outros heróis: uma mãe que limpou muito chão com nobreza e orgulho, técnicos cujas lágrimas revelam o sobre-esforço nestes dias de privação, comentaristas (Jade Barbosa e Dani Hipólito) em prantos por verem que ela carrega o sonho de todas que lhe antecederam, e tantos outros capazes de ousar em anos tão difíceis.⁣
Que esta conquista inédita não eclipse todos os outros atletas imbatíveis na perseverança. Nem nos distraia das lágrimas e durezas destes meses de dor e isolamento. Que estas olimpíadas sirvam de lembrete pétreo da humanidade em suas batalhas. Da ginástica às UTIs, vamos em frente. Juntos. Felizes e tristes, dos dias claros aos escuros, nos pódios ou óbitos, tudo é motivo pra seguirmos adiante.⁣
“Obrigado a Deus por ser minha fortaleza e a todos os demais ginastas que também dividem esta medalha comigo”. Enquanto ela acaba de falar isso em rede nacional, sinto um empurrão vindo de 18.000 quilômetros de distância. Não desistamos! Sempre é possível dar a volta por cima.⁣
“Dificuldade a gente sempre vai ter”. Garota de ouro. Tem outro ouro para cada um de nós também. Vamos atrás?⁣
Odailson Fonseca (via Instagram)

quarta-feira, 28 de julho de 2021

SIMONE BILES E A SAÚDE MENTAL

Uma das principais ginastas da atualidade, a americana Simone Biles, desistiu de disputar a final individual de ginástica artística, na manhã desta quarta-feira. A ginasta de 24 anos era favorita ao ouro, mas saiu da disputa alegando a necessidade de preservar a saúde mental. “Após uma avaliação médica adicional, Simone Biles se retirou da competição individual geral final nos Jogos Olímpicos de Tóquio, a fim de se concentrar em sua saúde mental”, disse o comunicado da Federação de Ginástica dos Estados Unidos.

Ontem, Biles já havia saído da competição por equipes após um salto ruim ter feito a ginasta declarar publicamente estar se sentindo pressionada demais para seguir a competição. “Sempre que você entra em uma situação de alto estresse, você meio que enlouquece”, disse ela, segundo reportagem da rede americana CNN. “Tenho que me concentrar na minha saúde mental e não colocar em risco minha saúde e bem-estar. Temos que proteger nosso corpo e nossa mente".

A tensão vivida por Biles está longe de ser uma novidade entre atletas, um ofício com uma boa dose de cobrança sobre o desempenho assim como é comum em outras profissões — e, por isso, a história de Biles serve, de alguma forma, de exemplo para além das quadras.

A pandemia, e a insegurança extrema trazida por ela para a humanidade como um todo, têm feito especialistas acreditarem que os cuidados com saúde mental definitivamente deixaram de estar em segundo plano na vida das pessoas — inclusive aquelas com pressões sociais extremas no trabalho.

As doenças mentais aumentaram de maneira alarmante nos últimos cem anos. Por exemplo, a depressão, ansiedade, dependência química ou os efeitos do estresse psicológico. Esse crescimento dos transtornos da mente tem relacionamento com a genética e ainda mais com o estilo de vida e atitude mental. 

Promover a saúde mental e prevenir os transtornos da mente pode ser alcançado evitando emoções desagradáveis (ódio, medo, inveja, raiva, frustração, pessimismo, tristeza, impaciência, desesperança, etc.) e centralizando-se nas prazerosas. Essas constituem um escudo protetor contra os desequilíbrios mentais e emocionais. Qualquer pessoa consciente desse processo pode fazer uso desse recurso. Pratique estas atitudes:

1. Seja otimista
Quando alguma coisa sair errada com você, pense nas possíveis soluções, não apenas em dados desesperadores que impeçam a superação do assunto.

2. Fortaleça sua autoestima
Ao se sentir inferior, você está diminuindo suas “defesas” contra as doenças mentais. Desenvolva o hábito de cada dia nutrir mais segurança naquilo que faz. E quando conseguir sucesso em algum empreendimento, não tire o mérito que lhe corresponde.

3. Mantenha-se ativo
Dedique tempo necessário ao seu trabalho. Depois, no horário do descanso, procure fazer outra atividade de natureza distinta (se seu trabalho é sedentário, pratique esportes ou realize exercícios físicos). Se uma atividade não o agrada, tente fazer outra, mas evite ficar em casa sem fazer nada.

4. Enfrente a culpa
Se você tem sentimento de culpa, fundado ou infundado, procure agir rapidamente, pois esse sentimento é perigoso para a saúde mental. Se falou ou fez algo que magoou outra pessoa e a lembrança do fato relembra sua culpa, fale com a pessoa ofendida. Peça perdão com sinceridade e humildade. Certamente, ela aceitará suas desculpas e a situação será resolvida.

Às vezes, a pessoa ofendida não tem disposição para aceitar suas desculpas. Nesse caso, peça auxílio a Deus e confesse sua culpa. A Bíblia diz que “se confessarmos nossos pecados [culpas], Ele [Deus] é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 João 1:9).

5. Cuide de sua saúde física
A saúde física e mental mantêm uma relação muito íntima. Se você sofrer mal-estar físico não gozará de bem-estar mental. Portanto, é necessário manter a saúde no seu melhor estado.

• Esteja atento à sua dieta. Coma alimentos o mais natural possível. Produtos de origem animal, em sua grande maioria, não são necessários e geralmente são prejudiciais à saúde.

• Faça exercício físico. Faça um programa regular de exercício físico, com algum esporte ou outra atividade. Se não puder fazer exercício que exija muita energia, procure caminhar.

• Cuide de seu descanso noturno. Durma pelo menos sete a oito horas diariamente.

• Evite substâncias químicas. As drogas, álcool e, inclusive, o café alteram o sistema nervoso central e o estado de ânimo. Qualquer planejamento de prevenção ou cura de problemas mentais deve eliminar completamente o uso dessas substâncias.

6. Seja humanitário
Participe de algum plano de apoio aos desamparados ou pessoas necessitadas.

7. Mantenha uma atitude confiante
É uma das medidas mais proveitosas para conservar a saúde mental.

8. Procure ambientes naturais
Os transtornos mentais encontram sua base de desenvolvimento em ambientes urbanos, enquanto a saúde integral se desenvolve em meio à natureza.

9. Inclua em sua vida o aspecto espiritual
A dimensão espiritual pode ser fortalecida por meio da música, meditação, reflexão na vida de personagens exemplares; mas a espiritualidade mais completa é alcançada através da experiência religiosa na qual, pela fé, se admite a existência de Deus. Não de um deus cruel que se alegra com o castigo e sofrimento de suas criaturas, mas um Deus amoroso que ouve a responde às orações de Seus filhos. Por meio da oração e aproximação com Deus, você obterá tranquilidade e paz mental.

As doenças de origem emocional têm se tornado epidêmicas. Isso se deve às condições inerentes às pessoas e também ao ambiente degradado e relações interpessoais complicadas que caracterizam os tempos em que vivemos. Os fatores agressivos ou estressantes são cada vez mais poderosos, cobrando de nós uma importante capacidade e energia para compreender, avaliar e gerenciar as exigências ou dificuldades, antes que se transformem em problemas, preocupações, angústia, medo ou violenta depressão. E o que fazer se algum desses sintomas ou doenças emocionais já faz parte de sua vida? 

Além de tudo o que a medicina, a psicologia e a psiquiatria podem realizar, estão o poder de Deus e o Seu desejo de que sejamos felizes. Ele não somente tem dado conhecimento a muitos profissionais da saúde como, de forma especial, tem instruções importantes para nós, as Suas criaturas. 

Inspirada por Deus, Ellen G. White defendeu conceitos revolucionários para a época em que viveu, relacionando fatores e propondo soluções que hoje são endossados pela ciência mais avançada. Este material está disponível no excelente livro Como lidar com as Emoções de sua autoria. Neste livro, ela diz: "Se eu olhasse às negras nuvens — as perturbações e perplexidades que aparecem em meu trabalho — eu não teria tempo para fazer qualquer outra coisa. Sei, porém, que há luz e glória para além das nuvens. Pela fé, atravesso as trevas, rumo à glória."

A revista Fique Leve também é um excelente material de apoio que traz orientações sobre saúde física, mental e espiritual. Para baixá-la, clique aqui.

ATIVIDADES ESPORTIVAS

Entre as denominações cristãs, a Igreja Adventista do Sétimo Dia se destaca por sua visão integral acerca da saúde. Fundamentados em argumentos teológicos, os adventistas defendem que o cuidado com as dimensões física, mental e espiritual faz parte de uma experiência religiosa enriquecedora (1Ts 5:23; 3Jo 2). Entretanto, a Bíblia não fala de modo específico ou normativo sobre a prática de esportes.

