terça-feira, 30 de abril de 2019

Tire suas dúvidas sobre divórcio e novo casamento na Bíblia

A Bíblia menciona as orientações divinas sobre casamento e divórcio. O assunto costuma gerar discussões entre cristãos. O Manual da Igreja Adventista (2015) traz alguns capítulos sobre divórcio e novo casamento com conselhos e princípios que norteiam a temática. Vejamos alguns deles:

O divórcio é contrário ao propósito original de Deus ao instituir o matrimônio (Mt 19:3-8; Mc 10:2-9), mas a Bíblia não é silenciosa a esse respeito. Visto que o divórcio ocorreu como parte da experiência humana caída, uma regulamentação bíblica foi dada para limitar o dano que ele tem causado (Dt 24:1-4). A Bíblia procura consistentemente enaltecer o matrimônio e desencorajar o divórcio descrevendo as alegrias do amor e da fidelidade conjugal (Pv 5:18-20; Ct 2:16; 4:9; 5:1), referindo-se ao relacionamento de Deus com seu povo comparando-o com o casamento (Is 54:5; Jr 3:1), enfocando as possibilidades de perdão e restauração matrimonial (Os 3:1-3), e indicando a aversão de Deus pelo divórcio e a miséria que ele causa (Ml 2:15, 16).

Jesus restaurou o conceito original do casamento como um compromisso vitalício entre um homem e uma mulher e entre o casal e Deus (Mt 19:4-6; Mc 10:6-9). Muitas instruções bíblicas confirmam o casamento e procuram corrigir os problemas que tendem a enfraquecer ou destruir o seu fundamento (Ef 5:21-33; Hb 13:4; 1Pe 3:7). O casamento baseia-se nos princípios do amor, lealdade, exclusividade, confiança e amparo mantidos por ambos os cônjuges em obediência a Deus (Gn 2:24; Mt 19:6; 1Co 13; Ef 5:21-29; 1Ts 4:1-7). Quando esses princípios são violados, as Escrituras reconhecem que trágicas circunstâncias podem destruir o casamento.

A graça divina é o único remédio para os males do divórcio. Quando o casamento falha, os ex-cônjuges devem ser encorajados a examinar sua experiência e procurar conhecer a vontade de Deus para sua vida. Deus provê conforto para os que foram feridos. O Senhor também aceita o arrependimento de pessoas que cometeram os mais destrutivos pecados, mesmo aqueles que trazem consigo consequências irreparáveis (2Sm 11; 12; Sl 34:18; 86:5; Jl 2:12, 13; Jo 8:2-11; 1Jo 1:9). As Escrituras reconhecem o adultério e a fornicação (Mt 5:32) e o abandono por parte de um cônjuge incrédulo (1Co 7:10-15) como motivos para o divórcio.

Não há na Escritura nenhum ensinamento direto sobre novo casamento após o divórcio. Existe, no entanto, uma forte implicação nas palavras de Jesus em Mateus 19:9 no sentido de permitir o novo casamento de uma pessoa que permaneceu fiel, cujo cônjuge foi infiel ao voto matrimonial.

Posição da Igreja Sobre Divórcio e Novo Casamento
Reconhecendo os ensinos bíblicos acerca do casamento, a Igreja está ciente de que as relações matrimoniais ficam, em muitos casos, abaixo do ideal. O problema do divórcio e do novo casamento só poderá ser visto em sua verdadeira luz se for observado do ponto de vista do Céu, tendo como pano de fundo o Jardim do Éden.

Central no plano sagrado de Deus para o nosso mundo foi a criação de seres feitos à sua imagem, que se multiplicassem e enchessem a terra e vivessem juntos em pureza, harmonia e felicidade. Ele criou Eva do lado de Adão e a deu a ele como sua esposa. Assim foi instituído o matrimônio. Deus, o Autor da instituição, também foi o Oficiante do primeiro casamento. Depois de o Senhor ter revelado a Adão que Eva era verdadeiramente osso de seus ossos e carne de sua carne, nunca poderia lhe surgir na mente dúvida de que os dois fossem uma só carne. Nem deveria surgir dúvida na mente de nenhum dos dois no santo par que Deus queria que seu lar durasse para sempre.

A Igreja adota, sem reserva, esse conceito do casamento e do lar, crendo que qualquer diminuição dessa elevada visão é, na mesma medida, uma diminuição do ideal celestial. A crença de que o casamento é uma instituição divina se baseia nas Sagradas Escrituras. Por conseguinte, todo pensamento e argumento no intrincado campo do divórcio e novo casamento deve ser constantemente harmonizado com aquele santo ideal revelado no Éden. A Igreja crê na lei de Deus e também na misericórdia perdoadora de Deus. Crê que vitória e salvação podem ser seguramente encontradas por aqueles que transgrediram nesse assunto de divórcio e novo casamento da mesma forma que por aqueles que falharam em quaisquer outras sagradas normas de Deus. Nada do que é apresentado aqui tem a intenção de minimizar a misericórdia de Deus ou do seu perdão.

No temor do Senhor, a Igreja estabelece aqui os princípios e práticas que se devem aplicar nessa matéria de casamento, divórcio e novo casamento. Embora o casamento tenha sido realizado primeiramente por Deus só, sabe-se que as pessoas hoje vivem sob governos civis; portanto, o casamento tem dois aspectos: o divino e o civil. O aspecto divino é regido pelas leis de Deus; o civil, pelas leis do Estado. Em harmonia com esses princípios, as seguintes declarações estabelecem a posição da Igreja: 

1. Quando Jesus disse: “Não o separe o homem”, Ele estabeleceu uma regra de conduta para a Igreja sob a dispensação da graça, a qual deve transcender todas as legislações civis que vão além de sua interpretação da divina lei que governa as relações de casamento. Aqui Ele dá uma norma à qual seus seguidores devem aderir mesmo quando as leis civis ou os costumes prevalecentes permitam maior liberdade. “No Sermão do Monte, Jesus declarou plenamente que não podia haver dissolução do laço matrimonial, a não ser por infidelidade do voto conjugal” (O Maior Discurso de Cristo, p. 63; ver Mt 5:32; 19:9). 

2. A infidelidade ao voto matrimonial geralmente tem sido considerada alusão ao adultério ou fornicação. No entanto, a palavra do Novo Testamento usada para fornicação inclui algumas outras irregularidades sexuais (1Co 6:9; 1Tm 1:9, 10; Rm 1:24-27). Portanto, perversões sexuais, incluindo incesto, abuso sexual de criança e práticas homossexuais, são também reconhecidas como um abuso das faculdades sexuais e uma violação do plano divino no casamento. Como tais, essas práticas são uma causa justa para separação e divórcio. Se bem que as Escrituras permitam o divórcio pelas razões mencionadas acima, bem como por abandono por parte do cônjuge incrédulo (1Co 7:10-15), a igreja e as pessoas envolvidas devem fazer esforços diligentes para a reconciliação, apelando aos cônjuges que manifestem um ao outro um espírito de perdão e restauração. A igreja é instada a tratar amorável e redentivamente o casal a fim de auxiliar no processo de reconciliação. 

3. Na eventualidade de não se conseguir a reconciliação, o cônjuge que permaneceu fiel ao consorte que violou o voto matrimonial tem o direito bíblico de obter o divórcio e também de se casar novamente. 

4. O cônjuge que violou o voto matrimonial (ver itens 1 e 2) estará sujeito à disciplina pela igreja local (ver p. 64-70). Se se arrependeu genuinamente, poderá ser posto sob censura por um tempo determinado em vez de ser removido do rol de membros da igreja. Se não deu evidências de completo e sincero arrependimento, deve ser removido do rol de membros. Em caso de violações que tenham trazido vergonha pública sobre a causa de Deus, a igreja, a fim de manter suas elevadas normas e seu bom nome, pode remover o indivíduo da lista de membros. Qualquer dessas formas de disciplina deve ser aplicada pela igreja de uma maneira que procure alcançar os dois objetivos da disciplina: corrigir e redimir. No evangelho de Cristo, o lado redentivo da disciplina sempre está vinculado a uma transformação autêntica do pecador em uma nova criatura em Jesus Cristo. 

5. Um cônjuge que tenha violado o voto matrimonial e se tenha divorciado não tem o direito moral de casar-se com outra pessoa enquanto o cônjuge que permaneceu fiel ao voto ainda vive e permanece sem casar-se e casto. Se ele se casar, deverá ser removido do rol de membros. A pessoa com quem se casar, se for membro da igreja, também deverá ser removida do rol de membros. 

6. Reconhece-se que algumas vezes as relações matrimoniais se deterioram a tal ponto que é melhor para marido e mulher que se separem. “Ora, aos casados, ordeno, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido (se, porém, ela vier a separar-se, que não se case ou que se reconcilie com seu marido); e que o marido não se aparte de sua mulher” (1Co 7:10, 11). Em muitos desses casos, a guarda dos filhos, o ajuste dos direitos de propriedade ou mesmo a proteção pessoal, podem tornar necessária uma mudança no status matrimonial. Em tais casos, em alguns países, pode ser permissível obter o que é conhecido como separação legal. Contudo, em algumas jurisdições essa separação só pode ser obtida por meio do divórcio. Uma separação ou divórcio que resulta de fatores como violência física ou em que não está envolvida a “infidelidade ao voto matrimonial” (ver itens 1 e 2) não dá a nenhum dos cônjuges o direito bíblico de se casar novamente, a menos que no ínterim a outra parte se tenha casado novamente, haja cometido adultério ou fornicação ou tenha morrido. Se um membro da igreja que se tenha assim divorciado se casar novamente sem essas bases bíblicas, deve ser removido do rol de membros; e a pessoa com quem se casar, se for membro da igreja, também deverá ser removida (ver p. 64-70). 

