sexta-feira, 29 de setembro de 2023

A CIDADE SANTA E SUAS RELAÇÕES COM O JARDIM DO ÉDEN

Em uma contemplação sistemática podemos observar possíveis relações entre os primeiros capítulos da Bíblia hebraica (Gênesis 1:1-3:24), com os últimos capítulos do cânon bíblico grego (Apocalipse 21:1-22:5). E especialmente pelo fato de ambos evocarem o tema do santuário para si. A cidade santa é referida como o tabernáculo de Deus, onde Ele “tabernaculará” com os homens (Apocalipse 21:3). Ela é descrita como sendo um cubo perfeito, bem como o lugar santíssimo do santuário terrestre (1 Reis 6:20) e acha-se coberta da glória de Deus (Apocalipse 21:11; conforme Êxodo 40:38). Já o jardim do Éden tem sido sugerido como um tipo de “santuário arquetípico”. Davidson propõe que Moisés, sob inspiração divina, claramente retrata o jardim como o primeiro santuário terrenal, ou seja, o santuário celestial tinha um correspondente sobre a Terra mesmo antes do tabernáculo mosaico. Pensando nisso, percebemos possíveis correspondências textuais, funcionais e teológicas entre o Éden e a nova Jerusalém.

1. A primeira possível relação entre a cidade santa e o Éden – “santuário arquetípico” está ligada à criação a luz no primeiro dia e a sua existência durante os três primeiros dias sem o auxílio do Sol e da Lua, visto que estes luminares foram criados por Deus somente no quarto dia da criação (Gênesis 1:3, 14-19). Possivelmente a luz dos três primeiros dias provinha do próprio Deus, levando em consideração que “Deus é luz” (1 João 1:5; ver Salmos 36:9; 104:2). Parece haver um paralelo entre o relato da nova Terra com o da criação, em razão da cidade não precisar do “Sol nem da Lua para brilharem sobre ela, pois a glória de Deus a ilumina, e o Cordeiro é a sua lâmpada” (Apocalipse 21:23; 22:5).

2. Ocorrência da árvore da vida em ambos os relatos. No meio do jardim, Deus havia plantado a árvore da vida juntamente com a árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2:9). Em correlação a esta narrativa está a descrição da árvore da vida na nova Jerusalém no meio da praça principal de uma a outra margem do rio da vida (Apocalipse 22:2). Porém, há um aspecto transformado. É possível perceber a ausência da árvore do conhecimento do bem e do mal, não havendo nenhuma referência à ela. Manifestando, assim, que o período de prova está acabado e que o povo de Deus foi reivindicado. O relato da nova Terra revela que aqueles que lavaram as suas vestes no sangue do Cordeiro terão direito à árvore da vida e nunca mais será posto diante dela querubins com espadas flamejantes para impedir que seres humanos tenham acesso a seu fruto (Apocalipse 22:2, 14; Gênesis 3:24).

3. Outra possível correspondência está ligada à morte e suas consequências. No Éden, Deus deu a ordem que se poderia comer livremente de todas árvores do jardim, menos da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque, se dela comessem, certamente morreriam (Gênesis 2:16, 17). O casal edênico desobedeceu e foram expulsos do jardim para que não tomassem do fruto da árvore da vida, comessem e imortalizassem assim o pecado/rebelião (Gênesis 3:3-24). O ato de desobedecer a Deus trouxe aos seres humanos sofrimento de âmbito integral e ocasionou a morte (Gênesis 3:19). Contudo, Deus não deixou o homem sem esperança. Mesmo diante da rebelião, o Senhor fez vestimentas de peles e os vestiu e prometeu o Descendente Salvador (Gn 3:15, 21). João parece fazer alusão a este episódio quando ele diz que “o Cordeiro foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:8). Uma possível relação é feita com o meio utilizado por Deus para resolução da morte e suas consequências eternas, visto que os salvos serão aqueles que lavaram as suas vestimentas no sangue do cordeiro (Apocalipse 22:14; ver 7:14). Ambas narrativas (criação e nova Terra) apropriam-se dos resultados da expiação de Cristo. O aspecto de viver vida eterna, proposto ao casal edênico, será restaurado na nova Jerusalém. E a mentira apresentada por Satanás à mulher – “certamente não morrereis”, bem como a sentença de morte declarada por Deus ao homem – “porquanto tu és pó, e ao pó retornarás” - receberão a sua sentença definitiva no encerramento do conflito cósmico (Apocalipse 20:10; 21:8). Até mesmo a morte e o inferno (sepultura) serão destruídos no lago de fogo (Apocalipse 20:14). E é iniciado, então, um novo reinado planejado por Deus para os novos Céus e nova Terra (Apocalipse 21:4-5).

4. Fontes de águas. No Éden, havia um rio que fluía do centro que se dividia em quatro braços e irrigava o jardim (Gênesis 2:10). Essa descrição parece estar em paralelo ao rio da vida que fluí do trono de Deus e do Cordeiro para a cidade santa (Apocalipse 22:1-2).

5. Outra possível relação pode ser vista entre as pedras valiosas. Na descrição do jardim, é relatado que nele havia ouro, bdélio e ônix (Gênesis 2:12). Pedras preciosas são mencionadas em conexão com o santuário terrestre. Por exemplo, o bdélio no Antigo Testamento aparece somente em conexão com o maná (Números 11:7). A pedra ônix aparece sobre o ombro e peitoral do sumo sacerdote (Êxodo 25:7; 28:9, 20), e o ouro por todo o tabernáculo terrestre, em suas paredes e mobílias (Êxodo 25:10-40). A cidade santa é descrita como sendo de ouro puro e os fundamentos de seus muros são ornamentados por um conjunto de doze pedras preciosas (Apocalipse 21:18-21).

6. É indicado que a obra designada por Deus ao homem no jardim será restaurada na nova Terra. “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e guardar” (Gênesis 2:15). A palavra cultivar significa literalmente trabalhar, servir, ministrar, e aparece ligada ao serviço realizado pelos levitas no tabernáculo terrestre (Números 8:11, 19; 16:9; 18:6-7). Essa correspondência pode revelar a possibilidade de que a obra designada ao casal edênico tinha também conotações sacras/religiosas, além do cultivo do jardim. Da mesma forma, a palavra guardar também aparece em relação ao santuário terrestre e com a obra realizada pelos levitas (Levítico 8:35; Números 3:7, 38).

7. Além dessa possível relação observada com santuário terrestre, podemos inferir uma certa ligação em relação à obra que será realizada pelos salvos na nova Terra, pois é declarado que os remidos servirão a divindade (Apocalipse 22:3). É preciso entender que o termo servirão significa “servir, ministrar, adorar”, e que transmite a ideia de serviços sacros/religiosos tais como os vocábulos cultivar e guardar (Gênesis 2:15). Por isso, podemos ver uma indicação que a obra dada no princípio ao casal edênico será restaurada por Deus na nova Jerusalém.

Companheirismo, intimidade, convívio com Deus, estes eram os privilégios que Adão e Eva desfrutavam no jardim. Porém, perderam todas essas prerrogativas em consequência do pecado/transgressão. Após a expulsão, o estado pecaminoso deles os impedia de se encontrarem com Deus face a face, por isso, sacrifícios eram realizados na entrada do jardim (Gênesis 4:4-5). Querubins foram postos a vigiar o caminho da árvore da vida para que o homem não imortalizasse o pecado comendo do fruto (Gênesis 3:24).

E para Deus não perder o relacionamento com o homem, Ele idealizou formas para restabelecer a relação até onde era possível através dos santuários terrestres (Êxodo 25:8; 1Re 6:13; 8:10). Apocalipse 21:1 a 22:5 indica que todos os privilégios vividos por Adão e Eva com a Divindade no Éden serão restaurados e elevados a um patamar muito mais glorioso na nova Jerusalém.

Perceba os contrastes: o homem rejeita o santuário feito por Deus; Deus habita no santuário feito pelo homem; Deus visita o homem no “santuário arquetípico” (jardim do Éden) e o homem visita/encontra a Deus nos santuários/templos terrestres. Finalmente, nessa concepção de encontros o homem voltará ao santuário de Deus e viverá para sempre com Ele (Apocalipse 21:3).

Leonardo Godinho Nunes e João Renato Alves da Silva (via Notícias Adventistas)

Referências:
DAVIDSON, Richard. Comic Metanarrative for the Comiing Millenium. Andrews University: Journal of the Theological Society, 2000.

DEDEREN, Raul (editor). Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia. Tradução de José Barbosa da Silva. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2011.

Associação Ministerial da Associação Geral. Nisto Cremos: as 28 crenças fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Tradução de Helio L. Grellmann. 9. ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2016.

WHITE, Ellen G. Testemunho para a Igreja. Volume 6. Tradução de Cesar Luis Pagani. 2ª edição. – Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2004.

STRONG, James. Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

SALOMÃO NAS REDES SOCIAIS

Há muitas pessoas que duvidam e minimizam a relevância do Antigo Testamento nos nossos tempos. Essas pessoas provavelmente nunca tiraram um tempo para ler o livro de Provérbios. Eu leio Provérbios quase todo dia e fico continuamente maravilhado com tamanha relevância desse livro. Parece que a sabedoria é atemporal. As lições que Davi ensinou a Salomão falam a mim tanto quanto falaram a homens e mulheres do Israel antigo. A sabedoria de Deus dada a Salomão continua a ressoar alto e claro em meu coração.

Se Salomão fosse vivo hoje e perguntássemos a ele como devemos nos relacionar com os outros neste mundo digital, se perguntássemos a ele como podemos honrar a Deus usando as redes sociais disponíveis a nós hoje, aqui está como ele provavelmente responderia.