No Antigo Testamento, existem poucas referências a práticas esportivas. De modo geral, essas atividades estavam mais relacionadas com habilidades militares do que com um treinamento esportivo ou momento recreativo (Jz 20:16; 1Sm 20:20-22, 35-38; 2Sm 2:18; 1Cr 12:2).

Por sua vez, o Novo Testamento, especialmente os escritos de Paulo, contém várias alusões aos esportes ou a temas relacionados (1Co 9:24-27; 2Tm 4:7; Hb 12:1). No entanto, o uso que o apóstolo faz desse assunto é ilustrativo. Parece evidente em seus textos que ele apenas se utiliza de exemplos conhecidos e validados por seu público-alvo primário como recurso retórico. É importante destacar que, em seus dias, os Jogos Olímpicos eram muito conhecidos e estavam intimamente relacionados com o paganismo.

Ellen White escreveu sobre atividades esportivas e, a partir de suas orientações, pode-se concluir que ela fazia distinção entre atividades físicas, atividades recreativas e atividades competitivas.

Em harmonia com seu pensamento acerca de saúde integral, a autora estimulou a prática de atividades físicas. Ela foi categórica ao afirmar que “os estudantes devem fazer exercício vigoroso” (2016a, p. 210). Em sua concepção, esses exercícios deveriam ser tarefas manuais úteis que, além de estimular o corpo, preparariam os jovens para a vida (2014, p. 354). Isso incluía o desenvolvimento de atividades em contato com a natureza (2016a, p. 212). Ademais, Ellen White apoiava a recreação sadia, que “proporciona descanso ao espírito e ao corpo” (ibid., p. 207). Mesmo os jogos com bola não eram de todo condenados por ela (2015b, p. 322), desde que se mantivessem dentro dos limites de uma brincadeira espontânea, sem desenvolver o espírito da rivalidade ou competição.

Por outro lado, Ellen White foi contundente ao reprovar atividades como “boxe, futebol [football], jogos de equipe e esportes com animais” (Carta 27, 1895; ver 2016a, p. 210). Ela tinha preocupações quanto à natureza de alguns esportes específicos, bem como com o perigo de que eles se tornassem todo-absorventes. Além disso, era totalmente contrária a atividades que promovessem qualquer traço de competitividade (2016b, p. 101, 102) ou alta estimulação física e mental (2004, p. 131; 2015a, p. 627).

Por anos, a prática de esportes em instituições educacionais adventistas foi tema de debates e questionamentos, especialmente ao Ellen G. White Estate. Em 1959, Arthur White publicou um documento intitulado “Sports in Seventh-day Adventist academies and colleges”, em que concluiu dizendo: “Vejo claramente a distinção entre um dia de recreação no qual certos jogos podem ser jogados e o desenvolvimento de times bem treinados em nossos institutos e faculdades, para engajamento em um programa esportivo.”

Em 1988, um documento da Associação Geral intitulado “Atividades competitivas” trouxe como exemplos de práticas que desenvolvem os aspectos físico, mental e espiritual as seguintes atividades ao ar livre: “natação, ciclismo, equitação, esqui, canoagem, ginástica, jardinagem, caminhada, acampamento, coleção de pedras, mergulho, exploração de cavernas” (2005, p. 32).

Princípios editoriais
1. O uso de práticas esportivas como ilustração é um recurso possível, mas deve-se cuidar quanto à menção a determinados tipos de esportes, especialmente aqueles que incentivam a competitividade exacerbada, a violência, o desafio à vida e procedimentos como a mentira e a dissimulação.

2. A prática de atividades físicas e recreativas condizentes com a visão integral de saúde adventista deve ser promovida nas diversas publicações produzidas pela igreja.

3. Esportes agressivos, que expõem seus praticantes ao risco de morte, alinhados a filosofias contrárias à cosmovisão bíblico-adventista ou de reputação duvidosa não devem ser promovidos sob nenhuma circunstância.

Bibliografia
Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia. (2005). “Atividades competitivas” (p. 26-34), em Declarações da igreja. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
Graybill, R. (1974). Ellen G. White and competitive sports. The Ministry, julho (p. 4-7).
McArthur, B. (2018). Jogos e esportes (p. 1011-1014). Em Fortin, D., & Moon, J. (eds.). Enciclopédia Ellen G. White. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
Nieman, D. (1988). Do sports belong in SDA schools? Ministry, agosto (p. 4-9).
White, A. (1959). Sports in Seventh-day Adventist academies and colleges. Disponível em: <https://tinyurl.com/ybv4pzu4>.
White, E. (2004). Filhos e filhas de Deus. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
White, E. (2014). Conselhos aos professores, pais e estudantes. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
White, E. (2015a). Conselhos sobre saúde. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
White, E. (2015b). Mensagens escolhidas (v. 2). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
White, E. (2016a). Educação. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.
White, E. (2016b). Parábolas de Jesus. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira.


Nota do blog: Aqui apresentamos os princípios dos escritos de Ellen White e também algumas dicas que podemos usar para fazermos nossas escolhas na área das atividades físicas, esportes e recreação:

"Não condeno o simples exercício de brincar com uma bola; mas isto, mesmo em sua simplicidade, pode ser levado ao excesso. Preocupam-me muito os resultados quase sempre inevitáveis que vêm na esteira de esportes competitivos. Eles levam a um gasto de dinheiro que devia ser aplicado em levar a luz da verdade às almas que não conhecem a Cristo. Divertimentos e gasto de meios para satisfação própria, que levam passo a passo à glorificação do eu, bem como o treinamento nesses jogos para obtenção de prazer produzem amor e paixão pelas coisas que não favorecem o aperfeiçoamento do caráter cristão" (O Lar Adventista, p. 499).

"É a glória de Deus que se tem em vista nesses jogos? Eu sei que não é. O caminho de Deus e Seus propósitos são perdidos de vista. A maneira como seres inteligentes se aplicam, ainda em período de experiência, está se sobrepondo à revelada vontade de Deus e pondo em seu lugar as especulações e invenções do instrumento humano, com Satanás a seu lado a imbuir-lhes o espírito. ... O Senhor Deus do Céu protesta contra a ardente paixão cultivada pela supremacia nos jogos assim tão empolgantes" (O Lar Adventista, p. 500).

"Outros jogos atléticos, embora não tão embrutecedores, são pouco menos reprováveis, por causa do excesso com que são praticados. Estimulam o amor ao prazer, alimentando assim o desprazer pelo trabalho útil, a disposição de evitar os deveres práticos e as responsabilidades. Tendem a destruir a graça pelas sóbrias realidades da vida e seus prazeres tranquilos. Desta maneira, abre-se a porta para a dissipação e desregramento, com os seus terríveis resultados" (Educação, pp. 210 e 211).

“Em regra, o exercício mais proveitoso aos jovens será encontrado nas ocupações úteis. Desde a infância os esportes devem ser tais que promovam não somente o crescimento físico, mas também o mental e espiritual. Ao adquirir força e inteligência, achará o melhor recreio para ela em alguma espécie de esforços que sejam úteis. Aquilo que treina as mãos para a utilidade e ensina o jovem a encarar com a sua participação nos encargos da vida é o mais eficaz na promoção do crescimento do espírito e do caráter” (Educação, p. 215 - adaptado).

“Quanto tempo é gasto por seres humanos inteligentes em jogos de bola! Mas acaso a satisfação nesses esportes dá aos homens o desejo de conhecer a verdade e a justiça? Mantêm a Deus em seus pensamentos? Levá-los-á a indagar: Como vai com a minha alma?” (Conselhos Professores, Pais e Estudantes, p. 456).

“Não tenho conseguido encontrar nenhum caso em que Jesus tenha ensinado os Seus discípulos a empenharem-se na diversão do futebol [americano] ou em jogos de competição, a fim de fazerem exercício físico, ou em representações teatrais; e, no entanto, Cristo era nosso modelo em todas as coisas. Cristo, o Redentor do mundo, deu a cada um a sua obra, e ordena: 'Negociai [ocupai-vos, na versão inglesa] até que Eu venha.' (Lucas 19:13)” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 229).

“Alguns dos mais populares divertimentos, tais como o futebol e o boxe, se têm tornado escolas de brutalidade. Estão desenvolvendo as mesmas características que desenvolviam os jogos da antiga Roma. O amor ao domínio, o orgulho da mera força bruta, o descaso da vida, estão exercendo sobre a juventude um poder desmoralizador que nos aterra” (Conselhos sobre Saúde, p. 189).