7. O cônjuge que tenha quebrado o voto matrimonial e se tenha divorciado e sido removido do rol de membros e tenha se casado novamente, ou quem se tenha divorciado por outros motivos que não as bases apresentadas nos itens 1 e 2 e se tenha casado novamente e sido removido do rol de membros, deve ser considerado inelegível à qualidade de membro, exceto nos casos previstos a seguir: 

8. O vínculo do casamento é não apenas sagrado, mas também possivelmente mais complexo quando, por exemplo, envolve filhos. Assim, em um pedido para readmissão à qualidade de membro, as opções disponíveis à pessoa arrependida podem ser severamente limitadas. Antes que a decisão final seja tomada pela igreja, o pedido de readmissão deve ser submetido pela igreja, por meio do pastor ou líder distrital, à Comissão Diretiva da Associação para conselho e recomendação quanto aos passos que a pessoa ou as pessoas arrependidas podem dar para obter tal readmissão. 

9. A readmissão ao rol de membros da igreja daqueles que tenham sido removidos pelas razões dadas nos parágrafos anteriores, se dá normalmente com base no rebatismo (ver p. 51, 69, 70). 

10. Quando uma pessoa que tenha sido removida do rol de membros for readmitida, conforme estabelece o parágrafo 8, todo cuidado deve ser exercido para salvaguardar a unidade e harmonia da igreja, não se concedendo à pessoa responsabilidade como líder, especialmente em um ofício que requeira o rito da ordenação, a não ser com cuidadosa consideração junto à administração da Associação. 

11. Nenhum pastor tem o direito de oficiar em uma cerimônia de novas núpcias de uma pessoa que, sob a estipulação dos parágrafos precedentes, não tenha o direito bíblico para o novo casamento.


Entrevista com o pastor Alacy Barbosa
Saiba mais sobre divórcio e novo casamento nesta conversa com o pastor Alacy Barbosa, diretor do Ministério da Família da Igreja Adventista para oito países sul-americanos.

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Relacionamentos saudáveis em um mundo louco por sexo

Recentemente, celebramos 32 anos de casados. Uau, isso é muito tempo! Para muitos que estão lendo este artigo, isso é mais tempo do que já viveram. No entanto, para nós, parece que foi ontem que estávamos trocando os votos matrimoniais em uma bela tarde de agosto, na Igreja Adventista do Sétimo Dia de Village, em South Lancaster, Massachusetts, nos Estados Unidos da América do Norte. 
Enquanto estávamos diante do pastor, prometendo amar um ao outro “até que a morte nos separe”, não tínhamos ideia de quão difícil seria manter os votos intactos. As palavras eram relativamente fáceis de pronunciar, especialmente naquele ambiente de enlevo e emoção, sob os flashes das câmeras, vendo os rostos radiantes dos familiares e amigos, e com nossas mais altas expectativas de finalmente vivermos juntos, sem qualquer inibição e sem restrições. Por outro lado, nada poderia ter nos preparado para a vida extremamente gratificante que temos vivido como marido e mulher, apesar de termos que enfrentar a realidade de que não há casamentos perfeitos, porque não existem pessoas perfeitas. 
Muitos cristãos adultos e solteiros desejam se casar e acreditam que sua vida seria mais fácil de administrar e seguir a vontade de Deus, se essa fosse a sua realidade. Isso é realmente verdade? As pessoas casadas levam alguma vantagem neste mundo louco por sexo em que vivemos? Ou as pessoas casadas também são vulneráveis por terem que lidar com as pressões da vida universitária, com seus prazos e exigências arbitrárias para alcançarem o sucesso? 
A verdade é: casar é fácil; continuar casado não é nada fácil. Permanecer feliz no casamento por toda a vida é uma das mais belas artes da vida. Então, o que um estudante universitário ou de pós-graduação deve fazer até ele ou ela encontrar a pessoa certa para se casar, diante dos fortes impulsos e mensagens sexuais que há por toda parte e que são uma realidade constante na vida pós-moderna hoje? 
À medida que exploramos esse tema tão importante, é essencial reconhecermos que a sexualidade foi ideia de Deus e que, sem dúvida, é muito boa; certamente, podemos dar testemunho disso depois de 32 anos de casamento. No entanto, tudo o que Deus criou para o nosso bem, Satanás tenta destruir. Como a experiência de Eva com a serpente no Jardim do Éden, Satanás continua a apresentar alternativas sedutoras contra as normas dadas por Deus para que vivamos uma vida melhor, pois ele deseja que caiamos em suas mentiras, levando-nos à angústia e à agonia no final. 
Lá no princípio, Deus declarou: “Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne. O homem e sua mulher viviam nus, e não sentiam vergonha” (Gênesis 2:24, 25). 
Dessa forma, há um contexto distinto para a expressão sexual, de acordo com a Bíblia; depois de deixar pai e mãe, a pessoa, decididamente, se compromete com o cônjuge. Esse é o ambiente no qual uma realidade em que a não vergonha é estimulada para levar à atividade sexual, uma vez que alguém fez uma promessa de compromisso com outro ser humano ao longo de toda a vida e agora está pronto para desfrutar dos privilégios inerentes a tal dedicação. 
Mesmo diante da possibilidade de acreditarmos que podemos não levar em consideração essa declaração celestial, as Escrituras continuam fazendo essa afirmação ao longo de suas páginas. Por exemplo, Paulo afirma: “A vontade de Deus é que vocês sejam santificados: abstenham-se da imoralidade sexual. Cada um saiba controlar o próprio corpo de maneira santa e honrosa, não com a paixão de desejo desenfreado, como os pagãos que desconhecem a Deus” (1 Tessalonicenses 4:3-5). Essa passagem torna claro que alguém, que se diz ser um filho de Deus, deve estar no controle de seu corpo e de suas paixões, para assim honrá-Lo. 
Paulo continua suas colocações expositivas sobre o contexto apropriado para a atividade sexual com a clara cadência das mensagens apresentadas aos crentes de Corinto: “É bom que o homem não toque em mulher”, mas por causa da imoralidade, cada um deve ter sua esposa, e cada mulher o seu próprio marido” (1 Co 7:1, 2). Para não termos dúvida, a inspiração não é algo simplesmente sobrenatural, mas fundamentada na realidade da vida na Terra. 
Paulo reconhece que, por sermos “programados” por Deus para mantermos relações sexuais, teremos um profundo desejo de fazê-lo. No entanto, essa realidade intensa não dá permissão aos seres humanos que creem em Deus para renunciar às convenções estabelecidas no princípio. Ao contrário, os parâmetros são distintos; para que a expressão sexual ocorra, DEVE – por definição – acontecer entre um homem e sua esposa, ou uma mulher e seu marido. Também não percamos de vista a restrição apresentada pelo apóstolo de que, se alguém é do sexo masculino, que então se case com uma mulher, e se é do sexo feminino, que se case com um homem. 

AMOR: UM PRINCÍPIO ELEVADO E SANTO

Walter Trobisch, missionário alemão enviado para Camarões, que também é um escritor prolífico sobre questões matrimoniais e familiares, disse certa vez: “O sexo não é prova de amor, pois é precisamente a própria coisa que se quer testar que é destruída pelo teste.”1 Ellen White escreveu: “O verdadeiro amor é um princípio elevado e santo, inteiramente diferente em seu caráter daquele amor que se desperta por um impulso e que subitamente morre quando severamente provado.”2 Essas declarações são contrárias às convenções de nossos dias, em que o indivíduo é que tem maior valor na sociedade. Muitas vezes, ouvimos as pessoas dizerem: “O que quer que a pessoa deseje fazer, tem o direito de fazer, desde que ninguém saia ferido no processo.” Tais noções narcisistas e hedonistas, com certeza, teriam menos importância para quem sai prejudicado.  O tipo de pessoa que pensa dessa forma está interessada no que ela pode obter, e não no que pode dar. O verdadeiro amor sempre faz a pergunta: O que eu posso dar? E isso é dramaticamente revelado em João 3:16: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu…”. 

