sexta-feira, 31 de maio de 2019

Há muitos solitários em nossas igrejas

O rosto é sorridente. O aperto de mão, amigável. Quando lhe perguntam como está, a resposta é sempre “tudo bem”. Da hora em que chega à igreja até o momento em que se despede, todos acreditam que sua vida é repleta de felicidade. Mas, por trás de toda essa aparência, esconde-se uma pessoa extremamente solitária. Não deveria ser assim, mas a dura realidade é que nossas igrejas estão cheias de irmãos e irmãs que se encaixam nessa descrição, e que, embora escondam e não demonstrem, são muitos solitários. São cristãos, vivem em comunidade, vão aos cultos e cantam louvores, mas, na verdade, sentem-se sozinhos. Os laços com os demais são superficiais e frágeis e eles percebem que, na hora em que precisam de um ombro sincero, não o encontram. 

Por vezes, chegam a derramar lágrimas escondido. Poucas pessoas lhes telefonam, por isso se sentem como se ninguém estivesse nem aí para si. Olham a vida dos demais e acabam com a sensação de que todos são felizes e têm muitos amigos, menos eles próprios – o que os deprime. Apesar disso, por mais que se esforcem por ser amáveis e gentis na igreja, poucos demonstram interesse real por sua vida. Qual deve ser nosso papel junto a quem se vê nessa situação? Será que há algo que você possa fazer pelos milhares de solitários que transitam entre nós mas não demonstram, tocando a vida em meio à multidão mas tendo a solidão como companheira mais fiel? 

Qual é o remédio para a solidão?
Como cristãos, é importante prestarmos atenção a quem sofre, pois, sendo nós membros do Corpo de Cristo, temos o dever fraterno de zelar uns pelos outros, de acolher, amar, cuidar. Quando o pé sofre um corte, não é ele próprio que se aplica remédios, é a mão. Quando a panturrilha sente cãibras, é o pé que se alonga para aliviá-la, com a ajuda da mão, sendo que as costas se vergam para que a mão alcance o pé. O corte no dedo é levado à boca. E quando os músculos e tendões doem é dos olhos que descem as lágrimas. Como integrantes de um todo, devemos cuidar dos irmãos. Mas que remédio podemos dar a eles?

Para conseguir auxiliar pessoas adoentadas pela solidão, quem não sofre desse mal precisa, antes de tudo, compreender que solidão não tem a ver com a quantidade de pessoas que te cercam, mas, sim, com a quantidade de pessoas que se preocupam com você. Muitas vezes descobrimos que alguém se sente solitário e nos perguntamos como pode, afinal, ele se relaciona com tanta gente! Chegamos a pensar que é frescura ou necessidade de atenção, pois não compreendemos que não basta ter pessoas em volta. O solitário não é um ermitão, é alguém que, embora viva em comunidade, não tem laços fortes de ligação com ninguém. Ele não sente falta de mais eventos na igreja, mas de alguém lhe diga: “Que saudade, liguei só para saber como você está”.

O solitário geralmente tem a percepção de que, se partisse desta vida, não faria muita falta. Pode até ser uma percepção equivocada, mas não é por ser uma visão distorcida que deixa de ser algo que o machuque. Muitos que olham de fora acham que o problema é culpa do próprio solitário, afinal, por que ele não se enturma? Por que ele não corre atrás? Basta se aproximar das pessoas! Bem, na verdade, correr atrás dos outros não satisfaz a solidão, pois não demonstra um real interesse do próximo. O solitário se sente desimportante na vida dos irmãos e vive uma real necessidade de ser amado e querido. Algo que ele não quer impor, pois precisa que ocorra espontaneamente. Correr atrás das pessoas não é o remédio para a solidão.

Como Igreja, precisamos estar constantemente atentos para os solitários que nos cercam. Devemos identificá-los e amá-los sem hipocrisia. A única forma de fazermos isso é saindo de nossa zona de conforto e indo até eles para buscar conhecê-los em profundidade, descobrir quem eles são e, a partir daí, criar vínculos verdadeiros. Não devemos amar os solitários como um gesto de caridade, “com pena” ou por “obrigação cristã”: precisamos buscar conhecê-los para criar laços verdadeiros de afeto mútuo e passar a amá-los de verdade. Temos de criar as circunstâncias para que eles de fato nos façam falta. Amizades não são apenas aquelas que a vida nos joga no colo, são também as que nos mexemos para construir. Mas, para o solitário, esse movimento partir dele não é um remédio muito eficaz, ele deseja ver interesse que parta das outras pessoas.

É bastante difícil para alguém que tem muitos amigos sinceros e vive numa atmosfera de amizade perene compreender a solidão. Quem vive imerso em amor não capta com facilidade a intensidade da dor que o solitário sente. O que fazer? Buscar em Deus a resposta. Em sua glória celestial, o Deus que é amor jamais sentiu solidão. Acompanhado, de eternidade a eternidade, pela Trindade santa, o Criador se basta a si mesmo e se complementa, vivendo numa unidade plural e singular que faz de si um ser pleno e absolutamente destituído de carência. No entanto, dos altos céus Ele olhou para a humanidade solitária, despida da plenitude de Deus, e desceu à terra, fazendo-se solitário como os solitários, para nos devolver a capacidade de comungar para sempre com Aquele que nunca nos deixará sós. E, ao fazer-se como um se nós, o Filho experimentou o gosto da solidão: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27:46), gemeu o Senhor agonizante. Por que Jesus decidiu vivenciar a dor dos solitários? Amor. Puro amor.

Meu irmão, minha irmã, qual é o remédio para a solidão do seu irmão? Peço a Deus que encha o seu coração do amor que é fruto do Espírito, para que você sinta em si a dor dos solitários e faça algo para cuidar de quem precisa urgentemente de calor humano. É aproximando-se de Deus que você terá discernimento para identificar as vítimas da solidão, frutificará em amor pelos tais e partirá em seu socorro com interesse genuíno. Ao fazê-lo, você estará permitindo que Deus o use para transformar a vida de tantos que precisam desse amor.

Afinal, já entendeu qual é o remédio para a solidão do seu irmão? Se você disse “Deus”… lamento, errou. Deus é o médico que aplica o remédio. O remédio… é você.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,

Maurício Zágari (via Apenas

Nota: A igreja precisa exercer plenamente a sua capacidade de compaixão. Aqui vale citar alguns conselhos de Ellen G. White, a respeito de como podemos ajudar pessoas que vivem nesse tipo de solidão capaz de afetar a saúde e o convívio social: 

“Palavras bondosas, olhares de simpatia, expressões de apreciação, seriam para muitas almas lutadoras e solitárias como um copo de água fria a uma alma sedenta. Uma palavra compassiva, um ato de bondade, ergueriam fardos que pesam duramente sobre fatigados ombros. E toda palavra ou ato de abnegada bondade é uma expressão do amor de Cristo pela humanidade perdida” (O Maior Discurso de Cristo, p. 23).

"Devemos ter a tal ponto no coração o amor de Cristo, que nosso interesse nos outros seja imparcial e sincero. Nossas afeições devem ter amplitude e não se centralizar apenas em alguns que nos lisonjeiam por confidências especiais. A tendência de tais amizades é levar-nos a negligenciar os que se acham em maior necessidade de amor do que aqueles a quem concedemos nossas atenções. Não devemos estreitar nosso círculo de amigos a uns poucos prediletos porque nos agradam e lisonjeiam com a afeição que nos declaram" (Nossa Alta Vocação, [MM 1962], p. 257).

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Perdidos na igreja

“Crer em Deus” não é algo incomum. Periodicamente pesquisas são feitas em relação à crença religiosa. Com leves alterações, os resultados são praticamente os mesmos. Em geral, cerca de 90% dizem que “acreditam” em Deus. A maioria, contudo, não sabe muito bem no que crê. Alguns se referem a “um poder” ou “ser superior”, ou “o grande espírito”. Em linguagem irreverente, alguns fazem referência ao “cara lá de cima”. Crer em Deus é um grande negócio e boa política. Qual foi a última vez que você ouviu um político dizer que é ateu? A questão real, contudo, é que diferença tal crença faz na vida dos que dizem crer nEle?

Mais perturbador ainda seria saber até que ponto pessoas que se dizem cristãs são realmente afetadas em termos de compromisso com sua fé. Em 1940, Rod Bell, presidente da Comunidade Batista Fundamental, considerava que apenas 50% dos evangélicos norte-americanos poderiam ser seriamente considerados cristãos. Um pouco mais tarde, Bob Gray julgava que 75% dos cristãos batizados estão perdidos. Wallie Amos Criswell afirmou que estaria grandemente surpreso se ele encontrasse 25% dos cristãos no Céu, e Billy Graham, o famoso evangelista, alguns anos atrás, elevou o índice dos perdidos dentro das igrejas para 85%. Mais recentemente ainda, Aiden Wilson Tozer, outro destacado pastor norte-americano, subiu esse percentual para 90%. Se a percepção desses líderes religiosos está correta, estamos diante de uma grande tragédia. Milhões de perdidos dentro da igreja! A questão se torna mais complexa quando pensamos em termos da pregação do evangelho. Como os perdidos dentro da igreja partilharão o conhecimento de Cristo com os perdidos de fora da igreja?

Qual é a explicação para tal fenômeno? Certamente a lista de razões poderia ser extensa e variada. Ellen White, entretanto, colocou o indicador num ponto muito sensível, que nos deveria fazer pensar seriamente: “Lembrem-se os pastores e o povo de que a verdade do evangelho, quando não salva, leva à ruína. A pessoa que se recusa a escutar dia a dia os convites da misericórdia, cedo poderá ouvir os mais urgentes apelos sem que uma emoção lhe agite o coração” (Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 134). E vejam também esta forte declaração dela: "É uma solene declaração que faço à igreja, de que nem um entre vinte dos nomes que se acham registrados nos livros da igreja, está preparado para finalizar sua história terrestre, e achar-se-ia tão verdadeiramente sem Deus e sem esperança no mundo, como o pecador comum" (Eventos Finais, p. 172).

"Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração." (Hebreus 3:7, 8)

Assista também esta linda mensagem do pastor Alejandro Bullón:



(via Meditações Diárias - Encontros com Deus)

quarta-feira, 29 de maio de 2019

15 importantíssimos recados para os nossos líderes cristãos

1. O Senhor não está satisfeito com a atual falta de ordem e exatidão entre os que trabalham na Sua obra. Tudo quanto tenha qualquer relação com a obra de Deus deve ser tão perfeito quanto seja possível ao cérebro e às mãos humanos. Solenes são as responsabilidades que repousam sobre os que são chamados a agir como dirigentes na igreja de Deus na Terra.

2. Seria muito bom se aqueles que ocupam posições de confiança em nossas instituições se lembrassem de que são representantes de Jesus. Verdadeira bondade, santidade, amor e compaixão pelos que são tentados devem revelar-se em sua vida.

3. São necessários homens fiéis e escolhidos na liderança da obra. Aqueles que não têm, e não desejam ter, experiência em assumir responsabilidades, não devem de forma alguma estar ali.

4. Que todos os servos de Deus, desde os que ocupam as mais elevadas posições aos que fazem os trabalhos mais modestos, andem humildemente diante de Deus.

5. Mas a posição não faz o homem. É a integridade de caráter, o Espírito de Cristo, que o torna grato, nada interesseiro, sem parcialidade e sem hipocrisia; e, para Deus, isto é que tem valor.

6. O homem que se acha na liderança de qualquer trabalho na causa de Deus deve ser inteligente, capaz de administrar grandes negócios com sucesso, de temperamento calmo, paciência semelhante à de Cristo, de perfeito domínio próprio.

7. O Céu está observando para ver como os que ocupam posições de influência se desempenham de sua mordomia. O que se exige deles, nesse caráter de mordomos, é proporcional à influência que exercem. Os homens que ocupam posições de confiança devem considerar como tesouro de Deus as finanças que manuseiam, e usá-las de maneira econômica.

8. Nenhum homem foi feito um senhor, para governar a mente e consciência de um seu semelhante. Sejamos bem cuidadosos quanto à maneira com que lidamos com a herança de Deus comprada por sangue. O líder não deve sequer permitir-se pensamentos indelicados em relação a seus irmãos, muito menos tomar o lugar de juiz e censurá-los e condená-los, quando você mesmo, em muitos aspectos, merece mais censura do que eles. Seu trabalho está sendo inspecionado por Deus.

9. Às vezes um homem que foi colocado em posição de responsabilidade, como líder, concebe a ideia de que está numa posição de suprema autoridade, e que todos os seus irmãos, antes de fazerem qualquer movimento de avanço, devem primeiro dirigir-se a ele pedindo permissão para fazer aquilo que eles sentem que se deve fazer. Tal homem está numa posição perigosa. Perdeu de vista a obra do verdadeiro Líder do povo de Deus.

10. Muitos têm fracassado, fracassado de maneira notável, onde poderiam haver tido sucesso. Não sentiram a responsabilidade da obra; têm levado as coisas tão comodamente, como se tivessem um milênio em que trabalhar pela salvação das pessoas. Por causa dessa falta de dedicação e zelo, poucos teriam a impressão de que realmente falavam sério.

11. É um pecado ser descuidado, sem ideal e indiferente em qualquer trabalho em que nos empenhemos, mas especialmente na obra de Deus. Cada empreendimento relacionado com Sua causa deve ser realizado com ordem, previsão e fervorosa oração.

12. É o plano de Deus que os que têm responsabilidades se reúnam muitas vezes para se aconselharem entre si e orarem pedindo aquela sabedoria que somente Ele pode comunicar. Falem menos; muito tempo precioso é perdido em conversas que não trazem luz.

13. A causa de Deus requer homens que possam ver prontamente e agir instantaneamente no devido tempo, e com poder. Se esperarem para pesar toda dificuldade e ponderar toda perplexidade que encontrarem, bem pouco farão.

14. Há sempre alguns que, quando seus irmãos estão empurrando para diante, pensam ser seu dever puxar para trás. Fazem objeções a tudo que é proposto, e combatem todo plano que não partiu deles próprios. Nunca aprenderam na escola de Cristo a preciosa e todo-importante lição de se tornar manso e humilde. Não há nada mais difícil para os que são dotados de vontade forte do que desistir de suas idéias e submeter-se ao juízo dos outros.

15. Quanto mais elevada for a posição de responsabilidade que um homem ocupa, mais ferozes e determinados serão os ataques do inimigo. Que os servos de Deus em todos os lugares estudem Sua Palavra, olhando constantemente a Jesus para serem transformados à Sua imagem.

Textos extraídos do livro Liderança Cristã de Ellen G. White.

terça-feira, 28 de maio de 2019

O verdadeiro cristão é amigo dos pobres

“O verdadeiro cristão é amigo dos pobres. Ele trata com o seu irmão perplexo e desafortunado como se trata com uma planta delicada, tenra e sensível.” (Ellen G. White - Beneficência Social, p. 168)

A ligação entre o evangelho e a responsabilidade social é claramente representada no ministério de Cristo, e tanto no Velho como no Novo Testamentos. Quando os estragos da pobreza, injustiça e opressão estão bem presentes, a Palavra de Deus insiste que uma fé que fala somente das necessidades espirituais do povo, mas deixa de demonstrar sua compaixão mediante auxílio prático é vista como um culto falso (ver Isaías 58). Com efeito, como Gandhi certa vez disse: “Precisamos viver em nossas vidas as mudanças que queremos ver no mundo.”

Um discípulo de Cristo verdadeiramente crente não pode tratar com indiferença as desigualdades materiais e a manifestação de poder e privilégio que atingem a tantos e leva ao empobrecimento espiritual de outros. O evangelho convida o discípulo de Cristo e a igreja à solidariedade com todos os que sofrem, a fim de juntos podermos receber, incorporar e partilhar as boas-novas de Jesus, a fim de melhorar a vida de todos. Como Cheryl Sanders o expressa:

“O reino preparado desde a fundação do mundo é um reino onde todos são satisfeitos, alimentados e livres. Alguém se qualifica para entrar nesse reino exercendo boa mordomia da própria vida, e distribuindo vida a partir da abundância que recebeu como legado de Deus. E o evangelho declara que a vida eterna é a recompensa daqueles que cuidam da vida. Aqueles que alimentam os famintos, dão de beber aos sedentos, abrigam o estrangeiro, vestem os nus e visitam os doentes e encarcerados tornam-se identificados com a criação do reino de Deus neste mundo, e atuam em parceria com Deus no domínio dos negócios humanos. Desobedecer esse mandado bíblico é negar lealdade ao reino e ao Rei”. (Ministry at the Margins, p. 28)

Jesus raramente mencionou o tipo de sociedade política à qual Seus discípulos deviam aspirar. Ele não pretendeu ser um reformador sociopolítico. Ele não enunciou nenhuma plataforma política. As tentações no deserto tinham uma dimensão claramente política e Ele as resistiu. Embora Ele tivesse mais de uma oportunidade para apoderar-Se do governo da sociedade por uma espécie de golpe de estado (ex.: o alimentar a multidão e a entrada triunfal em Jerusalém), Ele não escolheu esta opção.

Ao mesmo tempo, os ensinos de Jesus não podiam deixar de ter uma influência sociopolítica ao serem observados pela comunidade cristã. Ele ofereceu boas novas aos pobres, liberdade para os oprimidos e vida abundante (João 10:10). Portanto, os adventistas, seguindo o exemplo de cristãos através dos séculos, precisam reconhecer sua responsabilidade social. Os pioneiros adventistas pregavam não só o evangelho de salvação individual, mas também se preocupavam com alcoólatras, escravos, mulheres oprimidas e as necessidades educacionais de crianças e jovens. 

Assim, o cristianismo não é uma religião de individualismo isolado ou de introversão; é uma religião de comunidade. Os dons e as virtudes cristãs têm implicações sociais. Devoção a Cristo significa devoção a todos os filhos de Deus, e devoção gera responsabilidade pelo bem-estar de outros.

A igreja e o seguidor de Cristo precisam responder à pergunta: “Sou eu guardador do meu irmão?” O sofrimento de nossos semelhantes nos causa dor. Podemos tentar escondê-lo, negá-lo, encobri-lo ou descartá-lo, mas ainda assim o sofrimento e a dor dos outros não nos podem deixar completamente impassíveis. Nossa fé cristã reforça isso. Como posso chamar-me de seguidor de Cristo quando não me preocupo com meus semelhantes? Como posso representar o reino de Deus e não me preocupar profunda e praticamente com as pessoas que são incluídas em Seu reino?

“Mas não necessitamos de ir a Nazaré, a Cafarnaum ou a Betânia para andar nos passos de Jesus. Encontraremos Suas pegadas ao pé do leito dos doentes, nas choças de pobreza, nos apinhados becos das grandes cidades, e em qualquer lugar onde há corações humanos necessitados de consolação. Fazendo como Jesus fazia quando na Terra, andaremos nos Seus passos." (O Desejado de Todas as Nações, p. 616)

Na Palavra de Deus, a responsabilidade do seguidor de Cristo pelos pobres e necessitados não é menos importante do que a pregação do evangelho, nem é opcional. É parte integrante de toda a história do evangelho, porque realmente vemos na face do pobre a face de Cristo: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes” (Mateus 25:40).

