sexta-feira, 28 de abril de 2023

A ORIGEM DA BÍBLIA

Mais de 2 bilhões de cristãos no mundo baseiam sua fé na Bíblia, uma das obras escritas mais influentes da história. Assim, cada nova descoberta sobre o texto tem potencial de ser uma grande sensação.

Grigory Kessel, pesquisador da Academia de Ciência da Áustria, deve ter sentido exatamente isso ao descobrir uma tradução de 1.750 anos do Novo Testamento – uma das mais antigas de que se tem notícia.

O especialista em história medieval encontrou o texto usando fotografia ultravioleta em imagens digitalizadas de manuscritos preservados na Biblioteca do Vaticano.

O pequeno fragmento de uma tradução siríaca do grego, escrita no século III e copiada no século VI, havia sido apagado e encoberto por outros manuscritos. O siríaco é um dialeto do aramaico que surgiu durante o século I d.C.. Junto com o grego, era a língua mais importante na literatura religiosa dos primeiros séculos da era cristã.

Trata-se de mais uma peça no complicado quebra-cabeça da história bíblica. Traduções como essa ajudam a entender como o livro evoluiu ao longo dos séculos, no seu caminho de ser tornar o mais lido da história da humanidade.

A origem do fragmento recém descoberto
As traduções da Bíblia em siríaco são as mais antigas que existem. "A mais antiga com o texto completo data do século V", conta Kessel. Há centenas de manuscritos dessa versão completa, que o pesquisador usou para comparar com o fragmento encontrado na Biblioteca do Vaticano.

"As diferenças são claras: há frases e palavras que indicam que a tradução era mais antiga", relata Kessel. Segundo ele, o fragmento recém-descoberto foi provavelmente redigido numa região que fazia parte da Pérsia, e hoje fica no norte do Iraque.

A religião oficial do império persa era o zoroastrismo, uma crença monoteísta indo-iraniana, e o cristianismo era uma religião minoritária, cujos fiéis eram em parte tolerados, em parte perseguidos. O cristianismo siríaco era a principal corrente da religião no Oriente Médio.

Como são datados manuscritos antigos
Há vários métodos para datar manuscritos antigos, um processo importante para compreender quem os copiou, quando e onde. Os materiais de que são feitos, por exemplo, podem dizer muito sobre a data do texto.

Produzido a partir de uma planta egípcia homônima, o papiro era usado sobretudo antes do século III. Posteriormente foi substituído por pergaminho e velino, feitos de pele animal, que tinham melhor qualidade e mais duráveis. Por isso há muito mais documentos bíblicos do século IV em diante.

Outra pista útil é o tipo de caligrafia, que frequentemente varia, mesmo de uma geração para a outra. Os paleógrafos, especialistas em caligrafia histórica, têm uma compreensão muito sutil de como era a escrita em períodos específicos, o que permite estabelecer uma data aproximada.

Ao observar esses indicadores, os cientistas conseguem datar e localizar os manuscritos bíblicos mais antigos de que se tem conhecimento. Trata-se de textos do Velho Testamento, produzidos séculos antes da tradução encontrada por Kessel.

As origens do Velho Testamento
Os textos que compõem o Velho Testamento (como são chamados no cânone cristão), são a base para as três maiores religiões monoteístas do mundo: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.

"Escritos em hebraico e aramaico, os textos mais antigos do Velho Testamento datam do século I a.C.", conta Christoph Markschies, especialista em cristianismo antigo da Universidade Humboldt de Berlim e vice-presidente da Academia de Ciências de Berlim e Brandemburgo. Eles foram encontrados em Qumran, um sítio arqueológico na região do Mar Morto, perto de Jerusalém.

"Esses documentos foram escritos em papiro por escribas especializados em manuscritos, com extremo cuidado, pois eles estavam convencidos de que os textos eram sagrados", explica Markschies.

Os documentos foram copiados por escribas judeus no scriptorium, o espaço exclusivo para a produção de manuscritos. Em Qumran, apenas os considerados "puros" podiam trabalhar nos manuscritos, e se mantinha uma higiene impecável, com a lavagem constante das mãos.

Só a partir do apóstolo Paulo, que teria vivido entre 5 e 65 d.C., o Velho Testamento passou a ser visto como uma parte da Bíblia. Uma segunda parte, incluindo os ensinamentos de Jesus, começou a ser compilada no final do século I e acabou se tornando conhecida como o Novo Testamento.

As origens do Novo Testamento
Segundo Markschies, os evangelhos do Novo Testamento foram compostos por volta do ano 70 d.C: "Encontradas na região atual do Egito, as transcrições mais antigas que conhecemos foram feitas em papiro na primeira metade do século II".

Comparado com outros textos milenares, essa é uma transmissão muito precoce. Os manuscritos mais antigos dos ensinamentos de Platão, por exemplo, foram escritos séculos depois de sua morte, em 348/347 a.C..

"Esses manuscritos bíblicos eram originalmente em grego, a língua principal da parte oriental do Império Romano", detalha Markschies. Como os já mencionados textos do Velho Testamento, esses provavelmente foram copiados em scriptoria, e reproduzidos em todo o império.

A mais antiga versão completa do Novo Testamento, o Codex Sinaiticus ou Bíblia do Sinai, é datada do ano 400, segundo Markschies. É um dos três códices remanescentes, que originalmente continham toda a Bíblia em grego. Os outros dois – Codex Vaticanus e Codex Alenxandrinus – são do mesmo período.

Esses códices são uma parte significativa da história da Bíblia. Kessel e Markschies são apenas dois dos muitos acadêmicos do mundo que dedicam parte de sua vida profissional a desvendar os secretos desse livro tão influente.

[Com informações de G1]

A Bíblia é a concentração de diversos elementos necessários à vida: esperança, guia, verdade, luz, reflexão, etc. E por isso é um livro tão extraordinário, que dificilmente conseguimos imaginar a história da humanidade sem esse tesouro imensurável. Mas, por que a Bíblia se tornou imprescindível para nós? O que a torna tão especial?

Diferentemente de qualquer outro livro na história da humanidade, a Bíblia passou por um impressionante processo de elaboração. Para começar, como o livro Nisto Cremos afirma, “a singularidade das Escrituras baseia-se em sua origem e fonte”. De fato, os autores bíblicos mencionam com frequência que eles próprios não são os originadores das mensagens que falam ou escrevem. “Eles as recebiam das fontes divinas. Através da revelação divina, eles haviam sido habilitados a ‘ver’ estas verdades” (p. 18).

Um dos textos mais esclarecedores a respeito da origem da Bíblia foi escrito pelo apóstolo Paulo, em 2 Timóteo 3:16: “Toda a Escritura é inspirada por Deus…”. A palavra “inspirada” foi traduzida do grego theopneustos, e significa literalmente “proveniente do fôlego de Deus” (Nisto Cremos, p. 19), como se Deus tivesse “soprado” as ideias que formaram a Palavra. Assim, “Deus ‘inspirou a verdade nas mentes dos homens, os quais expressaram estas mesmas verdades em suas próprias palavras, que foram consolidadas nas Escrituras. Portanto, inspiração é o processo através do qual Deus comunica Sua verdade eterna” (ibid.).

A Bíblia é o livro mais conhecido do mundo. Está nas casas mais simples e nos mais belos palácios; nas pequenas igrejas e nos mais suntuosos templos; nas bibliotecas de cidades do interior e nas mais famosas universidades. Está à disposição de qualquer pessoa. É possível comprá-la por poucos reais, ou pagar uma fortuna por exemplares antigos e raros. Numa boa livraria, você consegue desde as Bíblias mais sofisticadas até as de linguagem mais simples. Se preferir, pode até comprar uma em forma de aplicativo para smartphone, ou mesmo lê-la online.

Entretanto, mais do que sua versatilidade, o que realmente impressiona nela é sua mensagem, a qual, como diz Philip Comfort em sua obra A Origem da Bíblia, lhe confere uma “missão civilizadora”. E qual é a mensagem da Bíblia? Como explica o autor, esse livro revela a história da salvação. “Ao longo de ambos os Testamentos, podem ser distinguidos três elementos comuns nessa história reveladora: Aquele que traz a salvação, o meio de salvação e os herdeiros da salvação” (p. 23). De acordo com a mensagem bíblica, quem traz a salvação é Deus Pai; o meio da salvação é Deus Filho – Jesus Cristo; e os herdeiros da salvação são os seres humanos, impressionados por Deus Espírito Santo.

Para o crente, a Escritura é a Palavra de Deus dada na forma objetiva das verdades proposicionais por meio de profetas e apóstolos divinamente inspirados, e o Espírito Santo é o doador da fé mediante essa Palavra.

quinta-feira, 27 de abril de 2023

O JUÍZO FINAL

O ensino uniforme em toda a Escritura é de que o homem será julgado de acordo com aquilo que tiver feito (Jeremias 17:10; 2 Coríntios 5:10; Apocalipse 2:23; 20:12; 22:12; Romanos 2:6). Todos serão recompensados ou condenados de acordo com as decisões e atitudes de sua vida (Eclesiastes 12:14; Mateus 16:27). Isto não quer dizer que a salvação será pelas obras. A salvação somente ocorre pela fé em Cristo como nosso Salvador pessoal. Mas o que ocorre é que as obras de uma pessoa seguem a sua fé. Se a pessoa tem fé em Cristo, suas obras demonstram isso. Se uma pessoa não tem fé em Cristo, sua vida e obras evidenciam de que lado a pessoa escolheu estar no grande conflito entre e bem e o mal.