Desde já, enfatizamos que, diante de qualquer outra opção que esteja ao seu alcance, as oportunidades baseadas na ética de Deus, que nos criou para a Sua glória, serão sempre a melhor opção possível. Em Jeremias 29:11, Deus nos lembra: “‘Porque sou Eu que conheço os planos que tenho para vocês’, diz o Senhor, ‘planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro.’” Esse já é um bom começo, quando se trata de nossa ética sexual, para que possamos ter relacionamentos saudáveis em um mundo louco por sexo. 
Falando sobre uma boa forma de começar, Stephen R. Covey, em seu livro, The Seven Habits of Highly Effective Families,identifica esse princípio como o hábito nº 2: Comece com o fim em mente. Em resumo, esse hábito é como o vôo de um avião. Cada vez que um avião voa a partir do ponto A para o ponto B, o piloto deve apresentar um plano de voo com um destino claro em mente. Isso é extremamente importante porque, muitas vezes, tempestades se desencadeiam durante a viagem, forçando o piloto a conduzir o avião acima ou em torno de uma turbulência. No entanto, como o piloto apresentou o plano de vôo com um destino definido em mente, é muito provável que o avião pousará no ponto de chegada bem próximo do horário programado. 
O mesmo acontece com a nossa vida. Temos que decidir muito cedo um destino claro para o nosso casamento ou relações familiares em nossa jornada ao longo da vida e criar uma declaração de missão que nos mantenha focados nesse destino final. Esse “plano de voo” está relacionado com a nossa escolha de valores. Temos que decidir quais valores irão fazer parte do nosso voo e quais valores vamos excluir, para que possamos chegar com segurança ao destino que escolhemos para a nossa vida. Sentimentos e impulsos, sem dúvida, se desenvolverão durante a nossa viagem, à medida que vierem as tempestades, como em um voo literal de avião. No entanto, se o plano de voo da nossa vida estiver baseado nos valores encontrados na Palavra de Deus, é mais provável que cheguemos bem ao destino que escolhemos no início da viagem. 
Uma das armadilhas que leva à impureza sexual são os pensamentos que a pessoa cultiva. O que ela pensa tem muito a ver com o que ela vê e o que ela ouve. Nunca antes na história da humanidade a exposição a conteúdos impuros para se ver e ouvir proliferou tanto como hoje. A Rede Mundial de Computadores tornou a vida mais fácil de muitas maneiras aos estudantes universitários, mas, ao mesmo tempo, fez com que a pureza se tornasse mais difícil como nunca. Com conteúdo sexual tão amplamente acessível nos computadores, tablets e smartphones, permanecer puro está se tornando um desafio cada vez maior para todos. Além do mais, as pessoas solteiras não têm como se esconder desse tipo de tentação, que é uma realidade de igual alcance para todos os seres humanos, casados ou solteiros.  O sábio Salomão nos advertiu com muita propriedade: “Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida” (Provérbios 4:23). Isso, provavelmente, faz com que muitos de vocês que no passado frequentaram a Escola Sabatina dos Primários lembrem-se de um dos principais hinos do repertório da época: “Cuidado olhinho o que vê […] Cuidado ouvidinho o que ouve […] Pois o Salvador Jesus está olhando pra você, cuidado olhinho o que vê [cuidado ouvidinho o que ouve]”. 
Assim, ao contrário das convenções que prevalecem em nossos dias, de que não podemos fazer nada para dominar nossos instintos animais, há uma realidade muito bem documentada nos círculos das Ciências Sociais que diz que o cérebro é o mais importante órgão sexual humano. Sem dúvida, a sexualidade humana é completamente diferente da dos animais. O impulso sexual humano é ativado no córtex pré-frontal do cérebro, o mesmo lugar onde ocorre toda a aprendizagem e onde está o centro da tomada de decisão, do julgamento. Como Deus nos criou com um cérebro, somos responsáveis pela nossa sexualidade e pelas escolhas que fazemos com relação a isso todos os dias. Temos o poder de fazer escolhas, mesmo quando nossa bioquímica batalha em nosso cérebro. Como seres humanos, temos que usar nosso cérebro altamente desenvolvido para decidir como, quando, onde, e se vamos dar expressão a nossos impulsos sexuais, pois é esse poder de decisão que nos torna diferentes dos animais.
Outra mentira que está sendo disseminada em nossa sociedade hoje é que o sexo vai reforçar a autoimagem, tornando-nos mais desejáveis ou mais confiantes. Especialmente as mulheres querem se tornar mais desejáveis e, muitas vezes, usam o sexo como barômetro da dignidade e como um meio de conexão relacional. Os homens, por outro lado, usam o sexo para se sentirem mais confiantes e capazes; isso realmente tem a ver com a potência e o desempenho, com a concorrência e realização; e, para muitos, tudo não passa de um jogo de números para determinar quantas conquistas são capazes de fazer. 
Infelizmente, o sexo antes do casamento e/ou extraconjugal nunca vai conferir maior valor a você ou ao seu relacionamento. Se você é mulher, não a torna mais desejável. Se você é homem, não vai livrá-lo da sua insegurança; na verdade, é mais provável que o sexo ilícito cause o efeito oposto. Ele vai acabar fazendo você se sentir mais autodesvalorizado, desesperado, sozinho e inseguro. 

FAZER AS ESCOLHAS CERTAS

Então, como a pessoa deve lidar com a sua sexualidade? Que bom que você perguntou isso. É necessário que se mantenha sempre consciente das escolhas que você faz, e também de controlá-las, em vez de permitir que elas controlem você. Aqui estão algumas dessas escolhas: a escolha que “já aconteceu”; a escolha “se estamos apaixonados não pode dar errado”; a escolha “o sexo nos aproxima mais”; a escolha “eu não serei um ser sexual até estarmos casados”; e a escolha “vamos pôr limites”. Sendo casado ou solteiro, todas essas escolhas são falsas, exceto a última. A menos que você defina limites saudáveis logo no início, quer seja casado ou solteiro, estará em apuros; assim, defina os limites saudáveis agora, antes que a tentação se apresente. 

Para desfrutar de relacionamentos saudáveis em um mundo louco por sexo, é importante seguir cuidadosamente os paradigmas sancionados pela Bíblia. Para que isso aconteça, precisará definir limites saudáveis no início, a fim de evitar dilemas perigosos, que alteram o curso da vida. Uma boa maneira de se lembrar daquilo que mantém como convicção é pensar em um fruto chamado ackee, encontrado na Jamaica e em outras ilhas do Caribe. O pé desse fruto chega a se tornar uma árvore bem grande. Se você pegar o ackee e comê-lo antes que se abra naturalmente, ele mata, pois é venenoso. No entanto, se você esperar até que o ackee esteja completamente maduro e o fruto se abra na árvore, e esse é o ponto certo para colher e comê-lo, verá que é muito saboroso e nutritivo. 
A relação sexual é muito semelhante a esse fruto. Se você forçá-la antes do tempo certo – o casamento – ela vai lhe envenenar e prejudicar toda a sua vida. No entanto, se você permitir que ela esteja totalmente madura – após o casamento – você poderá desfrutar plenamente dela, sem medo, e ela vai dar sabor à sua vida. 
Estamos casados há 32 anos, por isso é relativamente fácil para nós falarmos a respeito desse tema de uma forma quase clínica. No entanto, reconhecemos quão difícil é lidar com esse assunto, especialmente como estudantes universitários; muitos de vocês estão no início da vida sexual e lidam com muitas outras formas de pressão. A resposta a essa situação, no entanto, é sempre a mesma, e a promessa de sucesso é encontrada em Filipenses 4:13: “Posso todas as coisas nAquele que me fortalece”. 
Que sua escolha seja sempre manter relacionamentos saudáveis em um mundo louco por sexo, apesar da realidade da tentação que se alastra por todos os lados. Nosso desejo e oração é que você faça a escolha certa. 
Willie Oliver PhD pela American University e C.F.L.E., é pastor ordenado, conselheiro pastoral, possui o certificado de Educador em Vida Familiar, é Sociólogo na área da Família e diretor do Departamento de Ministério da Família na sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia, em Silver Spring, Maryland, EUA. E-mail: OliverW@gc.adventist.org 
Elaine Oliver MA pela Columbia University e C.F.L.E., é psicóloga, educadora com certificação em Vida Familiar e diretora associada do Departamento de Ministério da Família na sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia. E-mail: OliverE@gc.adventist.org

NOTAS E REFERÊNCIAS

  1. Walter Trobisch, I Married You (New York: Harper & Row, 1989), p. 99. 
  2. Ellen G. White, O Lar Adventista (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1992), p. 50. 
  3. Steven R. Covey, The Seven Habits of Highly Effective Families (New York: Golden Books, 1997).

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Satanás: antes da queda e agora

Deus criou Lúcifer, um anjo perfeito. Lúcifer, em latim, quer dizer “portador de luz”. Essa expressão vem de Isaías 14:12. Satanás era um “luzeiro”, ou “estrela do dia”. “Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado...” (Ezequiel 28:15). Ellen G. White o descreve assim:

"Lúcifer fora o mais elevado de todos os seres criados, e o primeiro em revelar ao Universo os desígnios divinos. Deus o fez bom e formoso, tão semelhante quanto possível a Si próprio. Deus o havia feito nobre, havendo-lhe outorgado ricos dotes. Concedeu-lhe elevada posição de responsabilidade. Nada lhe pediu que não fosse razoável. Deveria ele administrar o cargo que Deus lhe atribuíra, num espírito de mansidão e devoção, buscando promover a exaltação de Deus, o qual lhe dera glória, beleza e encanto. Foi outrora um honrado anjo no Céu, o primeiro depois de Cristo. Seu semblante, como o dos outros anjos, era suave e exprimia felicidade. Sua testa era alta e larga, demonstrando grande inteligência. Sua forma era perfeita, seu porte nobre e majestoso. Houve um tempo em que era a alegria dele executar as ordens divinas. Seu coração estava cheio de amor e regozijo por poder servir ao Criador." (A Verdade sobre os Anjos, pp. 23-27)

Lúcifer foi um dos anjos mais honrados do Céu. “Tu eras querubim da guarda ungido e te estabeleci” (Ezequiel 28:14). Os querubins serviam diante de Deus.