Para concluir, vejamos Ellen G. White nos descrevendo a injusta desigualdade social aqui reinante, e o que podemos fazer para atender e atenuar as necessidades dos mais carentes.

"Por toda parte, em nosso redor, vemos miséria e sofrimento: famílias com falta do necessário, crianças a pedirem pão. A casa do pobre ressente-se, muitas vezes, da falta de móveis indispensáveis, e de colchões e roupa de cama. Muitos vivem em simples choças, destituídas de todo conforto. O clamor dos pobres chega até aos Céus. Deus vê e ouve. [...]

Que miséria existe no próprio centro de nossos chamados países cristãos! Pensai nas condições dos pobres de nossas grandes cidades. Há, nessas cidades, multidões de criaturas humanas que não recebem tanto cuidado e consideração quanto se dispensa aos animais. Há milhares de crianças miseráveis, rotas e meio famintas tendo estampados no rosto o vício e a depravação. Arrebanham-se famílias em promiscuidade em míseros casebres, muitos deles escuros celeiros cheios de umidade e de imundícia. As crianças nascem nesses terríveis lugares. A infância e a juventude nada vêem de atrativo, nada de beleza natural das coisas criadas por Deus para deleite dos sentidos. As crianças são deixadas a crescer e formar o caráter segundo os baixos preceitos, a miséria, os maus exemplos que vêem em torno de si. O nome de Deus, só ouvem proferir de maneira profana. Palavras impuras, o cheiro das bebidas e do fumo, a degradação moral de toda espécie, eis o que se lhes depara aos olhos e perverte os sentidos. E dessas infelizes habitações partem lamentáveis clamores por pão e roupa, clamores saídos de lábios que nada sabem acerca da oração.

Há uma obra a ser feita por nossas igrejas, da qual muitos mal fazem uma ideia, obra até aqui nem tocada, por assim dizer. 'Tive fome', diz Cristo, 'e destes-Me de comer; tive sede, e destes-Me de beber; era estrangeiro e hospedastes-Me; estava nu, e vestistes-Me; adoeci, e visitastes-Me; estive na prisão, e fostes ver-Me.' (Mateus 25:35 e 36). Pensam alguns que, se dão dinheiro para esta obra, isto é tudo quanto deles se requer; mas isto é um erro. A dádiva do dinheiro não pode tomar o lugar do serviço pessoal. É direito dar de nossos meios, e muitos mais o deveriam fazer; é-lhes, porém, exigido o serviço pessoal segundo suas oportunidades e suas forças. 

A obra de recolher o necessitado, o oprimido, o aflito, o que sofreu perdas, é justamente a obra que toda igreja que crê na verdade para este tempo devia de há muito estar realizando. Cumpre-nos mostrar a terna simpatia do samaritano em acudir às necessidades físicas, alimentar o faminto, trazer para casa os pobres desterrados, buscando de Deus todo dia a graça e a força que nos habilitem a chegar às profundezas da miséria humana, e ajudar aqueles que absolutamente não se podem ajudar a si mesmos. Isto fazendo, temos favorável ensejo de apresentar a Cristo, o Crucificado." (Beneficência Social, p. 188-190)

O prof. Leandro Quadros também aborda este assunto:

segunda-feira, 27 de maio de 2019

As Manifestações e o Evangelho

A crescente onda de manifestações públicas exige reflexão e respostas sobre as seguintes questões: Os cristãos deveriam participar desses atos públicos? Pastores e servidores da organização adventista deveriam sair às ruas e apoiar protestos populares? 

Vale a pena mencionar uma citação inspirada da escritora Ellen White, que esclarece alguns pontos:

“O governo sob que Jesus viveu era corrupto e opressivo; clamavam de todo lado os abusos — extorsões, intolerância e abusiva crueldade. Não obstante, o Salvador não tentou nenhuma reforma civil. Não atacou nenhum abuso nacional, nem condenou os inimigos da nação. Não interferiu com a autoridade nem com a administração dos que se achavam no poder. Aquele que foi o nosso exemplo, conservou-Se afastado dos governos terrestres. Não porque fosse indiferente às misérias do homem, mas porque o remédio não residia em medidas meramente humanas e externas. Para ser eficiente, a cura deve atingir o próprio homem, individualmente, e regenerar o coração”. (O Desejado de Todas as Nações, p. 358).

A Igreja Adventista deve assumir seu papel na sociedade como uma organização ativamente envolvida nas questões pertinentes aos interesses e necessidades dos cidadãos. Reconhece também o desafio de ser relevante e fazer a diferença na vida das pessoas e das comunidades onde ela está inserida. Quanto às questões que envolvem desigualdade e injustiça social, a igreja desenvolve, apoia e realiza projetos sociais e educacionais que beneficiam a vida comunitária. Suas várias frentes de atuação envolvem a ADRA (Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais), ASA (Ação Solidária Adventista), escolas, colégios e universidades, entre outros programas promovidos pelos vários departamentos e instituições da denominação. No entanto, busca agir na defesa de suas convicções sem conflitar com os princípios bíblicos e sem protestar contra ideologias e autoridades constituídas. 

Na continuação, Ellen White diz: “Não pelas decisões dos tribunais e conselhos, nem pelas assembleias legislativas, nem pelo patrocínio dos grandes do mundo, há de estabelecer-se o reino de Cristo, mas pela implantação de Sua natureza na humanidade, mediante o operar do Espírito Santo. 'A todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; aos que creem no Seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade do varão, mas de Deus' (Jo 1:12, 13). Aí está o único poder capaz de erguer a humanidade. E o instrumento humano para a realização dessa obra é o ensino e a observância da Palavra de Deus”. (O Desejado de Todas as Nações, p. 358)

Estamos, como adventistas, neste mundo com uma mensagem especial que é preparar um povo para o encontro com o Senhor! Cremos que a nossa força não deve estar nas manifestações por justiça, mas em anunciar a volta do Senhor Jesus, a verdadeira causa!

A Bíblia é o nosso guia seguro sempre. No livro de Hebreus 11:16 está escrito que: “Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade.”

O sonho dos sul-americanos, o sonho dos brasileiros, o sonho dos europeus… Todos querem uma pátria melhor. E ela existe. A cidade de Deus, a pátria celestial. 

Assim, a Igreja Adventista do Sétimo Dia:

1. Reconhece seu dever de atender às necessidades das pessoas, exercendo o papel de instituição servidora, sendo relevante na sociedade e fazendo a diferença no contexto onde está inserida.

2. Recomenda que os responsáveis que organizarem atividades públicas ajam com cuidado e prudência para que esses eventos sejam pacíficos e tenham como único objetivo chamar a atenção para as condutas compatíveis com os princípios cristãos, sem violência e sem vandalismo. Por isso, não recomenda a seus membros e nem autoriza seus pastores e servidores a participar em manifestações públicas de cunho político.

3. Incentiva que seus membros orem em favor das cidades e autoridades.

4. Apesar de ser apartidária, reconhece a necessidade de lidar constantemente com representantes dos poderes públicos. Por isso, mantém sua postura de relacionamento adequado com as autoridades constituídas para que o funcionamento da estrutura institucional seja garantido, tendo como único propósito o cumprimento da missão.

5. Estabelece que, havendo atitudes não conformes com as recomendações e determinações deste documento, os casos serão analisados pela instituição ou igreja local a que pertencem os envolvidos.

Como cristãos, reconhecemos o papel legítimo dos governos organizados na sociedade, respeitamos o direito do Estado de legislar nas questões seculares e consentimos com essas leis quando não contrariam os preceitos divinos. Entendemos também que nossos membros devem assumir responsabilidades civis com seriedade e exercer o papel de cidadãos, mas sem se esquecer da cidadania celestial. 

Não desmerecendo as questões políticas e sua importância, entendemos ser um dever dar o devido destaque ao nosso verdadeiro papel, que é desenvolver práticas que resultem no fortalecimento da fé e promovam a esperança na iminente volta do Senhor Jesus Cristo. Reconhecemos que a vocação de pregar o evangelho envolve executar ações de solidariedade que expressem amor ao próximo e produzam alívio ao sofrimento humano. Por isso, todo esforço e toda energia devem ser canalizados para o serviço desinteressado em favor das pessoas, revelando profundo interesse na sua salvação. Seja nossa oração: “Vem, Senhor Jesus” (Apocalipse 22:20).

Extraído dos documentos: As Manifestações e o Evangelho e Os Adventistas e a Política

Leia também o artigo O pastor e a política

sexta-feira, 24 de maio de 2019

A adolescentização da música cristã

Para Edgar Morin, o surgimento da ética da adolescência firma valores e preconiza um estilo de vida próprio. Isso não é ruim. Afinal, passaram-se milênios tratando a criança e o adolescente como um adulto em miniatura. Entretanto, a sociedade de consumo tem se modelado pelas aspirações do arquétipo do imaginário da juventude: imediatismo, pouco senso de historicidade, vontade de transgredir e preferência pela cultura do lazer.

A renovada música cristã não ficou imune a essas mudanças e a adolescentização cultural também perpassa as suas formas de composição e divulgação. O gospel tem mirado preferencialmente o público jovem, alvo também da indústria do entretenimento midiático.

Os cantores gospel tendem a reconfigurar os hinos da tradição cristã de uma maneira que, supostamente, a juventude irá preferir. A tendência de formatar um evangelismo digerível para as faixas etárias juvenis pode dotar de relevância e sentido os conteúdos bíblicos. Porém, essa releitura musical tem se pautado primordialmente por estilos dançantes e pop. Como exemplo secular, cito aquela propaganda de refrigerante que faz um arranjo estridente de pop/rock para a belíssima e serena What a Wonderful World (a versão clássica tem a voz rouca de Louis Armstrong, lembrou?). Nos círculos musicais evangélicos, o interpretar dos clássicos submeteu-se a retórica do grito, do ruído e da velocidade.