Vários textos bíblicos indicam que antes de Cristo vir a este mundo, pela segunda vez, haverá um juízo. O profeta Daniel menciona em uma de suas visões a presença de um tribunal com livros sendo abertos (Daniel 7:9, 10). Logicamente, todo julgamento envolve o que está nos relatos processuais. Por isso, a Palavra de Deus menciona a existência de vários livros usados pelo tribunal divino no Céu.

(1) As Escrituras Sagradas – norma do juízo - Ellen G. White diz: "A lei de Deus é a norma pela qual o caráter e vida dos homens serão aferidos no juízo” (O Grande Conflito, p. 482). Mas ninguém será condenado por não observar a luz e o conhecimento que eles nunca tiveram, e que não puderam obter. "Deus tem dado luz e vida a todos, e em harmonia com a medida luz concedida, será cada um julgado" (O Desejado de Todas as Nações, p. 189).

(2) O livro da vida - Por inspiração divina, João escreveu: "Abriu-se outro livro, que é o da vida, e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas no livro, segundo as suas obras" (Apocalipse 20:12). De acordo com relatos de Ellen White: "Parecia haver chegado o grande dia da execução do juízo de Deus. Vários livros achavam-se diante dEle, e na capa de cada um estava escrito em letras de ouro, que pareciam como chama ardente: 'Contas-correntes do Céu'. Foi então aberto um desses livros, contendo os nomes dos que professam crer na verdade" (Testemunhos Seletos 1, p. 518).

(3) O livro de registro dos pecados dos homens - Ellen G. White diz: "A obra de cada homem passa em revista perante Deus, e é registrada pela sua fidelidade ou infidelidade. Ao lado de cada nome, nos livros do Céu, estão escritos, com terrível exatidão, toda palavra inconveniente, todo ato egoísta, todo dever não cumprido e todo pecado secreto, juntamente com toda hipocrisia dissimulada. Advertências ou admoestações enviadas pelo Céu, e que foram negligenciadas, momentos desperdiçados, oportunidades não aproveitadas, influência exercida para o bem ou para o mal, juntamente com seus resultados de vasto alcance, tudo é historiado pelo anjo relator" (O Grande Conflito, p. 480).

(4) O livro de memórias das boas obras do santos - Ellen G. White declara: "No livro memorial de Deus, toda ação de justiça se acha imortalizada. Ali, toda tentação resistida, todo o mal vencido, toda palavra de terna compaixão que se proferir, acham-se fielmente historiados. E todo ato de sacrifício, todo sofrimento e tristeza, suportado por amor de Cristo, encontra-se registrado" (O Grande Conflito, p. 481).

(5) E talvez... o livro da morte que registra os pecados dos impenitentes (Daniel 7:10; Malaquias 3:16; Neemias 13:14; 65: 6 e 7) - Ellen G. White afirma: "Em união com Cristo, os santos julgam os ímpios, decidindo cada caso de acordo com as ações praticadas no corpo. É determinada a parte que os ímpios devem sofrer, segundo as suas obras, e o registro é feito junto aos seus nomes, no livro da morte" (O Grande Conflito, p. 286).

Esses livros são usados por Deus para que o Universo saiba que Ele é justo ao condenar os ímpios e salvar aqueles que escolheram o plano divino através da morte substitutiva de Cristo. Após a abertura dos livros, o profeta Daniel nos apresenta a cena do juízo. Primeiro há o julgamento e depois a coroação de Cristo e a implantação do reino eterno (Daniel 7:13 e 14). Pedro nos diz que o julgamento do povo de Deus precede ao julgamento dos ímpios (1 Pedro 4:17).

E então virá o decreto de Apocalipse 22:11: “Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda.” Esse decreto virá no fim do juízo pré-advento, exatamente antes que Cristo venha pela segunda vez. Não haverá segundo tempo de graça. O julgamento divino é efetuado em três passos sucessivos:

a) O juízo pré-advento – justifica o caráter de Deus diante dos seres celestiais. É realizado antes que Cristo retorne à esta Terra. Antes de Cristo vir a este mundo, pela segunda vez, para levar os que O aceitaram como Salvador pessoal e viveram uma vida de entrega a Ele, nos tribunais celestes será analisado quem Cristo irá levar para o Céu. A grande preocupação dos seres celestiais é o Céu não ser colocado em perigo por algum suposto cristão que não teve a vida totalmente transformada.

Nesse julgamento, serão descartados os pretensos seguidores de Cristo, aqueles que têm o nome de cristãos, mas não O seguem de verdade. Os cristãos nominais serão julgados e condenados antes que Cristo venha para dar o galardão aos Seus filhos. Cristo, obviamente, não irá levá-los para o Céu.

b) O juízo de confirmação – justifica o caráter de Deus diante dos remidos. É realizado pelos santos durante o milênio. Quando chegarmos ao Céu, certamente vamos nos surpreender por não encontrarmos lá algumas pessoas que imaginávamos que lá estariam. Para benefício dos salvos, Cristo abrirá todos os registros do Céu para que possamos confirmar a justiça de Deus em ter concedido a salvação a alguns e em não ter levado outros para o Céu. Esse juízo ocorre entre a segunda e a terceira vinda de Cristo a este mundo no período conhecido como milênio.

O livro do Apocalipse (20:4) nos fala sobre os santos julgando durante os mil anos (milênio). Paulo declara que “o mundo” e os “anjos” serão julgados pelos santos (1 Coríntios 6:2 e 3; Judas 6). Essa será a principal obra dos santos durante o milênio – “reinarão e serão sacerdotes com Cristo durante mil anos” (Apocalipse 20:4 e 6). Por ocasião da segunda vinda de Cristo, eles serão levados ao Céu e, ali, farão o julgamento.

c) O juízo executivo final – justifica o caráter de Deus diante de todos os seres criados, bons e maus. É a proclamação da sentença condenatória contra os ímpios e sua destruição. Quando todas as dúvidas tiverem sido esclarecidas, no final do milênio, Jesus voltará novamente à Terra para ser reconhecido como justo por Satanás, seus anjos e todos os perdidos. Aqui se realizará o que está predito tanto no Antigo como no Novo Testamento:

Isaías 45:23 – “Por mim mesmo tenho jurado, já saiu da minha boca a palavra de justiça, e não tornará atrás; que diante de mim se dobrará todo o joelho, e por mim jurará toda a língua.”

Romanos 14:11 – “Porque está escrito: Como eu vivo, diz o Senhor, que todo o joelho se dobrará a mim, e toda a língua confessará a Deus.”

É importante notarmos que todo joelho se dobrará a Deus não numa obediência forçada, mas num tributo de sincero reconhecimento de que Deus foi amoroso e justo em todo o seu trato com os pecadores. A razão pela qual essas pessoas não podem receber a imortalidade é porque rejeitaram a graça de Cristo e se apegaram ao pecado de tal forma que o pecado passou a ser, para elas, uma segunda natureza. Não podem fazer parte do Céu porque colocariam em risco a existência pacífica de todos os seres do Universo.

Ellen G. White diz: "Aproximamo-nos rapidamente do fim do nosso tempo de graça. Indague cada alma: Como estou eu perante Deus? Não sabemos quão breve nosso nome pode ser tomado nos lábios de Cristo, e nosso caso ser finalmente decidido. Quais, oh! quais serão essas decisões! Seremos nós contados entre os justos, ou numerados entre os ímpios? (Mensagens Escolhidas, vol. 1, p, 125).

Aquele que tem a Cristo como seu Salvador pessoal não precisa temer o juízo de Deus em nenhuma de suas fases. João 5:24 nos revela que aquele que ouve e pratica a Palavra de Jesus não entra em juízo, mas passa da morte para a vida, isto é, somente serão condenados aqueles que não fizeram uma entrega completa da vida a Deus. No final do milênio, todos os seres humanos estarão reunidos diante de Deus. Os salvos (que não serão mais julgados nesta ocasião) receberão a confirmação de sua salvação. Os ímpios estarão em pé diante dEle para receber a sentença final – o juízo executivo final. Fogo descerá do céu e destruirá, para todo sempre, todo e qualquer vestígio de maldade (Apocalipse 20:7-9). A Bíblia nos diz que o mal não se levantará pela segunda vez (Naum 1:9).

Malaquias 4:1 e 3 – “Porque eis que aquele dia vem ardendo como fornalha; todos os soberbos, e todos os que cometem impiedade, serão como a palha; e o dia que está para vir os abrasará, diz o SENHOR dos Exércitos, de sorte que lhes não deixará nem raiz nem ramo. E pisareis os ímpios, porque se farão cinza debaixo das plantas de vossos pés, naquele dia que estou preparando, diz o SENHOR dos Exércitos." 

E assim descreve Ellen G. White no livro O Grande Conflito (pp. 674-678) o final e glorioso triunfo:

"Enquanto a Terra está envolta nos fogos da destruição, os justos habitam em segurança na Santa Cidade. Sobre os que tiveram parte na primeira ressurreição, a segunda morte não tem poder. Ao mesmo tempo em que Deus é, para os ímpios, um fogo consumidor, é, para o Seu povo, tanto Sol como Escudo (Apocalipse 20:6; Salmo 84:11).

“Vi um novo céu, e uma nova Terra. Porque já o primeiro céu e a primeira Terra passaram” (Apocalipse 21:1). O fogo que consome os ímpios purifica a Terra. Todo vestígio de maldição é removido. Nenhum inferno a arder eternamente conservará perante os resgatados as terríveis consequências do pecado. 

Apenas uma lembrança permanece: nosso Redentor sempre levará os sinais de Sua crucifixão. Em Sua fronte ferida, em Seu lado, em Suas mãos e pés estão os únicos vestígios da obra cruel que o pecado efetuou. Diz o profeta, contemplando Cristo em Sua glória: “Raios brilhantes saíam da Sua mão, e ali estava o esconderijo da Sua força” (Habacuque 3:4).