“Exercícios ginásticos ocupam um lugar útil em muitas escolas, mas se não houver uma supervisão cuidadosa eles podem ser levados ao extremo. Muitos jovens, pelas proezas de força que tentam realizar nos salões de ginástica, têm trazido sobre si lesões para toda a vida” (O Lar Adventista, p. 499).

"O lugar que devia haver sido ocupado por Jesus foi usurpado por vossa paixão por jogos. Preferistes vossos divertimentos aos confortos do Espírito Santo. Não seguistes o exemplo de Jesus, que disse: 'Eu desci do Céu, não para fazer a Minha vontade, mas a vontade dAquele que Me enviou.' (João 6:38)" (Mensagens Escolhidas 1, p. 136).

"Os esportes enervantes despertam ao máximo todas as paixões" (Testemunhos Seletos 3, p. 231).

"Aqueles cujos hábitos são sedentários devem, quando o tempo permitir, fazer exercício ao ar livre todos os dias, de verão e de inverno... O exercício aviva e equilibra a circulação do sangue, mas na ociosidade o sangue não circula livremente, e não ocorrem as mudanças que nele se operam, e são tão necessárias à vida e à saúde" (A Ciência do Bom Viver, p. 238 e 240).

“Nós não deveríamos ignorar as atividades que proveem exercício e recreação. Contudo, essas atividades devem ser manejadas dentro dos limites, a fim de que não percam o seu propósito e alimentem o egoísmo” (Manuscript Releases 1, p. 391).

"Na presente época a vida se tornou artificial e os homens degeneraram. Conquanto não possamos voltar completamente aos hábitos simples daqueles tempos primitivos, deles podemos aprender lições que tornarão nossos momentos de recreio o que este nome implica: momentos de verdadeira construção de corpo, espírito e alma" (Educação, p. 211).

terça-feira, 27 de julho de 2021

O CONTEXTO BÍBLICO DO 666

É bem antiga a interpretação do significado do número 666 pelo método chamado gematria. A aplicação do número ao alegado título papal “Vicarius Filii Dei” foi originalmente proposta por Andreas Helwig (1572-1643), em sua obra Antichristus Romanus, publicada em 1602. Muitos cristãos têm convicção da coerência dessa “exegese”. Além disso, protestantes históricos, desde os primeiros reformadores, relacionaram a entidade revelada por meio da metáfora do anticristo e da besta ao papado em sua trajetória perseguidora durante a Idade Média e no fim dos tempos, como o pretenso “substituto do Filho de Deus” (ver Robert O. Smith, More Desired than Our Owne Salvation: The roots of Christian zionism [Nova York: Oxford University Press, 2013], p. xxxv; Carl P. E. Springer, Luther’s Aesop [Kirksville, MO: Truman State University Press, 2011], p. 168. Antony C. Thiselton, 1 and 2 Thessalonians Through the Centuries [Malden, MA: Wiley-Blackwell, 2011], e-book).