"O próprio Senhor deu a Satanás sua glória e sabedoria, tornando-o o querubim cobridor, bom, nobre e extraordinariamente formoso." (Signs of the Times, 18 de setembro de 1893)

Mas Lúcifer se transformou em Satanás (o "adversário", significado da palavra em hebraico), porque abrigou iniquidade. “…até que se achou iniquidade em ti” (Ezequiel 28:15). Aquele ser de extraordinária beleza e glória perverteu o seu livre arbítrio. Ao abrigar egoísmo, inveja, e cobiça, Lúcifer transformou irreversivelmente sua natureza perfeita no temível Satanás. Vejamos o impressionante relato de Ellen White descrevendo Satanás como é agora:

"Foi-me então mostrado Satanás como havia sido: um anjo feliz e elevado. Em seguida ele foi-me mostrado como se acha agora. Ainda tem formas régias. Suas feições ainda são nobres, pois é um anjo, ainda que decaído. Mas a expressão de seu rosto está cheia de ansiedade, cuidados, infelicidade, maldade, ódio, nocividade, engano e todo mal. Aquele semblante que fora tão nobre, notei-o particularmente. Sua fronte, logo acima dos olhos, começava a recuar. Vi que ele se havia degradado durante tanto tempo que toda boa qualidade se rebaixara, e todo mau traço se desenvolvera. Seu olhar era astuto e dissimulado, e mostrava grande penetração. Sua constituição era ampla; mas a carne lhe pendia frouxamente nas mãos e no rosto. Quando o vi, apoiava o queixo sobre a mão esquerda. Parecia estar em profundos pensamentos. Tinha um sorriso no rosto, o qual me fez tremer, tão cheio de maldade e dissimulação satânica era ele. Este sorriso é o que ele tem precisamente antes de segurar sua vítima; e, ao fixá-la em sua cilada, tal sorriso se torna horrível." (Primeiros Escritos, pp. 152, 153)

Mas não precisamos temer a Satanás. Jesus o venceu na cruz do calvário e a vitória de Cristo é nossa, pela fé. No poder de Jesus podemos vencer o mal e o pecado. Em Jesus há segurança e vitória!

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Quem foi Jezabel e o que ela representou na Bíblia?

Uma súbita busca pela palavra Jezabel, nos últimos dias, se explica por conta de uma produção televisiva sobre a personagem bíblica [na noite desta terça-feira (23) estreou pela Record TV a macrossérie Jezabel]. Mas quem foi Jezabel, segundo a Bíblia e comentaristas conceituados? E qual sua relação com o profeta Elias, perseguido por ela?

Tiramos esta e outras dúvidas sobre ela ao conversar com o doutor em Missiologia e Teologia Pastoral, mestre e bacharel em Teologia, Wilson Borba. Ele é docente e atual diretor do Seminário Teológico Adventista da Faculdade Adventista da Amazônia (Faama), localizada no Pará.

Quem foi Jezabel e qual foi a oposição dela e de seu marido a Deus?
Jezabel foi esposa de Acabe, que reinou sobre as dez tribos do norte de Israel de 874 a 853 a.C. Acabe destacou-se pelo sucesso militar e político, mas era “fraco em questões religiosas”, pois: “fez Acabe, filho de Onri, o que era mau perante o Senhor, mais do que todos os que foram antes dele” (1 Reis 6:30). Ele escolheu casar-se com Jezabel, filha de Etbaal, um sumo sacerdote e rei pagão.

Conforme o relato bíblico referente a Acabe: “tomou por mulher a Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios; e foi, e serviu a Baal, e o adorou” (1 Reis 16:30-31). “A malvada esposa de Acabe, Jezabel, provinha da cidade Fenícia de Tiro, de onde seu pai havia sido sumo sacerdote e rei. Jezabel adorava ao deus Baal”.[1] Tomando em conta que Baal simplesmente significa “senhor”[2], Jezabel e Acabe introduziram uma contrafação de Deus e de sua religião em Israel. Portanto, Acabe, “incitado por Jezabel”, introduziu o culto a Baal em Israel (1 Reis 21:25-26).

Para agradar a esposa, Acabe edificou um templo e um altar para Baal (16:32). E promoveu, assim, a idolatria[3], “até que quase todo Israel estava indo após Baal”. “O Baal mencionado aqui era considerado o deus que enviava chuva e fazia as colheitas crescerem. Os adoradores de Baal se envolviam em uma espécie de fornicação sagrada no templo para louvá-lo como a fonte da vida. Às vezes o povo até oferecia seus filhos a Baal como sacrifícios queimados (Jeremias 19:5)”.[4] O casamento de Acabe com Jezabel cumpriu uma agenda política e interesseira, mas não a vontade de Deus. Biblicamente, aquela união foi um adultério espiritual e uma traição a Deus. A influência deles, como lepra, aprofundou o sincretismo religioso e a apostasia da nação. Ao mesmo tempo que o povo professava servir a Jeová, também servia a Baal. Eles “coxeavam entre dois pensamentos” (1 Reis 18:21).

Sabemos que o Apocalipse também menciona Jezabel e faz uma conexão dela à apostasia. O que significa isso?
Na mensagem de Cristo à Igreja de Tiatira, Jezabel é citada: “Tenho, porém, contra ti o tolerares essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem das coisas sacrificadas aos ídolos. Dei-lhe tempo para que se arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se da sua prostituição. Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que ela incita” (Apocalipse 2:20-22).

Segundo o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, “assim como Jezabel propagou a adoração a Baal em Israel (1 Reis 21:25), alguma falsa profetisa da época de João estaria desencaminhando a igreja de Tiatira”.[5] Só que deve se considerar que as cartas às sete igrejas do Apocalipse também tem aplicação profética a sete fases definidas da história do cristianismo.[6] Quando “aplicada ao período de Tiatira na história cristã, a figura de Jezabel representa o poder que causou a grande apostasia medieval”.[7]

Que três lições a vida de Acabe, Jezabel e Elias nos deixam?
Sobre Acabe, “ele era fraco em capacidade moral. Sua união por casamento com uma mulher idólatra de caráter decidido e temperamento definido resultou em desastre tanto para ele como para a nação”.[8] A utilidade de um homem para servir a Deus e seu povo está intimamente relacionada com o caráter da pessoa que ele escolheu para ser sua esposa e companheira.

A respeito de Jezabel, podemos perceber o mal que esta mulher causou à vida de Acabe e ao povo de Israel. Não é difícil concluir, portanto, que a influência de uma mulher para o bem ou para o mal é comprovadamente decisiva. Por outro lado, tomando em conta que Jezabel é usada biblicamente como um tipo do “poder que causou a grande apostasia medieval”[9], deveríamos evitar uma religião sincrética que faz casamento entre cristianismo e paganismo, entre a verdade e a mentira, e promove o adultério espiritual. “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas?” (2 Coríntios 6:14-15).

Sobre o profeta Elias, devemos lembrar que nos dias de Jezabel havia em Israel centenas de falsos profetas e apenas um profeta verdadeiro. “Então, disse Elias ao povo: Só eu fiquei dos profetas do Senhor, e os profetas de Baal são quatrocentos e cinquenta homens” (1 Reis 18:22). Foi a presença e atuação desse verdadeiro profeta de Deus que conteve a maré da apostasia em Israel.

Deveríamos dar mais valor aos profetas verdadeiros e seus ensinos. Para isto, temos de recorrer à Escritura para aprender a discernir entre o profeta verdadeiro e o falso, ainda mais nesta época degenerada em que os de natureza fake se multiplicam. “Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração” (2 Pedro 1:19).

Jesus Cristo advertiu: “Vede que ninguém vos engane” (Mateus 24:5). “Levantar-se-ão muito falsos profetas e enganarão a muitos” (verso 11). Outra preciosa lição é que “o plano de Deus não é enviar mensageiros que lisonjeiem e adulem os pecadores”.[10] Devemos ser humildes para nos submeter a Deus e seus mensageiros. A propósito, em vez de gastar tempo com novelas, não seria fantástico buscar a Palavra de Deus e entrar em contato direto com a pura fonte da verdade?

Felipe Lemos (via Notícias Adventistas)

Referências:
[1]Biblia Del Diario Vivir. electronic ed. (Nashville: Editorial Caribe, 2000), c1996, s. 1Rs 16:31.
[2]Arno Wolfgramm, Kings (Milwaukee, Wis.: Northwestern Pub. House, 1990 (The People’s Bible), s. 115.
[3]Biblia Del Diario Vivir, s. 1Rs 16:31.
[4]Ibidem.
[5]Francis Nichol, ed. Comentário bíblico adventista do sétimo dia, 1ª ed., vol. 7 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), 830.
[6]C. Mervyn Maxwell, Uma nova era segundo as profecias do apocalipse, 3ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012), 94. Jacques B. Doukhan, Secretos del apocalipsis, 1ª ed. (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2002), 28.
[7]Ibidem.
[8]White, 115.
[9]Nichol, ed. Comentário bíblico adventista do sétimo dia, 1ª ed., vol. 7, 830.
[10]White, 435.

terça-feira, 23 de abril de 2019

Solidão a dois: por que acontece?

Existe um tipo de aranha, chamada viúva negra, que tem um comportamento bem peculiar: de tamanho mais avantajado que o dos machos de sua espécie, ela depende deles para se reproduzir. Por isso, aceita a corte do macho, estende a ele sua sedução e topa ter um relacionamento. Mas basta o macho ter terminado de fecundá-la que a viúva negra o agarra e o devora lentamente, com ele ainda vivo, deixando apenas uma casca vazia e retorcida. Isso mesmo. Aquele que foi tão importante em certo momento de sua vida simplesmente se torna seu jantar. Imagino os olhinhos esbugalhados do surpreso e assustado aranha-macho ao ver aquela de quem ele tanto precisava, que tanto quis, que afinal acreditou ter vindo para resgatá-lo de uma vida de tristeza… ser sua ruína final.