Suas mãos, Seu lado ferido donde fluiu a corrente carmesim, que reconciliou o homem com Deus – ali está a glória do Salvador, ali está “o esconderijo da Sua força”. “Poderoso para salvar”, mediante o sacrifício da redenção, foi Ele, portanto, forte para executar justiça sobre aqueles que desprezaram a misericórdia de Deus. E os sinais da Sua humilhação são a Sua mais elevada honra; através das eras intérminas, os ferimentos do Calvário Lhe proclamarão o louvor e declararão o poder. 

Na terra renovada não mais haverá lágrimas, cortejos fúnebres, manifestações de pesar. “Não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, porque já as primeiras coisas são passadas” (Apocalipse 21:4). “E morador nenhum dirá: Enfermo estou; porque o povo que habitar nela será absolvido da sua iniquidade” (Isaías 33:24).

Ali está a nova Jerusalém, a metrópole da nova Terra glorificada, como “uma coroa de glória na mão do Senhor e um diadema real na mão de teu Deus” (Isaías 62:3). “Sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como cristal resplandecente.” “As nações andarão à sua luz; e os reis da Terra trarão para ela a sua glória e honra” (Apocalipse 21:11 e 24). Diz o Senhor: “Folgarei em Jerusalém, e exultarei no Meu povo” (Isaías 65:19). “Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus” (Apocalipse 21:3).

“E ouvi a toda a criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre” (Apocalipse 5:13). O grande conflito terminou. Pecado e pecadores não mais existem. O Universo inteiro está purificado. Uma única palpitação de harmonioso júbilo vibra por toda a vasta criação. DAquele que tudo criou emanam vida, luz e alegria por todos os domínios do espaço infinito. Desde o minúsculo átomo até ao maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é amor."

quarta-feira, 26 de abril de 2023

CIÚMES

Essa é uma questão muito comum entre os que se amam e, com certeza, necessita de esclarecimento. Sentir ciúmes, por si só, não é sinal de pecado ou de problema. O apóstolo Paulo, em sua primeira epístola aos coríntios (1 Coríntios 13:4), fala que “o amor não arde em ciúmes”. O termo grego zeloo (ciúmes) empregado nesta passagem abrange o conceito de “ser zeloso” tanto no bom quanto no mau sentido. No bom sentido pode significar um “cuidado zeloso” que busca o bem, a proteção, o acolhimento a integridade e a felicidade da outra pessoa. O próprio Deus expressa Seu zelo e cuidado por aqueles que criou, dizendo: “Não terás outros deuses diante de Mim. […] Porque Eu sou Deus zeloso” (Êxodo 20:3, 5). Deus rejeita a adoração e o serviço de um coração dividido. O próprio Jesus disse: “Ninguém pode servir a dois senhores” (Mateus 6:24). Portanto, esse é o aspecto positivo: “quem ama, cuida!”

É preciso destacar que a natureza humana foi corrompida pelo pecado e que, inevitavelmente, podem surgir distorções cognitivas e afetivas. O ser humano é naturalmente egoísta, e o egoísmo é a base do pecado. A atitude de desconfiar de Deus, de colocar o eu e a vontade própria acima de Deus e de Sua vontade é, na verdade, a essência do pecado. O problema do ser humano é o pecado, e o ciúme, no aspecto negativo, reflete essa realidade.

Esse tipo de ciúme é um sentimento que gera sofrimento em relação a outra pessoa de quem se espera amor exclusivo. É o temor de que ela dedique sua afeição a outra pessoa. Quando esse sentimento é justificado por um motivo real o ciúme serve como um alerta emitido para que o problema seja confrontado em amor, visando o bem e a integridade.

Há uma distinção entre ciúme normal e patológico. Victor R. C. Silva Dia em Análise Psicodramática – Teoria da Programação Cenestésica diz: “O ciúmes (normal) é o zelo das pessoas em relação aos seus objetos de amor, sejam eles, pessoas ou coisas. Uma pessoa zelosa defende tudo o que possa invadir esta relação de amor de maneira proporcional a ameaça. O ciúme patológico é a reação desproporcional e angustiante frente à qualquer ameaça aos seus objetos de amor. Na relação com pessoas, o ciúme patológico está sempre ligado à entrada de um terceiro elemento na relação amorosa que vai roubar o objeto de amor do ciumento. Esse terceiro elemento aparece como um rival invencível e permanece constantemente na cabeça do ciumento, que se vê ameaçado o tempo todo. Há uma expectativa permanente de ameaça na relação de amor. Dizemos que o terceiro elemento está ‘na cabeça do ciumento’, pois é uma ameaça desproporcional à realidade.”

Por não conseguir confiar na pessoa amada o ciumento pode se tornar possessivo, desconfiado e inseguro, gerando um grande desgaste na relação. Esta é uma situação confusa, pois pode levar o ciumento a produzir o seguinte tipo de pensamento: “se não for meu, não será de ninguém!” O ciúme pode se tornar um pesadelo de regras, condições e restrições, que desgraçam a vida, tanto dele como de sua vítima, podendo chegar ao ponto de, literalmente, destruir a própria vida (suicídio) ou a vida do outro (homicídio).

No aspecto religioso, quando uma pessoa deixa-se dominar pelo ciúme que “arde”, torna-se difícil para ela aceitar a graça salvadora de Deus em Jesus Cristo. Isto pode levar o indivíduo a rejeitar qualquer forma de religião onde a salvação esteja fora dele mesmo. É por isto que tantas pessoas confiam muito em seus próprios esforços, regras e preceitos, para alcançar a salvação. É preciso aprender a deixar Deus controlar. Isso envolve confiança e entrega. O resultado será a paz, o descanso e a certeza do cuidado e proteção divinos.

Há muitas provas de que Deus é amor, de que Ele nos ama e de que Ele é digno de confiança. A maior evidência reside no fato de que Cristo morreu pelos nossos pecados. Que tal desenvolver uma amizade íntima com Jesus? Confie a Ele seus sentimentos, angústias, medos, ciúmes. Confronte seus pensamentos com a realidade. Pergunte-se: por que estou com ciúmes? Há algum motivo concreto para me sentir assim? Que evidências eu tenho de que a pessoa com quem me relaciono gosta de mim e me ama? Analise os fatos reais e não os distorcidos. O problema está em minha percepção ou a pessoa com quem me relaciono me dá motivos reais para ter ciúme?

Se você consegue identificar esse ciúme como patológico, confronte seus pensamentos distorcidos com os fatos reais e concretos. Faça esse exercício. Buscar ajuda profissional com um terapeuta cristão certamente ajudará a superar essa questão. Mas ressaltamos que é em Cristo, através de Sua palavra, mediante o contínuo trabalho do Espírito Santo, que podemos ter uma compreensão mais ampla sobre nós mesmos, sobre a nossa condição de pecado e o plano de Deus para nos restaurar. Por meio da fé que é desenvolvida nessa relação com Deus, recebemos as virtudes de Cristo e passamos a refletir o Seu caráter (2 Pedro 1:3-7).

[Com informações de biblia.com.br]

terça-feira, 25 de abril de 2023

MENTALIDADE SECULAR E PÓS-CRISTÃ

A missão é a mesma, mas as pessoas com as quais devemos compartilhar a boa-nova do “evangelho eterno” (Ap 14:6) não são. As mudanças socioculturais durante as últimas décadas afetaram profundamente a forma como as pessoas consideram e praticam a religião em todo o mundo. Por exemplo, a missão de Deus tem sido severamente prejudicada pelo crescimento contínuo do secularismo, que envolve a eliminação de qualquer coisa relacionada à religião ou espiritualidade. Ao mesmo tempo, muitos desenvolveram atitudes de rejeição ao cristianismo e à igreja como um todo — particularmente contra a religião institucionalizada.

Algumas dessas mudanças são maiores do que podemos perceber. Consideremos o número absoluto de pessoas que esse grupo representa: aproximadamente 1,1 bilhão de pessoas em todo o mundo. Em outras palavras, um em cada sete indivíduos deste planeta afirma não ter filiação religiosa. Esse é um grupo muito diversificado e complexo, composto de ateus, agnósticos, pessoas não religiosas ou qualquer indivíduo que não abrace nenhuma tradição religiosa ou crença específica.

Normalmente, quando olhamos para o desafio secular e pós-cristão, temos em mente o mundo ocidental. Há muitas razões para isso, entre elas, os esforços deliberados para eliminar a religião da vida pública e social. Por exemplo, de acordo com pesquisas realizadas pelo Pew Research Center, nos Estados Unidos, cerca de 3 em cada 10 adultos se consideram “sem filiação religiosa”, e cerca de um quarto da população abraça agora a cosmovisão secular/não religiosa. Durante os últimos 15 anos, o número de pessoas que se identificam com o cristianismo diminuiu 15%. O grupo que afirma não ter filiação religiosa cresceu 13%. Esses números são ainda mais altos quando as gerações mais jovens, como a Y e a Z, são incluídas nas estatísticas.

De certa forma, as questões relacionadas à falta de religiosidade na Europa Ocidental são muito mais complexas. Poucas pessoas frequentam regularmente a igreja naquele que outrora foi um continente cristão. O número de europeus que são indiferentes ao cristianismo e que consideram a religião irrelevante está em constante crescimento. Um padrão semelhante também está surgindo na Austrália, onde a rejeição da fé religiosa está em ascensão. Quase dez milhões de australianos, cerca de 38% da população, afirmam não ter religião.