No entanto, muitas questões surgem diante dessa interpretação. Primeiro, a palavra traduzida por “calcular” é o verbo grego psephizo, que tem o sentido de “contar” e “calcular”, mas também de “descobrir”, “interpretar” e “vir a conhecer” (Timothy Friberg, Barbara Friberg e Neva F. Miller, Analytical Lexicon of the Greek New Testament [Victoria, British Columbia: Trafford Publishing, 2005]). Ademais, outros nomes e títulos têm sido apontados como resultando em 666 por meio da gematria. Soma-se ainda o fato de que não há nada parecido em toda a Bíblia, nem em Daniel nem nos outros profetas. As metáforas ou símbolos deles não dependem de um cálculo numérico a partir de um nome ou título. Quando relatam visões, os profetas não usam códigos secretos, mas símbolos e metáforas, todos extraídos do contexto bíblico. Por fim, a aplicação do número a uma única entidade na história ignora que o 666 é mencionado em relação à besta em sua fase posterior à cura da ferida mortal, sendo algo ainda futuro. É importante destacar também que o número é da besta como um todo e não de uma de suas cabeças, aquela ferida em 1798.
Diante dessas considerações, diferentes autores têm se debatido em busca do verdadeiro significado do 666 (ver Beatrice S. Neall, The Concept of Character in the Apocalypse with Implications for Character Education [Washington, DC: University Press of America, 1983]; G. K. Beale, The Book of Revelation [Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2013]; e Craig R. Koester, Revelation [New Haven: Yale University Press, 2014]). O objetivo deste artigo é discutir o tema com mais atenção ao contexto bíblico. A proposta é ver o relato acerca da imagem da besta e do número 666 (Ap 13:11-18) como parte de um contexto maior em que o capítulo 14 deve ser considerado, tanto quanto a primeira parte do 13. Ao mesmo tempo, também se busca no contexto bíblico as referências dessa visão de João. Nesse sentido, a pergunta é: Quais textos das Escrituras se refletem nessa visão e como nos ajudam a entender o que o apóstolo tinha em mente com o número 666?
CONTEXTO NO APOCALIPSE
O mais natural na interpretação da imagem da besta é vê-la como uma aliada da primeira besta e do dragão, formando a trindade do mal. Esses símbolos representam inimigos do povo da aliança, os quais o perseguem em diferentes fases da história. No tempo de Cristo, o império romano era o poder opressor dos judeus, e foi pela mão de soldados romanos que ­Cristo foi crucificado (cf. Ap 12:4; 2:9-10, 13). Durante a Idade Média, os cristãos foram perseguidos por 1.260 anos por uma entidade representada nesses mesmos símbolos (12:6, 14; 13:5, 7). E no tempo do fim são previstas intolerância e perseguição por parte desses poderes e seus aliados (12:17; 13:11-18).
No entanto, se nos detivermos em Apocalipse 12 e 13 para tratar dos símbolos ali descritos, poderemos ter apenas um contexto parcial das visões e enfrentaremos dificuldades ao lidar com o número 666. Diante dos desafios, a tendência é isolar o símbolo de seu contexto e ir para fora do texto bíblico em busca de significados possíveis. É preciso enfatizar que esse é um método impreciso. Os símbolos bíblicos só encontram sua correta interpretação dentro do contexto bíblico.
A proposta então é estender a perícope de estudo até Apocalipse 14:12. O motivo são as conexões claras entre os dois capítulos. O capítulo 13 diz que a “marca” da besta é colocada sobre a “mão” e a “fronte” das pessoas (13:16); o 14 começa com a visão dos 144 mil, que têm o nome de ­Cristo e de “seu Pai” sobre sua “fronte” (14:1). No capítulo 13, a segunda besta impõe a “marca da besta”; a terceira mensagem no capítulo 14 adverte contra a “marca da besta”, numa clara continuação do tema. Além disso, é preciso notar a conexão entre Apocalipse 13 e o Pentateuco. O capítulo 13 diz que a terra e seus habitantes “adoram” a besta e o dragão (v. 4, 8, 12, 15); já o 14 traz o apelo do primeiro anjo para adorar o Criador que fez o “céu, e a terra, e o mar”, numa alusão a Gênesis 1 e 2 e Êxodo 20. Por fim, o capítulo 13 usa as palavras “fôlego” (pneuma) e “imagem” (eikon) para descrever a ressurreição da besta, e nisso também faz alusão ao relato da criação, quando pneuma (fôlego de vida) é assoprado para fazer Adão à “imagem” e “semelhança” de Deus (Gn 2:7; 1:27, 31). Assim, as visões de Apocalipse 13 e 14 estão interligadas e fazem referência ao relato da criação em Gênesis 1 e 2 e a Êxodo 20.
Com essa intertextualidade entre Apocalipse 13 e 14 e Gênesis 1 e 2 encontramos uma importante pista para a interpretação do significado do número da besta, que é dito ser “número de homem” (Ap 13:18). O contraste entre o “número de homem” (13:18) e o “selo de Deus” (7:2; 14:1) também retoma a criação, quando o Deus criador e o homem criatura estão juntos no dia de sábado (Gn 2:1-3; Êx 20:8-11). No livro Secrets of Revelation: The Apocalypse through Hebrew eyes (Review and Herald, 2002, p. 118), Jacques Doukhan diz que a tradição bíblica associa o número seis ao homem desde sua criação, no sexto dia, e que isso está implicado na frase “número de homem” (Ap 13:18).
DESCANSO E PLENITUDE
O relato de que Deus descansa no ápice de Sua criação (Gn 2) vem logo após a informação de que Ele criou o homem “à Sua imagem” (1:26). Isso indica que o autor de Gênesis considera o descanso de Deus no sétimo dia à luz do tema da criação do homem à “imagem de Deus” no sexto dia. O objetivo é ensinar que o homem cultiva sua semelhança com Deus ao entrar com o Criador no descanso do sétimo dia. Gregory Beale afirma: “A humanidade foi criada no sexto dia, mas sem o sétimo dia de descanso Adão e Eva estariam incompletos e imperfeitos” (The Book of Revelation, p. 724).
De fato, ao imaginarmos o sétimo dia da semana da criação, podemos atestar a imagem e semelhança entre Deus e o homem à luz do tema do descanso. Toda a natureza seguia seu curso normal ao entrar no sétimo dia. Contudo, Deus e o homem pararam a fim de descansar e contemplar. A natureza é incapaz de parar e descansar por que não foi criada à imagem de Deus.
No entanto, com o pecado, as pessoas resistem a entrar no descanso divino, por causa de incredulidade e desobediência (Sl 95:11; Hb 3:11, 18, 19). Nesse caso, aqueles que se recusam a entrar no sétimo dia do descanso de Deus indicam, com isso, que não se consideram parte da imagem divina, mas parte da natureza, que não altera seu ritmo ao entrar no sábado. O autor de Hebreus usa o tema do descanso ­sabático em referência ao santuário. Mas o que é o ­sábado senão um santuário, em que se entra ou se deixa de entrar? Que a entrada no descanso divino aproxima o homem do Criador é bem atestado pelo autor de Hebreus: “Porque aquele que entrou no descanso de Deus, também ele mesmo descansou de suas obras, como Deus das Suas” (Hb 4:10).
Seguindo esse raciocínio, podemos dizer que, na semana da criação, avançar do sexto dia (o dia do homem) para o descanso do sétimo dia (o dia de Deus) é aceitar que fomos criados à imagem divina e que não viemos à existência por nós mesmos. A incredulidade referida em Hebreus consiste em não aceitar nossa origem divina por não entrar no descanso, referido com a linguagem do sábado. No entanto, quando o homem entra no descanso de Deus, ele se identifica com o Criador e deixa de ser parte da natureza para ser parte do ­círculo da divindade, como criatura que reflete a “imagem” e “semelhança” de Deus, atingindo a plenitude.
Nessa linha de pensamento, João pode ter empregado o número seis no Apocalipse como uma referência ao dia da criação do homem, mas fazendo menção ao homem que resiste a entrar no descanso de Deus, permanecendo assim na incompletude.
A ideia de incompletude referida pelo número seis no Apocalipse é bem clara. No sexto selo, sexta trombeta e sexta praga, o plano da salvação não está completado, e só se consuma quando se avança para o sétimo elemento. O “silêncio” do sexto selo (Ap 8:1), as “grandes vozes” celestiais da sétima trombeta (11:15) e o “está feito” da sétima praga (16:17) indicam o estado de plenitude a que chega a obra divina quando se avança do sexto para o sétimo elemento. “O sétimo em cada série no Apocalipse retrata a consumação do reino de Cristo. Cada série é incompleta sem o sétimo elemento” (The Book of Revelation, p. 722).
A MARCA E O SELO
João afirma que o selo divino é colocado sobre os “servos do nosso Deus” (Ap 7:3; 14:1). A palavra “selo” nesses versículos traduz o termo grego sphragis, o qual indica um meio ou instrumento de “autenticação”, “certificação”, “confirmação” e “reconhecimento” (Analytical Lexicon of the Greek New Testament). Nesse caso, o selo não é algo imposto, mas apenas uma forma de confirmar e certificar algo que é intrínseco, próprio do caráter e da escolha individual. Os servos de Deus já são servos antes do selo (Ap 7:3). Eles têm feito sua opção de servir ao Senhor e de ­adorá-Lo como Criador. Por isso têm o “selo” ou o “nome” divino em sua fronte (7:3; 14:1). O selo é algo que pode ser visto; é evidenciado na atitude dos servos de Deus em entrar no descanso divino no sétimo dia.
Por outro lado, o restante da humanidade, que não adora o Criador nem proclama a si mesmo como parte da criação à imagem e semelhança divina, recebe a “marca da besta” (Ap 13:17). A maioria das versões bíblicas traduz esse texto indicando que as pessoas recebem “a marca, o nome da besta ou o número do seu nome” como se fossem três coisas semelhantes. No entanto, o chamado Códex Alexandrino traz outra leitura (Revelation of Jesus Christ, p. 425). Literalmente, essa versão diz que as pessoas recebem “a marca, que é o nome da besta ou o número do seu nome” (Ap 13:17, NVI). Essa tradução se ajusta melhor ao contexto, ao indicar que a “marca” é uma forma de identificar aqueles que têm desenvolvido em si mesmos o “nome” ou o “número” da besta. “Nome” e “número” são indicativos do caráter dessas pessoas em sua associação com o dragão e a besta, inimigos de Deus, os quais não aceitam sua origem como criação divina.
A palavra grega usada para “marca” é káragma, que indica “marca ou carimbo feito por gravura, impressão, marcação”, em geral para marcar animais e escravos (Analytical Lexicon of the Greek New Testament). Enquanto o selo é uma autenticação de algo voluntariamente aceito, a marca é algo imposto como resultado de conformidade ou submissão. Assim, no contexto de Apocalipse 13 e 14, os “selados” são aqueles que assumem sua origem como “imagem” de Deus porque entram em Seu descanso e, assim fazendo, O adoram como Criador (Ap 14:7). Os “marcados” são aqueles que não assumem nem cultivam sua semelhança com Deus e, assim fazendo, não O reconhecem nem O adoram como Criador.
O ESPÍRITO DO ANTICRISTO
A resistência em adorar o Criador corresponde, portanto, a resistir em avançar da condição humana de número seis e ascender para o sete da perfeição. No entanto, a resistência a ser criatura divina e a entrar no descanso de Deus não é uma atitude final. Aqueles que não admitem sua filiação com Deus vão necessariamente tentar ocupar o lugar de Deus, no sentido de substituí-Lo. Com isso, assumem o espírito do anticristo, desejando colocar-se em lugar de Deus.
Sendo uma Trindade perfeita, Deus pode ser designado com a repetição tríplice do sete. Por outro lado, a trindade satânica (dragão, besta e falso profeta), sendo uma imperfeita contrafação da ­Divindade, seria designada com a repetição ­tríplice do seis, o que indica uma intensificação da incompletude (The Book of Revelation, p. 722).
Nesse caso, o número 666 pode indicar a tentativa repetida e frustrada por parte do diabo, da besta e do falso profeta em ser como o Deus perfeito, associado no Apocalipse ao número sete. Essa mesma tentativa é seguida por todos aqueles que não admitem sua origem divina. Por isso, eles têm o “nome” ou o “número” da besta. Assim, o número 666 pode ser visto como a “acumulação ou repetição tríplice do número seis”, da recusa insistente em assumir a própria identidade como imagem divina (Alan F. Johnson, Revelation [Grand Rapids, MI: Zondervan, 1981], p. 535).
O dragão, a antiga serpente, foi o primeiro a fazer essa investida. Ele recusou a se submeter a Deus como parte de Sua criação e não O glorificou como Senhor. Em seguida, desejou ocupar o lugar de Deus: “Eu subirei ao Céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14:13, 14). “Semelhança” aqui não indica afinidade, mas concorrência e substituição. Lúcifer queria assentar-se no santuário celestial, em lugar de Deus. Na sequência, ele disse a Eva: “Você será como Deus” (Gn 3:5), levando-a a imitá-lo em sua ofensiva fracassada.
Quando ergueu a estátua de ouro com 60 côvados de altura e seis de largura (­Dn 3:1), Nabucodonosor estava empreendendo a mesma tentativa de ocupar o lugar de Deus. O Senhor havia revelado que a cabeça de ouro da estátua do sonho representava Babilônia em sua fase na história (Dn 2:38, 39), e que por fim viria o reino de Deus (Dn 2:44). Entretanto, com uma estátua toda de ouro, o rei quis indicar que seu reino cobriria toda a história e não permitiria a chegada do reino de Deus. Nisso, ele exibia o mesmo espírito ou “nome” do anticristo.
A besta, ao imitar o dragão, faz a mesma investida. Ela pretende ser semelhante a Deus, no sentido de estar no lugar Dele, daí o pretenso título de “substituto do ­Filho de Deus”. Por isso, a respeito dela se indaga: “Quem é semelhante à besta?” (Ap 13:4), como se ela fosse superior a todos, incluindo Deus. Quando João diz que os ímpios têm a “marca” da besta, está dizendo que eles têm o mesmo caráter dela, ou seja, compartilham com ela e com o dragão o desejo de querer ocupar o lugar de Deus, tentando ser “semelhantes” a Ele, no sentido de concorrência e substituição.
Nessa linha, Beatrice S. Neall afirma que “o número 666 representa a recusa humana de ascender para o sete, de dar glória a Deus como Criador e Redentor”. Ele “representa o homem exercendo a soberania em lugar de Deus, o homem conformado à imagem da besta em lugar da imagem de Deus” (The Concept of Character in the Apocalypse, p. 154).
O nome e o número da besta, portanto, não são exclusivos dela. Ela os obteve ao se identificar com o próprio Satanás em sua campanha de tentar ser semelhante a Deus. A finalidade da besta é impor esse “nome” e “número” a toda humanidade. O dragão levou Eva a desejar ser “semelhante” a Deus, no sentido de concorrência e substituição. Ao partilhar da investida do dragão, a primeira mulher perdeu sua identidade com o Criador e se tornou a primeira pessoa a demonstrar um caráter associado ao nome e ao número da besta. Contudo, depois teve a oportunidade de se arrepender.
O 666, nessa perspectiva, aponta não a uma entidade única, mas a uma atitude de incredulidade e rebeldia compartilhada pelo dragão, a besta, o falso profeta e por todos aqueles que não recebem o selo de Deus, por não entrarem em seu descanso, com todas as implicações nisso envolvidas.
A suprema realização do ser humano não consiste em negar o Criador e tentar substituí-Lo, mas em avançar da condição do número seis (número de homem) para a plenitude do sete (o número divino). Entrar no descanso de Deus é assumir nossa identidade como filhos criados à imagem e semelhança divina. Todos aqueles que ­cultivam essa identidade recebem o selo do Deus vivo, preparando-se para estar com o Cordeiro sobre o monte Sião. 
Vanderlei Dorneles (via Revista Adventista)