Pois em nossa vida existe uma viúva negra que age de modo muito semelhante. Seu nome é solidão (ou, em outros dialetos, carência afetiva). Fato é que tenho visto tantos e tantos cristãos solitários e carentes! Tão desesperados por preencher com alguém as lacunas que existem em suas almas que acabam cometendo grandes erros, equívocos dos quais vão se arrepender pelo resto de suas vidas – exatamente como o aracnídeo macho.

O processo é relativamente semelhante na maioria dos casos. Começa com a pessoa sentindo-se solitária, carente, incapaz de viver uma vida que tenha sentido se não houver alguém que preencha as lacunas que há em sua alma. A pessoa não se basta a si mesma. Precisa de outro. “Não sei viver só”, diz. A falta de um ente amado lhe é tão ensurdecedora que, na ausência de um amor verdadeiro, acaba convidando para habitar em sua vida afetiva alguma pessoa por quem nutre algum tipo de sentimento benigno, seja uma amizade, um carinho, até mesmo atração física. Mas que não é AMOR. Eis o início do erro fatal.

A corte se inicia. Os dois se aproximam. A pessoa vê naquele outro a oportunidade de completar suas lacunas, seu vazio, sua solidão, sua carência. Até mesmo enxerga nele a possibilidade de ser o pai (ou a mãe) dos filhos que sonha ter. E o convida para entrar. Então, motivada não pelo amor que “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”, mas por um vazio de solidão e carência, começa um namoro. É até gostoso, no início. O outro te diz palavras bonitas, exalta suas qualidades, diz que seus defeitos não importam, te chama de apelidos carinhosos, faz você se sentir querido, acolhido, abraçado, acompanhado. De repente, a sensação de vazio some, o outro te faz companhia, serenatas, te chama de “meu amor”, preenche os espaços da sua carência.

Mas o tempo, ah, o tempo… esse é implacável. Ele passa. E a sociedade tem suas exigências! Ela cobra. Aquele que está ali ocupando uma carência e tampando as rachaduras da solidão não pode ficar assim para sempre e, mais cedo ou mais tarde, terá de ser guindado ao posto de noivo – e, em breve, ao de marido (ou esposa). E, num dia qualquer, como um inseto que foi se enroscando numa teia até não conseguir mais sair dela, você vai acordar e descobrir que dorme ao seu lado, de aliança no dedo, alguém que foi trazido a sua vida por um tempo para ser reboco de lacunas vazias, mas só que agora ele não é mais isso: é seu cônjuge pa-ra-o-res-to-da-vi-da. Alguém com quem você terá de dormir todas as noites, entregar a ele seu corpo e sua intimidade, devotar-se completamente, dividir as fotos de viagem, ver TV abraçado sob o edredom, andar de mãos dadas, conversar sobre os pensamentos profundos que ele tiver na cabeça, dar beijos longos e ardorosos. Estar junto na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, por todos os dias de sua vida, até que a morte os separe. Ali estará o pai (ou a mãe) de teus filhos – que terão a cara dele (ou dela).

O dia chegará
Mas um dia (e esse dia chegará, meu amigo, minha amiga, já vi isso incontáveis vezes, em especial entre evangélicos), deitada no travesseiro da sua teia, você vai se virar para o lado e deixar lágrimas escorrerem. Pois vai descobrir que aquele alguém muito legal que serviu para aplacar a sua solidão num certo momento da vida… não dá sentido humano a ela. Simplesmente é incapaz de cumprir o papel de compleitude, pois o papel dele era provisório, tinha prazo de validade, funcionava por um tempo – e o que você acha que ele faria pelo resto de seus dias, ele é incapaz de fazer: ser AMOR.

Para ser honesto e cruel, falando friamente não haveria razão lógica ou emocional para ele continuar ali. Mas você é um bom cristão, então divórcio está fora de cogitação. Fica então um oco. E para sua surpresa (hoje você não sabe disso, mas descobrirá) nem mesmo os filhos que ele te deu preenchem esse vácuo, pois o tipo de amor paterno/materno é absurdamente diferente do amor que precisamos dar e receber de um homem/uma mulher. Você percebe que há um enorme rasgo e um incomensurável vazio em suas entranhas. Elas foram devoradas e você nem percebeu. Você quis matar a solidão e de repente se vê imerso numa indissolúvel solidão a dois. Sim, Cazuza acertou nessa: solidão a dois existe. E muito. E nossas igrejas estão abarrotadas delas.

Isso é um fenômeno muito comum entre cristãos de diferentes faixas etárias. Somos adestrados a casar. Achamos que é no outro que encontraremos nossa felicidade, nossa compleitude. E, meu irmão, minha irmã… estamos errados. Pois se o que buscamos é fugir da solidão, qualquer coisa ou pessoa que acabe com nossa solidão serve. Se o objetivo é suprir carência, qualquer um que nos chame de “meu amor” recebe o nosso sim. Ou mesmo um filho que venha pelo meio do caminho achamos que suprirá nossa carência ou aplacará nossa solidão. Mas você, que é veterano e a essa altura já criou os filhos, percebe que eles foram embora cuidar de suas vidas, curtir seus amigos, viver seus amores, ter seus próprios filhos. E o que restou a você no ninho vazio foi aquela pessoa legal a quem tem que chamar todos os dias de “meu amor” e dormir ao seu lado na cama. Abraçado, se ainda sobrar algum sentimento nobre que te obrigue a fingir que ele é seu grande amor. Mas não é isso. Não é isso! Não é isso o que nos fará feliz, não é isso o que Deus deseja nem o que Ele planejou para os seus.

Ossos e carne
Deus criou homem e mulher para se completarem. Para serem, como diz Gn 2:23, “osso dos meus ossos e carne da minha carne”. Para não conseguirem viver um sem o outro. Se arrancarem os seus ossos, veja se consegue seguir vivendo sem eles. Arranque-se sua carne, e veja quanto tempo dura sem desfalecer. Deus criou homem e mulher que se unem em casamento para viverem como um e morrerem como um. Casamento é uma coisa muito séria.

Aliás, amor é uma coisa muito séria. Não é brincadeira. Não é coisinha de poeta. E muitos de nós, especialmente nas igrejas, temos vivido nossos amores como uma grande equação matemática. Algo frio: preciso casar, é o que esperam de mim, não sei viver só, é o que todos fazem, então pronto: subo ao cadafalso do altar, me entrego ao carrasco do pastor e deixo que me executem. Mas, querido, querida, amor é razão, mas também é emoção e ação. Amor é um milagre. Amor é uma força que derrubou impérios, motivou guerras, gerou as maiores obras de arte da história da humanidade. No amor há livros, no amor há pintura, há escultura, há beleza e lágrimas. O amor é tão fundamental que ele é a essência do Deus que é amor. Como tratar isso apenas matematicamente? Racionalmente? Tratar o amor somente pela lógica seria ilógico.

Existe amor verdadeiro. Existe amor que dura para sempre. É ou não é o que a Bíblia diz em 1Co 13:8: “O amor jamais acaba?" Existe um amor, além do de Cristo, que dá razão a um relacionamento. A uma vida. E esse amor não será jamais ocupado por rolhas postas para vedar lacunas de solidão e carência: só será preenchido por alguém que faça sua vida brilhar. Que faça sua vida ser.

A notícia não muito agradável é que pode demorar anos para você encontrar esse amor. Pode demorar muito tempo para chegar a pessoa que preencherá não só suas lacunas, mas que se fundirá 100% à sua alma. E esse é o problema. Não queremos esperar. Não suportamos a pressão. Não suportamos a carência. Seu peso nos esmaga. Ela é mais forte do que nós. A viúva negra tem um tamanho bem maior que o do macho. E muitos se sentem impotentes diante dela. Por isso, sucumbem. E, mais à frente, terão suas entranhas devoradas. Mas… naquele momento… Ah, que importa? A viúva negra lhe chama de “meu amor”, acaricia seu ego e seus cabelos, faz a solidão desaparecer. Lhe faz companhia. Manda flores. Ela te seduz, te atrai, te enreda em sua teia.

Mas a viúva negra traz morte.

Meu irmão, minha irmã. Eu e você vivemos numa sociedade que nos empurra para a teia. Mas não importa quanto tempo demore para que você encontre o amor. Na verdade, isso é o que menos importa, em se tratando de amor. Veja o exemplo de Jacó, que sabia exatamente quem queria e esperou o tempo que fosse: “Jacó trabalhou sete anos por Raquel, mas lhe pareceram poucos dias, pelo tanto que a amava” (Gn 29:20). Isso é amor. Isso é verdade. Isso é tudo. Não troque o ouro puro do amor verdadeiro, aquele que em termos humanos dará sentido a tudo o que você viverá até chegar ao seu leito de morte, pelo latão enferrujado de uma solidão suprida. Pela pobreza de uma carência afetiva aparentemente resolvida. Por um nada travestido de alguma coisa.