Com o avanço da globalização e das novas tecnologias de comunicação, as ondas contra a religiosidade não estão invadindo apenas as fronteiras ocidentais. Nas regiões euroasiáticas, essa é uma tendência sempre crescente. Por exemplo, a ascensão do secularismo como ordem social e política coincidiu com o renascimento da religião nas regiões pós-soviéticas. Na Rússia, 28% de seus cidadãos não seguem nenhuma tradição religiosa e 13% não acreditam em Deus. Além disso, a Ásia concentra cinco dos dez países menos religiosos do mundo: China, Japão, Coreia do Sul, Coreia do Norte e Hong Kong. Um exemplo simples é que um em cada três templos budistas no Japão provavelmente fechará nos próximos 25 anos devido à falta de frequentadores e sacerdotes.

Atitudes similares são percebidas também entre os “muçulmanos culturais” – especialmente entre os jovens – que se identificam com o Islã por laços culturais e sociais, mas tendem a se desconectar da fé herdada dos pais. Os judeus estão vivendo o mesmo fenômeno. Entre os que moram em Israel e têm 20 anos de idade ou mais, 44% dizem ser laicos. Por sua vez, nos Estados Unidos, 25% se identificam como agnósticos, ateus ou “crentes” em “nada em particular”.

Ondas de ateísmo, agnosticismo e secularismo também mostram seu impacto no continente africano. Mais de 15% das pessoas na África do Sul se consideram ateias. Em Moçambique, 14% se declaram não religiosas, em comparação aos 20% de Botsuana. Pelo menos 30 milhões de pessoas na África Subsaariana se identificam como “não religiosas”, afirmando que não seguem nenhuma denominação.

Não é surpresa encontrar paralelos similares na América Latina. Com a queda da autoridade católica em muitos países da América Central e do Sul, o secularismo é predominante em várias formas. No Uruguai, o país menos religioso da América do Sul, cerca de 47% da população não acredita na existência de Deus. Além disso, aproximadamente 10% dos mexicanos denominam-se “não religiosos”, o que faz deles o grupo laico que mais cresce na América Central.

Esses são apenas alguns exemplos da realidade mundial causada pela mentalidade ­secular e pós-cristã. O que acontecerá em seguida? Com o desenvolvimento de uma postura relativista da religião, muitos agora estão tentando criar sua própria “espiritualidade”, centrada em escolhas pessoais. Isso está levando a um desenvolvimento gradual do pluralismo religioso no qual, em última instância, qualquer religião – ou atitude não religiosa – é apropriada e aceitável. Ao mesmo tempo, há uma desconfiança crescente na autoridade institucional, o que leva à rejeição e à alienação de qualquer forma de religião institucionalizada.

Mas a pergunta permanece: Ainda há oportunidades para a missão nos contextos secularizados e pós-cristãos? Tudo depende de como as encaramos e tiramos proveito delas.

Como adventistas, seguindo o conselho de Paulo e “aproveitando ao máximo cada oportunidade” (Ef 5:16), podemos desenvolver “pontos de contato” intencionais para compartilhar o amor de Deus com um mundo sem religião, principalmente por meio do nosso estilo de vida.

A atenção e o cuidado com a saúde, a ênfase na família e na comunidade e a mensagem do sábado são alguns pontos que podemos usar para estabelecer contato e compartilhar o evangelho eterno com pessoas sem filiação religiosa.

A implantação do conceito de “terceiro lugar” – criando uma opção entre o primeiro (lar) e o segundo (local de trabalho) – representa outra tremenda oportunidade de se conectar de forma relevante com a mentalidade secular e pós-cristã, na qual as abordagens tradicionais da missão não são tão bem-sucedidas.

Essas e outras abordagens foram implantadas e experimentadas em projetos-piloto apoiados pelo Centro de Estudos Sobre Secularismo e Pós-Modernismo (CSPM) na sede da Missão Adventista (saiba mais em: cspm.globalmissioncenters.org). O CSPM serve à Igreja Adventista em todo o mundo, fazendo discípulos em sociedades seculares e pós-cristãs e preparando-os para a segunda vinda de Cristo. No entanto, não devemos perder de vista o fato de que nossa mensagem deve priorizar a realidade futura do Reino de Deus e a esperança, elementos que nossos amigos secularizados e ­pós-cristãos precisam urgentemente hoje, embora frequentemente não percebam.

As pessoas mudam, mas a missão permanece a mesma: “A missão da igreja de Cristo é salvar os pecadores que estão a perecer. É divulgar o amor de Deus aos seres humanos, conquistando-os para Cristo pela eficácia daquele amor” (Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 381).

Deus pode contar conosco para o cumprimento de Sua missão?

KLEBER GONÇALVES é diretor do Centro de Estudos Sobre Secularismo e Pós-Modernismo (CSPM) da Missão Adventista (Artigo publicado na edição de abril de 2023 da Revista Adventista / Adventist World)

segunda-feira, 24 de abril de 2023

DIA DO CHURRASCO

A data é oficial no Rio Grande do Sul, criada por lei em 2003. Por isso, em 24 de abril a comunidade gaúcha comemora o Dia do Churrasco. E essa celebração não acontece apenas por aqui. Os Estados Unidos e a Argentina também comemoram a data, com um dia para celebrar o prato feito à base de carnes e assado lentamente no fogo.

E qual a relação dos adventistas com o churrasco? Os cristãos não deveriam ser vegetarianos? Na verdade, nem todos os adventistas são vegetarianos, e, para ser bem sincero, a maioria não o é. Nos Estados Unidos, a porcentagem de vegetarianos adventistas está entre 40 e 50 por cento, mas, em outros países, este percentual é bem menor, talvez menos do que 10%. No Rio Grande do Sul, talvez, ainda menor.

A questão do vegetarianismo na Bíblia é um pouco complexa. A Bíblia aborda o assunto no contexto da criação original e da nova Terra. Mas, ao mesmo tempo, as Escrituras permitem que o ser humano utilize determinados tipos de carne. Portanto, não podemos exigir que o vegetarianismo seja parte do estilo de vida cristão. Vamos, porém, examinar algumas evidências bíblicas que respondem à sua pergunta.

1. Vegetarianismo na Bíblia: É bem conhecido o fato de que a dieta original dada por Deus ao ser humano era vegetariana (Gênesis 1:29), e assim permaneceu mesmo após a entrada do pecado no mundo (Gênesis 3:18). Essa dieta foi dada quando Deus disse que Adão e Eva deveriam exercer domínio sobre os animais (Gênesis 1:28), o que estabelecia um limite do poder humano sobre o reino animal. No contexto da Criação, a dieta vegetariana indicava a ausência de violência e morte entre as criaturas, e o propósito divino era manter essa condição. Mas a dieta também revelava a sabedoria e o amor de Deus em providenciar ao ser humano um tipo de alimento que tornaria possível a ele cooperar com o Criador na preservação da vida em suas melhores condições. A carne era desnecessária para manter a vida. É interessante que a Bíblia afirma que, na consumação dos séculos, após o pecado ser erradicado da criação de Deus, os seres humanos serão novamente vegetarianos. Isso é mostrado especialmente na descrição profética sobre a transformação do mundo animal e a ausência de violência nele: “Ninguém fará nenhum mal, nem destruirá coisa alguma em todo o Meu santo monte, pois a Terra se encherá do conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar” (Isaías 11:9; veja também Isaías 11:6-9; 65:25). A ausência de violência no mundo animal pressupõe também sua ausência entre os seres humanos.

2. Consumo restrito de carne: Após o dilúvio mundial e no contexto da ausência de vegetais, Deus permitiu aos seres humanos que se alimentassem de carne (Gênesis 9:3), com base na distinção entre animais puros e impuros (Gênesis 7:2; conforme Levítico 11). Esse uso restrito de carne tinha dois objetivos principais. Em primeiro lugar, visto que era uma lei alimentar (ou de saúde), ela identificava quais carnes poderiam melhor contribuir para a preservação da vida humana em um mundo de pecado e morte. Em segundo lugar, essa lei servia para impor limites à violência humana contra a vida dos animais ao permitir apenas o consumo de um número restrito de tais criaturas. Os animais temeriam os seres humanos e, ao ver alguém, literalmente correriam para salvar a própria vida (Gênesis 9:2).

O ideal divino de uma alimentação sem carne não foi esquecido posteriormente na Bíblia. Quando o povo de Israel estava no deserto e necessitava de alimento, Deus enviou o maná. Quando os israelitas insistiram em comer carne, o Senhor lhes deu codornizes; o resultado, porém, foi doença entre eles (Números 11:4-23 e 31-33). De acordo com o relato bíblico, o Senhor raramente provia carne para Seu povo (conforme 1Reis 17:6). Em realidade, a alimentação habitual dos israelitas era basicamente vegetariana. Apenas em circunstâncias especiais eles comiam carne, como, por exemplo, em alguns rituais de sacrifício (Levítico 3:1-9). A posse de animais domésticos determinava a riqueza de uma pessoa (era sua “conta bancária”) e constituía fonte de leite, coalhada e queijo (Deuteronômio 32:14; Juízes 5:25; 2Samuel 17:29).

3. O ideal de Deus para Seu povo: Os adventistas têm levado a sério a lei dos animais puros e impuros, e consideram-na como o mínimo do que o Senhor requer de nós em relação a uma alimentação apropriada. Submetemo-nos a esses conselhos em gratidão e obediência à vontade de Deus, porque essa lei expressa Seu amoroso interesse em nosso bem-estar físico e espiritual. Quando cuidamos de maneira adequada de nosso corpo, que é o templo do Espírito Santo, glorificamos a Deus (conforme 1Coríntios 6:19-20). A evidência bíblica levou os adventistas a concluir que o vegetarianismo é o ideal de Deus para Seu povo. Esse ideal é bastante significativo em um mundo que, aos poucos, tem se conscientizado dos benefícios dessa dieta. O vegetarianismo tem se tornado popular ao redor do mundo por vários motivos: ético, ecológico, religioso e até narcisista. Talvez esse seja o momento certo para reafirmar o ideal divino, evitando-se o uso de carne em reuniões oficiais da igreja (reuniões de obreiros, “junta-panelas” na igreja, etc.) e, sempre que possível, não a utilizando em nossa mesa.