segunda-feira, 26 de julho de 2021

NUNCA DESISTA DE SEUS SONHOS

Rayssa Leal emocionou o Brasil ao conquistar a medalha de prata no skate street, na madrugada desta segunda-feira. Após a premiação, a skatista brasileira, de apenas 13 anos, se emocionou ao falar sobre a importância do resultado.

"Eu não consigo nem explicar a sensação de estar aqui realizando meu sonho, de toda minha família, de estar aqui podendo representar as meninas que infelizmente não conseguiram se classificar para a final e de estar ganhando uma medalha. É muito gratificante todo o esforço que eu e minha mãe tivemos, essa medalha é muito especial para mim", disse a Fadinha à TV Globo.

Rayssa ainda se emocionou ao citar uma frase para descrever a conquista. "Eu tenho uma frase que eu criei: se você pode sonhar, você pode realizar. Não desistir dos seus sonhos, continuar persistindo que tudo vai dar certo", finalizou.

Atribui-se ao Barão de Itararé este pensamento: “Nunca desista de seu sonho. Se ele acabar numa padaria, procure noutra.” Apesar de singelo e engraçado, esse pensamento nos ensina importante lição: o êxito nem sempre é alcançado por um só meio. Existem outras possibilidades.

Há sonhos que não se concretizam, porque os colocamos em lugares aos quais não temos acesso. Nesse caso, a escada da nossa capacidade é curta. Por outro lado, sonhamos com metas possíveis, mas às vezes não as alcançamos por falta de perseverança.

Como cristãos, precisamos evitar atitudes negativas: ou seja, alimentar sonhos fantasiosos e desistir de sonhos cuja realização esteja ao nosso alcance.

Há sonhos humanos – bons e ruins – e sonhos divinos, sempre adequados às nossas necessidades físicas, mentais e espirituais. Os sonhos de Deus para cada um de nós são elevados e sublimes, mas não fantasiosos. Por quê? Porque Aquele que os concebeu providenciou a escada que nos permite atingir a meta de cada um deles.

Por vezes, Satanás quer nos dar a impressão de que a escada é curta demais. Noutras ocasiões, ele agiganta os obstáculos diante de nossos olhos. Por exemplo:

1. Fraquezas humanas. A escada das possibilidades humanas não pode transpor o enorme abismo que há entre nós e o ideal cristão. Certa vez, Paulo confessou: “Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço” (Rm 7:18, 19).

Felizmente, o apóstolo deixou de olhar para a escada humana e se valeu da escada divina: “Tudo posso nAquele que me fortalece” (Fp 4:13).

O fato de Paulo ter dependido inteiramente de Deus fez com que ele não desistisse. Perto do ocaso da vida, afirmou: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a Sua vinda” (2Tm 4:7, 8).

2. Provações. Neste mundo sofremos muitas perdas, algumas das quais nos causam desânimo e tristeza. Problemas de saúde, limitações físicas, perda de amigos e parentes, dificuldades financeiras – tudo isso pode nos levar a pensar que não vale a pena prosseguir. E o diabo sabe que, nesses momentos de angústia, nos tornamos vulneráveis. Por isso, ele procura potencializar suas tentações.

Jó enfrentou os efeitos dessa potencialização, mas não desistiu de confiar no Altíssimo. A certa altura de sua amarga experiência, subiu cada degrau da escada da fé e afirmou: “Eu sei que o meu Redentor vive e por fim Se levantará sobre a Terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus. Vê-Lo-ei por mim mesmo, os meus olhos O verão, e não outros” (Jó 19:25-27).

3. Demora. Doença prolongada, filho que não volta para a igreja e casamento que não se consolida são exemplos de situações que suscitam a clássica pergunta: “Quando isso vai acabar?” Por falta de uma resposta rápida, muitas pessoas sucumbem, se esquecendo de que a Palavra de Deus é a única fonte de conforto nesses momentos de ansiedade. Por exemplo: “Eis que temos por felizes os que perseveram firmes. Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo” (Tg 5:11).

“Para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Rm 8:18).

Ellen G. White nos dá oportuno conselho: “Há uma elevada norma que devemos atingir, caso queiramos ser filhos de Deus, nobres, puros, santos e incontaminados. É necessário um processo de poda, se queremos alcançar essa norma. Como seria efetuada essa poda, se não houvesse dificuldades a enfrentar, obstáculos a transpor, coisa alguma a exigir paciência e capacidade de resistir?” (Testemunhos Seletos, v. 2, p. 113).

“Ficamos facilmente desanimados e clamamos ansiosamente para que seja removida de nós a provação, quando o que devemos fazer é pedir paciência para resistir e graça para vencer” (Ibid., v. 1, p. 108).

Cândido Mariano da Silva Rondon (1865-1958), grande desbravador e pacificador, costumava dizer: “Morrer se preciso for, matar nunca!” Que nosso lema seja: “Sofrer se preciso for; desistir nunca!”

DIA DOS AVÓS

Celebra-se o Dia dos Avós em 26 de julho. E esse dia foi escolhido para a comemoração porque é o dia de Santa Ana e São Joaquim, pais de Maria e avós de Jesus Cristo, considerados os padroeiros de todos os avós pela Igreja Católica. No dia 26 de julho de 1584, o Papa Gregório VIII canonizou os avós de Jesus Cristo, por isso a escolha desta data para a celebração. Porém deles não encontramos nada na Bíblia. As únicas informações que temos sobre os pais de Maria são contados pelo Evangelho apócrifo (não autêntico) do século II, chamado Protoevangelho de São Tiago.

Nesta data tão especial, vamos falar um pouco sobre a síndrome do avô escravo. O surgimento deste fenômeno deve-se, em grande parte, às mudanças que a estrutura familiar sofreu nas últimas décadas.

Síndrome do avô escravo
Você pode nunca ter ouvido falar disso. Com a integração das mulheres no mundo do trabalho e o aumento da expectativa de vida, mais e mais idosos cuidam de seus netos. Eles costumam fazer isso em tempo integral, como uma espécie de “profissão”. Isso, em parte, facilita muito a famosa reconciliação entre trabalho e vida familiar.

Mas onde estão os limites? Os casais devem questionar o verdadeiro papel de seus pais idosos e se esforçar para respeitar seu espaço. Os avós já suportaram o peso das experiências de vida, casamentos, lares, empregos, filhos nos ombros. Para eles, a terceira idade deve ser sinônimo de tranquilidade, paz e relaxamento. O que, então, é a síndrome do avô escravo?