1. Conte até dez antes de postar, compartilhar, enviar, submeter. “Você já viu alguém que se precipita no falar? Há mais esperança para o insensato do que para ele” (Provérbios 29:20). Quantas discussões poderiam ser evitadas e quantos relacionamentos salvos se as pessoas fossem apenas um pouco menos precipitadas em suas palavras? Antes de postar um artigo ou antes de comentar, é sempre (sempre!) uma boa idéia reler o que você escreveu e considerar se suas palavras expressam fielmente seus sentimentos e se expressar tais sentimentos é necessário e edificante. E, aproveitando que estou neste assunto, uma revisão ortográfica também não machuca.

2. Deixe o insensato em sua insensatez. “Não responda ao insensato com igual insensatez, do contrário você se igualará a ele” (26:4). Há momentos em que é melhor deixar um insensato em seu canto que tentar mudá-lo. Algumas vezes é melhor apenas deixá-lo sozinho do que providenciar mais munição para ele. Isso significa que pode ser melhor ignorar o troll, deixar uma repreensão sem resposta, do que atormentá-lo e sofrer sua ira.

3. Exponha a insensatez. “Responda ao insensato como a sua insensatez merece, do contrário ele pensará que é mesmo um sábio” (26:5). Aqui está – a inegável prova de que a Bíblia se contradiz! Estamos respondendo a um insensato de acordo com sua insensatez ou não? Evidentemente essa “contradição” é deliberada e está na Bíblia para mostrar que não há uma lei absoluta nessa situação. Há momentos em que a insensatez deve ser exposta, ou se o insensato é alguém que você acredita estar honestamente buscando sabedoria, ou se sua insensatez prejudicará outros. 

4. Saiba quando parar. “Se o sábio for ao tribunal contra o insensato, não haverá paz, pois o insensato se enfurecerá e zombará” (29:9). Há momentos em que você precisa parar em vez de sustentar um argumento. O insensato não tem real intenção de aprender ou de ser sábio. Pelo contrário, eles apenas buscam oportunidades de proclamar ruidosamente as tolices. Pare e então você pode ficar em paz. Desligue, apague – faça o que você precisa fazer.

5. Tenha cuidado com o que você lê. “Como amarrar uma pedra na atiradeira, assim é prestar honra ao insensato” (26:8). Tenha cuidado com as palavras que você lê e com a sabedoria em que você confia. Os insensatos podem parecer sábios, mas eles ainda guiarão os outros pelo mau caminho. Se você honra um insensato lendo e absorvendo suas palavras, está sendo como uma pessoa insensata que amarra a pedra na atiradeira, tornando a atiradeira inútil e ficando sem defesa.

6. Evite os fofoqueiros. “As palavras do caluniador são como petiscos deliciosos; descem saborosos até o íntimo” (26:22). Há muitos perfis dedicados quase que inteiramente a fofocas, a compartilhar o que é desonroso em vez de compartilhar o que é nobre. Evite essas pessoas e suas fofocas.

7. Seja humilde. “Que outros façam elogios a você, não a sua própria boca; outras pessoas, não os seus próprios lábios” (27:2). “O orgulho do homem o humilha, mas o de espírito humilde obtém honra” (29:23). Deixe que os outros te elogiem. Se você nunca recebeu elogios de ninguém, especialmente daqueles que são sábios, pode ser um bom momento para examinar seu coração e examinar se você está andando nos caminhos da sabedoria. Aqueles que são modestos e de espírito humilde receberão honra, enquanto o arrogante será humilhado.

8. Cuide da sua própria vida. “Como alguém que pega pelas orelhas um cão qualquer, assim é quem se mete em discussão alheia (26:17)”. Se você já pegou um cão pelas orelhas, você sabe que isso trará problemas. Pegar um cão desconhecido pelas orelhas trará ainda mais problemas. Fique longe de brigas de outras pessoas em vez de entrar nelas como se fossem suas. Pode haver momentos de entrar em uma disputa qualquer ou de tentar mediar uma discordância, mas a sabedoria lhe diria para cuidar da sua própria vida.

9. Não seja um perturbador. “Quem faz uma cova, nela cairá; se alguém rola uma pedra, esta rolará de volta sobre ele” (26:17). Aqueles que existem apenas para trazer problemas aos outros pagarão um preço. E, infelizmente, na internet há muitos deles. Não seja um!

10. Examine por que você escreve. “A esposa briguenta é como o gotejar constante num dia chuvoso” (27:14). O provérbio fala de uma esposa briguenta, mas poderia ser facilmente aplicado a qualquer pessoa. Se você está escrevendo meramente para ser briguento ou porque você curte um argumento, talvez seja melhor encontrar outra coisa para fazer. “O que o carvão é para as brasas e a lenha para a fogueira, o amigo de brigas é para atiçar discórdias” (26:21). Não seja o tipo de pessoa que atiça contendas por diversão própria.

11. Tome cuidado com o que você ensina. “Quem leva o homem direito pelo mau caminho cairá ele mesmo na armadilha que preparou, mas o que não se deixa corromper terá boa recompensa” (28:10). Aqueles que escolhem ensinar/influenciar outros, aceitam uma séria responsabilidade; se eles levam os outros para o mau caminho, eles devem esperar que haverá consequências. Cuidado com o que você ensina, com o que você compartilha, que crenças você expressa. Lembre-se que suas palavras são públicas e que elas podem continuar acessíveis para sempre.

12. Caminhe com o Senhor. “Quem confia em si mesmo é insensato, mas quem anda segundo a sabedoria não corre perigo” (28.26). E aqui está a chave para todas as outras coisas. Confie no Senhor mais do que em você mesmo. Caminhe com o Senhor e nos caminhos de sua sabedoria ensinados nas páginas da Bíblia. Seja um homem sábio ou uma mulher sábia na Palavra e não um tolo que confia em sua própria sabedoria (ou na falta dela). Proteja-se com maturidade espiritual, com a verdadeira sabedoria, antes de aventurar no mundo das redes sociais.

Tim Challies via Reforma21 |Traduzido por Carla Ventura | Original aqui

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

A TERRA É ESPECIAL?

Contemplando a ordem da Terra, do sistema solar e do universo estelar, cientistas e estudiosos concluíram que o Grande Projetista não deixou nada para o acaso. A inclinação da Terra, por exemplo, de 23 graus, produz as nossas estações. Os cientistas dizem-nos que, se a Terra não tivesse a exata inclinação que tem, os vapores dos oceanos mover-se-iam para norte e sul, cobrindo os continentes de gelo. Se a Lua estivesse a 80 mil quilômetros da Terra, em vez de 320 mil, as marés seriam tão enormes que todos os continentes seriam submergidos pela água — até mesmo as montanhas seriam afetadas pela erosão.

Se a crosta terrestre fosse apenas três metros mais grossa, não haveria oxigênio, e sem ele toda a vida animal morreria. Se os oceanos fossem uns poucos metros mais profundos, o dióxido de carbono e o oxigênio teriam sido absorvidos e nenhuma vida vegetal poderia existir. O peso da Terra foi estimado em seis sextilhões de toneladas (isso é um 6 seguido de 21 zeros). Ela tem, ainda assim, um equilíbrio perfeito e gira com facilidade no seu eixo. Ela revolve diariamente à razão de mais de 1.600 quilômetros por hora ou quarenta mil quilômetros por dia. Num ano isso dá mais de catorze milhões de quilômetros. Considerando o extraordinário peso de seis sextilhões de toneladas girando a essa fantástica velocidade ao redor do seu eixo invisível, as palavras de Jó 26:7 assumem significado sem paralelo: "Ele ...faz pairar a terra sobre o nada".

A Terra revolve em sua própria órbita ao redor do Sol, percorrendo a cada ano o longo circuito elíptico de 965 milhões de quilômetros — o que significa que viajamos nessa órbita à velocidade de trinta quilômetros por segundo, ou 1.800 quilômetros por hora.

Atualmente, a Terra continua sendo o único lugar no Universo onde os seres humanos foram capazes de detectar, empiricamente, a vida e seus sinais. Por quê? A Terra é especial? Segundo o Marcos Nogueira Eberlin, químico da Unicamp e doutor em espectrometria de massas, “para um planeta ser comparado ao nosso teria que ter, pelo menos, algumas dezenas das milhares de condições únicas e indispensáveis da nossa Terra que permitem que ela sustente vida”.

Eberlin enumera algumas dessas condições essenciais: 1) a existência de planetas como Júpiter e Saturno para proteger os planetas menores e a suposta vida neles do bombardeiro de asteroides e cometas; 2) a existência de luas como a nossa, com o diâmetro e a massa corretos para criar o movimento de precessão – com o ângulo correto – para formar nos mares planetários, se lá existirem, as marés corretas – e não tsunamis – que viabilizariam a vida nessas “Terras”; 3) a gravidade deve ser finamente ajustada naqueles planetas para que eles possam reter água líquida, mas não “esmagar” a vida; 4) os planetas devem ter, também, uma atmosfera correta, com proporção correta de nitrogênio e oxigênio, e bactérias como a anammox em seus oceanos para agir no ciclo de nitrogênio de lá, e, assim, controlar a correta composição 3:1 de N2 e oxigênio de sua atmosfera; 5) se bombardeados por vento solar, como talvez o sejam, esses planetas devem também ser constituídos da liga perfeita de ferro e níquel, que a nossa Terra “milagrosamente” tem, e as condições de pressão e temperatura de seu interior devem ser corretas para que haja uma esfera sólida de Ni/Fe girando em um manto líquido, criando, assim, um campo magnético finamente ajustado para desviar esse vento, que é mortal; 6) ozônio deve compor também a atmosfera desses planetas, para filtrar os raios ultravioletas; 7) a rotação deve ser bem controlada – não basta girar, precisam girar na velocidade certa – para homogeneizar a temperatura global em algo perto de 19 graus centígrados. E muito mais seria preciso!