Mas... qualquer mudança radical requer cautela e, claro, acompanhamento médico. Para dar uma mãozinha para quem está cogitando parar de comer carne e aderir a um novo estilo de vida, listamos cinco benefícios para quem está pensando em cortar este alimento do cardápio.

- Reduz a inflamação no organismo
A inflamação crônica tem sido associada ao desenvolvimento de aterosclerose, ataques cardíacos, acidentes vasculares cerebrais, diabetes e doenças autoimunes. Em contrapartida, as dietas à base de plantas são naturalmente anti-inflamatórias. Ricas em fibras, antioxidantes e outros nutrientes, elas têm menos chances de desencadear a gordura saturada e endotoxinas (toxinas liberadas a partir de bactérias comumente encontradas em alimentos de origem animal).

- O nível de colesterol despenca
A gordura saturada, encontrada principalmente em carnes, aves, queijo e outros produtos de origem animal, é uma das principais causas do elevado índice de colesterol no sangue. E isso implica em maior risco para doenças cardíacas e derrames. Além disso, as dietas à base de vegetais são ricas em fibras, o que reduz ainda mais os níveis de colesterol no sangue. Também foi comprovado que a soja, um dos substitutos da carne, desempenha um papel na redução do colesterol.

- A imunidade fica mais forte
Os trilhões de micro-organismos que vivem em nosso corpo são chamados de microbiota. Cada vez mais, estes micro-organismos são reconhecidos como cruciais para a nossa saúde em geral: não só ajudam a digerir os alimentos, mas também produzem nutrientes necessários, treinam nosso sistema imunológico, mantêm o intestino saudável e nos protegem do câncer. Estudos também mostraram que eles desempenham um papel importante no controle de obesidade, diabetes, inflamação do intestino, doenças autoimunes e do fígado.

- Afasta você do diabetes tipo 2
A proteína animal, especialmente as provenientes de carne vermelha e processadas, tem sido apontada em estudos como um fator que aumenta o risco de diabetes tipo 2. Por que a carne causaria a doença? Várias razões: gordura animal, ferro de origem animal e conservantes de nitrato em carne foram comprovados como danificadores das células pancreáticas, além de piorar a inflamação e causar ganho de peso. Além disso, uma dieta baseada em vegetais pode melhorar ou até mesmo reverter o diabetes, se você já tiver sido diagnosticada.

- Vai melhorar a quantidade e a qualidade da proteína
Os onívoros dos Estados Unidos consomem, em média, mais do que 1,5 vezes a quantidade ideal de proteínas. Ao contrário do que a maioria pensa, esse excesso de proteína não faz você mais forte ou mais magro, é armazenado como gordura ou transformado em resíduos. Por outro lado, a proteína que se encontra nos alimentos vegetais protege você de muitas doenças crônicas. Então você não precisa se preocupar com o excesso. Vai precisar, é claro, consultar um nutricionista para descobrir a quantidade mínima que você precisa para não deixar o seu organismo debilitado.

Como é necessário em qualquer intervenção nutricional, antes de qualquer coisa, é essencial fazer um exame de sangue completo, para que possa ser detectado qualquer tipo de deficiência ou ou desequilíbrio nutricional. Exames periódicos também são importantes. Quem adota a dieta vegetariana deve ficar mais atento às taxas de ferro, cálcio, vitamina B12 e vitamina D, por exemplo. Sendo bem planejada, a dieta é capaz de fornecer todos os nutrientes necessários para um vida saudável. Assim, é importante manter uma alimentação bem variada, sem monotonia, para evitar carências nutricionais.

Cada pessoa possui suas individualidades bioquímicas e o corpo pode responder de forma diferente à retirada da carne. Ela pode optar em cortar totalmente ou parcialmente a carne, depende da ideia ou filosofia que está motivando a mudança de hábito. Quando bem planejada, a dieta vegetariana não acarretará nenhum desequilíbrio nutricional, portanto, se optar em tirar de vez a carne do cardápio, não haverá problema algum, neste sentido. Porém, muitas pessoas iniciam a transição retirando inicialmente a carne vermelha e, posteriormente, frango e peixe, até que o orgismo possa se acostumar.

Alguns vegetarianos que não possuem orientação nutricional aumentam o consumo de carboidratos refinados, como massas, pães e bolos, por exemplo. Isso não é correto, pois são alimentos que não contribuem positivamente para a nossa saúde. Tendo em vista que a alimentação vegetariana já possui uma boa oferta de carboidratos, exagerar no consumo destes alimentos pode causar alterações nos exames bioquímicos e levar ao aumento de peso. Se a pessoa estiver com uma alimentação balanceada e equilibrada em nutrientes, ela não sentirá necessidade de “descontar” a ausência da carne comendo muitos alimentos hipercalóricos.

Ellen G. White também fala sobre esse assunto no livro A Ciência do Bom Viver, p. 316-317:

"A carne nunca foi o melhor alimento; seu uso agora é, todavia, duplamente objetável, visto as doenças nos animais estarem crescendo com tanta rapidez. Os que comem alimentos cárneos mal sabem o que estão ingerindo. Frequentemente, se pudessem ver os animais ainda vivos, e saber que espécie de carne estão comendo, iriam repelir enojados. O povo come continuamente carne cheia de germes de tuberculose e câncer. Assim são comunicadas essas e outras doenças.

A poucas pessoas se pode fazer ver que é a carne que ingerem o que lhes tem envenenado o sangue e ocasionado os sofrimentos. Muitos morrem de doenças inteiramente devidas ao uso da carne, ao passo que a verdadeira causa não é suspeitada nem por eles nem pelos outros.

Que homem, dotado de um coração humano, havendo já cuidado de animais domésticos, poderia fitá-los nos olhos tão cheios de confiança e afeição, e entregá-los voluntariamente à faca do açougueiro? Como lhes poderia devorar a carne como um delicioso bocado? É um erro supor que a força muscular depende do uso de alimento animal. As necessidades do organismo podem ser melhor supridas, e mais vigorosa saúde se pode desfrutar, deixando de usá-lo.

Quando se deixa o uso da carne, há muitas vezes uma sensação de fraqueza, uma falta de vigor. Muitos alegam isso como prova de que a carne é essencial; mas é devido a ser o alimento desta espécie estimulante, a deixar o sangue febril e os nervos estimulados, que assim se lhes sente a falta. Alguns acham tão difícil deixar de comer carne como é ao bêbado o abandonar a bebida; mas se sentirão muito melhor com a mudança.

Quando se abandona a carne, deve-se substituí-la com uma variedade de cereais, nozes, verduras e frutas, os quais serão a um tempo nutritivos e apetitosos. O lugar da carne deve ser preenchido com alimento são e pouco dispendioso. A esse respeito, muito depende da cozinheira. Com cuidado e habilidade se podem preparar pratos que sejam ao mesmo tempo nutritivos e saborosos, substituindo, em grande parte, o alimento cárneo.

Em todos os casos, educai a consciência, aliciai a vontade, supri alimento bom, saudável, e a mudança se efetuará rapidamente, desaparecendo em breve a necessidade de carne.

Não é o tempo de todos dispensarem a carne da alimentação? Como podem aqueles que estão buscando tornar-se puros, refinados e santos a fim de poderem fruir a companhia dos anjos celestes continuar a usar como alimento qualquer coisa que exerça tão nocivo efeito na alma e no corpo? Como podem tirar a vida às criaturas de Deus a fim de consumirem a carne como uma iguaria? Volvam antes à saudável e deliciosa alimentação dada ao homem no princípio, e a praticarem e ensinarem a seus filhos a misericórdia para com as mudas criaturas que Deus fez e colocou sob nosso domínio."

sexta-feira, 21 de abril de 2023

INFLUENCIADORES DIGITAIS

Para o bem e para o mal, influenciamos e somos influenciados o tempo todo. Mas há um novo fenômeno que potencializou o impacto da ­influência: o surgimento de personalidades que usam Facebook, YouTube, ­Twitter, Instagram, TikTok e outras mídias sociais para mudar a maneira de pensar, consumir e viver das pessoas.

Muitos desses influenciadores digitais são celebridades ou microcelebridades que ganham dinheiro para divulgar produtos e fazer seus seguidores acreditarem que são o que não são e podem ter o que não podem comprar, se bem que há uma crescente cobrança por autenticidade e coerência mesmo nesse ambiente em que o “eu” se torna a mercadoria. Não sei se você é do tipo que compra um par de sapatos só porque um youtuber recomendou ou o algoritmo rastreou suas pegadas. Mas o fato é que os novos influenciadores têm um enorme público.

No ano passado, segundo a plataforma Emarsys, já havia mais de 3,2 bilhões de pessoas usando pelo menos uma mídia social (42% da população mundial). E, de acordo com o ­eMarketer, no Brasil as pessoas passam em média 3 horas e 40 minutos nas mídias sociais por dia. Isso é mais do que o tempo gasto para comer e beber!

Entretanto, o fenômeno da influência digital na sociedade como um todo não é a preocupação aqui. Nosso foco é a presença dele na igreja, algo cada vez mais comum. Em vez de subir à plataforma da igreja para falar à audiência, os influenciadores usam as plataformas da internet para atingir um grande público. Mas será que não estamos trocando o evangelho por hashtags, a velha história por stories, a pregação por postagens, as testemunhas por influenciadores, os discípulos por seguidores? O pior é que os influenciadores criam um “efeito de halo”, em que as pessoas passam a ver o todo pela parte. Que tipo de imagem de Deus, do cristianismo e da igreja eles projetam?