A fim de não perder o público jovem, os programas gospel de rádio e TV mimam-no com cantilenas pop para ouvir no som do carro e ladainhas infindáveis mas palatáveis. Além disso, a efemeridade confere às novíssimas canções (e a alguns novos cantores) a fama transitória característica da indústria musical pop. Não há, também, resenhas e críticas em revistas ou sites que apontem excessos ou mercantilização: tudo serve para evangelizar e salvaguardar o jovem crente do mundo.

Não estou dizendo que os hinários não contenham algumas melodias esquecíveis e letras empostadas que não falam ao espírito moderno e muito menos quero dizer que o melhor da música cristã foi composto há 150 anos ou que não há lugar para letras simples e facilmente memorizáveis. Nenhum repertório geral está consolidado para sempre. Por outro lado, vale refletir sobre os recentes critérios de elaboração musical que têm reduzido a música sacra a conceitos individualistas de gosto e têm transformado o fator de inovação em uma banalizada estratégia de marketing.

Assim como a superficialidade poética tem substituído a densidade teológica e a teatralidade gestual tem se tornado uma marca pessoal do cantor evangélico, os esforços de comunicar-se com a juventude, se podem dar sentido e relevância aos conteúdos bíblicos tradicionais, em algumas situações também têm se deixado modelar pelos estereótipos da indústria do pop adolescente.

Joêzer Mendonça (via Nota na Pauta)

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Mensagem aos críticos, acusadores, difamadores, fofoqueiros e invejosos da igreja

(Textos selecionados de Ellen G. White)

Digo com tristeza que existem entre os membros de igreja línguas desenfreadas. Há línguas falsas, que se alimentam com a maldade. Há línguas astutas, que segredam. Há loquacidade, impertinente intrometimento, insinuações hábeis. Entre os amantes da tagarelice, alguns são atuados pela curiosidade, outros pela inveja, muitos pelo ódio contra aqueles por meio dos quais Deus falou para os reprovar. Alguns ocultam seus sentimentos reais, enquanto outros estão ansiosos por divulgar tudo que sabem, ou mesmo suspeitam, dos males alheios. Enquanto muitos negligenciam sua própria alma, vigiam ansiosamente por uma oportunidade para criticar e condenar os outros.

Foram os cristãos autorizados por Deus a criticarem-se e condenarem-se mutuamente? Será honroso, ou mesmo honesto, extrair dos lábios de alguém, à guisa de amizade, segredos que lhe foram confiados, e em seguida fazer reverter em seu prejuízo o conhecimento assim alcançado? Será caridade cristã, apanhar todo boato que por aí flutue, desenterrar tudo que lance suspeita sobre o caráter de outro, e então ter prazer em empregá-lo para o prejudicar? [1] 

Demorando-se continuamente nos erros e defeitos dos outros, muitos se tornam dispépticos religiosos. Os que criticam e condenam uns aos outros estão transgredindo os mandamentos de Deus, e são-Lhe uma ofensa. Irmãos e irmãs, afastemos o entulho da crítica e suspeita e murmuração, e não desgastei os nervos externamente. Se todos os cristãos professos usassem suas faculdades investigadoras para ver quais os males que neles mesmos carecem de correção, em vez de falar dos erros alheios, existiria na igreja hoje uma condição mais saudável. [2] 

Há os que pensam de si mais do que convém. Falam mal de seus irmãos porque, feito por estes um trabalho, o examinam e dizem quão diferentemente eles o teriam feito; no entanto, sua previsão não teria sido nada melhor do que a de seus irmãos, tivessem eles estado em seu lugar. 

Mantende-vos afastados da cadeira de juiz. Todo julgamento é dado ao Filho de Deus. Satanás atua zelosamente para levar os homens a pecar neste ponto. Satanás exulta quando pode difamar ou ferir um seguidor de Cristo. Ele é o "acusador dos irmãos". Deverão os cristãos ajudá-lo em sua obra? O espírito de tagarelice e maledicência é um dos instrumentos especiais de Satanás para semear discórdia e luta, para separar amigos e minar a fé de muitos na veracidade de nossas crenças. Aqueles cuja língua é tão franca em proferir palavras de crítica, os habilidosos interrogadores que sabem extorquir expressões e opiniões que foram introduzidas no espírito mediante o lançar sementes de separação, esses são missionários seus. Sabem repetir as expressões extorquidas de outros, como sendo originadas por aqueles que eles tão astutamente levaram para terreno proibido. Essas pessoas parecem ver sempre algo que deva ser criticado e condenado. Entesouram tudo que seja de natureza desagradável, e então envenenam outros. Sua língua está pronta para exagerar todo o mal. Que grande bosque um pequeno fogo incendeia! Nunca permitais que vossa língua e voz sejam empregados em descobrir e exagerar os defeitos de vossos irmãos; pois o registro do Céu identifica os interesses de Cristo com aqueles que Ele comprou com Seu próprio sangue. “Quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos”, diz Ele, “a mim o fizestes” (Mateus 25:40). 

Devemos aprender a ser leais uns aos outros, ser verdadeiros como o aço na defesa de nossos irmãos. Olhai para vossos próprios defeitos. É melhor descobrirdes um de vossos próprios defeitos, do que dez de vosso irmão. Lembrai-vos de que Cristo orou por esses irmãos Seus, para que pudessem ser um, como Ele é um com o Pai. Lutai, no máximo de vossa capacidade, para estar em harmonia com vossos irmãos segundo a extensão da medida de Cristo, assim como Ele é um com o Pai. [3] Sede todos compassivos, amando os irmãos. O verdadeiro valor moral não procura elevar-se a um lugar mediante pensar mal e falar mal, desmerecendo outros. Toda inveja, todo ciúme, toda maledicência e incredulidade têm de ser afastados dos filhos de Deus. [4] 

Não devemos permitir que nossas perplexidades e desapontamentos nos corroam a alma, tornando-nos impertinentes e impacientes. Não haja discórdia, nem suspeitas ou maledicência, para não ofendermos a Deus. Meu irmão, se abrires teu coração à inveja e a vis suspeitas, o Espírito Santo não poderá habitar contigo. Busca a plenitude que há em Cristo. Trabalha de modo por Ele indicado. Que cada pensamento, palavra e ato O revele. Precisas de um diário batismo do amor que nos dias dos apóstolos os tornava todos de um mesmo comum acordo. Esse amor trará saúde ao corpo, espírito e alma. Circunda tua alma com uma atmosfera que fortaleça a vida espiritual. Cultiva a fé, a esperança, o ânimo e o amor. Reine a paz de Deus no teu coração. [5] 

1. Testemunhos Seletos, vol. 2, p. 22-24 
2. Mente, Caráter e Personalidade, vol. 2, p. 635-638 
3. Nos Lugares Celestiais, p. 181 
4. Manuscrito 144 
5. Testemunhos Seletos, vol. 1, p. 493

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Não dê testemunho falso contra ninguém

O nono mandamento da Bíblia afirma: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Êxodo 20:16). Há pelo menos três bases para este mandamento:

1. O valor do nome de uma pessoa
Nossa época é diferente da época bíblica. Nos tempos bíblicos, o significado do nome era sempre levado em conta, porque isso era algo importante. O nome praticamente determinava os rumos da vida de alguém. Todavia, embora nós não estejamos tão preocupados com o significado do nome, devemos certamente estar preocupados em preservar a pessoa. E as pessoas têm nome e sobrenome. Se nós preservamos a reputação de uma pessoa, é claro que assim vamos preservar a memória do nome dessa pessoa.

É o nosso dever sermos verdadeiros em relação a qualquer pessoa, para que o nome e sobrenome dessa pessoa seja preservado de qualquer má lembrança. Muitas vezes, é tão fácil espalhar alguma novidade sobre uma pessoa – fofocas, difamação, calúnias e rumores cruéis, que não apenas prejudicam essa pessoa, mas sua família e a própria igreja.

– “Sabe a Fulana? Ela é tão metida. Sabe que ontem me contaram que…”

– “Vem cá, vou te contar a última! Sabe a Sicrana? Ela estava no centro da cidade no sábado à noite às duas da manhã, e sabe fazendo o quê???…

Conta-se que, certa vez, um homem foi ao encontro de um conhecido filósofo levando-lhe uma informação que julgava de seu interesse:

– Mestre, quero contar-lhe uma coisa a respeito de um amigo seu!

– Espera um momento – disse o filósofo – Antes de contar-me, quero saber se você fez passar essa informação pelas três peneiras.

– Três peneiras? O que é isso?

– Vamos peneirar aquilo que você quer me dizer. A primeira é a peneira da VERDADE. Você tem certeza de que isso que vai me contar é verdade?

– Bem, foi o que ouvi outros contarem. Não sei exatamente se é verdade.

– A segunda peneira é a da BONDADE. O que você vai me contar é algo bom em favor do meu amigo?

Envergonhado, o homem respondeu:

– Devo confessar que não.

– A terceira peneira é a da UTILIDADE. O que você vai me contar é útil?

– Útil? Na verdade, não.

– Então, se o que você vai me contar não é verdadeiro, não é bom, e não é útil, então é melhor que você o guarde só para você.

É a nossa obrigação preservar o nome e a reputação de uma pessoa.

2. O valor da palavra de uma pessoa
Aquilo que nós dizemos, a maneira como nós contamos as coisas, dizem respeito ao valor da nossa palavra. As nossas palavras têm valor. As palavras que nós falamos dizem muito ao nosso respeito. Quando você diz alguma coisa, as pessoas precisam confiar naquilo que você disse. E as pessoas confiam naquilo que você disse na medida em que você é alguém que sempre diz a verdade, alguém que sempre conta as coisas do jeito que elas ocorreram, na medida em que você é alguém que fala quando deve falar e cala quando é necessário calar. Sua palavra tem valor.