Jó nos convida ainda a meditar sobre "as maravilhas de Deus" (37:14). Considere o Sol. Cada metro quadrado da superfície do Sol emite constantemente um nível de energia de 130 mil cavalos-força (isto é, aproximadamente 450 motores de oito cilindros) em chamas que estão sendo produzidas por uma fonte de energia muito mais potente que carvão. Os nove grandes planetas no nosso sistema solar estão distantes do Sol entre 57 milhões e cerca de cinco trilhões e oitocentos bilhões de quilômetros; cada um deles gira ao redor do Sol com absoluta precisão, com órbitas que variam entre 88 dias para Mercúrio e 248 anos para Plutão. Ainda assim o Sol é apenas uma estrela menor nos 100 bilhões de astros que compõem a nossa galáxia, a Via Láctea. Se você fosse capaz de enxergar bem o suficiente, uma moeda de dez centavos estendida à distância de um braço ocultaria quinze milhões de estrelas.

Quando tentamos apreender mentalmente as quase incontáveis estrelas e outros corpos celestes encontrados na nossa Via Láctea, apenas, somos levados a ecoar o hino de louvor de Isaías ao Todo-Poderoso Criador: "Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas coisas? Aquele que faz sair o seu exército de estrelas, todas bem contadas, as quais ele chama pelo nome; por ser ele grande em força, e forte em poder, nem uma só vem a faltar" (40:26).

Não é de admirar que Davi clame: "Ó SENHOR, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! Pois expuseste nos céus a tua majestade. Da boca de pequeninos e crianças de peito suscitaste força, por causa dos teus adversários, para fazeres emudecer o inimigo e o vingador. Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem, que dele te lembres? E o filho do homem, que o visites?" (Sl 8:1-4).

A criação revela tanto poder que desconcerta nossa mente e deixa-nos sem palavras. Somos enamorados e encantados pelo poder de Deus. Gaguejamos e hesitamos diante da santidade de Deus. Trememos diante da majestade de Deus... e apesar disso mostramo-nos melindrosos e ressabiados diante do amor de Deus.

E o que me deixa mais emocionado é saber que esse Deus que espalhou as estrelas pelo espaço e mantém o Universo é o mesmo que cuida de mim e me ajuda em meus problemas. Concluo com este lindo pensamento de Ellen G. White: "Basta que estejamos atentos, e as obras criadas por Deus nos ensinarão lições preciosas de obediência e confiança. Desde as estrelas que, em seus inexplicáveis trajetos através do espaço, percorrem, século após século, os caminhos a elas designados, até o minúsculo átomo, as coisas da natureza obedecem à vontade do Criador. E Deus cuida de tudo e sustenta tudo o que criou. Aquele que mantém os incontáveis mundos através da imensidão do Universo também Se preocupa com as necessidades do pequeno pardal que, sem qualquer temor, eleva seus humildes gorjeios. Quando as pessoas saem para trabalhar, quando se entregam à oração, quando se deitam à noite para dormir e quando se levantam pela manhã; quando o rico dá uma festa em sua mansão ou quando o pobre reúne seus filhos em volta de uma mesa escassa, em qualquer situação, o Pai celestial observa com ternura cada um dos Seus filhos. Nenhuma lágrima é derramada sem que Deus saiba. Não há sorriso que Ele não perceba" (Caminho a Cristo, p. 53).

terça-feira, 26 de setembro de 2023

ACASALADOS OU CASADOS?

Se os jovens de hoje se aconselhassem com Ellen G. White a respeito da preparação para o casamento, talvez ela dissesse o seguinte...

HOMEM
Deus realmente Se importa com qual mulher escolho me casar?
Escrevo-lhe […] da mesma forma que escreveria a meu filho […]. Que este seja o propósito dominante de seu coração para desenvolver um homem completo em Cristo Jesus! Com Cristo, você pode atuar corajosamente; sem Ele, não pode fazer nada. Cristo o comprou por um preço infinito. Você é Sua propriedade, e em todos os seus planos você deve levar isso em conta. Principalmente em suas relações matrimoniais, seja cuidadoso ao escolher alguém que se manterá ombro a ombro com você no crescimento espiritual.

Como posso saber que ela é a pessoa certa?
Pesem, os que pretendem casar-se, todo sentimento e observem todas as modalidades de caráter naquele com quem desejam unir o destino de sua vida. Seja todo passo em direção da aliança matrimonial caracterizado pela modéstia, simplicidade, sinceridade e o fervoroso propósito de agradar e honrar a Deus. O casamento afeta a vida futura tanto neste mundo como no vindouro. O cristão sincero não fará planos que Deus não possa aprovar. Se você foi abençoado com pais tementes a Deus, peça conselhos deles. Exponha a eles suas esperanças e planos, aprenda as lições de suas experiências de vida, e será poupado de muita dor. Acima de tudo, faça de Cristo seu Conselheiro. Estude Sua Palavra com oração […]. Procure o jovem, para lhe ficar ao lado, aquela que esteja habilitada a assumir a devida parte dos encargos da vida, cuja influência o enobreça e refine, fazendo-o feliz com seu amor.

Esse processo parece ser muito demorado.
Poucos têm ideias corretas acerca da relação conjugal. Muitos pensam que o casamento é a conquista da perfeita bem-aventurança; mas se eles soubessem um quarto dos pesares de homens e mulheres ligados pelos votos matrimoniais em cadeias que eles não podem e não ousam quebrar, e não se surpreenderiam que eu traçasse estas linhas. [...] Milhares há que se acham acasalados, porém não casados. [...] Eis por que eu desejaria advertir os jovens que se acham em idade casadoura a refrear a pressa na escolha de um companheiro.

Agora estou preocupado. Como posso me preparar?
Antes de assumir as responsabilidades que o casamento envolve, os jovens devem ter na vida prática uma experiência que os prepare para os deveres e encargos desse casamento. Relação tão importante como a do casamento, e tão vasta no alcance de seus resultados, não deve ser assumida precipitadamente, sem suficiente preparo, e antes de se acharem bem desenvolvidas as faculdades mentais e físicas. Os anjos estão observando essa luta. Deixo-o com esse assunto para que considere e decida por si mesmo.

MULHER
Deus realmente Se importa com o rapaz que escolho para me casar?
Se homens e mulheres têm o hábito de orar duas vezes ao dia antes de pensar em casamento, devem fazê-lo quatro vezes quando pensam em dar esse passo. O casamento é uma coisa que influenciará e afetará sua vida tanto neste mundo como no futuro. Não temos que nos agradar a nós mesmos, pois Cristo não Se agradou a Si mesmo. Não quero que entendam que estou querendo dizer que alguém deva casar-se com uma pessoa a quem não ame. Isso seria pecado. Porém, a fantasia e a natureza emocional não devem ter permissão de dirigir para a ruína. Deus requer de todo coração o supremo afeto.

Como posso saber que ele é a pessoa certa?
Antes de dar a mão em casamento, toda mulher deveria indagar se é digno aquele com quem está para unir seu destino. Qual é seu passado? É pura sua vida? É o amor que ele exprime de caráter nobre, elevado ou é simples inclinação emotiva? Tem os traços de caráter que a tornarão feliz? Poderá ela encontrar verdadeira paz e alegria na afeição dele? Será permitido a ela conservar sua individualidade ou terá que submeter seu juízo e consciência ao domínio do marido? Como discípula de Cristo, ela não pertence a si mesma; foi comprada por preço. Receba a jovem como companheiro vitalício tão somente ao que possua traços de caráter puros e varonis, que seja diligente, honesto e tenha aspirações, que ame e tema a Deus.

Esse processo parece ser muito demorado.
O amor é uma planta de origem celeste. Não é insensato; não é cego. É puro e santo. Porém, a paixão do coração natural é algo totalmente diferente. Enquanto o amor puro inclui Deus em todos os seus planos e está em perfeita harmonia com Seu Espírito, a paixão é teimosa, precipitada, insensata, desrespeitando todos os limites, e fazendo do objeto de sua escolha um ídolo. Os casamentos planejados impulsivamente e de forma egoísta em geral não dão bom resultado, antes se demonstram lamentáveis fracassos.

Agora estou preocupada. Como posso me preparar?
O coração deseja o amor humano, mas esse amor não é bastante forte, nem bastante puro ou precioso bastante para suprir o lugar do amor de Jesus. Unicamente em seu Salvador a esposa pode encontrar sabedoria, força e graça para enfrentar os cuidados, responsabilidades e tristezas da vida. Deve constituí-Lo sua força e guia. Que a mulher se entregue a Cristo antes de se entregar a qualquer amigo terreno, e não assuma nenhuma relação que entre em atrito com isso. Os que encontram a verdadeira felicidade precisam da bênção dos Céus sobre tudo que possuem e fazem. 

Consultem a Deus e a seus pais tementes a Deus, jovens amigos. Orem sobre o assunto. Pesem cada sentimento e observem todo desenvolvimento de caráter naquele a quem vocês pensam ligar o destino de sua vida. O passo que estão prestes a dar é um dos mais importantes da sua vida, e não deve ser dado precipitadamente. Se bem que amem, não amem cegamente. Considerem a ver se sua vida conjugal seria feliz ou destituída de harmonia e arruinada. Formulem a pergunta: Essa união me ajudará na direção do Céu? Aumentará meu amor para com Deus? Ampliará minha esfera de utilidade nesta vida? Caso essas refl exões não apresentem motivos de recuos, então prossigam no temor de Deus.

Cindy Tutsch (via Revista Adventista)

Fontes: Os textos foram extraídos dos livros Mensagens aos Jovens, p. 435- 460; O Lar Adventista, p. 44; e Cartas Para Jovens Namorados, p. 19-22. Alguns parágrafos foram arranjados para criar um tom conversacional, mas nenhuma ideia foi acrescentada ao texto original.

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

COACHING ESPIRITUAL?