Obviamente, a arte de influenciar pode ser uma grande bênção. Jesus era um influenciador. Paulo era um influenciador. Ele repetiu várias vezes: “sejam meus imitadores” (1Co 4:16; 11:1; Fp 3:17; 2Ts 3:7). Muito antes do surgimento dos influenciadores, Cristo destacou que nós somos o sal da terra e a luz do mundo (Mt 5:13-16). Porém, Ele não disse que somos o silício do Vale ou os bits da informação. Somos pessoas influenciando pessoas.

Por isso, é importante avaliar a qualidade dessas influências. Antes de tudo, o influenciador deve ser um bom cristão e evitar as ideologias. E, se a sua influência não for boa, talvez seja melhor ele ser “cancelado”. Influenciar para o mal pode significar morte espiritual. Infelizmente, o fenômeno tem ganhado tanta força que alguns têm se perguntado: “Será que chegou a hora de sair das mídias sociais?” Talvez não, mas, parafraseando Jesus (Jo 17), precisamos ter consciência de que vivemos no mundo virtual, mas não pertencemos a ele.

Quando a vida se resume ao mundinho do influenciador, suas ideias e seus produtos, o universo se torna pobre demais e o horizonte muito limitado. Se a cultura da celebridade continuar se expandindo na igreja, é sinal de que estamos perdendo a guerra. Como seguidor de Cristo, seja um influenciador do bem e não do mal. Quanto mais ampla for sua esfera de influência, maior será sua responsabilidade.

Vejamos também o que Ellen G. White nos diz sobre a importância dos efeitos de nossa influência como cristãos:

"Nós mantemos uma soleníssima relação uns com os outros. Nossa influência é sempre ou a favor ou contra a salvação de pessoas. Estamos ou juntando com Cristo, ou espalhando por volta. Devemos andar humildemente e fazer retos caminhos, para que não desviemos outros do caminho certo.

Devemos observar a mais estrita castidade, em pensamento, na palavra e no comportamento. Lembremo-nos de que Deus põe nossos pecados secretos à luz do Seu rosto. Há pensamentos e sentimentos sugeridos e despertados por Satanás, os quais molestam mesmo o melhor dos homens; mas se eles não são acalentados, se são repelidos como odiosos, a mente não se mancha com culpa, e nenhuma outra pessoa é desonrada por sua influência. Oh! que cada um de nós se possa tornar um cheiro de vida para vida aos que nos cercam!

As boas qualidades que muitos possuem acham-se ocultas e, em vez de atrair pessoas para Cristo, eles as repelem. Caso essas pessoas pudessem ver a influência de suas maneiras descorteses e rudes expressões, sobre os incrédulos, e quão ofensiva é tal conduta aos olhos de Deus, haviam de reformar seus hábitos; pois a falta de cortesia é uma das maiores pedras de tropeço para os pecadores. Cristãos egoístas, azedos, queixosos, barram o caminho, de modo que os pecadores não se interessam em aproximar-se de Cristo.

Que Cristo seja visto em tudo que fazeis. Vejam todos que sois vivas epístolas de Jesus Cristo. Cada palavra que proferis, cada ato que praticais, tem para com os que convosco se associam uma influência para bem ou para mal; e, oh! quão necessário é que, pela fé, tenhais a Cristo habitando em vosso coração, a fim de que vossas palavras sejam palavras de vida, e vossas obras, atos de amor.

Aquele que procura transformar a humanidade deve compreender ele próprio a humanidade. Unicamente pela simpatia, fé e amor podem os homens ser atingidos e enobrecidos. Neste ponto, Cristo Se revela o Mestre por excelência; de todos os que viveram sobre a Terra, somente Ele tem perfeita compreensão da alma humana" (Mente, Caráter e Personalidade 2, pp. 431-440).

[Com informações de Revista Adventista]

quarta-feira, 19 de abril de 2023

COMO ERA JESUS FISICAMENTE?

Jesus por Akiane Kramarik*
A aparência de Jesus é tema de discussão desde o início do Cristianismo. Não há relatos de primeira mão da aparência física de Jesus. Alguns autores sugerem que as descrições físicas podem ter sido removidas da Bíblia, em algum momento, para enfatizar a sua universalidade. Entretanto, a maioria dos estudiosos acredita que Jesus assemelhava-se aos atuais habitantes do Oriente Médio, uma vez que a Bíblia (bem como outros relatos históricos) refere-se a ele como um Galileu Israelita.

A julgar pelos registros históricos que contam um pouco da vida na região em que Jesus nasceu e foi criado, o Messias deve ter sido um homem baixo, de pele morena e cabelos escuros e encaracolados (à esq., uma reconstituição feita pelo médico especialista em reconstrução facial inglês Richard Neave, da Universidade de Manchester). Por ser um trabalhador braçal, tinha uma estrutura física bem desenvolvida. “Como palestino, deveria ter as características daquele povo”, lembra frei Betto, dominicano autor do livro “Um Homem Chamado Jesus”. Esse é o máximo a que chega a especulação baseada em estudos. “Não saberemos nem precisamos saber da real aparência de Jesus – ela não importa”, afirma o cônego Celso Pedro da Silva, professor de teologia e reitor do Centro Universitário Assunção (Unifai).

A coisa mais próxima que temos a uma descrição na Bíblia pode ser encontrada em Isaías 53:2b: "Ele não tinha qualquer beleza ou majestade que nos atraísse, nada em sua aparência para que o desejássemos." Tudo o que essa passagem nos diz é que a aparência de Jesus era como a de qualquer outro homem - Ele era de aparência comum. Isaías estava aqui profetizando que o Servo sofredor por vir surgiria em condições humildes sem nenhum dos emblemas costumários da realeza, tornando a Sua verdadeira identidade visível apenas ao olhar perspicaz da fé.

O Novo Testamento não inclui descrições da aparência física de Jesus antes de sua morte, e as narrativas do Evangelho são, geralmente, indiferentes a aparências ou características das pessoas. Os Evangelhos Sinóticos abrangem o relato da Transfiguração de Jesus, durante o qual ele foi glorificado com "o Seu rosto brilhando como o sol", mas essa aparência refere-se à forma sobrenatural de Jesus.

O Livro de Apocalipse encerra a visão que João teve do Filho do Homem: "e os seus pés eram semelhantes ao bronze, e a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve" [outras traduções: "bronze polido"] em uma visão (1:13-16), mas esta visão é normalmente considerada uma referência à forma celestial de Jesus, não necessariamente a sua aparência durante a sua vida terrena.

Representações artísticas
Apesar da falta de referências bíblicas ou registros históricos, uma ampla gama de representações de Jesus tem aparecido, por dois milênios, muitas vezes influenciada por contextos culturais, políticos e teológicos. Como em outras artes Cristãs, as primeiras representações datam do final do segundo ou do início do terceiro século e são encontradas principalmente em Roma. Nestas primeiras representações, Jesus é normalmente apresentado como um jovem sem barba e com o cabelo encaracolado, por vezes com características diferentes dos outros homens retratados, por exemplo, seus discípulos ou romanos. No entanto, representações com barba também aparecem muito cedo, talvez desenhando um estereótipo do mundo grego da aparência dos muitos filósofos carismáticos.

Representações do 5º século da Paixão começaram a aparecer, talvez refletindo uma mudança no foco teológico da igreja primitiva. O século VI inclui algumas das primeiras imagens da crucificação e ressurreição. Por volta do século VI, a representação barbuda de Jesus havia se tornado padrão, tanto no Oriente e quanto no Ocidente. Essas representações com cabelo castanho avermelhado repartido no meio e com olhos em forma de amêndoa mostraram consistência durante vários séculos. Nessa época, várias lendas foram desenvolvidas para tentar validar os estilos de representação, por exemplo, a imagem de Edessa e, mais tarde, o Véu de Verônica.

O século XIII testemunhou um ponto de virada de como os Franciscanos começaram a enfatizar a humildade de Jesus, tanto no nascimento quanto na morte, através do Presépio, bem como na crucificação. Os Franciscanos aproximaram-se de ambas as extremidades do espectro de emoções e, como as alegrias do Natal foram adicionadas à agonia da crucificação, toda uma nova gama de emoções foram inauguradas, com amplo impacto cultural, sobre a imagem de Jesus.

O Renascimento trouxe uma série de mestres artísticos que foca em representações de Jesus, e, depois de Giotto, Fra Angelico, entre outros, desenvolveu, sistematicamente, imagens que incidiam sobre a representação de Jesus com um ideal de beleza humana. Leonardo da Vinci, em A Última Ceia, que é considerada a primeira obra de arte da Alta Renascença, devido ao seu alto nível de harmonia, tornou-se bem conhecido por retratar Jesus cercado por diferentes emoções.

Espírito de Profecia
Ilustração de John Sartain
Our Savior (1866)
Ellen G. White quando visitava a família da Srª Abbie Kellogg Norton sempre contemplava na parede da sala uma gravura de Jesus, da autoria de John Sartain, feita em 1866, e dizia ser o mais parecido com o que via em visão. No testemunho pessoal de Abbie, escrito em 19 de março de 1935, ela diz:

“Lembro-me bem de ver o irmão e a irmã White vindo à nossa casa muitas vezes quando eu era criança, provavelmente entre os anos de 1878-1881. A irmã White comentava sobre a semelhança da imagem e o Salvador que ela tem visto em suas visões. Suas palavras eram: ‘Sim, sim, ele parece o Salvador como me tem sido mostrado em visão – é o mais semelhante do que qualquer outro que tenho visto.’ Isso causou uma grande impressão em todos nós. Pouco antes de minha mãe morrer, ela recontou essa história a alguns dos irmãos e irmãs de Mountain View, Califórnia."