A aposentadoria é um momento experimentado como uma libertação. Um momento de descanso e diversão. Assim, depois de uma vida dedicada ao trabalho, finalmente chega o tão esperado período de despreocupação. O de tempo livre para dedicar-se a paixões e hobbies reservados para dar prioridade às obrigações e responsabilidades. No entanto, situações de estresse, ansiedade, dor física e mental podem surgir.

A síndrome do avô escravo provoca uma série de sintomas psicológicos e físicos que os idosos sofrem por causa de fortes mudanças sociais. Esse conjunto de sintomas inevitavelmente produz consequências físicas e mentais.

Conciliação familiar nos ombros dos avós
Quão importante é o papel dos avós nas famílias hoje em dia? Considerando os tempos turbulentos e de crise que marcaram os últimos anos, o apoio dos idosos tem sido e é um pilar fundamental para permitir aos jovens casais sobreviver e seguir em frente.

Esse suporte foi fornecido de várias maneiras:

Apoio financeiro: muitos dos avós foram “forçados” a apoiar filhos e netos. Nesses tempos de crise, muitos assumiram as despesas e as necessidades da família com suas pensões e algumas economias.

Apoio para o cuidado dos netos: os avós passaram a cuidar dos netos, pois os pais dos pequenos trabalham fora de casa por muitas horas. Atividades extracurriculares, visitas ao médico, esportes, tempo livre … Sem o apoio dos avós, muitas vezes não seria possível fazer tudo. Isso permitiu que os filhos cuidassem de suas famílias sem abrir mão de suas vidas profissionais.

Ajuda nas tarefas domésticas: limpeza doméstica, compras de supermercado, culinária …

Tudo isso, em muitas ocasiões, desencadeou uma dinâmica que pressionou a saúde e a resistência desses idosos. Isso resulta na síndrome do avô escravo. Portanto, é necessário saber dizer “basta” e estabelecer limites para evitar abusos.

Sintomas do avô escravo
O que, a priori, poderia representar uma fórmula eficaz e terapêutica de enriquecimento para os idosos e pais, em muitos casos assume a forma de uma escravidão moderna. Onde fortes laços emocionais são usados em vez de cadeias.

Por outro lado, a síndrome do avô escravo não aborda a ideia de que o cuidado dos netos e o vínculo estabelecido têm efeitos positivos. Em princípio, uma pessoa mais velha que começa a oferecer esse trabalho de suporte pode obter vários benefícios:

• Ele se sente útil e menos sozinho

• Intensifica relacionamentos

• Sente-se feliz

• Realiza atividades dinâmicas e novas

• Ele recebe afeição de seus netos

No entanto, se esse relacionamento for mal encaminhado e se tornar mais o resultado de uma obrigação tácita, inevitavelmente ele deixará até conseqüências decisivamente negativas. Como no caso de:

• Fadiga e exaustão

• Agravamento da saúde

• Stress

• Sensação excessiva de apego

• Redução da vida social

• Pouco tempo livre

• Mais possibilidades para discussões familiares

Não escravize os avós!
Você deve ter em mente que os avós não têm a mesma energia e habilidade de quando eram apenas pais. Na velhice, limitações físicas e cognitivas podem surgir. Portanto, é necessário estabelecer limites e organizar uma rotina na qual haja espaço para os idosos administrarem independentemente de seus netos.

Os avós têm seus próprios interesses e necessidades. Eles não podem, de forma alguma, ser relegados ao papel de “escravos”, aproveitando-se da desculpa do tempo livre e do profundo sentimento de pertencer à família. É um jogo egoísta que mostra todos os elementos da exploração.

Suas aspirações, suas expectativas, seus desejos devem ser respeitados e levados em consideração: eles não podem ser anulados! Sua opinião, embora possa não parecer relevante, será sempre apoiada pelo valor da experiência. Especialmente em relação aos valores humanos, onde talvez o ser humano não tenha mudado tanto.

De qualquer forma, repetimos, ajudar a família a não deve significar qualquer renúncia por parte dos avós. Tome suas decisões com sensibilidade e a medida certa.

Para evitar cair na síndrome do escravo-avô, dois elementos são essenciais: boa organização e distribuição adequada das tarefas. Em resumo, um planejamento que permita aos pais se organizarem confiando em seus avós somente quando for estritamente necessário.


"Cuidai de como entregais o governo de vossos filhos a outros. Ninguém vos pode aliviar devidamente da responsabilidade que Deus vos deu. Muitas crianças têm sido completamente arruinadas pela interferência de parentes ou amigos, no governo de seu lar. As mães nunca devem permitir que suas irmãs ou mães interfiram na sábia direção de seus filhos. Embora tenha a mãe recebido a melhor educação das mãos de sua mãe, contudo, em nove dentre dez casos, como avó, estragaria os filhos de sua filha, pela condescendência e insensato louvor. Todo o paciente esforço da mãe pode ser desfeito por esse modo de tratamento. É proverbial que os avós, em regra, são incapazes de criar os netos. Os homens e mulheres devem dar todo o respeito e a devida deferência a seus pais; mas em questão de direção dos próprios filhos, não devem permitir interferência, mas conservar as rédeas do governo em suas próprias mãos" (Ellen G. White - Orientação da Criança, p. 288).

sexta-feira, 23 de julho de 2021

A TOCHA E O CRISTÃO

Dentre os vários símbolos das Olimpíadas, talvez nenhum deles seja tão carregado de história quanto a tocha olímpica. Ela começou a ser usada nos jogos olímpicos da Antiguidade, realizados na Grécia, quando era mantida acesa ao longo de todo o evento. Os gregos acreditavam que, no passado, o fogo pertencera somente aos deuses. Porém, Prometeu o teria roubado de Zeus, o pai dos deuses, para entregá-lo aos seres humanos. Por isso, o fogo era considerado sagrado por seu grande poder, tanto para destruir quanto para transformar. Era também uma importante fonte de iluminação, numa época em que a luz elétrica estava longe de ser inventada.

Um dos grandes momentos da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos Tóquio 2020 foi o acendimento da pira que simboliza o início do maior evento esportivo do mundo. E esse momento foi protagonizado pela tenista japonesa Naomi Osaka, responsável por levar a chama da tocha para a pira, no Estádio Olímpico de Tóquio, no final da manhã desta quinta-feira (23), após quase quatro horas de cerimônia de abertura.

Até chegar nas mãos da tenista nesta quinta-feira, a tocha passou por de ex-atletas, profissionais da saúde, alunos de escolas atingidas por tsunamis e outras personalidades japonesas. Mas antes disso, a caminhada para levar a tocha olímpica para acender a pira no Estádio Olímpico de Tóquio começou no dia 25 de março, na cidade de Fukushima, no nordeste do Japão, e foi carregada em um revezamento que envolveu cerca de 10 mil pessoas durante 121 dias.

No entanto, muito antes de a tocha olímpica existir, o único Deus verdadeiro havia instruído Moisés a ensinar seu povo a manter sempre acesas as lâmpadas do candelabro do tabernáculo:

“Agora ordene aos israelitas que tragam óleo de oliva puro para que as lâmpadas fiquem sempre acesas” (Êxodo 27:20, A Mensagem).

Essa luz contínua simbolizava a constante presença iluminadora do Senhor junto a seus filhos, uma verdade tanto naquela época quanto na atualidade.

Há mais em comum entre nós e a tocha olímpica do que você imagina. O cristão também recebe o convite de ser uma luz brilhante por onde passa. Nos lugares por onde a tocha é conduzida, as pessoas param, observam e costumam aplaudir. Sua vida também é observada pelas pessoas a seu redor e por todo o universo, que assiste com expectativa ao desenrolar do grande conflito entre Cristo e Satanás. A fonte para o brilho de sua luz hoje é a mesma simbolizada pelas lâmpadas do candelabro do tabernáculo do Antigo Testamento. Peça a Deus que o ajude a brilhar sempre, em todas as situações, como uma tocha que representa uma prova viva de seu compromisso com Ele.

"Assim também a luz de vocês deve brilhar para que os outros vejam as coisas boas que vocês fazem e louvem o Pai de vocês, que está no céu" (Mateus 5:16).

Ellen G. White diz: "Como brilha vossa luz? Aqueles que deviam ter sido a luz do mundo têm projetado apenas raios pálidos e fracos. Que é luz? É piedade, bondade, verdade, misericórdia, amor; é a revelação da verdade no caráter e na vida" (Beneficência Social, p. 36).

quinta-feira, 22 de julho de 2021

MARIA MADALENA

Na história da Igreja Católica, Santa Maria Madalena aparece como sendo a primeira testemunha ocular de Jesus Cristo ressuscitado e a primeira a anunciar o milagre da ressurreição. Esta quinta-feira (22) é dedicada à padroeira dos arrependidos, data escolhida pela igreja, em 2016, quando foi canonizada pelo papa Francisco que a nomeou apostola apostolurum, “a apóstolo dos apóstolos”. A data é reservada para promover festas em homenagem à santa.