Segundo o site do Instituto Brasileiro de Coaching, "o Coaching é um processo definido como um mix de recursos que utiliza técnicas, ferramentas e conhecimentos de diversas ciências como a administração, gestão de pessoas, psicologia, neurociência, linguagem ericksoniana, recursos humanos, planejamento estratégico, entre outras. A metodologia visa a conquista de grandes e efetivos resultados em qualquer contexto, seja pessoal, profissional, social, familiar, espiritual ou financeiro. Conduzido de maneira confidencial, o processo de Coaching é realizado através de sessões, onde um profissional chamado Coach tem a função de estimular, apoiar e despertar em seu cliente, Coachee, o seu potencial infinito para que este conquiste tudo o que deseja." 

E eu pergunto: Que tipo de potencial infinito pode haver em um ser finito como nós? E se eu posso conquistar tudo o que eu desejo, onde entra a vontade de Deus?

E quando a pessoa diz que não está fazendo nada errado, que ela está praticando o Coaching Espiritual? Segundo o mesmo site: "O Coaching Espiritual não tem ligação com religião, doutrina ou crença. O Coaching Espiritual tem como foco, proporcionar o equilíbrio entre a paz interior do indivíduo e com o universo em si. A metodologia age de dentro para fora, atuando nas questões internas da pessoa e no seu autoconhecimento. Portanto, o Coaching Espiritual auxilia o ser humano a identificar suas crenças e valores, a reconhecer a sua missão e propósito de vida, a acreditar em si mesmo, a ter amor próprio, a superar limites e assim, deixar um legado positivo, seja em âmbito pessoal ou profissional."

São técnicas que colocam no indivíduo somente a capacidade de superação, a tal ponto que ele não precise de mais nada... nem de Deus. Porque nele está a força. Mas no evangelho de João, encontramos uma afirmação do próprio Jesus dizendo: "Em verdade, em verdade vos digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai" (João 5:19).

Existem palestras de coaching acontecendo onde deveria haver uma pregação da Palavra. Isso mesmo, em pleno culto público. Infelizmente essa cultura chegou em muitas igrejas. Vamos analisar três pontos que constroem a Teologia do Coaching:

Humanismo: O coaching utiliza de técnicas humanas num indivíduo que é o centro de tudo para que este alcance seus objetivos humanos. Muitos pastores e líderes tem enveredado por esse caminho. Tratam suas pregações como palestras motivacionais da fé que confundem fé com força e vontade, evangelho com motivacionismo e Cristo com um palestrante. O foco está naquilo que o homem pode fazer através da sua fé pessoal. Fé essa que passa por Cristo, mas que tem seu objeto na própria pessoa e nos seus esforços dirigidos. Muitas “pregações” tem o mesmo objetivo do coaching, ou seja, estão “visando à conquista de grandes e efetivos resultados em qualquer contexto, seja pessoal, profissional, social, familiar, espiritual ou financeiro”. Tudo isso travestido de espiritualidade.

Materialismo: Há um desejo enorme em conquistar coisas. Sejam elas produtos do mercado como carros, casas, roupas, viagens ou algo mais “espiritual” como paz, pessoas, bom casamento, filhos educados, castidade, etc. As pessoas querem conquistar, possuir e avançar, sendo tudo isso fruto não da humilhante auto-confrontação e negação de si mesmo, mas da auto-afirmação. O papel do pastor se tornou muito parecido com o do coach: “estimular, apoiar e despertar em seu cliente (ovelha), o seu potencial infinito para que este conquiste tudo o que deseja”. É exatamente isso que essa mistura humanista-materialista busca: o potencial infinito de cada ser humano para conquistar aquilo que ele deseja. Há uma conexão com o existencialismo, onde o indivíduo e sua busca pessoal por significado em si mesmo passa a ser o centro do pensamento filosófico.

Ceticismo: Humanismo e materialismo são marcas de seres céticos. A crença no Deus da Bíblia é cada vez mais fraca onde esse tipo de cultura se manifesta. A Teologia do Coaching busca descobrir o potencial de cada pessoa para que ela alcance seus próprios objetivos. Dependência de Deus é algo apenas fantasiado. Orações são feitas apenas para que Deus abençoe nossos planos e para que Ele nos dê apoio em nossa própria empreitada. E Deus vai ficando cada vez mais distante. Em muitas igrejas, tudo que você vai encontrar nos púlpitos são mensagens sobre o que os homens podem fazer para serem alguma coisa melhor do que já são. Até a mistura com conteúdos de coaching, marketing pessoal e psicologia você encontrará. Aliás, tem sido comum pastores e líderes entrarem nesses cursos e palestras para serem mais persuasivos, contagiantes e teatrais (pra não usar manipuladores). O Espírito Santo não tem muito espaço, mesmo que usem seu nome.

Assista abaixo os vídeos do pastor Adolfo Suárez falando sobre esse assunto. Suárez é teólogo e educador, atual reitor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT). Mestre e doutor em Ciências da Religião, com pós-doutorado em Teologia, é autor de diversos livros, e membro da Adventist Theological Society e da Society of Biblical Literature.



"Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio em sua sabedoria nem o forte em sua força nem o rico em sua riqueza, mas quem se gloriar, glorie-se nisto: em compreender-me e conhecer-me, pois eu sou o Senhor, e ajo com lealdade, com justiça e com retidão sobre a terra, pois é dessas coisas que me agrado”, declara o Senhor” (Jeremias 9:23, 24).

“Assim diz o Senhor: Maldito é o homem que confia nos homens, que faz da humanidade mortal a sua força, mas cujo coração se afasta do Senhor… Mas bendito é o homem cuja confiança está no Senhor, cuja confiança nele está” (Jeremias 17:5-7).

"Ouçam agora, vocês que dizem: 'Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro'. Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa. Ao invés disso, deveriam dizer: 'Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. Agora, porém, vocês se vangloriam das suas pretensões. Toda vanglória como essa é maligna' (Tiago 4:13-16).

Coaching bíblico "vós sois trapos de imundícia" "sem mim nada podeis fazer" "não há um justo" "enganoso é o coração" "arrependei-vos". Coaching moderno: você pode. Você consegue.

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

SOMBRA DE DESCANSO NO CALOR ABRASADOR

Sombras são nossas companheiras inseparáveis. Qualquer homem ou mulher pode nos abandonar: pai, mãe, marido, esposa, filhos, irmão, colegas, amigos. Mas sombras não: elas sempre estarão ali, fieis, leais. Presentes na alegria e na tristeza, nossa sombra nunca desgruda de nós – silenciosa, soturna, com um certo ar de mistério; mas está ali, firme, constante. Temos poucas certezas na vida, mas a convicção da presença perene de nossa sombra é uma garantia inquestionável.

É interessante notar que a sombra é algo que não é. Ou seja, ela não subsiste por si só: denuncia, na verdade, a presença de luz. Não existe sombra no escuro. Ela é como um oco que se forma num espaço vazio, que a luminosidade não ocupou. Mas, embora uma sombra não exista em si, ela revela necessariamente a presença de dois elementos: o objeto que lhe deu seu formato e uma fonte de luz. Ou seja, se há ao meu lado uma sombra com o perfil de uma cadeira, isso prova que estou na presença de uma cadeira e, também, de um foco de luz.

Curioso é que, apesar da sua presença tão constante, não temos o hábito de dar muita atenção a ela. Estamos tão acostumados à sua permanência que acabamos pensando pouco ou quase nada sobre nossa leal sombra, reservamos um tempo quase nulo para refletir sobre ela e a relegamos a um papel secundário (para não dizer inexistente) em nossa vida. A verdade é que não valorizamos muito as sombras.

Exceto no calor abrasador.

Pense bem: você chega à praia, o sol está escaldante; a areia, pelando; e a sola do seu pé começa a queimar. Seu primeiro impulso é sair correndo para…? Isso mesmo: para a primeira sombra que aparecer. Nessa hora, você põe a sombra como prioridade máxima em sua vida. O mesmo ocorre num dia de verão bem quente e abafado, quando você está na rua, morrendo de calor, atravessando uma enorme praça que precisa ser cruzada para chegar ao outro lado, enquanto o suor escorre por dentro de sua roupa. Ao seu lado há um muro que projeta um corredor sombreado ao longo do caminho. Por onde você procura andar: pelo meio da praça ou junto ao muro, pela sombrinha? Pensemos em uma terceira situação: você chegou a um estacionamento a céu aberto naquele dia de rachar. Há muitas vagas ao sol e apenas uma junto a uma árvore solitária, com aquela sombrinha preciosa. Onde você procura parar o carro? Em geral, buscamos instintivamente o alívio proporcionado por aquele pedacinho de área fresca. Essas realidades revelam que, quando estamos debaixo de um calor abrasador, a sombra, normalmente relegada a um plano de pouca ou nenhuma importância, recebe papel de primazia.

Salmos 91 fala sobre a sombra de Deus. Claro que é uma metáfora, ou seja, algo dito em linguagem figurada, pois o Altíssimo, por ser espírito, não tem sombra, além do que Ele é a própria fonte de luz. Ele é o sol. Ele é a luz do mundo. No mundo espiritual, só projeta sombra quem sobre si recebe a luminosidade que vem do Divino; já quem está longe do Senhor vive em trevas: não projeta sombra porque a luz não o alcança e, portanto, vive circundado de escuridão.

Mas quando o salmista usa a imagem metafórica da sombra de Deus, nos remete a uma realidade muito parecida com as que mencionei nos exemplos da praia, da praça e do estacionamento. Porque o Onipotente está sempre conosco, constantemente disposto a nos proteger e a dar alívio. Nos momentos de maior tribulação e sofrimento, o fato de a sombra do Todo-poderoso estar por perto denuncia que Ele não nos abandonou. Onde está a sombra de Deus certamente nosso Pai está. Nossa vida pode estar sufocante, podemos estar vivendo agonias que parecem não ter fim, o chão sob nossos pés queima ante a quentura das circunstâncias, não há muro que nos dê alento debaixo do calor da insegurança e parece não haver nenhum lugar onde estacionar sem que torremos debaixo das temperaturas elevadas de um dia a dia que não dá tréguas. Sufocamos. Queimamos. Suamos. Agonizamos. Não há repouso nem paz na vida.