Ellen White viu Jesus, pela primeira vez, em um sonho sobrenatural quando tinha cerca de 15 anos de idade. Embora já tivesse sido batizada, ainda lutava contra um intenso sentimento de pecaminosidade. Ela sentia-se indigna da salvação. Em seu sonho, ela foi levada para uma sala e viu Jesus.

Em Testemunhos para a Igreja (v. 1, p. 28, 29), ela relata a experiência: “Não havia dúvida quanto àquele belo semblante; aquela expressão de benevolência e majestade não poderia pertencer a nenhum outro.” Quando Ele olhou para Ellen, ela viu em Seus olhos que Ele conhecia “todas as circunstâncias” da sua vida e todos os seus “íntimos pensamentos e sentimentos”.

Este sonho inicial sobre Jesus foi seguido por muitos outros: “Tenho visto muitas vezes o amorável Jesus, que é uma pessoa” (Primeiros Escritos, p. 77). Suas expressões faciais, especialmente Seus olhos e o som da Sua voz, causaram um impacto profundo sobre ela.

Vejamos outos textos de Ellen White que revelam alguns detalhes sobre a aparência de Jesus:

"As palavras de João não se podiam aplicar a nenhum outro senão ao longamente prometido. O Messias se achava entre eles! Sacerdotes e principais olharam em torno, com assombro, na esperança de descobrir Aquele de quem João falara. Ele, porém, não era distinguível entre a multidão" (O Desejado de Todas a Nações, p. 120).

"Ao olhar Natanael para Jesus ficou decepcionado. Poderia esse homem que apresentava os vestígios da labuta e da pobreza, ser o Messias? (Idem, p. 124).

"Era assinalado o contraste entre Jesus e o sumo sacerdote, quando juntos falavam… Perante essa augusta personagem achava-Se a Majestade do Céu, sem adorno ou ostentação. Tinha nas vestes os vestígios das jornadas; Seu rosto era pálido e exprimia tristeza; todavia, nEle se estampavam dignidade e benevolência em estranho contraste com o ar orgulhoso, presunçoso e irado do sumo sacerdote" (Idem, p. 568)

"Ele viajava a pé, ensinando Seus discípulos à medida que seguia. Suas vestes eram empoeiradas e manchadas pela viagem. Sua aparência não era atraente; porém as verdades apontadas de modo simples que caíam de Seus lábios divinos faziam com que os ouvintes se esquecessem de Sua aparência e se sentissem atraídos, não pelo homem, mas pela doutrina que Ele ensinava" (Testemunhos para a Igreja, vol. 4, p. 373).

"Ele deveria ser dotado de beleza tal O tornasse singular entre os homens. Não deveria manifestar atrativos maravilhosos de modo a atrair atenção para Si mesmo" (Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 5, p. 1131).

"Ele depôs Sua glória e majestade. Era Deus, no entanto, as glórias da forma divina, Ele, por um pouco, renunciou" (The Review and Herald, 5 de julho, 1887).

Entretanto, não devemos nos preocupar com a aparência de Cristo, com conjecturas, e sim com a Sua vida, Seu exemplo de amor, abnegação, altruísmo e sacrifício substitutivo. Ele foi o maior e melhor homem que já pisou nesta Terra, e deixou muitas lições para O seguirmos. Ele disse: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6). Todo aquele que nEle crer, será salvo (João 3:16). Ele está hoje junto ao Pai, intercedendo por nós, portanto nossa aceitação diante de Deus é pelos méritos de Cristo e não pelos nossos (Hebreus 4:14-16).

Ilustração: Akiane Kramarik é uma artista, poetisa e criança prodígio nascida nos Estados Unidos. Seu talento para a pintura fez com que o mundo a conhecesse, pois cada quadro pintado tem uma expressão de realismo muito forte. Nas pinturas em que ela retrata o ser humano, a expressão facial é surpreendente, chega a parecer que é uma fotografia. Uma de suas pinturas mais importantes foi “Jesus”, ela diz que à noite rezou pedindo a Deus para lhe mostrar como era Jesus, na manhã seguinte um homem bateu na porta de sua casa, era um carpinteiro e dizia que “seria o modelo para o seu quadro”.

terça-feira, 18 de abril de 2023

O INFERNO EXISTE?

Há séculos, cristãos têm pregado sobre um inferno de fogo queimando continuamente e alguns têm uma imaginação fértil ao retratar horríveis descrições de pessoas sofrendo enorme dor sem terem, ao menos, a misericordiosa possibilidade de morrer. O resultado é que alguns ficam apavorados e seguem a Deus por medo, enquanto outros se afastam dEle completamente. 

Ellen G. White afirma: “Quão repugnante a todo sentimento de amor e misericórdia, e mesmo ao nosso senso de justiça, é a doutrina de que os ímpios mortos são atormentados com fogo e enxofre num inferno eternamente a arder; que pelos pecados de uma breve vida terrestre sofrerão tortura enquanto Deus existir! Contudo esta doutrina tem sido largamente ensinada, e ainda se acha incorporada em muitos credos da cristandade” (O Grande Conflito, p. 535).

O que a Bíblia realmente ensina sobre o inferno?

Primeiro, as Escrituras falam sobre o inferno. Porém, precisamos ouvir as Escrituras em seus próprios termos. Quando Jesus falou sobre o inferno, estava Se referindo à punição para pecadores não arrependidos. Uma punição que terminará em fogo eterno e destruição (João 3:16; Mateus 7:13, 14; 25:31, 32, 41). Destruição/fogo eterno é um evento futuro relacionado com a segunda vinda de Cristo. Então “inferno” é algo que ainda está por vir.

Segundo, alguns tradutores da Bíblia têm traduzido várias palavras, que possuem na realidade outros significados, como sendo “inferno”.

O termo hebraico sheol e seu correlativo no grego hades significam o lugar dos mortos que estão na sepultura. Veja o uso do termo nos seguintes casos. Jacó esperava descer ao sheol – sepultura –,junto com seu filho José. Ele não esperava que seu amado filho estivesse no inferno, ou que ele mesmo fosse para lá (Gênesis 37:35). Deus faz descer à sepultura e faz subir de lá (1 Samuel 2:6). Isto não se encaixa com o pensamento cristão popular sobre o inferno. No sheol – sepultura – não há atividade, planos e nenhum conhecimento (Eclesiastes 9:10). Não há fogo nem tormento. O justo e o injusto são encontrados lá. No hades há deterioração. Jesus foi a exceção (Atos 2:27, 31). Sheol e hades são, portanto, o lugar dos mortos e não o inferno.

“Lançar no tártaro” aparece somente em 2 Pedro 2:4 e se refere ao domicílio dos anjos caídos. O termo não é usado para descrever o lugar dos mortos ou um inferno no qual pessoas são lançadas após a morte.

*Gehenna é o inferno sobre o qual Jesus falou. Esse é o lugar de punição do injusto, também associado com fogo (Marcos 9:43). Esse fogo virá no fim dos tempos com um juízo divino contra o pecado, pecadores e Satanás (Mateus 25:41). Ate lá, os mortos “dormem” em suas sepulturas. Apocalipse 20:9, 10 e 15 fala sobre o lago de fogo no qual, depois do milênio, os injustos são queimados. Considerando que gehenna está relacionado com fogo e é um evento futuro associado com um julgamento, o melhor é entender o inferno no contexto de Apocalipse 20. Este é o inferno do qual Jesus nos advertiu.

Terceiro, durará o futuro inferno “para todo o sempre?” (Apocalipse 20:10 – NVI). O significado do termo para sempre/eterno/eternidade usado nas Escrituras é muito mais amplo do que entendemos. Pode descrever: (a) alguma coisa ou alguém existindo sem um início ou sem um fim (em conexão com Deus); (b) alguma coisa ou alguém com um início, mas sem um fim (a vida eterna dos redimidos, ver João 5:24; Apocalipse 21:3, 4); e (c) alguma coisa ou alguém com início e com um fim no sentido de “por algum tempo” (Êxodo 21:5, 6; Jonas 1:17; 2:6). Em relação ao termo inferno, a expressão para todo o sempre deve ser compreendida de acordo com o terceiro caso. Por quê? Embora o injusto sofra o inferno por um limitado período de tempo, seu resultado é eterno. O fogo os “devora” (Apocalipse 10:9). Essa é a segunda morte (Apocalipse 20:14, 15). O inextinguível fogo de Mateus 3:12 não pode ser extinto até que seu trabalho esteja completo e tudo seja queimado (Mateus 13:40-42; Jeremias 17:27).

Finalmente, a vida eterna está disponível somente para os que pertencem a Jesus, e não para aqueles que fizeram uma decisão contra Ele e Deus. Além disso, Satanás também será destruído e eliminado completamente no fogo do inferno (Mateus 25:41; Apocalipse 20:10).

Assim, as Escrituras falam sobre o inferno, mas isto está ainda no futuro e terá duração limitada. Deus não é tirano. Pelo contrário, Ele é um Deus de amor e justiça e em Seu reino não haverá mais sofrimento, dor, tristeza ou morte (Apocalipse 21:3, 4).