Maria Madalena é, sem dúvida, um dos personagens mais conhecidos do Novo Testamento. Citada cerca de 12 vezes nos evangelhos canônicos, ela é, mais do que qualquer outro discípulo, a que tem maior destaque. Mas o que a fez realmente famosa foi a crença difundida de que ela fora uma prostituta que, posteriormente, teve alguma relação afetiva com Jesus. Será isso verdade? Procede a dedução de que Cristo fora casado? A versão popular sobre Maria corresponde à realidade? E a famosa expressão “Maria Madalena arrependida” pode ser um exemplo legítimo de arrependimento e transformação? Vejamos a seguir.

Esposa de Cristo?
Não é de hoje que filmes, livros e documentários insinuam um suposto casamento entre Jesus e Maria Madalena. Contudo, nem os teólogos e historiadores mais liberais apostam suas fichas na teoria de um possível relacionamento entre eles. Não há nada de concreto que aponte para isso. Nem mesmo os aficionados por teorias conspiratórias podem afirmar que essa é uma verdade que a igreja ocultou dos fiéis.

É claro que, se fosse provado que Cristo era casado com Maria, isso decepcionaria muitos cristãos ao redor do mundo que sempre O viram como um modelo de celibato. Contudo, além do fato de que constituir família não pareça fazer parte da missão do Filho de Deus neste mundo, é importante dizer que ser casado denotaria um defeito de Seu caráter, afinal, caso Ele tivesse mesmo uma esposa, não haveria razão teológica alguma para esconder isso do mundo. Como a própria Escritura declara a perfeição do caráter do Salvador (Isaías 53:9, 2 Coríntios 5:22, 1 Pedro 2:22), o silêncio bíblico, neste caso, é um indicativo claro de que Ele e Maria nunca tiveram nenhum afeto além da relação entre discípulo e Mestre.

Mesmo fora da Bíblia, poucos evangelhos apócrifos (sem autoridade canônica) falam ou insinuam que Maria pudesse ser casada com Jesus. Ainda assim, são fontes muito tardias e um tanto ambíguas.

A primeira delas é o Evangelho de Felipe, datado do século III d.C. e cujo manuscrito original foi encontrado mutilado: “E a companheira de […] Maria Madalena […] ela mais que aos discípulos, beijá-la na sua […]”. Note que não é possível afirmar, pelos fragmentos do texto de Felipe, que Jesus realmente a beijava na boca. O local do beijo (que poderia ser na mão, na testa ou no rosto) fica por conta da imaginação do leitor, já que o contexto não nos oferece nenhuma pista conclusiva. Seja como for, a cultura da época não permite classificar este gesto como “erótico”, já que o beijo santo, entre irmãos espirituais, era bem aceito na igreja cristã primitiva (Romanos 16:16; I Tessalonicenses 5:26).

Já no Evangelho de Maria Madalena, ela é mencionada como aquela “que o Salvador amava mais que a todas as mulheres”, mas não há nenhum elemento que a identifique como companheira (koinosos), pelo menos nos fragmentos restantes deste texto, que também está muito mutilado.

Prostituta?
A mais antiga citação de Maria Madalena como prostituta vem de um sermão do papa Gregório, o Grande, pregado em 591 d.C. Ele fez uma ligação entre Lucas 7 e 8, supondo que Maria Madalena (Lucas 8:2) era a mulher que ungiu os pés de Jesus (Lucas 7:36-50). Mas, a bem da verdade, comentaristas bíblicos questionam se esta unção de Jesus seria a mesma registrada em João 12:1-8 – esta, sim, explicitamente realizada por Maria Madalena. Mas, ainda que se trate da mesma mulher, não se pode saber com certeza qual era esse “pecado” mencionado no texto de Lucas. Nada ali afirma que ela era prostituta. A expressão “mulher pecadora”, embora pudesse se referir a pecados sexuais, não se limitava a isso; uma mulher sem filhos, doente ou abandonada era considerada pecadora ou impura diante das leis de purificação do judaísmo antigo.

Considerando que Lucas 8:2 trate de Maria Madalena, a anotação de que Jesus expulsou dela “sete demônios” pode ser uma pista de que sua condição de “pecadora” estava mais associada a uma questão espiritual que qualquer outra coisa. Mas o modo como o drama é mencionado em Lucas 7:40-43 leva a pensar que o próprio Simão a induziu a algum tipo de pecado, provavelmente de natureza sexual. Mas, neste caso, uma simples relação íntima com ele (consensual ou por estupro) já faria dela uma pecadora aos olhos do conservadorismo da época, mesmo que não houvesse se tornado uma prostituta.

Ellen G. White assim a descreve: "Maria fora considerada grande pecadora, mas Cristo sabia as circunstâncias que lhe tinham moldado a vida. Poderia haver-lhe extinguido n'alma toda centelha de esperança, mas não o fez. Fora Ele que a erguera do desespero e da ruína. Sete vezes ouvira ela Sua repreensão aos demônios que lhe dominavam o coração e a mente. Ouvira-Lhe o forte clamor ao Pai em benefício dela. Sabia quão ofensivo é o pecado à Sua imaculada pureza, e em Sua força vencera. Quando, aos olhos humanos, seu caso parecia desesperado, Cristo viu em Maria aptidões para o bem. Viu os melhores traços de seu caráter. O plano da redenção dotou a humanidade de grandes possibilidades, e em Maria se deviam as mesmas realizar. Mediante Sua graça, tornou-se participante da natureza divina. Aquela que caíra e cuja mente fora habitação de demônios, chegara bem perto do Salvador em associação e serviço" (O Desejado de Todas as Nações, p. 568).

Magdala ou Betânia?
Uma antiga tradição cristã identifica Maria Madalena como a irmã de Lázaro e Marta, chamada Maria de Betânia, o que é bastante plausível. A aparente contradição dos sobrenomes pode ser explicada se for entendido que um se refere à sua cidade natal e o outro à cidade onde ela viveu parte de sua vida. Isso era perfeitamente possível. Jesus mesmo era chamado Jesus de Nazaré, embora seu lugar de nascimento fosse Belém da Judeia. Falta, contudo, saber quando e por que, exatamente, ela teria deixado um lugar para viver no outro.

Todas as evidências apontam para o fato de que os três fossem solteiros, pois em nenhum momento se registra a presença de alguma esposa ou marido, mesmo nos dramáticos acontecimentos envolvendo a doença, morte e ressurreição de Lázaro (Jo 11; O Desejado de Todas as Nações, capítulo "Lázaro, Sai Para Fora"), ou no jantar em casa de seu tio Simão, quando Marta preparou os alimentos e serviu aos convidados, Maria ungiu a Jesus e Lázaro estava presente, após ser ressuscitado, o que atraiu a curiosidade de muitos, que foram a Betânia não para ver a Jesus, mas para ver a Lázaro (Jo 12; O Desejado de Todas as Nações, capítulo "O Banquete em Casa de Simão"). 

Mulher adúltera?
O único registro bíblico sobre a "mulher adúltera" encontra-se no sucinto relato de João 8:3-11. Conclui-se que ela era casada, pelo fato de que, legalmente, essa era a condição civil para que ela fosse considerada adúltera, sendo que o homem com quem se relacionara também devia ser apedrejado (Lv 20:10; Dt 22:22).

No livro O Desejado de Todas as Nações, p. 461, Ellen G. White ressalta: "Com toda a sua professada reverência pela lei, esses rabis, ao trazerem acusação contra a mulher, estavam desatendendo às exigências da mesma. Era dever do marido mover ação contra ela, e as partes culpadas deviam ser igualmente punidas. A ação dos julgadores era de todo carecida de autorização."

Ao resumir a biografia de Maria Madalena, Ellen White não a identifica, em momento algum, como sendo a "mulher adúltera" como seria de se esperar caso ela o fosse. "Aquela que caíra, e cuja mente fora habitação de demônios, chegara bem perto do Salvador em associação e serviço. Foi Maria que se assentou aos pés de Jesus e dEle aprendeu. Foi ela que Lhe derramou na cabeça o precioso unguento, e Lhe banhou os pés com as próprias lágrimas. Achou-se aos pés da cruz e O seguiu ao sepulcro. Foi a primeira junto ao sepulcro, depois da ressurreição. A primeira a proclamar o Salvador ressuscitado" (O Desejado de Todas as Nações, p. 416, 423; Lc 10:42,10:39; Jo 12:3,19:25, 20:1,11,16-18; Mc 16:9).