Mas, então… a suave voz de Deus nos aponta um caminho: “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente…” (Sl 91:1). Sim, existe a sombra do Onipotente, um refúgio seguro onde buscar descanso, onde refazer as forças para a jornada da vida, um local de segurança e alívio. Estar ao lado desse Ser que nos esconde, protege, fortalece e guarda dos ambientes hostis da luta diária é a saída para todos os males que podem nos atingir.

E a promessa do descanso ofertado para quem se achegar à sombra do Onipotente vai além daquilo que uma sombrinha comum pode proporcionar. É uma promessa de proteção, confiança, livramento, segurança, saúde, paz, tranquilidade, vida, preservação e justiça. Veja: “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente diz ao SENHOR: Meu refúgio e meu baluarte, Deus meu, em quem confio. Pois ele te livrará do laço do passarinheiro e da peste perniciosa. Cobrir-te-á com as suas penas, e, sob suas asas, estarás seguro; a sua verdade é pavês e escudo. Não te assustarás do terror noturno, nem da seta que voa de dia, nem da peste que se propaga nas trevas, nem da mortandade que assola ao meio-dia. Caiam mil ao teu lado, e dez mil, à tua direita; tu não serás atingido. Somente com os teus olhos contemplarás e verás o castigo dos ímpios. Pois disseste: O SENHOR é o meu refúgio. Fizeste do Altíssimo a tua morada. Nenhum mal te sucederá, praga nenhuma chegará à tua tenda. Porque aos seus anjos dará ordens a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra. Pisarás o leão e a áspide, calcarás aos pés o leãozinho e a serpente…” (Sl 91:1-13).

Lindas promessas, não? Mas aí você pode se perguntar: e o que é preciso para eu viver essas promessas em minha vida? Simples. Vamos continuar ouvindo a voz do Senhor: “…porque a mim se apegou com amor, eu o livrarei; pô-lo-ei a salvo, porque conhece o meu nome. Ele me invocará, e eu lhe responderei; na sua angústia eu estarei com ele, livrá-lo-ei e o glorificarei. Saciá-lo-ei com longevidade e lhe mostrarei a minha salvação” (Sl 91:14-16). Eis o segredo:

1. Apegue-se com amor a Deus.

2. Busque-o, saiba quem Ele é, aprofunde-se no conhecimento do Senhor, isto é, “conheça o seu nome”.

Basta conhecer Jesus e amá-lo. Não é difícil. Com isso, ele responderá tuas orações, te acompanhará em tuas angústias, te livrará de todo mal e concederá longevidade. E, de tudo, aquilo que mais nos enche de júbilo, esperança e alegria eterna: mediante teu amor e busca, o Onipotente te dará salvação e te glorificará, junto com Ele, pelos séculos dos séculos.

Paz a todos vocês que descansam à sombra do Onipotente,

Maurício Zágari (via Apenas)

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

VERDADEIROS OU FALSOS PROFETAS?

Jesus Cristo predisse que nos últimos dias se levantariam muitos falsos profetas e enganariam a muitos (Mt 24:11). O inimigo busca falsificar tudo o que Deus fez em benefício de Seu povo. Assim, uma das maiores bênçãos de Deus, o dom profético, tem se transformado num fator de destruição para muitas pessoas. Tais aspectos nos levam a indagar: como podemos afirmar que um profeta é verdadeiro, ou seja, que ele é um porta-voz de Deus? Há critérios que podem testar sua credibilidade bem como comprovar a veracidade de suas mensagens?

Se analisarmos o assunto cuidadosamente não seremos jamais enganados, pois a Bíblia estabelece critérios que permitem responder a essas questões. Se os testes bíblicos forem aplicados de maneira correta, eles revelarão a fonte da revelação. Neste sentido, destaco quatro critérios apresentados na Palavra de Deus.

Concordância com a Bíblia
“À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva” (Is 8:20). Se qualquer ensino ou conteúdo registrado por um profeta se desvia do padrão da verdade bíblica, deve ser reconhecido como vindo do reino das trevas. Os profetas falam movidos pelo Espírito Santo e nunca devem contradizer o padrão bíblico de instrução. Assim sendo, todos os ensinos devem estar em harmonia com o que já foi revelado.

Bons frutos
“Portanto, pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7:20). Jesus também alertou Seus discípulos dizendo: “Acautelai-vos dos falsos profetas” (Mt 7:15). Partindo do princípio de que toda árvore boa produz bons frutos, e que uma árvore má produz frutos maus, Jesus apresenta outro teste para ser aplicado aos profetas. Que tipo de fruto está sendo produzido na vida deles? Que influência seus ensinos têm sobre a vida de outros? Que resultados são vistos na vida de sua comunidade como um todo?

A vida do profeta deve ser digna de um representante de Deus. Não deve haver nenhuma dúvida com relação ao curso de suas ações e ideias. Seu exemplo e suas mensagens devem levar as pessoas a uma vida de genuína piedade cristã.

Cumprimento das predições
“O profeta que profetizar paz, somente quando se cumprir a palavra desse profeta é que será conhecido como aquele a quem o SENHOR, na verdade, enviou” (Jr 28:9). A confiança que possuímos na palavra de Deus é comprovada também pelo cumprimento das profecias nela contidas. O profeta Moisés afirmou: “Sabe que, quando esse profeta falar em nome do SENHOR, e a palavra dele se não cumprir, nem suceder, como profetizou, esta é palavra que o SENHOR não disse” (Dt 18:21,22). São inúmeros os exemplos deixados em toda a Bíblia a respeito de predições que se cumpriram. Em alguns casos, as profecias não se cumpriram nos tempos bíblicos, mas encontramos o seu cumprimento registrado na história ou ocorrendo em nossos próprios dias. A maioria dos livros do Antigo Testamento fala sobre a vinda do Messias e o Novo Testamento comprova a exatidão dessas profecias. Vale destacar que, em algumas circunstâncias, Deus revelou aos seus profetas algumas profecias condicionais e estas se cumpriram ou não com base na aceitação ou rejeição das condições estabelecidas por Deus, como no caso do profeta Jonas.

Reconhecimento da divindade de Cristo
“Amados, não deis crédito a qualquer espírito: antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora. Nisto reconhecereis o espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus” (1Jo 4:1,2).

Ao apresentar este teste, João está tratando diretamente com a questão daqueles que declaram ser profetas. Este teste é mais amplo do que simplesmente afirmar crer que Jesus Cristo viveu. Em seu sentido completo, ele envolve tudo o que a Bíblia ensina com relação à pessoa de Cristo. É o reconhecimento de que “o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1:14). Tudo isso deve ser reconhecido e ensinado por aquele que foi aceito como profeta verdadeiro. E este não deve ser um mero reconhecimento teórico.

Se formos sinceros à revelação desses ensinos, jamais seremos enganados por aqueles que se levantam para trazer mensagens, mas quando provados por esses testes, não passam de falsos profetas.

Renato Stencel (via Revista Adventista)

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

COMO OS HOMENS SERÃO NOS ÚLTIMOS DIAS?

Entre tantas evidências dos últimos dias da Terra estão também fenômenos sociais e humanos. Jesus pede que estejamos atento aos tempos, assim como alguém se atenta para o dia da colheita de uma figueira (Mateus 24). É costume dos cristãos que aguardam a volta de Jesus tentar se atentar a sinais mais literais e físicos, como o escurecimento do sol, queda das estrelas, etc. No entanto, existem outros fatores tão evidentes quanto, mas que por sua natureza subjetiva são menos observados. Mas talvez sejam os mais evidentes.

Paulo nos adverte sobre alguns personagens que aparecerão nos últimos tempos. É uma lista terrível. Semelhantes têm aparecido em outros momentos, mas somos guiados por sua advertência a apreender que eles aparecerão em maior número nos últimos dias do que em qualquer época anterior: “Lembre disto: nos últimos dias haverá tempos difíceis. Pois muitos serão egoístas, avarentos, orgulhosos, vaidosos, xingadores, ingratos, desobedientes aos seus pais e não terão respeito pela religião. Não terão amor pelos outros e serão duros, caluniadores, incapazes de se controlarem, violentos e inimigos do bem. Serão traidores, atrevidos e cheios de orgulho. Amarão mais os prazeres do que a Deus; parecerão ser seguidores da nossa religião, mas com as suas ações negarão o verdadeiro poder dela. Fique longe dessa gente!” (2 Timóteo 3:1-5).

EGOÍSTAS
A antítese do genuíno espírito cristão de abnegação (1Co 13:5) e mansidão (Mt 5:5). Vivemos num mundo maligno. As intenções que movem as pessoas são de fato egoístas. Na cosmovisão bíblica, o mundo está imerso numa constante decadência moral, resultado do pecado que impera na vida das pessoas. Nesse sentido, a natureza humana é egoísta e má, pondo em evidência só o que é favorável a si própria. Na Bíblia encontramos frases como “Negue-se a si mesmo” (Lucas 9:23); “Ninguém se glorie” (Efésios 2:9); “Ninguém busque o seu próprio interesse” (1 Coríntios 10:24); “Não vivam mais para si mesmos” (2 Coríntios 5:15); “E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:27) e muitos outros que fazemos questão de não decorar porque denunciam a mais importante e difícil transformação a ser feita: a morte do eu. O egoísmo segue como a marca dos atuais tempos da humanidade. Diz Ellen G. White: "Os perigos dos últimos dias estão a alcançar-nos. Os que vivem para agradar-se e satisfazer-se a si mesmos estão desonrando ao Senhor. Ele não pode operar por intermédio deles, pois O representariam mal perante os que são ignorantes da verdade". E completa: "O egoísmo é a essência da depravação, e, devido a se terem os seres humanos submetido ao seu poder, o que se vê no mundo é o oposto à fidelidade a Deus. Nações, famílias, e indivíduos estão cheios do desejo de fazer do eu um centro" (Mente, Caráter e Personalidade, vol. 1, p. 273).