3. O valor da própria verdade
A ética situacional nos ensina que a ação num determinado caso depende da situação. Pode-se justificar uma mentira gigantesca, sempre, e quando o motivo for correto. Nós, cristãos, não pensamos assim. Nós, cristãos, entendemos que uma mentira é uma mentira, e não deixa de ser mentira dependendo da situação. E nós pensamos assim porque entendemos que a verdade não deve ser negociada. A verdade não tem valor. A verdade não depende da necessidade.

O sábio Salomão tem um discurso duro. Ele afirma em Provérbios 12:22: “Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor”. Uma abominação é algo odioso e revoltante. O apóstolo João afirma categoricamente que aqueles que contam mentiras não entrarão na Nova Jerusalém, não terão a vida eterna (Apocalipse 21:27).

Quer dizer que não posso e não devo ser sincero? Devo ocultar a verdade sobre alguém?

O que está em jogo neste mandamento não é a sinceridade. Porque sinceridade também não significa dizer tudo o que pensamos e sabemos sobre alguém. Sinceridade implica em ser transparente, mas também implica em ser cuidadoso, em ser leal, em não matar a reputação de alguém, em respeitar as pessoas. Devemos ser verdadeiros, e isso não quer dizer sair por aí falando tudo a todos.

O problema com a mentira
A mentira destrói a liberdade e a dignidade das vítimas. A mentira manipula, acua, intimida. A vítima da mentira se sente presa, amarrada pelas circunstâncias que se criaram contra ela. A vítima se sente sem saída.

A mentira danifica a liberdade das pessoas que mentem. Uma mentira conduz à outra, e depois a outra, e depois a outra… O mentiroso precisa passar a vida mentindo para cobrir os buracos que ele mesmo abriu e nos quais ele pode cair a qualquer momento.

A mentira destrói a confiança. Ninguém consegue enganar a todos durante o tempo todo. Chega uma hora que a verdade aparece, e, então, o mentiroso perde a confiança das pessoas. Além do que uma pessoa que mente sempre desconfia dos outros, porque acha que os outros mentem como ela.

A mentira destrói o senso de valor próprio do mentiroso. Quem mente pratica falsidade e hipocrisia, e certamente isso fere o coração do mentiroso, tirando-lhe qualquer senso de amor próprio.

A mentira destrói nossa relação com Deus. O mentiroso não se sente à vontade com Deus, porque afinal Deus é a verdade.

Pessoas verdadeiras
Apocalipse 14:3 menciona um grupo especial: os 144 mil. Não vem ao caso explicar quem são eles; mas uma coisa é clara: uma das razões porque esses 144 mil desfrutarão do favor de Deus é que “não se achou mentira na sua boca” (Apocalipse 14:5). Em outras palavras, são pessoas que praticaram a veracidade.

Você é uma pessoa verdadeira? No fundo, no fundo, todos nós temos uma natureza que tende para a mentira, para o engano; ninguém é melhor do que ninguém. Neste momento, Deus lhe diz: “Minha filha, meu filho, eu tenho para você um lugar especial no meu reino. Mas o meu reino é um lugar onde impera a verdade, porque EU SOU A VERDADE. Por isso, viva de modo verdadeiro, em tudo, até aquele dia em que vou levar você para um lugar de eterna paz. Eu prometo que vou fazer isso. Enquanto esse dia não chegar, conte comigo para vencer suas dificuldades e tentações. Eu estarei com você todos os dias da sua vida. Palavra de quem nunca mente”.

Adolfo Suárez (via Muito Além do Ensino)

Nota: Ellen G. White orientou: 

“Cultivem o hábito de falar bem do próximo. Detenham-se sobre as boas qualidades daqueles com que estão associados e olhem menos possível para seus erros e fraquezas” (A Ciência do Bom Viver, p. 492).

"Toda intenção de enganar se constitui uma falsidade. Um olhar, um movimento da mão, uma expressão do rosto podem representar uma falsidade tão eficaz quanto o que se diz por palavras. É falsidade até mesmo a declaração de fatos feitas de forma enganosa para induzir ao erro. Toda tentativa de prejudicar a reputação do nosso próximo, pela difamação, calúnia ou injúria, e até mesmo a ocultação intencional da verdade para prejudicar outros se constitui em transgressão do nono mandamento" (Os Escolhidos, capítulo 27).

Assista também este vídeo sobre este tema no programa Arena do Futuro com o pastor Luis Gonçalves exibido na TV Novo Tempo:

terça-feira, 21 de maio de 2019

Novos métodos de evangelismo para o tempo do fim

(Textos selecionados de Ellen White)
Novos métodos precisam ser introduzidos. O povo de Deus tem que despertar para as necessidades da época em que vive. Deus tem pessoas que Ele chamará para o Seu serviço – pessoas que não farão o trabalho na maneira destituída de vida com que foi conduzido no passado. […] Em nossas grandes cidades, a mensagem deve avançar como uma lâmpada ardente. Deus levantará trabalhadores para a Sua obra, e Seus anjos irão à frente deles. Que ninguém impeça essas pessoas de cumprirem a missão que Deus lhes deu. Não as impeçam. Deus lhes deu uma tarefa. Que a mensagem seja proclamada com tanto poder que os ouvintes se convençam. – Evangelismo, p. 70
Não deve haver regras fixas; nossa obra é progressiva, e deve haver oportunidade para os métodos serem melhorados. Porém, sob a direção do Espírito Santo, a unidade deve ser preservada e o será. – p. 105.
Há necessidade de pessoas que orem a Deus pedindo sabedoria e que, sob a orientação divina, possam pôr nova vida nos antigos métodos de trabalho e inventar novos planos e métodos modernos de despertar o interesse dos membros da igreja, alcançando os homens e as mulheres do mundo. – p. 105.
Nas cidades de hoje, onde existem tantas coisas destinadas a atrair e agradar, as pessoas não podem se interessar por esforços medíocres. Os ministros designados por Deus acharão necessário realizar esforços extraordinários para atrair a atenção das multidões. E quando conseguem reunir grande número de pessoas, precisam apresentar mensagens tão fora do comum que o povo fique desperto e esclarecido. Precisam usar todos os meios que possam ser planejados para fazer com que a verdade seja apresentada. – p. 122.
Cada um que trabalha na vinha do Senhor deve estudar, planejar, idealizar métodos a fim de alcançar as pessoas onde elas estão. Devemos fazer algo fora do curso comum das coisas. Temos que prender a atenção. – p. 122.
Aqueles que estudarem os métodos de ensino de Cristo, e se educarem em seguir os Seus passos, irão atrair grande número de pessoas, mantendo a atenção delas, como Cristo fazia. – p. 124.
Seja qual for que tenha sido a sua prática anterior, não é necessário repeti-la sempre e sempre, da mesma maneira. Deus deseja que sigamos métodos novos e ainda não experimentados. […] Surpreenda as pessoas. – p. 125.
A tarefa de levar pessoas a Cristo exige cuidadoso preparo. Não se deve começar o serviço do Senhor sem a necessária instrução e, ainda assim, esperar o maior êxito. […] Perguntem ao arquiteto, e eles lhes dirá quanto tempo levou para compreender a maneira de planejar uma construção elegante e cômoda. E a mesma coisa é feita em todas as profissões. Deveriam os servos de Cristo ser menos dedicados em se preparar para uma tarefa infinitamente mais importante? Deveriam ser ignorantes a respeito dos meios e maneiras a ser usados para alcançar as pessoas? Saber como se aproximar de homens e mulheres para tratar dos grandes temas que dizem respeito ao bem-estar eterno delas requer conhecimento da natureza humana, profundo estudo, meditação e fervorosa oração. – p. 128.
Na providência de Deus, os que levam a responsabilidade de Sua obra têm se esforçado para dar nova vida aos antigos métodos de trabalho, e também delinear novos planos e novos métodos de despertar o interesse dos membros da igreja num esforço unido para alcançar o mundo. – p. 252.
A prevalecente monotonia da rotina religiosa em nossas igrejas precisa ser modificada. A influência da atividade necessita ser introduzida, para que os membros da igreja possam trabalhar em novos ramos e planejar novos métodos. O poder do Espírito Santo moverá corações à medida que for quebrada essa monotonia morta, sem vida, e muitos que nunca antes haviam pensado em ser além de espectadores ociosos começarão a trabalhar com vigor. […] Devem ser feitos esforços para fazer algo enquanto é dia, e a graça de Deus se manifestará, a fim de que pessoas possam ser alcançadas para Cristo. – Testemunhos para ministros, p. 204.
Tenho uma mensagem aos cristãos que vivem em nossas grandes cidades: Deus lhes mostrou a verdade, não para que vocês a retenham, mas para que a comuniquem aos outros. […] Enquanto trabalham e elaboram planos, novos métodos surgirão na mente de vocês a todo o momento, e, pelo uso, as habilidades intelectuais de vocês aumentarão. – Beneficência social, p. 204.
Deus chamará pessoas ao Seu serviço, pessoas que não promoverão o trabalho da maneira desanimada como tem sido promovido no passado. […] Que ninguém desanime a esses fervorosos trabalhadores. Eles cometerão erros em algumas coisas, e precisarão ser corrigidos e instruídos. Mas, vocês que estão há mais tempo na igreja, também não têm cometido enganos e necessitado de correção e instrução? Quando cometeram erros, o Senhor não os expulsou, mas os curou e fortaleceu. […]
Deus escolhe os Seus mensageiros, e lhes dá a Sua mensagem; e Ele diz: “Não [os] impeçam” (Lc 18:16, NVI). Novos métodos precisam ser introduzidos. O povo de Deus precisa despertar para a necessidade do tempo em que está vivendo. – Refletindo a Cristo, p. 234.
Nas igrejas [adventistas do sétimo dia], haverá admirável manifestação do poder de Deus, mas ele não influirá sobre os que não têm se humilhado diante do Senhor, abrindo a porta do coração pela confissão e arrependimento. Na manifestação desse poder que ilumina a Terra com a glória de Deus, eles só verão alguma coisa que, em sua cegueira, consideram perigosa, alguma coisa que despertará os seus receios, e se disporão a resistir-lhe. Visto que o Senhor não age de acordo com suas ideias e expectativas, eles combaterão a obra. “Por que”, dizem eles, “não reconheceríamos o Espírito de Deus, se temos estado na obra por tantos anos?” – Eventos finais, p. 209.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