Se estiver em dúvida, pergunte ao macho da viúva negra, de olhos esbugalhados e entranhas devoradas, se valeu a pena entrar naquela relação apenas para suprir sua solidão e sua carência. Lembre-se que o macho da viúva negra chegou à teia dela com um vazio na alma e com tristeza no coração. Mas inteiro. E, depois que aquela relação se consumou, tudo o que sobrou dele foi uma casca vazia, do que um dia foi alguém carente sim, mas cheio de possibilidades e de potencial para viver um grande amor. De viver uma VIDA. Nunca abra mão disso. Nunca. Ou você estará se condenando voluntariamente à morte. A propósito, os filhos daquela relação entre a viúva negra e o macho seguiram seus rumos, foram viver suas vidas. A viúva negra também foi em frente, feliz que só. O macho? Acabou a vida oco, seco, triste e morto.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Maurício Zágari (via Apenas)

Nota: Segue abaixo alguns preciosos conselhos de Ellen G. White:

"Como nos dias de Noé, um dos sinais desta época é a paixão por casamentos insensatos e apressados. Satanás se acha envolvido nisso." (Testemunhos Sobre Conduta Sexual, Adultério e Divórcio, p. 251)

"Frequentemente dá-se o caso que pessoas, antes do casamento, tenham pouca oportunidade de se familiarizarem com os hábitos e disposições uma da outra, e, quanto ao que se refere à vida diária, são virtualmente estranhas quando no altar unem os seus interesses. Muitos acham, demasiado tarde, que não se adaptam um ao outro, e a desgraça por toda a vida é o resultado de sua união." (Patriarcas e Profetas, p. 189)

"Casamentos precoces não convêm. Relação tão importante como a do casamento, e tão vasta no alcance de seus resultados, não deve ser assumida precipitadamente, sem suficiente preparo, e antes de se acharem bem desenvolvidas as faculdades mentais e físicas." (A Ciência do Bom Viver, p. 358)

"Rapazes e meninas entram em relações matrimoniais com amor imaturo, com juízo não desenvolvido, sem sentimentos nobres e elevados, e assumem os compromissos matrimoniais, completamente guiados por suas paixões juvenis. Afeições formadas em tenra idade têm muitas vezes resultado em uniões infelizes, ou em vergonhosas separações." (Mensagens aos Jovens, p. 452)

"Pesem, os que pretendem casar-se, todo sentimento e observem todas as modalidades de caráter naquele com quem desejam unir o destino de sua vida. Seja todo passo em direção da aliança matrimonial, caracterizado pela modéstia, simplicidade, sinceridade e o sincero propósito de agradar e honrar a Deus. O casamento afeta a vida futura, tanto neste mundo como no vindouro. O cristão sincero não fará planos que Deus não possa aprovar." (A Ciência do Bom Viver, p. 359)

"O mundo está cheio de miséria e pecado em consequência de maus casamentos. Em muitos casos leva apenas alguns meses para o marido e a mulher reconhecerem que suas disposições não poderão nunca unir-se; e o resultado é que prevalece no lar a discórdia, quando ali só deveriam existir o amor e a harmonia celeste. Por meio de dissensões sobre assuntos triviais, cultiva-se um espírito de amargura. Francos desacordos e brigas trazem inexprimível miséria para o lar, e separam os que deveriam achar-se unidos nos laços de amor. Assim, milhares se têm sacrificado, alma e corpo, por meio de casamentos imprudentes, tendo enveredado pelo caminho da perdição." (Mensagens aos Jovens, p. 453)

"Cada faculdade dos que ficam afetados por esta contagiosa enfermidade - o amor cego - é posta em sujeição a ele. Eles parecem ser desprovidos de bom senso, e sua conduta é desagradável a todos que a contemplam. No caso de muitos o clímax da enfermidade é alcançado num casamento imaturo, e quando termina a lua-de-mel e o enfeitiçante poder do primeiro amor passa, um ou ambos os parceiros despertam para a sua verdadeira situação. Compreendem então que estão mal ajustados, mas unidos por toda a vida. Ligados um ao outro pelos mais solenes votos, olham com o coração desalentado para a miserável vida que têm de levar. Toca-lhes então fazer o melhor de sua situação, mas muitos não o fazem. Provam-se falsos aos seus votos matrimoniais, ou tornam tão pesado o jugo que persistiram em pôr sobre o próprio pescoço, que muitos põem covardemente um fim à existência." (Testimonies, vol. 5, pp. 110 e 111)

"Mesmo que sejamos obrigados a ficar aparentemente sozinhos, não estamos sós, pois Cristo está conosco, para nos animar, nos fortalecer e nos abençoar. Ele Se acha familiarizado com todo desejo de nosso coração, com cada propósito de nossa vida. Diz Ele: 'Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós' (Jo 14:18)" (Para Conhecê-Lo [MM 1965], p. 203)

"Hoje, como nos dias de Cristo, a condição da sociedade apresenta triste quadro do ideal celeste dessa sagrada relação. No entanto, mesmo para os que depararam com amargura e desengano quando haviam esperado companheirismo e alegria, o evangelho de Cristo oferece um consolo." (O Maior Discurso de Cristo, p. 65)

segunda-feira, 22 de abril de 2019

O descobrimento e a chegada do cristianismo no Brasil

Ao pisar no Brasil, a primeira ação tomada pelo navegador Pedro Álvares Cabral e seus tripulantes foi organizar uma missa que comemorava a chegada em novas terras. Nesse simples gesto, percebemos que os europeus não tinham somente um projeto de caráter econômico no Brasil. O frei franciscano Henrique de Coimbra (1465-1532), célebre missionário na Índia e na África, celebrou a primeira missa nas terras recém-descobertas por Portugal, e que viria a se tornar o Brasil, no dia 26 de abril de 1500, domingo de páscoa. O religioso havia sido escolhido como guardião dos conventos que a Ordem Franciscana iria edificar na Índia sob os auspícios papais. Na frota comandada por Pedro Álvares Cabral, ele comandava um grupo de clérigos seculares que se destinavam a comandar missões no Oriente.

A missa celebrada por frei Henrique teve a co-celebração de todo o grupo de frades e sacerdotes que integravam a frota no Ilhéu da Coroa Vermelha. A cerimônia foi assistida pelos portugueses e também pelos nativos. De acordo com as anotações de Pero Vaz de Caminha, o sermão realizado sobre a chegada dos portugueses e a terra recém-descoberta constituiu a primeira peça de oratória sacra do Brasil.

No relato feito por Caminha, embora não conhecessem nem o teor da pregação nem o sentido daquela celebração, os naturais da terra foram surpreendidos pela novidade e assistiram a cerimônia em silêncio com admiração. Esta formatação de evento sagrado foi usado pelos missionários em eventos posteriores como forma de difusão da mensagem cristã, utilizando, principalmente, o aproveitamento da expressão teatral e musical como instrumento de evangelização. Quando a cerimônia chegou ao fim, os índios demonstraram contentamento através de cornos, buzinas e festas com cânticos, danças, trejeitos e saltos.

A relação entre Estado e Igreja nessa época era próxima, na medida em que ambas empreendiam medidas que colaboravam com seus interesses mútuos. Enquanto os jesuítas tinham apoio na catequização dos nativos, o Estado contava com auxílio clerical na exploração do território e na administração. 

Sob tal aspecto, devemos relembrar que o interesse da Igreja em ocupar e evangelizar o Novo Mundo se dava também pelas várias transformações ocorridas na Europa do século XVI. Nessa época, as religiões protestantes surgiam como uma alternativa ao milenar poderio religioso católico. Para reagir à significativa perda de fiéis, a Igreja aprovou a concepção da Ordem de Jesus, criada em 1534 por Inácio de Loyola, com objetivo de pregar o cristianismo nas Américas.

Ellen White escreveu no livro O Grande Conflito, pp. 234-235, uma série de advertências em relação aos jesuítas:

"Em toda a cristandade o protestantismo estava ameaçado por temíveis adversários. Passados os primeiros triunfos da Reforma, Roma convocou novas forças, esperando ultimar sua destruição. Nesse tempo fora criada a ordem dos jesuítas - o mais cruel, sem escrúpulos e poderoso de todos os defensores do papado. Separados de laços terrestres e interesses humanos, insensíveis às exigências das afeições naturais, tendo inteiramente silenciadas a razão e a consciência, não conheciam regras nem restrições, além das da própria ordem, e nenhum dever, a não ser o de estender o seu poderio. O evangelho de Cristo havia habilitado seus adeptos a enfrentar o perigo e suportar sem desfalecer o sofrimento, pelo frio, fome, labutas e pobreza, a fim de desfraldar a bandeira da verdade, em face do instrumento de tortura, do calabouço e da fogueira. Para combater estas forças, o jesuitismo inspirou seus seguidores com um fanatismo que os habilitava a suportar semelhantes perigos, e opor ao poder da verdade todas as armas do engano. Não havia para eles crime grande demais para cometer, nenhum engano demasiado vil para praticar, disfarce algum por demais difícil para assumir. Votados à pobreza e humildade perpétuas, era seu estudado objetivo conseguir riqueza e poder para se dedicarem à subversão do protestantismo e restabelecimento da supremacia papal.