AVARENTOS
Do grego philarguroi, “amantes do dinheiro” (ver com. de Lc 16:4; cf. com. de 1Tm 6:10). O apego aos bens materiais é a raiz dos grande problemas do mundo. Ele está na base de grande parte das filosofias políticas e econômicas, sendo, assim, responsável pela maioria dos conflitos nacionais e de classes. Em Lucas 12:15-21, Jesus apresentou os aspectos negativos da vida de um homem “avarento” e sordidamente apegado ao dinheiro, obcecado por adquirir e acumular, alguém que não é generoso. Ellen G. White adverte: "Não deves ser avarento, mas honesto contigo mesmo e com teus irmãos. A avareza é um abuso das beneficências de Deus. Seja qual for a vossa vocação ou posição, se acariciardes o egoísmo e a cobiça, sobre vós recairá o desagrado do Senhor" (Conselhos sobre Mordomia, p. 145).

ORGULHOSOS
Orgulho é sinônimo de arrogância, altivez, soberba, prepotência. São os que consideram os outros com desprezo ou desrespeito. O orgulho é uma doença espiritual maligna e silenciosa. O orgulho sufoca, destrói, mata, derruba. É um pecado mencionado com bastante frequência nas Escrituras e todas as suas menções indicam que Deus o odeia. Ellen G. White adverte: "Deus aborrece o orgulho, e… todos os orgulhosos, e todos os que procedem impiamente, serão como palha, e o dia que está para vir os consumirá. [...] A soberba é um terrível aleijão no caráter. 'A soberba precede a ruína'. Isto é verdade na família, na igreja e na nação. Sempre que a ambição e o orgulho são tolerados, a vida é maculada; pois o orgulho, não sentindo necessidade, cerra o coração para as bênçãos infinitas do Céu" (Mensagens aos Jovens, p. 128 / Profetas e Reis, p. 60).

VAIDOSOS
Em sentido bíblico original, a “vaidade” não se referia primariamente à obsessão pela aparência, mas à falta final de significado dos esforços humanos. Depois de Salomão mencionar seus grandes feitos e sua busca hedonista pelo prazer, concluiu: “E eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol” (Ec 2:11). Sabemos também que todos os troféus e conquistas humanos, todos os deuses pessoais e sociais não passam de vaidade. O texto bíblico nos diz: “Nossos pais herdaram só mentiras e vaidade, em que não havia proveito. Porventura fará um homem deuses para si, que contudo não são deuses?” (Jr 16:19, 20, ACF). Ellen G. White alerta: "A vaidade e a presunção estão matando a vida espiritual. O eu é exaltado; fala-se sobre o eu. Oh! se morresse esse eu! 'Cada dia morro' (1Co 15:31), disse o apóstolo Paulo. Quando esta orgulhosa, jactanciosa presunção, e esta complacente justiça própria permeiam a alma, não há lugar para Jesus. É-Lhe dado um lugar inferior, ao passo que o eu incha em importância, e enche todo o templo da alma. Eis a razão por que o Senhor pode fazer tão pouco por nós" (Testemunhos Seletos, vol. 2, p. 210).

XINGADORES
Ou blasfemadores, ou caluniadores, ou abusadores, são os que falam mal na tentativa de prejudicar a reputação de outros, seja de Deus ou de outras pessoas. Um dos sinais bíblicos que apontam para o tempo do fim é a proliferação de escarnecedores, aqueles que debocham da fé e do próprio Deus como escreveu Pedro em sua segunda carta, capítulo 3 verso 3: "Nos últimos dias, virão escarnecedores com seus escárnios, andando segundo suas próprias paixões". Infelizmente, este tipo de atitude desrespeitosa só tem aumentado. Quem blasfema mostra desprezo por Deus. Blasfêmia é rejeitar Deus de forma consciente. Não há salvação para o blasfemo que rejeita Deus completamente e se recusa a reconhecer Sua ação. Ellen G. White alerta: "Quando houver sido feita a última decisão, quando todos houverem tomado partido, ou em favor Cristo e dos mandamentos, ou em favor do grande apóstata, Deus levantar-Se-á em Seu poder, e para sempre será tapada a boca aos que blasfemaram contra Ele. Todo poder oponente receberá a sua punição" (Carta 28, 1900).

DESOBEDIENTE AOS PAIS
Em toda a Escritura, a desobediência aos pais é tratada como um dos piores males (Rm 1:30; 2Tm 3:2). Ellen G. White adverte: "Nestes últimos dias, os filhos se fazem notar tanto por sua desobediência e desrespeito, que Deus os tem observado especialmente, e isto constitui um sinal da proximidade do fim. É um indício de que Satanás tem completo domínio sobre a mente dos jovens. Por parte de muitos, já não há respeito para com a idade" (Testemunhos Seletos, vol. 1, p. 76). A palavra “obediência” não soa agradável aos ouvidos modernos, mas os que se ressentem dela como uma “imposição” devem assumir sua parcela de culpa pelo alarmante aumento da delinquência juvenil nos últimos tempos.

INGRATOS
A ingratidão é manifestada apesar dos benefícios recebidos de Deus. Os que são “amantes de si mesmo” raramente são gratos. A invenções modernas têm contribuído para a autossuficiência humana que, com frequência, faz com que as pessoas não sintam necessidade das bênçãos de Deus. Ellen G. White afirma: “Como Deus considera nossa ingratidão e falta de apreciação por Suas bênçãos? Quando vemos alguém desprezar ou usar mal nossas dádivas, nosso coração e nossas mãos se fecham contra essa pessoa. Mas os que recebem as dádivas misericordiosas de Deus, dia após dia e ano após ano empregam mal Suas bênçãos e negligenciam as pessoas por quem Cristo deu Sua vida. Os meios que Ele emprestou para sustentar Sua causa e construir Seu reino são investidos em casas e terras, desperdiçados com o orgulho e satisfação própria, e o Doador é esquecido” (Advent Review and Sabbath Herald, 7 dezembro de 1886).

VIOLENTOS
Estamos vivendo em um mundo sem sentido do qual o Espírito Santo vai Se retirando paulatinamente. Vejamos o que diz Ellen G. White: "Foi-me mostrado que o Espírito do Senhor está-Se retirando da Terra. O poder mantenedor de Deus logo será recusado a todos os que continuam desrespeitando os Seus mandamentos. Os relatos de transações fraudulentas, homicídios e crimes de toda a espécie chegam até nós diariamente. [...] Roubos ousados são ocorrência frequente. Homens possuídos de demônios tiram a vida a homens, mulheres e crianças. Os homens têm-se enchido de vícios, e campeia por toda parte toda espécie de mal. Os terríveis relatos que ouvimos de atos de violência declaram que o fim de todas as coisas está próximo. Agora, agora mesmo, precisamos estar nos preparando para a segunda vinda do Senhor” (Testemunhos Seletos, vol. 3, p. 280 / Carta 308, 1907).

MAIS AMIGOS DOS PRAZERES DO QUE DE DEUS
Aqueles que amam a si mesmos, naturalmente vão em busca dos prazeres, em vez de cumprir as exigências do sagrado modo de viver estipulado por Deus. Tais pessoas são controladas pelo amor ao prazer e não pelo amor a Deus. Essa descrição pode se aplicar tanto os que são membros da igreja como aos que não o são.

PARECERÃO SER SEGUIDORES DA NOSSA RELIGIÃO
Em outras versões, "forma de piedade", ou seja, características exteriores de religião, como a frequência à igreja, ofertas e até mesmo um serviço personalizado para ela. Essa característica se aplica especificamente aos que se identificam superficialmente com o cristianismo. Ao longo dos anos, o comportamento dos membros nominais da igreja, isto é, os que professam lealdade ao modo de vida de Deus, mas não revelam evidência tangível de um desenvolvimento à semelhança de Cristo, tem sido o maior obstáculo para o progresso do evangelho do que outro fator (comparar com 2Co 2:14-16; 1Tm 4:16; 2Pe 3:12).

CONCLUSÃO
A presença do mal não é uma característica única dos “últimos dias”. No entanto, a progressiva degradação moral da humanidade atesta a total incapacidade humana de se salvar. Com a crescente atividade do príncipe do mal (cf. Ap 7:1; 12:12), é de se esperar que o curso milenar do mal chegue a um clímax de intensidade nos “últimos dias”. Em contradição às afirmações amenas de uma miríade de religiosos equivocados que ensinam que o ser humano está ficando cada vez melhor e que, finalmente, o mudo inteiro será convertido, as Escrituras declaram que declaram que os homens malignos “irá de mal a pior” (2Tm 3:13). É nesse cenário que as palavras do apóstolo a respeito dos “últimos dias” assumem seu significado pleno e completo.

O mundo sempre foi o mesmo, porém, cada dia mais vemos as características que Paulo mencionou na humanidade. Nosso egoísmo se agrava com o tempo e nossa presunção também. Amamos mais o entretenimento que a Deus, os prazeres pessoais que o Criador. E o pior: neste tempo, temos a forma de piedade, a aparência de piedade, mas negamos o poder de Deus. Sinais do fim. De uma sociedade doente moralmente e espiritualmente. Não seja um deles, querido leitor. Creia em Deus para estar seguro. Creia nos profetas dEle para prosperar.

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

QUANDO A MORTE AINDA NÃO EXISTIA

As pessoas interpretam a origem da morte de forma diferente, dependendo se elas aceitam a teoria da evolução ou o relato da criação bíblica. Enquanto a evolução ensina, com base na observação, que a morte é um processo natural e necessário na dura batalha pela vida – isto é, que a morte faz parte da vida – a Bíblia nos diz, ao contrário, que a morte não fazia parte do plano original de Deus. Com base no testemunho da criação bíblica, quatro argumentos podem ser usados para apoiar essa afirmação:

  1. O mundo foi criado originalmente “bom”;
  2. O mundo criado, portanto, “ainda não” havia sido afetado pela morte;
  3. A morte não foi planejada; e
  4. E a morte já não mais existirá no mundo novo e recriado da esperança escatológica.