O fim de Game of Thrones e do Grande Conflito

Acabou. Após oito anos e oito temporadas, "Game of Thrones", a série mais cultuada dos últimos anos, exibiu seu último episódio neste domingo (19). Escrito e dirigido pelos criadores da série David Benioff e D. B. Weiss, foi ao ar na HBO nos Estados Unidos e no Canadá. A saga, uma violenta fantasia épica escrita por George R. R. Martin, seduziu uma multidão de fãs ao apresentar o que a humanidade tem de pior. Os livros deram origem a uma das séries de TV mais caras da história. 

Imprópria para os cristãos, ela pode representar mais um passo para condicionar uma geração às estratégias do diabo no tempo do fim. GoT, como é conhecida, apresentou uma trama épica sobre a disputa do Trono de Ferro dos Sete Reinos, localizado no continente fictício de Westeros. É de uma das personagens da série, Cersei Lannister, a frase de onde sai o título da série: 

“Quando você joga o jogo dos tronos, ou você ganha, ou você morre.” 

Jesus e Satanás jogam, de certo modo, o jogo dos tronos. Satanás quis subir acima das estrelas do Céu (lembrando que as estrelas são uma figura para anjos na simbologia bíblica), colocar seu trono nas extremidades do norte e assim ser “semelhante ao Altíssimo” (Isaías 14). 

Jesus, jogando o jogo dos tronos, “abriu mão de tudo o que era seu e tomou a natureza de servo, tornando-se assim igual aos seres humanos. E, vivendo a vida comum de um ser humano, Ele foi humilde e obedeceu a Deus até a morte — morte de cruz” (Filipenses 2:7 e 8). 

A lógica de Cersei Lannister parece funcionar até certo ponto na verdadeira batalha pelo trono que está acontecendo agora. Jesus de fato morreu. Mas Satanás não ganhou. Ao contrário, graças à atitude de Jesus, tão diferente da de seu oponente, “por isso Deus deu a Jesus a mais alta honra e pôs nEle o nome que é o mais importante de todos os nomes, para que, em homenagem ao nome de Jesus, todas as criaturas no céu, na terra e no mundo dos mortos, caiam de joelhos” (Filipenses 2:9 e 10). 

Uau. E, se você considera que aí, do lado esquerdo de seu peito, há um trono, e que esses dois paradigmas (inflar-me até eu ser semelhante ao Altíssimo x esvaziar-me até ser um servo) estão disputando para assentar-se nele, saiba de uma coisa, amigo: quando se joga o jogo dos tronos, ou você escolhe o lado certo ou você morre. Não dá pra ficar em cima do muro. 

Como diz Ellen G. White, "muitos há que não consideram esse conflito entre Cristo e Satanás como tendo relação especial com sua própria vida; pouco interesse tem para eles. Mas, essa luta repete-se nos domínios de cada coração" (O Desejado de Todas as Nações, p. 116) 

No novo mundo pós-conflito, Deus será o centro de toda a criação outra vez, e todos se regozijarão ao redor de seu trono. Se o trono de justiça foi usado para vencer e julgar, agora o trono de graça será a fonte de eterna felicidade. A melhor notícia é que Deus está no trono e sempre estará. O trono não está vago. O Universo não é governado por um déspota, mas pelo Rei amoroso e justo. Na verdadeira guerra dos tronos, o lado bom vence.

"Muito acima da cidade, sobre um fundamento de ouro polido, está um trono, alto e sublime. Sobre esse trono assenta-Se o Filho de Deus, e em redor dEle estão os súditos de Seu reino. O poder e majestade de Cristo nenhuma língua os pode descrever, nem pena alguma retratar. A glória do Pai eterno envolve Seu Filho. O resplendor de Sua presença enche a cidade de Deus e estende-se para além das portas, inundando a Terra inteira com seu brilho. Na presença dos habitantes da Terra e do Céu reunidos, é efetuada a coroação final do Filho de Deus" (O Grande Conflito, pp. 665-666).

Assista também os comentários do prof. Leandro Quadros neste excelente vídeo:

Não se esconda de Deus

Deus não está preso às expectativas humanas. Embora Se apresente por meio de uma revelação encarnacional, falando nossa língua, por vezes Ele quebra protocolos humanos e até nos escandaliza. Pense nos profetas e seus atos simbólicos ultrajantes, em Isaías andando nu por três anos, em Oseias e a prostituta, em Maria, que foi vista como mãe solteira por alguns, entre eles o próprio José. 

Talvez isso possa chocá-lo por um instante, mas o Rei do Universo não está nem um pouco preocupado com as normas da etiqueta, com a estética tão celebrada na mentalidade evangélica dos nossos dias, muito menos com uma piedade apenas aparente. Isso não significa que Deus seja grosseiro nem que não Se importe com nossos sentimentos. O ponto é que Ele sabe do que realmente precisamos e que, muitas vezes, escondemos nosso verdadeiro eu. Deus, então, quebra os protocolos humanos para mostrar a verdade e nos libertar dos nossos pecados e de nós mesmos. 

Tenha em mente essa pequena introdução ao refletirmos um pouco sobre o tema da oração. Por vezes, nos escondemos Dele, mesmo quando oramos. Ocultamos nossa verdadeira face, obscurecemos nossa consciência e nossas palavras para que Ele não veja o que realmente vai dentro de nós. Como superar essa condição?

LIGAÇÃO RESTAURADA 
Pense em Davi, no período de um ano em que ocultou seus crimes (Sl 32:3, 4). Sua ética exagerada o fez condenar hipoteticamente à morte um homem que havia tomado uma cordeirinha de seu vizinho, indo muito além da punição prevista na lei mosaica (Êx 22:3). Por outro lado, na vida real Davi tinha não somente tomado uma “cordeirinha” do vizinho, mas sacrificado o próprio vizinho. Seu rigor como juiz parecia refletir uma compensação de suas falhas pessoais. 

Durante o período em que escondeu seus crimes, Davi de alguma forma interrompeu sua comunicação com Deus. Ele, que era profeta (At 2:29, 30), não mais recebia mensagens do Senhor. Espiritualmente, passou um ano em branco. Não mais compunha salmos inspirados. Algo não corria bem. Ele, que havia sido chamado para acalmar o perturbado rei Saul, também tinha se tornado um rei perturbado. Implodiu sobre si mesmo e sofreu miseravelmente. 

Por um ano conseguiu levar adiante essa situação. Mais tarde, reconheceu: “Compadece-Te de mim, SENHOR, […] os meus ossos se consomem” (Sl 31:9, 10). O quadro só mudou quando Deus tomou a iniciativa de quebrar a muleta na qual o filho de Jessé insistia em se apoiar. Natã levou o rei a se enxergar no espelho da moral divina, e então Davi finalmente se reconectou com Deus por meio da confissão e da oração (Sl 32:5; 51:3, 4). 

Perceba que a oração está na essência da religião, entendida aqui por seu sentido original de religar. Outros verbos poderiam traduzir melhor esse sentido nos dias atuais, como “sintonizar” ou “conectar”. O sinal de Deus está por toda parte. Sua rede Wi-Fi da graça cobre todo o Universo. Ela pode ser ignorada por um longo tempo, mas nunca é tarde para a reconexão. 

MONÓLOGO
Jesus contou a história de um homem que foi ao templo para orar. Exercitava, assim, uma das práticas mais importantes de sua religião. Porém, sua oração não o religava ao Criador. Era artificial. Sua prece tinha se transformado em um monólogo no qual “orava de si para si mesmo” (Lc 18:11). 

O fariseu proclamava sua suposta justiça medida pelas ações externas que ele mesmo considerava serem o aspecto mais importante de sua religião. Mais uma vez, elementos exteriores de uma ética elevada são usados como muletas da experiência religiosa. “Seu espírito desvia-se de Deus para a humanidade. […] Dá-se por contente com uma religião que só se refere à vida exterior” (Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 151). 

Ele observava os outros com suas falhas e os acusava na própria oração (Lc 18:11). Quando teve a chance de se religar a Deus e ter a imagem divina restaurada em si, o fariseu terminou por refletir o caráter do acusador. Sua religião resvalava em um raciocínio circular: “Sou bom porque sou melhor do que os outros”; “sou melhor do que os outros; por isso, sou bom”. 

Essa lógica quebradiça se esfarela diante da compreensão de que “todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia” (Is 64:6). O texto não afirma que nossas injustiças são imundas (o que seria mais lógico), mas as nossas justiças! Visitas aos doentes, trabalhos comunitários, doações, estudos bíblicos ministrados, enfim, tudo o que há de melhor em nossas ações ainda carrega a mancha do pecado. 