Quando apareciam como membros de sua ordem, ostentavam santidade, visitando prisões e hospitais, cuidando dos doentes e pobres, professando haver renunciado ao mundo, e levando o nome sagrado de Jesus, que andou fazendo o bem. Mas sob esse irrepreensível exterior, ocultavam-se frequentemente os mais criminosos e mortais propósitos. Era princípio fundamental da ordem que os fins justificam os meios. Por este código, a mentira, o roubo, o perjúrio, o assassínio, não somente eram perdoáveis, mas recomendáveis, quando serviam aos interesses da igreja. Sob vários disfarces, os jesuítas abriam caminho aos cargos do governo, subindo até conselheiros dos reis e moldando a política das nações. Tornavam-se servos para agirem como espias de seus senhores. Estabeleciam colégios para os filhos dos príncipes e nobres, e escolas para o povo comum; e os filhos de pais protestantes eram impelidos à observância dos ritos papais. Toda a pompa e ostentação exterior do culto romano eram levadas a efeito a fim de confundir a mente e deslumbrar e cativar a imaginação; e assim, a liberdade pela qual os pais tinham labutado e derramado seu sangue, era traída pelos filhos. Os jesuítas rapidamente se espalharam pela Europa e, aonde quer que iam, eram seguidos de uma revivificação do papado."

Seguindo atribuições diretas do rei Dom João III, o governador-geral, Tomé de Sousa, chegou ao Brasil em 1549 trazendo vários padres jesuítas que deveriam propagar a fé católica. “A principal cousa que me moveu a mandar a povoar as ditas terras do Brasil foi para que a gente dela se convertesse à nossa santa fé católica." Este trecho foi retirado de uma correspondência entre o rei e o governador-geral.

Fundando colégios e missões pelo litoral e interior do Brasil, os jesuítas passaram a não só tratar da conversão dos nativos, bem como a administrar as principais instituições de ensino da época e auxiliar os mais importantes órgãos de administração e controle da metrópole.

Mesmo salientando o apoio oficial, não podemos deixar de falar dos conflitos que envolveram os jesuítas e os colonizadores. Nas primeiras décadas da colonização, a enorme dificuldade para se obter mão de obra escrava africana motivou vários colonos a buscarem a força de trabalho compulsória dos índios. Logo de início, os jesuítas se opuseram a tal prática, já que a transformação dos índios em escravos dificultava imensamente o trabalho de evangelização. “As duas políticas não se equivaliam. As ordens religiosas tiveram o mérito de tentar proteger os índios da escravidão imposta pelos colonos, nascendo daí inúmeros atritos entre colonos e padres” (Boris Fausto, História do Brasil, p. 49).

Na segunda metade do século XVIII, a presença dos jesuítas no Brasil sofreu um duro golpe. Nessa época, o influente ministro Marquês de Pombal decidiu que os jesuítas deveriam ser expulsos do Brasil por conta da grande autonomia política e econômica que conseguiam com a catequese. A justificativa para tal ação adveio da ocorrência das Guerras Guaraníticas, onde os padres das missões do sul armaram os índios contra as autoridades portuguesas em uma sangrenta guerra. 

Apesar desse episódio, a herança religiosa dos jesuítas ainda se encontra manifesta em vários setores da nossa sociedade. Muitas escolas tradicionais do país, bem como várias instituições de ensino superior espalhadas nos mais diversos pontos do território brasileiro, ainda são administradas por setores dirigentes da Igreja Católica. Somente no século XIX, foi que as escolas laicas passaram a ganhar maior espaço no cenário educacional brasileiro.

[Imagem: A Primeira Missa no Brasil, do pintor Victor Meirelles]

sexta-feira, 19 de abril de 2019

A Graça nunca é de graça

A Graça nunca é de graça. Para alguns, ela custa o olho da cara. Para outros, custa a cara toda - e a vida junto.

Se você busca definição de amor, vá ao dicionário - se busca o maior exemplo dele, vá ao Calvário. Só Cristo escreveu com sangue Sua paixão pelo ser humano nas páginas da História. Porque Graça não é intenção, é ação. E só Deus pagou o preço pra sair da tribuna e entrar na arena. 
⠀ 
Gosto de pensar que a Graça é o maior atributo divino oferecido a nós. Dela derivam todos os outros. É a Graça que possibilita tudo. E o contrário também.
 ⠀ 
Pare! Chega de ler aqui e, rapidamente, deslizar o dedo pra outras coisas! Pense um pouco, um pouco mais: onde você estaria sem a Graça do Pai? (Tito 2:11)!
 ⠀ 
Como assim? Do esgoto pro colo? Da solitária pro abraço? Do corredor da morte pras ruas de ouro? É a Graça. De Graça. Mas que custou tudo. Pra Jesus. Por isso ela basta (2Co 12:9) - porque é Deus nela. Por você e para você. Eu também.

E nós fazemos o quê? Nada. É só não impedirmos. Que ela chega. Certeira. Porque a Graça é um beijo, inesperado e doce. 

Qual é a única coisa melhor que receber um beijo? Ser beijado o tempo todo. Por alguém que ama tanto que beija com a própria vida - dos lábios feridos ao espinheiro na carne. Mas beija, beijou, e beijará sempre. 

“Está consumado.” ⠀ 

Odailson Fonseca (via facebook)

"Foi mediante infinito sacrifício e inexprimível sofrimento que nosso Redentor pôs a redenção ao nosso alcance. Passou Ele por este mundo, desconhecido e sem receber honras, para que, por Sua maravilhosa condescendência e humilhação, pudesse exaltar o homem de modo a receber este honras eternas e imorredouras alegrias nas cortes celestiais. Durante Seus trinta anos de vida na Terra Seu coração foi moído por inconcebível angústia. A vereda da manjedoura ao Calvário, foi nublada de dor e tristeza. Era um Varão de dores, experimentado nos trabalhos, suportando padecimentos que nenhuma linguagem humana é capaz de descrever. Poderia Ele em verdade ter dito: 'Atendei, e vede, se há dor como a Minha dor' (Lamentações 1:12). Odiando o pecado com ódio perfeito, todavia cumulou sobre a própria alma os pecados do mundo todo. Sem culpa, sofreu o castigo do culpado. Inocente, ofereceu-Se todavia como substituto do transgressor. A culpa de todo pecado fazia sentir seu peso sobre a divina alma do Redentor do mundo. Os maus pensamentos, as palavras más, as más ações de todo filho e filha de Adão, exigiam que a retribuição caísse sobre Ele, pois tornara-Se substituto do homem. Conquanto não fosse dEle a culpa do pecado, Seu espírito foi ferido e dilacerado pelas transgressões dos homens, e Aquele que não conhecia pecado tornou-Se pecado por nós, para que fôssemos feitos justiça de Deus." (Ellen G. White - Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 322)

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Adventista foi preso por armazenar Bíblias e livros religiosos na China

A Bíblia é reconhecida como o livro de impacto mais significativo no mundo. Na China, esse impacto significa um confronto com as autoridades e motivo de sérias penalidades para aquele que a possui sem que haja autorização do regime comunista chinês.

Ter até mesmo um xerox da Bíblia é uma ofensa capital na China, onde crentes são frequentemente perseguidos, assediados, vigiados, presos e, às vezes, torturados.

Li Liang (pseudônimo), um líder da Igreja Local na província de Anhui, passou por essa experiência depois que foi sentenciado a cinco anos de prisão por fotocopiar a Bíblia. Embora já tenha cumprido a pena, não reconquistou tecnicamente sua liberdade, pois está constantemente sujeito a vigilância e intimidação da polícia.

Na época de sua libertação, Li Lang foi ameaçado pela polícia, dizendo que se ele continuasse acreditando em Deus, seria sentenciado a pelo menos dez anos de prisão, e os membros de sua família também estariam implicados, já que as autoridades chinesas acreditam em punição coletiva, onde os “pecados” de um membro da família são visitados pelos outros.

De acordo com uma fonte, quando Li Liang foi preso, a polícia revistou sua casa e encontrou duas impressoras, uma grande quantidade de papel para impressão, bem como capítulos bíblicos dos quais ele havia feito cópias e estava se preparando para distribuir aos fiéis. Por causa dessa “evidência”, a polícia considerou Li Liang “o chefe de uma organização contra-revolucionária” e o levou sob custódia, onde foi torturado por informações sobre a fonte dos materiais e outras notícias da igreja, por quatro meses, antes de ser sentenciado.

Um crente anônimo na igreja de Li Liang disse que o motivo pelo qual o Partido Comunista Chinês (PCC) acusou os cristãos de crime de "contra-revolução" é estabelecer a autoridade absoluta do Partido Comunista.

E como a perseguição religiosa das autoridades continua a se intensificar, as pessoas na China podem ser perseguidas apenas por possuir um único livro religioso, enquanto o armazenamento de livros religiosos é ainda mais perigoso.

Li Wenqiang, um pseudônimo, é um cristão da Igreja Adventista do Sétimo Dia na cidade de Shenzhen, no sul da província de Guangdong. Dois anos atrás, a biblioteca em sua igreja foi invadida por funcionários do Departamento Municipal de Imprensa, Publicação, Rádio, Cinema e Televisão de Shenzhen e pelo Bureau de Assuntos Étnicos e Religiosos da cidade e outros departamentos. Mais de 200 mil Bíblias e livros religiosos foram apreendidos. Li e outro cristão responsável pela administração dos livros foram condenados a três anos de prisão (com cinco anos de liberdade condicional) por “operações comerciais ilegais”.

Segundo fontes, os dois ainda estão sendo monitorados pelas autoridades e foram impedidos de deixar Shenzhen por cinco anos. Se violarem esta provisão, seu prazo de prisão será calculado novamente.

“Aqueles que acreditam em Deus enfrentarão crescente perseguição e sofrimento no futuro”, disse um crente. “Todos devem estar preparados: sem fé, será difícil continuar”, completou.