Ekkehardt Mueller (via Diálogo)

*Nota: Confira a seguir, Ángel Manuel Rodríguez explanando sobre a trajetória do uso do substantivo Gehenna que nos mostra como um termo geográfico passou a designar um lugar de julgamento dos ímpios:

1. Gehenna como um termo geográfico. O termo grego geenna, do qual veio Gehenna, é uma transliteração do termo hebraico gê hannôm, que significa “Vale de Ben-Hinom”. Esse era um vale literal localizado na região sul de Jerusalém que servia de fronteira entre o território de Judá e Benjamim. Nesse vale os israelitas construíram um local de adoração chamado Tophet, onde deuses pagãos eram adorados e onde Acaz e Manassés adoravam os baalins canaanitas e sacrificavam crianças a Moloque (2Cr 28:2, 3; 33:6; cf. Jr 32:35). O vale estava associado à rebelião contra Deus e aos sacrifícios queimando crianças. Jeremias anunciou que o Vale de Ben-Hinon se transformaria no “Vale da Matança”, lugar de castigo para o povo rebelde de Deus, um cemitério (Jr 7:30-34; 19:1-9). Embora não tenha mencionado o vale especificamente, Isaías usa o conceito associado a ele, referindo-se ao dia do julgamento universal de Deus contra os ímpios. Deus vem com fogo para julgar “toda a humanidade” (Is 66:16). Ao saírem da cidade, os israelitas veriam cadáveres: “o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará” (v. 24).

2. Gehenna como o destino final dos ímpios. Jesus une as mensagens de Jeremias e de Isaías ao falar sobre a destruição dos ímpios no julgamento final, ao qual chamou de “condenação do inferno”, literalmente “julgamento de Gehenna”, que quer dizer os condenados ao Gehenna (Mt 23:33; cf. 5:22), de onde os ímpios não conseguiriam escapar. Gehenna é o fogo que irá destruir total e permanentemente a vida e o corpo dos ímpios, após ressuscitarem (Mt 10:28; Lc 12:4, 5). Nos sacrifícios humanos, primeiro matavam a criança, então o corpo era jogado no fogo para que se unisse aos ímpios. De fato, Jesus frequentemente fala sobre o corpo todo ser lançado no Gehenna, o fogo do julgamento de Deus (ver Mt 5:29, 30; Mc 9:43-48). A descrição dos ímpios sendo lançados no Gehenna indica o uso de força (grego ballo, “lançar”, “colocar” [Mt 5:29; 18:8]) ou como partindo para Gehenna, enfatizando a separação (aperchomai, “ir embora”, “partir” [Mc 9:43]). A ideia de que uma alma imortal separada do corpo vai para o inferno/Gehenna para queimar para sempre não é encontrada em nenhuma das passagens onde esse substantivo é usado. Enquanto os ímpios vão para o fogo da morte eterna, os justos entram para a vida com o Senhor (Mc 9:43, 49; Mt 19:8).

3. Gehenna e o fogo inextinguível. Já observamos que o Gehenna designa julgamento pelo fogo e, consequentemente, é chamado de “inferno de fogo” (Mt 18:9). O que tem confundido algumas pessoas é esse “fogo que nunca se apaga” (Mc 9:43; cf. Lc 3:17). Essa frase simplesmente significa que os seres humanos não têm controle sobre esse fogo; ele continuará queimando até que não haja mais nada a ser queimado. Jesus explica o fato citando Isaías 66:24. O Gehenna é o lugar em que “o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará”. A linguagem é figurativa no sentido de que as duas descrições parecem ser incompatíveis. O cadáver está sendo comido por vermes ou queimado pelo fogo? A ideia é: está sendo totalmente aniquilado. Os vermes e o fogo continuarão vivos até que todos os resquícios sejam eliminados.

segunda-feira, 17 de abril de 2023

O PERIGO VEM DE DENTRO

Quando eu era menino, a cidade em que eu morava contratou uma grande empresa para um trabalho de pavimentação de rua. A empresa empregava centenas de homens e eles trabalharam por muito tempo, gastando milhares de dólares para completar o projeto. Quando finalmente terminaram o trabalho e o entregaram à cidade, as autoridades rejeitaram tudo o que havia sido feito e se recusaram a pagar sequer um centavo. Deram apenas um motivo: “Não está de acordo com as especificações.” A empresa contratante não havia realizado o trabalho conforme o plano especificado.

Caros irmãos, estamos realizando nossa tarefa de acordo com as especificações? Somos construtores. Estamos ajudando a construir a rodovia pela qual passará o Rei. Que Deus nos ajude como fiéis operários a fazer nosso trabalho de acordo com as instruções! Estou absolutamente confiante em relação ao triunfo dessa mensagem. Sou corajoso e otimista quanto ao seu avanço para a vitória. Ao mesmo tempo, acredito que, para ser um vigilante fiel, não devo permitir que meu otimismo me cegue. Quando o perigo aparece ou o mal se intromete, acredito que deve ser mencionado de forma estratégica.

DOIS PERIGOS
Creio que enfrentamos dois perigos hoje: os de fora e os de dentro. Acredito que o último deve ser o mais temido. Ellen White escreveu: “Temos que temer muito mais o que vem de dentro do que de fora. Os obstáculos à força e ao sucesso são muito maiores dentro da própria igreja do que do mundo” (Review and Herald, 22 de março de 1887). Como era nos tempos de Neemias, assim é hoje. Os Sambalates, Tobias e Gésens modernos se levantam, observam o trabalho de Deus e o criticam. Eles criticam a forma pela qual o trabalho é feito. Encontram defeito na obra e naqueles que a executam. Mas, graças a Deus, no tempo de Neemias, eles não conseguiram parar o trabalho. Portanto, se estivermos sob a direção do Senhor, se formos consagrados a Deus, eles nunca poderão parar o trabalho em si. Esta é a obra de Deus. Não são os perigos de fora que devemos temer, mas os de dentro.

Ao meditar sobre isso, cheguei a crer que nosso maior perigo hoje é a atitude amplamente prevalecente de muitos membros que aceitam, com aparente satisfação, sua baixa condição espiritual e não se preocupam muito com isso.

Além dessa realidade, está a falha de alguns líderes que não apelam para uma nova e mais elevada vida espiritual na igreja. Meus irmãos, creio que esse apelo deve ser feito hoje. Graças a Deus, há aqueles que o fazem. Mas acredito que deveria ser feito por todos os líderes dessa causa.

REFORMA COMPLETA
Não podemos fechar os olhos para algumas coisas que Deus nos revelou por meio da Sua mensageira. “A menos que se arrependa e converta, a igreja que agora está a levedar-se com sua apostasia comerá do fruto de seus próprios atos, até que se aborreça por si mesma. Quando resistir ao mal e escolher o bem, quando buscar a Deus com toda a humildade e alcançar sua alta vocação em Cristo, permanecendo na plataforma da verdade eterna, e pela fé lançar mão dos dons que para ela se acham preparados, então será curada. Aparecerá então na simplicidade e pureza que Deus lhe deu, separada de embaraços terrenos, mostrando que a verdade com efeito a libertou. Então seus membros serão na verdade os escolhidos de Deus, seus representantes. É chegado o tempo de realizar uma reforma completa” (Testemunhos Para a Igreja, v. 8, p. 250).

Continuando a leitura: “Quando essa reforma começar, o espírito de oração atuará em cada crente e banirá da igreja o espírito de discórdia e luta” (p. 251). Oremos a Deus para que essa reforma seja apressada a fim de banir da igreja “o espírito da discórdia e luta”. Esse espírito não é alimentado pela atitude ou atmosfera de oração.

LÍDERES RESPONSÁVEIS
Creio que nós, como obreiros hoje, somos em grande parte responsáveis por esse espírito de dúvida, permissividade e descrença. Recentemente recebi uma carta de um jovem de uma de nossas escolas. “Durante nosso crescimento, nossa vida é moldada pelo ambiente”, escreveu ele. “Há pouco tempo, ouvi um pregador condenando o consumo de carne, e, menos de uma hora depois, ele e outros três que estavam na plataforma dizendo ‘amém’ estavam comendo carne num restaurante. Não sei o que o Senhor vai fazer a esse respeito, mas Ele deveria fazer algo.”

Esse foi o comentário do estudante. Podemos dizer que talvez esse jovem seja um extremista. Mas isso não é realmente o que importa nessa carta. O mais importante não é o que o jovem é, mas o que os pregadores são. Eles dizem uma coisa na plataforma, defendem um princípio, depois na vida cotidiana contradizem com outra prática.

Queridos irmãos, não precisamos ir longe para encontrar as causas da incredulidade e da dúvida, quando nós, como líderes, damos esse tipo de exemplo diante do povo. O que é realmente alarmante não é apenas o que aquele jovem disse, mas o fato de muitos de nossos membros terem perdido a fé em seus líderes devido à falta de coerência da liderança.

Líderes, deveríamos estar dando um exemplo consistente, colocando em prática as reformas exigidas pelo dom profético. Como podemos esperar ter a confiança e o respeito do povo se somos inconsistentes? Como podemos falar de renascimento espiritual e reforma, quando oferecemos esse tipo de testemunho? Precisamos ter coerência.

TOQUE A TROMBETA
Também precisamos de uma reforma na pregação sobre a vinda do Senhor. Creio que nossa identidade como adventistas do sétimo dia é a proclamação sobre a volta de Jesus. Estando rodeados pelas crescentes evidências de Seu retorno, como podemos permanecer ignorantes sobre um assunto tão vital como esse?

Como servos de Deus, devemos “tocar a trombeta”, pois “breve Jesus voltará”. Nosso movimento foi fundado sobre essa bendita esperança, e todo pregador deve falar sobre ela e repeti-la em todos os lugares.

Creio que o Senhor ainda está com Seu povo. A igreja de Laodiceia é também a igreja da trasladação. A mesma igreja repreendida por seus delitos é a igreja que deve ser levada para o reino de Deus. O conhecimento desse fato me dá coragem. Podemos continuar trabalhando com a certeza de que essa causa triunfará!

Este texto é parte do discurso de abertura do pastor James Lamar McElhany, então presidente da sede mundial da igreja, no Concílio Outonal, em Fort Worth, no Texas (EUA). O discurso completo foi publicado na The Advent Review and Sabbath Herald, em 3 de dezembro de 1936. (via Adventist World)