É como se alguém pedisse a uma pessoa recém-saída de um profundo poço de lama que escrevesse uma bela carta. Ela poderia ter a melhor caligrafia, mas a folha branca terminaria enlameada. Essa foi a carta que o fariseu escreveu para Deus e, sem a graça divina, ela não foi lida (Lc 18:14). 

QUESTÕES CRUCIAIS 
Podemos ligar as duas histórias acima a mais outra, que ainda vai acontecer: a dos fervorosos cristãos reprovados no fim dos tempos. Eles profetizam, expulsam demônios, realizam milagres, “fazem e acontecem”, mas Cristo, no fim de tudo, lhes dirá que não os conhece (Mt 7:22, 23). Por quê? Por causa da iniquidade e da completa desconexão embutida nela. 

É muito fácil se iludir com um cristianismo sem Cristo. Podemos manter uma religião apenas de desempenho, de performance, tão comum no mundo gospel e midiático atual. Podemos ter toda a aparência, mas ainda assim faltar com a essência. Podemos ter todas as folhas, mas ainda assim estar sem frutos. Enquanto isso, a distância de Cristo pode ser tamanha que nem seja sentida. Para muitos, essa triste condição só será percebida tarde demais. 

A verdadeira religião se manifesta em uma ligação viva com Deus, marcada, entre outras coisas, por orações em que você realmente se comunica com Ele, em que se faz entendido e correspondido. Trata-se de conhecer a Deus e se deixar ser conhecido e sondado por Ele (Sl 139:23). Isso envolve sua mente e seu espírito (1Co 14:15). Implica verdade (Jo 4:24), estudo da Palavra e resulta em amor ao próximo, intercessão e espírito de missão. 

Questione-se no fundo de sua alma. Isso pode fazer a diferença para a eternidade: Conheço a Deus realmente? Em minhas orações, falo com Ele ou comigo mesmo? Minha vida reflete minha ligação com Ele? Afinal, eu O conheço? Ele me conhece? Abra seu coração para uma comunhão viva com Deus!

Diogo Cavalcanti (via Revista Adventista)

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Filosofia e educação cristã

“Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia” (Colossenses 2:8). O conselho de Paulo tem feito com que muitos cristãos, incluindo os adventistas do sétimo dia, abriguem um temor anormal da filosofia. Quando um teólogo do segundo século perguntou “Que tem Atenas a ver com Jerusalém?”1 ou quando a pioneira adventista Ellen White advertiu contra vaguear “nos labirintos da filosofia”,2 eles podem ter desejado transmitir um alerta contra os movimentos emergentes na história da igreja. O próprio Paulo faz alusão a um motivo importante para sua preocupação. Em seus dias, os gregos apologistas e partidários da filosofia representavam verdadeira ameaça ao desenvolvimento do cristianismo. O apóstolo teve de emitir uma advertência espiritual e teológica à igreja em Colossos: Cristo não é negociável, “porquanto, nEle, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade. Também, nEle, estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo principado e potestade” (Colossenses 2:9 e 10).
Ao mesmo tempo em que a educação cristã, incluindo educadores e educandos, deva estar fundamentada e arraigada em um compromisso cristocêntrico, não deve deixar de reconhecer que funciona em um mundo cujo comprometimento filosófico e atividade acadêmica podem estar em desacordo com a perspectiva cristã. Diante de tal desacordo, tanto professores quanto estudantes não podem se dar ao luxo de esconder-se como avestruz. Na verdade, a escola cristã tem uma obrigação para com seus alunos e com a comunidade em que está inserida, na busca do resultado mais positivo possível no processo de aprendizado, a fim de preparar os alunos para enfrentarem tanto as questões sutis como as óbvias que a filosofia suscita na vida e aprendizado diários. Já o aluno, por sua vez, é parte ativa nesse processo, no qual deve participar conscientemente.
Será possível cumprir essa obrigação? Eu acredito que sim, desde que (1) dispensemos alguns mitos tradicionais sobre a filosofia, (2) compreendamos a natureza e função da filosofia, e (3) desenvolvamos uma visão de mundo cristã dentro da qual possamos prosseguir nesta jornada intelectual.

Livre-se dos mitos

Um dos mitos tradicionais que alguns cristãos desenvolveram quanto à filosofia é que a fé e a razão são incompatíveis. Mas tanto a fé como a razão são dádivas de Deus ao ser humano e qualquer incompatibilidade percebida entre elas não está fundamentada na revelação bíblica. O Criador convida: “Vinde, pois, e arrazoemos” (Isaías 1:18) e o próprio Deus também descreve a fé nEle como essencial para nosso relacionamento com Ele (ver Hebreus 11:6 e Romanos 1:17).
A fé cristã ressalta o fato de que quando Deus criou os seres humanos à Sua imagem (Gênesis 1:16), Ele partilhou com eles Sua criatividade, que logicamente implica uma capacidade racional. O raciocínio humano pode com freqüência mostrar-se falho ou degenerado, mas isso não significa que não tenha função na vida cristã. Certamente, mesmo a vida religiosa de um cristão deve ser vivida, explicada e partilhada com um mundo que usa ferramentas fabricadas por meio do raciocínio. Parte do propósito da educação cristã é desenvolver ao máximo a capacidade racional. Ellen White escreveu: “Todos quantos se empenham na aquisição do conhecimento, devem esforçar-se por atingir o mais elevado lance da escada. Avancem os alunos o mais rápido e vão o mais longe que lhes seja possível; seja o seu campo de estudo tão vasto quanto possam alcançar suas faculdades.”3 Esta elevada meta, no entanto, vem com uma advertência: “Façam, porém, eles, de Deus a sua sabedoria, apeguem-se Àquele que é infinito em conhecimento que pode revelar segredos ocultos por séculos, e solver, para a mente dos que nEle crêem, os mais intrincados problemas.”4
Portanto, há uma ligação entre razão e fé – ambas são dádivas de Deus, e devem ser exercidas na educação cristã. As Escrituras ordenam que desenvolvamos nossa mente – naturalmente, crescer em conhecimento faz parte do processo de santificação (II Pedro 1:5-7). Sendo que a fé cristã requer a transformação da mente (Romanos 12:2), então ela não anula a mente nem a razão, mas as transforma de modo que a mente humana funcione com o auxílio da iluminação divina. Esta é uma tarefa que unicamente a fé pode realizar e alcançar.
O segundo mito, que alguns cristãos acariciam, é que o crescimento intelectual prejudica a fé cristã. Mas, na realidade, um cristão culto pode ser um indivíduo mais bem informado e um eficiente comunicador. Embora a maior parte dos discípulos de Jesus fossem incultos, mostrando que Deus pode usar qualquer pessoa que desejar; homens como Moisés, Daniel e Paulo ilustram o poder das pessoas cultas que se submetem às reivindicações da fé. Ser santificado não significa ser ignorante. Mais uma vez, Ellen White afirma: “A ignorância não aumenta a humildade ou a espiritualidade de qualquer professo seguidor de Cristo. As verdades da Palavra divina podem ser melhor apreciadas pelo cristão intelectual. Cristo pode ser melhor glorificado por aqueles que O servem inteligentemente. O grande objetivo da educação é habilitar-nos a usar as faculdades que Deus nos deu, de tal maneira que exponha melhor a religião da Bíblia e promova a glória de Deus.”5
Um terceiro mito é a percepção de que há uma distinção entre o que é sagrado e o que é secular, e que devemos viver essa distinção. Uma compreensão mais ampla da fé cristã requer que embora vivamos em meio ao que é secular, devemos servir de mediadores do sagrado ao povo secular, a fim de podermos melhor compreender, apreciar e captar a dinâmica e o senso de realização encontrados no sagrado. Deus é o Deus tanto do altar como do laboratório, e o cristão não deve subestimar o primeiro, nem superestimar o segundo.
Não devemos separar o sagrado do secular a ponto de restringir a religião ao coração e ao sábado, e a educação à mente e ao restante da semana. O perigo oculto do secular é pensar e viver como se Deus não existisse. A fé ordena enfrentar esse perigo em seu próprio território e vencer seus ardis. Para fazer isso, a fé precisa manter em seu foco mais nítido a habilidade de raciocinar, doada por Deus. Vivemos no mundo, mas não somos parte dele. O mundo é tanto nossa moradia como nossa missão.
A íntima relação entre fé e razão é muito bem resumida por Ellen White: “Conhecimento é poder, mas só o é para o bem, quando unido à verdadeira piedade. Para servir aos mais nobres fins, ele deve ser vivificado pelo Espírito de Deus. Quanto mais íntima for nossa ligação com Deus, tanto mais plenamente poderemos compreender o valor da verdadeira ciência; pois os atributos de Deus, tais como se mostram nas obras que criou, serão melhor apreciados por aquele que tem conhecimento do Criador de todas as coisas, o Autor de toda a verdade.”6