O “BOM” DA CRIAÇÃO

A obra divina da criação, em cada estágio de seu progresso, é inequivocamente caracterizada pela palavra tôb, (“bom”) (Gênesis 1:1, 4, 10, 18, 21, 25) e, no final do último passo, como ṭôb mĕʾōd (“muito bom”) (Gênesis 1:31). O significado da palavra hebraica tôb necessita ser esclarecido aqui. Na verdade, a ideia de “bom”, no hebraico, tem um sentido mais completo e abrangente que o que está implícito na tradução em português. Ele não estaria limitado à ideia de “função”, significando que apenas a eficiência da operação é o que se pretende aqui.1 Ao contrário, a palavra tôb pode também se referir à beleza estática (Gênesis 24:16; Daniel 1:4; 1 Reis 1:6), especialmente quando está associada à palavra rāʾâ (“ver”) como é o caso no relato da criação (Gênesis 1:1, 4, 10, 12, 18, 21, 31).

A palavra tôb pode ter também uma conotação ética (1 Samuel 18:5; 29:6, 9; 6, 9; 2 Samuel 3:36) – um sentido que é evidenciado no contexto do relato da criação, especialmente ao Deus reconhecer que: “Não é bom que o homem esteja só” (Gênesis 2:18). Essa declaração divina implica claramente numa dimensão relacional, incluindo a ética, a estética e até mesmo o amor e a felicidade emocional (Gênesis 2:23; cf. Salmo 133:1). Essa avaliação divina é particularmente significativa, pois parece estar em conexão direta com o primeiro relato da criação, que foi considerado “bom”.

No segundo relato da criação (gênesis 2:4-25), a palavra tôb ocorre cinco vezes, portanto, exercendo um papel de palavra-chave, em resposta às sete ocorrências de tôb no primeiro relato da criação (Gênesis 1:1-2:3).

Esse eco entre os dois relatos da criação, relacionado à palavra tôb, lança luz sobre o significado da palavra. Enquanto lōʾ ṭôb (“não bom”) faz uma alusão negativa ao ato perfeito e completo do primeiro relato da criação2, a frase ṭôb wārā (“bom e mau”), a palavra e o seu oposto, sugere que a palavra tôb (“bom”) deve ser compreendida como que expressando uma noção distinta e diferente de rā (“mau, mal”). O fato de a criação ser “boa” significa que ela não continha nenhum mal.

O reaparecimento da mesma frase em Gênesis 3:2 confirma esse argumento a partir de outra perspectiva.

O conhecimento do bem e do mal, sugerindo discernimento, conhecer a diferença entre o certo e o errado, foi possível somente quando “Adão foi como um de nós em relação à capacidade de distinguir entre o bem e o mal” (minha tradução literal). O verbo hāyâ (“foi”) está no tempo passado perfeito e se refere a uma situação passada. Somente enquanto Adão e Eva foram como Deus, não tendo pecado ainda, isto é, possuindo a perspectiva do puro “bem”, é que eles ainda eram capazes de distinguir entre o bem e o mal.

A mesma linha de raciocínio pode ser percebida, de forma mais ou menos paralela, em relação à questão da morte, que está em nosso contexto, imediatamente relacionada à questão do conhecimento do bem e do mal. Na verdade, a árvore da vida está associada à árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2:9), por estarem localizadas no mesmo lugar, “no meio do jardim” (Gênesis 2:9; 3:3). Adão e Eva estavam ameaçados de perder a vida, assim que eles deixassem de distinguir entre o bem e o mal (Gênesis 2:17). Pois, da mesma forma que o bem (sem o mal) é o único caminho para ser salvo do mal, a vida (sem a morte) é o único antídoto para a morte.

É digno de nota também que essa apreciação divina de “bom” não diz respeito a Deus. Diferente dos relatos egípcios da criação, que enfatizam que Deus tudo criou apenas para Seu próprio bem, para Seu próprio deleite e que Sua descendência foi apenas acidental,3 a Bíblia insiste em que a obra da criação foi deliberadamente planejada para benefício de Sua criação e essencialmente projetada para o “bem” dos seres humanos (Salmo 8).

Na verdade, os dois textos paralelos sobre a criação, em Gênesis 1 e 2, indicam que reinava perfeita paz inicialmente. Em ambos os textos, o relacionamento da humanidade com a natureza é descrito em termos positivos de domínio e responsabilidade. Em Gênesis 1:26, 28, o verbo rādâ (“ter domínio”), que é usado para expressar o relacionamento da humanidade com os animais, é um termo que pertence à linguagem da aliança entre os suseranos e seus vassalos (ver 1 Reis 4:24; Salmo 72:8) e o domínio real (ver Números 24:19), sem qualquer conotação de abuso ou crueldade. No texto paralelo de Gênesis 2, o relacionamento da humanidade com a natureza é também descrito nos termos positivos da aliança. O ser humano dá nomes aos animais e, dessa forma, não somente indica o estabelecimento de uma aliança entre a humanidade e eles, mas também declara o seu domínio sobre eles (ver Gênesis 41:45).4 Que a morte e o sofrimento não fazem parte desse relacionamento é claramente sugerido em Gênesis 1, pelo fato de que esse domínio está diretamente associado ao alimento designado aos seres humanos e aos animais; está limitado ao que as plantas produzem (Gênesis 1:28-30). Em Gênesis 2, a mesma harmonia é retratada no fato de que os animais são designados a proporcionar companheirismo aos seres humanos (Gênesis 2:18).

A essa altura do relato, o relacionamento da humanidade com Deus não havia sofrido nenhuma perturbação. A perfeição desse relacionamento é sugerida por meio de uma descrição dessa relação feita somente em termos positivos: Gênesis 1 menciona que a humanidade foi criada “à imagem de Deus” (Gênesis 1:26, 27), e Gênesis 2 relata que Deus esteve envolvido pessoalmente na criação dos seres humanos e soprou neles o fôlego de vida (Gênesis 2:7).

Da mesma forma, o relacionamento entre o homem e a mulher é perfeitamente puro. A perfeição da unidade conjugal é indicada ao ser mencionado que a humanidade foi criada como “homem e mulher” (Gênesis 1:27), e em Gênesis 2, por meio de uma declaração de Adão a respeito de sua esposa como sendo “ossos dos meus ossos, e carne da minha carne” (Gênesis 2:23). Toda a criação é descrita como perfeita. Diferentemente da antiga tradição egípcia sobre as origens, que pressupõe que o mal já estava presente no cenário da criação, a Bíblia não deixa espaço para o mal na criação original.

De maneira significativa, no final da obra realizada por Deus, a própria ideia de perfeição é expressa por meio da palavra wayĕkal (Gênesis 2:1, 2), para qualificar toda a criação. Essa palavra hebraica, geralmente traduzida por “concluídos” (NVI) e “acabados” (ARA), transmite mais do que a simples ideia cronológica de “fim”; ela também implica na ideia quantitativa de que não falta nada e de que não há nada a acrescentar, confirmando novamente que a morte e todas as formas do mal estavam totalmente ausentes desse quadro.

Além do mais, o texto bíblico não permite a especulação de uma pré-criação na qual a morte e a destruição estivessem envolvidas. Os ecos entre a introdução e a conclusão indicam que a criação a que se refere a conclusão é a mesma que é mencionada na introdução.

“Os céus e a Terra” mencionados em Gênesis 2:4 (primeira parte), ao ser concluído o relato da criação, são os mesmos de Gênesis 1:1, que é a introdução ao relato da criação. Os ecos entre as duas frases em destaque são significativos.

O fato de que o mesmo verbo bārāʾ (“criou”) é usado para designar o ato da criação, e com o mesmo objeto (“os céus e a Terra”), sugere que a conclusão aponta para o mesmo ato da criação, como o faz a introdução. Na verdade, esse fenômeno dos ecos vai inclusive mais além dessas duas linhas. Gênesis 2:1-3 ecoa Gênesis 1:1, utilizando a mesma frase, mas em ordem inversa: as palavras “criou”, “Deus”, “os céus e a Terra”, de Gênesis 1:1, reaparecem em Gênesis 2:1-3 como “os céus e a Terra” (v. 1), “Deus” (v. 2), “realizara na criação” (v.3) [criara – ARA]. Essa estrutura e a inclusão de “Deus criou” ligando Gênesis 1:1 e Gênesis 2:3 reforçam a estreita relação entre as duas seções, no início e no final do texto, confirmando novamente que a criação a que se refere o fim do relato é a mesma criação que foi referida no início do relato bíblico. O evento da criação, que se encontra em Gênesis 1:1 a 2:4 (primeira parte) é contado, portanto, como um evento completo. Não complementa uma obra feita anteriormente em um passado distante (a teoria lacuna), nem deve ela ser complementada em uma obra posterior do futuro (teoria da evolução).