[Com informações de Bitter WinterGuiame]

quarta-feira, 17 de abril de 2019

A era da burrice e a morte do conhecimento de Deus

Discussões inúteis, intermináveis, agressivas. Gente defendendo as maiores asneiras, e se orgulhando disso. Pessoas perseguindo e ameaçando as outras. Um tsunami infinito de informações falsas. Reuniões, projetos, esforços que dão em nada. Decisões erradas. Líderes políticos imbecis. De uns tempos para cá, parece que o mundo está mergulhando na burrice. Você já teve essa sensação? Talvez não seja só uma sensação. Estudos realizados com dezenas de milhares de pessoas, em vários países, revelam algo inédito e assustador: aparentemente, a inteligência humana começou a cair.

“Há um declínio contínuo na pontuação de QI (quociente de inteligência) ao longo do tempo. E é um fenômeno real, não um simples desvio”, diz o antropólogo inglês Edward Dutton, autor de uma revisão analítica das principais pesquisas já feitas a respeito. A regressão pode parecer lenta; mas, sob perspectiva histórica, definitivamente não é. No atual ritmo de queda, alguns países poderiam regredir para QI médio de 80 pontos, patamar definido como “baixa inteligência”, já na próxima geração de adultos.

Há quem diga que o salto tecnológico dos últimos 20 anos, que transformou nosso cotidiano, possa ter começado a afetar a inteligência humana. “Hoje, crianças de 7 ou 8 anos já crescem com o celular”, diz Mark Bauerlein, professor da Universidade Emory, nos EUA, e autor do livro The Dumbest Generation (A Geração Mais Burra, não lançado em português). “É nessa idade que as crianças deveriam consolidar o hábito da leitura, para adquirir vocabulário.” Pode parecer papo de ludita, mas há indícios de que o uso de smartphones e tablets na infância já esteja causando efeitos negativos. Na Inglaterra, por exemplo, 28% das crianças da pré-escola (4 e 5 anos) não sabem se comunicar utilizando frases completas, no nível que seria normal para essa idade. Segundo educadores, isso se deve ao tempo que elas ficam na frente de TVs, tablets e smartphones.

O superficialismo acomete nossa geração. Como afirma Richard Foster, em seu livro A Celebração da Disciplina, “o superficialismo é o mal do nosso tempo”. Numa época em que as informações podem ser obtidas em questão de segundos, com a digitação de uma, duas ou três palavras no Google e um clique no botão enter, refletir com profundidade sobre os principais dilemas humanos é algo que vem perdendo prioridade.

O poeta Eric Donald Hirsch, em seu livro Cultural Literacy: What Every American Needs to Know (Alfabetização Cultural: o que todo americano precisa saber), observa que “boa parte dos estudantes universitários norte-americanos não tem o conhecimento básico necessário para compreender sequer a primeira página de um jornal, ou para agir responsavelmente como cidadãos”. Como frisou o escritor Philip Yancey, “num país que publica mais de 50 mil títulos por ano, é fácil perder a aura quase sagrada que no passado envolvia os livros”.

Será que isso é diferente do que acontece em outras partes do mundo, por exemplo, no Brasil? Creio que não. A propósito, o filósofo Allan Bloom, no livro O Declínio da Cultura Ocidental, argumentou que “por trás desse mal-estar educacional subjaz a convicção universal dos estudantes de que toda verdade é relativa e que, portanto, a verdade não é digna de ser buscada”.

Vivemos num momento em que presenciamos um divórcio entre conhecimento e espiritualidade. As pessoas querem sentir, mas não estão dispostas a pagar o preço para saber. A bem da verdade, isso não melhorou a qualidade de nosso cristianismo. Como acertadamente enfatizou o teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer, nosso mundo se tornou palco de um cristianismo sem Cristo, um evangelho sem cruz e uma graça barata. Como Maria no jardim do sepulcro e os discípulos na estrada de Emaús, muitos cristãos falam com o Cristo vivo como se Ele estivesse morto. Porém, diferentemente deles, falta-lhes o mesmo anseio para estar em Sua presença: “Fica conosco”, disseram os dois peregrinos de Emaús. “Mestre!”, exclamou Maria, abraçando-o efusivamente, repleta de incontida emoção. Nas duas histórias, o evangelista destacou o papel das Escrituras como revelador da pessoa e missão de Jesus (Lc 24:25-27; Jo 20:9). O conhecimento de Cristo não está desvinculado de Sua Palavra!

A Bíblia faz uma solene advertência contra o superficialismo: “O meu povo está sendo destruído porque lhe falta conhecimento” (Os 4:6). Por mais estranho que possa parecer, a Bíblia está apresentando uma espécie de atestado de óbito cuja causa da morte é a falta de conhecimento. Quando o conhecimento “morre”, em certo sentido nós também morremos. Para usar as palavras da romancista americana Joan Didion, no livro O Ano do Pensamento Mágico, “informação é controle”. No caso da afirmação bíblica acima, o contexto indica que a passagem se refere especificamente ao conhecimento de Deus. No entanto, é justamente o conhecimento de Deus que dá sentido a todas as outras formas de conhecimento. Talvez, seja esse o pensamento do autor de Hebreus ao citar o texto que se encontra em Jeremias 31:34: “Conhece ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor” (Comparar com Hebreus 8:11).

Como disse Philip Yancey, “através dos tempos e gerações, os livros [e eu acrescento, os bons livros] levam pensamentos e sentimentos, a essência do espírito humano”. Jamais percamos essa essência!

Fontes:

Eduardo Szklarz e Bruno Garattoni (via Revista Superinteressante)

Nilton Aguiar (via Revista Adventista)

Os traumas de infância e os reflexos na saúde mental

Há muito tempo a saúde mental ficou no escuro. Devido ao estigma associado ao tema, ele se tornou um tabu social. Porém, nos últimos anos os defensores da saúde mental têm trabalhado arduamente para trazer esse tópico aos olhos do público. Celebridades, atletas e outras figuras públicas estão, pela primeira vez, revelando seus problemas emocionais.

Reconhecendo a saúde mental como um tema importante, nós, como sociedade, somos capazes de entender as questões e preocupações em um sentido mais profundo. Além disso, podemos trabalhar para oferecer apoio e assistência àqueles que sofrem de doença mental.

Em uma apresentação recente à Associação Adventista de Pesquisadores de Assuntos Humanos (AHSRA, na sigla em inglês), David Williams, professor de saúde pública e sociologia na Universidade Harvard, reforçou que a saúde mental é uma parte importante da saúde geral, ênfase que os adventistas têm dado ao longo de sua história.

Outro ponto enfatizado por ele foi que muitos problemas de saúde têm origem nas Experiências Adversas na Infância (ACEs, na sigla em inglês), decorrentes de abuso psicológico, físico ou sexual; negligência emocional ou física; uso de álcool ou drogas pelos pais, perda de alguém, depressão, violência doméstica ou a prisão de um familiar.

Um estudo publicado em 2016 no American Journal of Preventive Medicine mostrou que, embora mais da metade (52%) das crianças e adolescentes norte-americanos cheguem aos 17 sem sofrer experiências traumáticas, 25% deles enfrentam pelo menos uma experiência adversa na infância. Ainda mais preocupante foi a constatação de que quase o mesmo número (23%) experimenta dois ou mais episódios.

A mesma pesquisa revelou que, quanto mais ACEs a criança experimenta, maiores são as chances de se tornar uma pessoa deprimida quando adulta. Na verdade, as crianças que sofrem cinco ou mais experiências traumáticas têm cinco vezes mais probabilidade de apresentar depressão na fase adulta do que aquelas que não experimentam nenhuma.

No entanto, a adversidade da infância não está associada apenas a futuros problemas de saúde mental, mas também a complicações físicas. Pesquisas mostram que crianças que experimentam cinco ou seis ACEs são quase duas vezes mais propensas a sofrer doenças cardíacas do que crianças que não experimentam ACEs. Por sua vez, aquelas que sofrem sete ou oito ACEs são quase três vezes e meia mais propensas a sofrer doenças cardíacas do que as que não passaram por grandes traumas na infância.

Por outro lado, estudos adicionais revelaram que o apoio emocional e instrumental na infância está associado à menor desregulação biológica na meia-idade. Além disso, experiências positivas na infância estão indiretamente associadas à saúde cardiovascular ideal, por meio da educação e do apoio social.

Como a igreja pode responder a tudo isso? O doutor Williams acredita que um “ministério de saúde abrangente deve incluir a promoção da saúde mental como parte de uma vida abundante”. Não podemos simplesmente nos concentrar em ministrar à saúde física das pessoas e negligenciar sua saúde mental.

Embora não possamos desfazer o dano causado no passado, podemos “transformar nossas comunidades religiosas de fontes de conflito e crítica em fontes de amor, alegria, encorajamento e esperança”, conforme sugere o professor Williams. Ele acredita que, ao fazer isso, criamos um lugar seguro para aqueles que estão desesperadamente necessitados de salvação, amor e cura.

Como igreja, é hora de remover o estigma associado à doença mental. Precisamos abrir nossas portas para os necessitados e mostrar-lhes o amor transformador e a bondade de nosso Deus. 

[Equipe do Escritório de Arquivos, Estatística e Pesquisa da sede mundial adventista / publicada no site da Adventist Review / via Revista Adventista]

“As impressões feitas no coração, no princípio da vida, são vistas em anos posteriores. Podem estar sepultadas, mas raras vezes serão removidas” (Ellen G. White - Manuscrito 57, 1897).