No livro denominacional Bible Biographies - New Testament, v. 2, p. 23-30 (Ellen G. White, compilado por Walter T. Rea), o autor admite que nada há registrado, na Bíblia e nos escritos de Ellen G. White, que possa relacionar a "mulher adúltera" com Maria Madalena, mas que de igual modo, em sua opinião, não há nada que possa contradizer claramente essa tese. O SDABC (Comentário Bíblico Adventista) assume igual posição indefinida.

Conclusão
De qualquer modo, o que pode ser dito sobre essa fantástica mulher foi que ela amou a Cristo como seu único e verdadeiro Mestre. Um exemplo de vida que oferece esperança a todos nós que lutamos com nossos pecados, nossos demônios, nossos acusadores.

Maria teve o privilégio de ser a primeira pessoa a ver Jesus ressurreto. Se, como ela, formos fiéis ao nosso Senhor, teremos também o privilégio de estar entre as primícias que O contemplarão no dia da Sua vinda. Afinal, os moradores da Nova Jerusalém não serão santos que nunca pecaram, mas pecadores que se arrependeram sinceramente e lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro, como o fez Maria Madalena.

[Com informações de Evidências de Deus e Revista Adventista]

quarta-feira, 21 de julho de 2021

CONVERSÃO

A palavra conversão se refere a uma mudança completa de direção. Quando aprendemos a dirigir, logo aprendemos que conversão é mudar para a direção contrária. É mais do que mudar de caminho, mais do que dar uma guinada para a direita ou para a esquerda, é literalmente mudar a direção para o lado oposto. Essa é uma virada tão importante que toda a perspectiva da vida muda, o que estava à sua direita agora se encontra à esquerda, e o que estava à esquerda está agora posicionado à direita. A frente virou retaguarda e você já entendeu a ideia.

Exatamente por ser uma mudança tão radical que a conversão não é simplesmente o que a maioria de nós acredita ser. Alguns acham que conversão é fazer parte de uma igreja, assumir um novo credo ou mesmo adotar novos comportamentos. Acontece que “conversão” é algo que acontece na mente e que afeta a vida inteira. Ellen G. White diz: "A ligação a uma igreja não substitui a conversão. A aceitação do credo de uma igreja não tem valor algum para quem quer que seja se o coração não estiver verdadeiramente transformado" (Evangelismo, p. 290).

É uma mudança desequilibrante de nossa visão de mundo. Adotar novos comportamentos, regras, ou uma nova fé mantendo a mesma leitura e visão do mundo não é e nem nunca foi conversão. A conversão questiona tudo e reverte muita coisa. Nossas crenças mais fundamentais, aprendidas na escola e ensinadas por nossos pais ou o ambiente em que crescemos são totalmente questionadas e sofrem escrutínios profundo dessa nova visão de mundo.

Não são à toa as palavras de Romanos 12:2 nos solicitando uma transformação que só ocorre com a renovação de nossa mente. Renovação da mente. Portanto, uma mudança de cosmovisão como essa que estamos falando não pode ocorrer de maneira formal, ela não ocorre em uma simples classe de estudos, nem em um estudo sistemático das doutrinas um certo número de vezes na semana ou no mês. Veja como Cristo fez com Seus discípulos. “Chamou os doze para estarem com Ele” (Mc 3:14). Você não vai encontrar Jesus dando aulas de teologia, você vai encontrar Jesus ensinando com Sua própria vida à medida que convive com eles.

É claro que isso é muito mais trabalhoso, é claro que toma mais tempo e exige muito mais envolvimento. Mas só a amizade e o contexto podem ajudar alguém a verdadeiramente mudar sua maneira de enxergar a vida. É vendo a visão de mundo de outro que transformamos a nossa.

Compreender isso pode mudar completamente a maneira como entendemos a nossa conversão e a dos outros. Para mim isso indica que me conformar exteriormente com a fé não resolve nada. Indica que Cristo é a transformação completa e absoluta dos meus conceitos mais primitivos, pessoais e que muitas vezes, são conceitos que carrego como certezas. Entender isso me diz que preciso ser outro, completamente outro, depois de começar a seguir a Cristo.

Me ajuda também a entender como levar Cristo aos outros. Não se trata de ter relacionamentos funcionais e superficiais. Não se trata de aproximar-se das pessoas com segundas intenções, desejando “convertê-las” à minha religião e depois dar as costas. Significa que um envolvimento completo, verdadeiro e custoso, do ponto de vista pessoal, é o único capaz de dar à pessoa subsídios reais, muito além das doutrinas racionais, para que ela mude sua visão de mundo como eu também mudei. Por isso Paulo diz: “Sede meus imitadores como eu sou de Cristo!” (1Co 11:1). Não existe discipulado sem amizade.

Somente amigos inseridos em um mesmo contexto podem fazer trocas de cosmovisão. É impossível que alguém que tenha tanto tempo vivido e desenvolvido uma cosmovisão da vida, por exemplo, superficial, que seja capaz de mudar seu paradigma por meio de um “encontro com a verdade” de maneira puramente racional. Essa pessoa precisa de alguém que a conduza do ponto em que está para o ponto em que precisa ir, só quem pode fazer esse caminho é alguém que já fez esse caminho. Ou que conhece por dentro esse modo de pensar.

Há uma outra coisa que pode mudar alguém de uma cosmovisão para a outra, um acontecimento drástico e profundo, normalmente envolvendo muito sofrimento. A amizade cristã e o envolvimento dedicado, amoroso e real pode substituir com muito mais eficiência a capacidade didática do sofrimento. Ellen G. White diz: "Nem todos estão constituídos da mesma maneira. Nem todas as conversões são iguais. Jesus impressiona o coração, e o pecador renasce para viver vida nova. Amiúde as almas são atraídas para Cristo sem que ocorra uma manifestação violenta, nem dilaceramento de alma, nem terrores de remorsos" (Carta 15a, 1890).

Vejamos este pensamento de Ellen G. White sobre a conversão genuína. Lemos em Testemunhos Seletos, vol. 1, pp. 253-255):

"A conversão é uma obra que a maioria das pessoas não aprecia. Não é coisa pequena transformar um espírito terreno, amante do pecado, e levá-lo a compreender o inexprimível amor de Cristo, os encantos de Sua graça, e a excelência de Deus, de maneira que a alma seja possuída de amor divino, e fique cativa dos mistérios celestes. Quando a pessoa compreende estas coisas, sua vida anterior parece desagradável e odiosa. Aborrece o pecado; e, quebrantando o coração diante de Deus, abraça a Cristo como a vida e alegria da alma. Renuncia a seus antigos prazeres. Tem mente nova, novas afeições, interesses novos e nova vontade; suas dores e desejos e amor, são todos novos. A concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida até então preferidas a Cristo, são agora desviadas, e Cristo é o encanto de sua vida, a coroa de seu regozijo. O Céu, que dantes não possuía nenhum atrativo, é agora considerado em sua riqueza e glória; e ele o contempla como sua futura pátria, onde ele verá, amará e louvará Aquele que o redimiu por Seu precioso sangue. 

As obras da santidade, que se lhe afiguravam enfadonhas, são agora seu deleite. A Palavra de Deus, anteriormente pesada e desinteressante, é agora escolhida como estudo, como o homem do seu conselho. É como uma carta a ele escrita por Deus, trazendo a assinatura do Eterno. Seus pensamentos, palavras e atos, são comparados com esta regra e provados. Treme aos mandamentos e ameaças que ela contém, ao passo que se apega firmemente às suas promessas, e fortalece a alma aplicando-as a si mesmo. Prefere agora o convívio dos mais piedosos, e os ímpios, cuja companhia antes apreciava, já não lhe causam mais deleite. Lamenta-lhes os pecados que dantes o faziam rir. O amor-próprio e a vaidade, ele renuncia, e vive para Deus, e é rico em boas obras. Eis a santificação exigida por Deus. Nada menos que isto aceitará Ele."

Finalizamos com este lindo texto de Ellen G. White: "A conversão de almas a Deus é a obra mais grandiosa, a obra mais elevada em que os seres humanos podem empenhar-se. Na conversão das almas se revelam a tolerância de Deus, Seu amor incomensurável, Sua santidade e Seu poder. Toda verdadeira conversão O glorifica, e faz com que os anjos prorrompam em cânticos. 'A misericórdia e a verdade se encontraram: a justiça e a paz se beijaram' (Carta 121, 1902).