O “AINDA NÃO” DA CRIAÇÃO

Parece que todo o relato do Éden foi escrito com base na perspectiva de um escritor que já sabe das consequências da morte e do sofrimento e, portanto, descreve esses eventos de Gênesis 2 como uma situação de “ainda não”. De maneira bastante significativa, a palavra terem (“ainda não”) é citada duas vezes na introdução do texto (Gênesis 2:5), definindo o tom de toda a passagem. E mais adiante no texto, a ideia de “ainda não” está, na verdade, implicitamente indicada. O āfār (“pó da terra”), do qual a humanidade foi formada (Gênesis 2:7), antecipa Gênesis 3:19: “ao pó voltará”. A árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2:17) antecipa o dilema da humanidade mais tarde confrontada com a escolha entre o bem e o mal (Gênesis 3:2-6). A tarefa dada à humanidade foi (šāmar) (“guardar”) o jardim em seu estado original, que implica no risco de perdê-lo, portanto, antecipa a decisão de Deus em Gênesis 3, de expulsá-los do jardim (v. 23) e confiar a guarda (šāmar) do jardim aos querubins (Gênesis 3:24). Essa mesma palavra (šāmar) é usada em ambas as passagens, mostrando a ligação entre elas; a primeira aponta para a última, sugerindo a situação de “ainda não”. Da mesma forma, o motivo de vergonha em Gênesis 2:25 aponta para a vergonha que Adão e Eva sentiriam tempos depois (Gênesis 3:7).5 A mesma ideia é transmitida através do jogo de palavras entre ʿārôm (“nu”) e ʿārûm (“astúcia”) da serpente; a primeira (Gênesis 2:25) é aqui também uma prolepse6 [antecipação] e aponta mais à frente para a última (Gênesis 3:1), para indicar a tragédia que se iniciará mais tarde (Gênesis 3:1) através da associação entre a serpente e os seres humanos, a qual ainda não ocorreu.7

A MORTE NÃO FOI PLANEJADA

A inversão da criação. O texto bíblico (Gênesis 3) nos fala que um evento não planejado aconteceu e inverteu o quadro original de paz em um quadro de conflito:8 conflito entre os animais e os seres humanos (Gênesis 3:1, 2, 13, 15), entre o homem e a mulher (Gênesis 3:12, 16, 17), entre a natureza e os seres humanos (Gênesis 3:18, 19) e, finalmente, dos seres humanos contra Deus (Gênesis 3:8-10, 22-24). A morte faz sua primeira aparição quando um animal é morto para cobrir a nudez do ser humano (Gênesis 3:21), mas agora ela está claramente delineada no horizonte para toda a humanidade (Gênesis 3:19-24). A bênção de Gênesis 1 e 2 foi substituída pela maldição de Gênesis 3:14, 17. Na verdade, o equilíbrio ecológico original foi perturbado, e somente um novo evento – o pecado da humanidade – é o culpado por isso.

A visão bíblica da morte. É significativo ver que a grande maioria das ocorrências da palavra técnica para a morte, mût, refere-se aos seres humanos, raramente aos animais (Gênesis 33:13; Êxodo 7:18, 21; 8:9, 13; 9:6, 7; Levítico 11:39; Eclesiastes 3:19; Isaías 66:24), e nunca é usada para as plantas em si. A mesma perspectiva é refletida no uso da palavra nepeš (“vida”) cujo ponto de partida é o equivalente ao da morte,9 que também se aplica geralmente aos humanos, algumas vezes aos animais, mas nunca para as plantas. A razão para essa ênfase na morte humana (versus animais e plantas) reside na preocupação bíblica pela salvação humana e o lugar da consciência e da responsabilidade humana no destino cósmico. Isso porque a morte está relacionada ao pecado humano, conforme citado em Romanos 6:23, tendo em vista que o pecado pertence essencialmente à esfera humana. É digno de nota que, na Bíblia, a primeira e a última aparições da morte na história da humanidade estejam associadas ao pecado e ao destino humano (Gênesis 2:17; Isaías 25:8; Apocalipse 21:3, 4).

Assim, a visão bíblica da morte é essencialmente diferente da que é proposta pela evolução. Enquanto a crença na evolução implica que a morte está inexplicavelmente entrelaçada à vida e, portanto, deve ser aceita e, mais cedo ou mais tarde, administrada, o ensino bíblico da criação implica que a morte é um absurdo a ser temido e rejeitado. A evolução ensina uma submissão intelectual à morte.

A visão hebraica da morte também se mantém à parte no antigo Oriente Próximo. Embora os cananeus e os antigos egípcios achassem a morte algo normal ou a negassem através dos mitos dos deuses da morte (Mot e Osíris), A Bíblia confronta a morte proferindo um grito existencial de revolta e um suspiro de saudade (Jó 10:18- 22; 31:35, 36; Romanos 8:22). Para os autores bíblicos, a morte é uma contradição para o Deus Criador, que é vida em Si mesmo. A expressão frequentemente proferida, “Deus [ou o Senhor] está vivo [hay]”, é uma das frases mais usadas a respeito de Deus.10 Santidade, que é a plenitude da vida, é incompatível com a morte. A lei mosaica proíbe o consumo de sangue de animais, exatamente porque “a vida da carne está no sangue” (Levítico 17:11); os cadáveres eram considerados impuros, e qualquer pessoa que tocasse em um corpo morto também estaria impura por sete dias, e durante esse período ficaria fora do santuário e do povo de Israel (Números 19:11-13). Os sacerdotes, por serem consagrados a Deus, eram proibidos de se aproximar de uma pessoa morta; eram proibidos de entrar em um cemitério ou de participar de um funeral, exceto de um parente próximo (Ezequiel 44:25). Todos esses mandamentos e rituais eram destinados a reafirmar a vida e a dar significado à atitude hebraica com relação à morte “como sendo uma intrusa e o resultado do pecado.” 11

QUANDO A MORTE NÃO MAIS EXISTIR

Não deve ser nenhuma surpresa, então, o fato de os profetas bíblicos terem entendido a esperança e a salvação apenas como a recriação total de uma nova ordem em que a humanidade e a natureza desfrutarão da última reversão de Deus, quando a criação será totalmente “boa” novamente, “não mais” será afetada pelo pecado e não haverá mais morte (Isaías 65:17; 66:22; Apocalipse 21:1-4). Nessa nova ordem, o “bem” não estará mais misturado com o “mal”, assim como a morte não mais estará misturada com a vida. Será uma ordem em que a glória de Deus ocupa todo o espaço (Apocalipse 21:23; 22:5). A esperança para a nova criação dos céus e da Terra, onde a morte não mais vai existir, se torna mais uma confirmação de que a morte não era parte da criação original de Deus.

CONCLUSÃO

A narrativa bíblica das origens ensina que a morte não era parte da criação original, por quatro razões fundamentais:

  1. A morte não era parte da criação porque o relato qualifica a criação como “boa”.
  2. A morte “ainda não” existia porque o relato é caracterizado como uma situação de “ainda não”, com base na perspectiva de alguém cuja condição já está afetada pela morte e pelo mal.
  3. A morte ocorreu devido ao pecado da raça humana, que resultou numa reversão da intenção original de Deus para com a criação.
  4. O fato de que a morte não se destinava a fazer parte da criação original de Deus é evidenciado na futura recriação dos céus e da Terra onde a morte estará ausente.

A leitura literária dos textos de Gênesis sugere que existe mesmo uma deliberada intenção de enfatizar estas razões para justificar a ausência da morte na criação:

  1. Em Gênesis 1, há a repetição da palavra tob por sete vezes, chegando à sétima sequência em ṭôb mĕʾōd (“muito bom”).
  2. Em Gênesis 2, a dupla repetição da palavra terem (“ainda não”), e a prolepse antecipando o “ainda não” de Gênesis 3.

Se, com base nas atuais observações, a evolução não pode conceber a vida sem a morte, a fé na criação leva-nos, de maneira sobrenatural, para além dessa realidade, a fim de entendermos que, realmente, a morte nada tem a ver com a vida.

Jacques B. Doukhan DHebLit (via Diálogo)

NOTAS E REFERÊNCIAS

  1. Ver John H. Walton, The Lost World of Genesis One, Ancient Cosmology and the Origins Debate (Downers Grove, Ill.: IVP Academic, 2009), p. 51, 149-151.
  2. Ver James McKeown, Genesis (The Two Horizons Old Testament Commentary; Grand Rapids, Mich.: Eerdmans, 2008), p. 33.
  3. Ver James Allen, Genesis in Egypt: The Philosophy of Ancient Egyptian Accounts (Yale Egyptological Series 2; New Haven, Conn.: Yale University Press, 1988), p. 43, 44.
  4. Cf. Umberto Cassuto, A Commentary on the Book of Genesis (Jerusalem: Magnes Press, 1974); Claus Westermann, Creation (London: Society for Promoting Christian Knowledge, 1974), p. 85.
  5. B. N. Wambacq, “Or tous deux étaient nus, l’homme et la femme, mais ils n’en avaient pas honte (Gênesis 2:25),” in Mélanges bibliques en hommage au R.P. Beda Rigaux (A. Descamps and A. de Halleux, eds.; Gembloux: Deculot, 1970), p. 553-556.
  6. Jerome T. Walsh, “Gênesis 2:46-3:24: A Synchronic Approach,” Journal of Biblical Literature 92 (1977): 164. Cf. Doukhan, Genesis Creation Story, (Andrews, Mich.: Andrews University Press, 1978), p. 76.
  7. Ver Walsh, “Gênesis 2:46-3:24,” p. 161-177. Ver também Luis Alonso-Schökel, “Sapiential and Covenant Themes in Gen 2–3,” Theology Digest 13 (1965): 3–10; Doukhan, Genesis Creation Story, 76; Yosef Roth, “The Intentional Double-Meaning Talk in Biblical Prose” [Heb], Tarbiz 41 (1972): p. 245-254; Jack M. Sasson, “wĕlōʾ yitbōšāšû (Gênesis 2:25) and Its Implications,” Biblica 66 (1985): p. 418.
  8. Ver McKeown, Genesis, p. 37.
  9. Ver J. Illman, “mût, תוּמ†,” Theological Dictionary of the Old Testament (Grand Rapids, Mich.: Eerdmans, 1996), 8: p. 191.
  10. Ver Josué 3:10; 1 Samuel 14:39; 25:34; Ezequiel 5:11; etc.
  11. Elmer Smick, “mût, תוּמ†,” Theological Wordbook of the Old Testament (Chicago, Il.: Moody Press, 1980), 1:497.