Entenda o que a filosofia faz

Questionar é a ocupação da filosofia e também sua ferramenta. A filosofia aproveita toda oportunidade para esquadrinhar, instigar, duvidar, analisar e buscar. O alvo de seu questionamento é buscar significado e coerência. Morris observa: “A função do filósofo é fazer perguntas que sejam relevantes ao tópico em estudo, que realmente exijam respostas, não meras reflexões, perguntas cujas respostas realmente façam diferença no modo em que vivemos e trabalhamos.”7
Toda filosofia se preocupa com três perguntas básicas: o que é a realidade? O que é a verdade? O que é bom? A primeira se relaciona à ontologia e metafísica, o estudo da realidade e existência. O que constitui a realidade? A existência humana é real? A árvore que vemos faz parte da realidade? Ou a idéia característica da árvore ou do ser humano tem precedência sobre a compreensão da realidade? Como diz Schaeffer: “Nada que seja digno de ser chamado filosofia pode deixar de lado o fato de que as coisas existem e existem em sua presente forma e complexidade.”8
A segunda área de interesse na filosofia é a epistemologia. Como sabemos se uma coisa é verdadeira ou não? Aquilo que é verdade é sempre verdade? Quais são as condições e limitações do conhecimento? Como seres humanos somos responsáveis pela criação, certificação e verificação da verdade? A verdade é relativa ou absoluta?
A terceira área de preocupação da filosofia é a ética. O que é bom? O que define a conduta adequada? Existe uma norma para o comportamento? Esta é objetiva, subjetiva, relativa ou absoluta, universal ou particular? Qual é a origem desta norma – a tradição, costumes sociais, práticas atuais, a vontade do poder, situação, ou religião em vigor? Ela está valorizando um processo condicional?
A resposta da filosofia a estas perguntas depende da visão de mundo que a pessoa adota. Se você fosse um seguidor de Platão, por exemplo, sua cosmovisão estaria relacionada ao idealismo – a crença de que a realidade consiste no “mundo de idéias”. Usando este conceito, um idealista seria capaz de definir o que constitui a realidade, a verdade e a ética. Mas se a sua visão de mundo for a de um materialista, evolucionista ou existencialista, sua percepção da realidade e da verdade seria bem diferente.
Por isso, como deve um cristão relacionar-se com a filosofia? Em primeiro lugar, é sempre vantajoso para um cristão compreender as complexidades das várias filosofias, seus pontos de vista, sua metodologia, suas conclusões e seu desafio para a vida cristã intelectual e religiosa. Paulo descobriu que o Areópago não foi um empecilho, mas um motivador para a melhor compreensão e proclamação de sua fé (ver Atos 17:22-34; I Coríntios 2:1-7). Em segundo lugar, o cristão deve desenvolver uma cosmovisão que lhe proverá um fundamento adequado sobre a qual se firmar, para estabelecer um diálogo significativo e assim testemunhar ao mundo secular.

Desenvolva uma visão cristã de mundo

Ao lidar com filosofia, os cristãos devem evitar os perigos gêmeos: capitulação e indiferença. Por um lado, poderão ser tentados a ceder aos ataques filosóficos e sentir-se compelidos a reinterpretar ou rejeitar as reivindicações de sua fé religiosa. Por outro lado, poderão esquivar-se de fazer ou de responder perguntas críticas. Embora a capitulação possa destruir o compromisso religioso da pessoa, o pânico torna ineficaz o seu testemunho religioso. Em vez disso, o cristão tem a responsabilidade de lidar de modo eficaz com as perguntas que a filosofia sugere e prover respostas dignas de crédito da perspectiva de uma visão cristã de mundo. Schaeffer coloca isso de forma objetiva: “O cristianismo tem a oportunidade... de expor claramente o fato de que sua resposta contém exatamente o elemento que tem desanimado o homem moderno: a unidade de pensamento. Ele provê uma resposta unificada para a vida em sua totalidade. É bem verdade que o homem terá de renunciar seu racionalismo, mas então, baseado no que pode ser debatido, ele tem a possibilidade de recuperar sua racionalidade.”9
Enquanto os filósofos encontram sua unidade de pensamento em seu preferido ponto de partida – a mente, a matéria, a existência, o materialismo, a linguagem, a classe etc. – aonde vamos para desenvolver uma visão cristã de mundo? Sem pretender ser exclusivo nem exaustivo, permita-me sugerir três úteis afirmações básicas sobre a fé. Estas afirmações são integrais quanto à natureza, universais quanto ao âmbito, bíblicas quanto à origem, e não negociáveis quanto ao compromisso.
1. Deus é a realidade suprema. “No princípio Deus...” (Gênesis 1:1 – NVI). Nisso se encontra o fundamento da visão cristã de mundo. Porque Deus é Eu sou. Sem Ele, nada existe. “‘NEle vivemos, nos movemos e existimos’” (Atos 17:28 – NVI). Para o cristão, Deus, como Pessoa, é o que constitui a realidade suprema. Ele é a causa e o projetista da Criação. Suas atividades têm estrutura, propósito, e ordem. Como afirma Schaeffer: “A força do sistema cristão – seu teste decisivo – é que todas as coisas se encaixam sob o ápice do Deus existente, pessoal e infinito, e este é o único sistema no mundo inteiro onde isso é verdade. Nenhum outro sistema tem um ápice sob o qual tudo se encaixa... Sem perder sua própria integridade, o cristão pode ver todas as coisas se encaixando no lugar abaixo do ápice cristão da existência do Deus pessoal e infinito.”10
2. Sabemos porque Ele nos revelou. Uma segunda dimensão da visão de mundo cristã é que o conhecimento humano está baseado na revelação de Deus através da natureza e das Escrituras Sagradas. Por esta razão, estudamos a natureza e seu curso na história e na experiência dentro do contexto da criação da natureza por Deus e de Sua ação na mesma. A mente crédula discerne as obras de Deus na beleza e mistério da natureza, sondando este e louvando aquela. O cristão também aceita a Bíblia como o alicerce epistemológico de sua visão de mundo. Isso significa que “nenhuma interpretação de significado máximo pode ser feita sem revelação bíblica. Faltando a perspectiva que ela nos dá, as coisas do mundo são simplesmente objetos separados, os eventos do mundo são meras coincidências não inter-relacionadas, e a vida é unicamente uma frustrante tentativa de obter o máximo significado em trivialidades insignificantes.”11
Aceitar a Palavra de Deus como uma fonte epistemológica não significa que consideramos a Bíblia como uma espécie de enciclopédia divina. Significa, no entanto, que cremos que ela aborda as importantes questões da vida: quem sou eu? De onde venho? Para onde vou? Qual é o significado da história? Qual é minha função na sociedade? A Bíblia tem alguma coisa a dizer sobre estas e outras questões decisivas da existência e do destino, e por isso a visão cristã de mundo deve levar em consideração o que ela diz, mesmo ao se deparar com a posição de outros sistemas.
3. Deus se relaciona com os seres humanos. A visão cristã de mundo aceita uma antropologia que reconhece uma íntima afinidade entre Deus e os seres humanos. A afinidade pode ser resumida em três declarações principais:
a. Deus criou o ser humano à Sua própria imagem (Gênesis 1:26 e 27), e assim sendo, ele não é resultado de algum acidente cósmico ou ápice de algum paradigma evolucionário, limitado e controlado por um complexo sistema de leis mecânicas. A afinidade com Deus torna possível que os seres humanos ajam de maneira criativa, se relacionem de modo significativo e sejam responsáveis por seus atos.
b. Por causa dessa afinidade, o cristão considera o mal como resultado de um rompimento na relação entre Deus e o ser humano, o que a Bíblia chama de pecado. Pecado, ou afastamento de Deus, é a raiz de percepções, relacionamentos e valores distorcidos. Isso, conforme a visão cristã de mundo, explica a situação caótica, confusa e sem esperança que desvirtua a vida, transformando-a em um dilema existencial.
c. Por causa da afinidade entre Deus e o ser humano, a divindade não deixou a humanidade sem esperança. A visão cristã de mundo é tanto redentora como cirúrgica. É redentora porque Deus salvou a humanidade do pecado e a reconciliou consigo através da cruz de Cristo (II Coríntios 5:19). É cirúrgica pelo fato de que aguarda um tempo do fim quando o pecado e seus resultados serão totalmente eliminados, preparando o caminho para a criação de “novos céus e nova terra” (Isaías 65:17). Ambos os aspectos de restauração estão baseados na vida e morte de Cristo. Deste modo, conhecê-Lo e relacionar-se com Ele se torna fundamental tanto para a vida cristã como para o aprendizado cristão. Sem Ele, não pode haver uma visão cristã de mundo.

Conclusão

Com essas afirmações básicas, atuando dentro de uma cosmovisão cristã fundamentada na fé, a educação cristã pode funcionar sem comprometer a fé religiosa ou sacrificar a integridade intelectual. Nosso ensino se tornará, então, integral, centrado em Deus, redentor, e voltado ao serviço. Ele se transformará em uma busca jubilosa, na qual a fé e a razão se abraçarão, à medida que o coração adorador e a mente inquiridora estejam integrados e em paz um com o outro.
Assim sendo, a filosofia não precisa ser a avenida rumo ao desespero, mas a estrada que conduz à melhor compreensão.
John M. Fowler é diretor associado do Departamento de Educação da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia, em Silver Spring, Maryland, EUA.
Este artigo [via Diálogo Universitário] é uma adaptação do texto “Philosophy and Christian Education” publicado no The Journal of Adventist Education em dezembro/2006-janeiro/2007. Publicado com permissão dos editores.

REFERÊNCIAS

  1. Tertullian, de praescriptione haereticorum, cap. 7.
  2. Ellen G. White. Patriarcas e Profetas. 16ª ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1993. p. 432.
  3. ___________. Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes. 14ª ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2000. p. 394.
  4. Ibidem. pp. 394 e 395.
  5. ___________. Fundamentos da Educação Cristã. 2ª ed.Tatuí: Casa Publicadora Brasileira,1996.p. 45.
  6. ___________. Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes. 14ª ed. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2000. p. 38.
  7. Van Cleve Morris. Philosophy and the American School. Boston: Houghton Mifflin, 1961. p. 19.
  8. Francis A. Schaeffer. He Is There and He Is Not Silent. Wheaton, Ill.: Tyndale House Publishers, 1972. p. 1.
  9. ___________. Escape From Reason. Downers Grove, Ill.: InterVarsity Press, 1973. p. 82.
  10. ___________. He Is There and He Is Not Silent. p. 81.
  11. Richard H. Buber. The Human Quest: A New Look at Science and the Christian Faith. Waco, Texas: World Books, 1976. p. 52.