O Dia do Ecumenismo é comemorado anualmente em 21 de outubro, no Brasil. Esta data celebra o ato ecumênico que, de acordo com a definição eclesiástica do termo, consiste na busca da unificação entre as diferentes vertentes do cristianismo – católica, protestante e pentecostal.
O movimento ecumênico teve início há mais de cem anos, mas o verdadeiro marco foi a criação do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) em 1948, principal organização ecumênica no mundo, presente em mais de 120 países.
Não há dúvida de que a unidade cristã é essencial para o estabelecimento do Reino de Deus. Mas, seria o ecumenismo necessário e adequado para obter a unidade cristã?
Por que os adventistas não adotam o ecumenismo?
O adventismo tem tido uma postura consciente e coerente desde o início: existem bandeiras que podem ser compartilhadas e há um ecumenismo ideológico e comprometedor que deve ser evitado. Cooperar em boas causas comuns, como saúde, liberdade religiosa e projetos sociais, não significa ecumenismo no sentido negativo. O próprio adventismo começou como uma espécie de “ecumenismo”, reunindo pessoas de muitas denominações.
Os adventistas não são um grupo sectário e respeitam todas as denominações, mas ao mesmo tempo reconhecem seu papel especial. A crença fundamental número 13 expressa bem esse paradoxo: “A igreja universal se compõe de todos os que verdadeiramente creem em Cristo; mas, nos últimos dias, um tempo de ampla apostasia, um remanescente tem sido chamado para guardar os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.” Ao falar sobre o futuro sinal da besta, Ellen White reconheceu: “Há cristãos verdadeiros em todas as igrejas, inclusive na comunidade católico-romana” (Evangelismo, p. 234).
“Ecumenismo” vem da palavra grega oikoumene, que significa “o mundo inteiro habitado”. Na antiguidade, o termo se referia ao Império Romano. Por expressar a ideia de universalidade, o conceito foi também usado para designar os sete grandes concílios cristãos até o racha de 1054. Porém, a tentativa de recuperar essa união global ganhará cada vez mais destaque.
Infelizmente, a perspectiva não é boa. O Apocalipse fala de um ecumenismo sinistro em que “espíritos de demônios” unirão os reis do “mundo inteiro” (oikoumenes holes) contra o Todo-Poderoso (Ap 16:13-14). Trata-se de uma grande confederação ecumênica que resultará em guerra contra o povo de Deus.
Ao mesmo tempo, há um claro chamado para as pessoas saírem do ecumenismo do mal (Babilônia) e se unirem ao ecumenismo do bem (Ap 14:6-7; 18:1-4). O sonho de Cristo para a igreja inclui a unidade (Jo 17), mas ela deve ser buscada com base no amor e na verdade. O ecumenismo autêntico se dá em torno de Cristo, é movido pelo Espírito, regido pela Palavra e voltado para a glorificação de Deus e o bem das pessoas.
Em Sua belíssima oração sacerdotal, Jesus Cristo disse: “Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17:20-21).
De que unidade Jesus Cristo está falando? Estaria Ele dando a base para o ecumenismo?
O que o Mestre está destacando nesses versos é a unidade de comunhão vital com Deus, através do Espírito Santo na fé, mediante a conexão com o Cristo glorificado”. Em favor de um grupo que ainda briga por supremacia, como as contendas que vinham ocorrendo entre os doze (Lucas 22:24-30), Jesus Cristo roga ao Pai por unidade na mesma crença, espírito e objetivos. Então, o que se enfatiza nesses versos não é aproximação entre diversas religiões, mesmo porque o ensino estava sendo ministrado aos discípulos; o que se destaca é a união com o Pai e o Filho.
Assim, a união que importa é a que nos leva para perto de Cristo, não para meramente ou primariamente termos nossos projetos ou agendas comuns, mas porque uma vida realmente abençoada é aquela que é vivida somente no Espírito de Cristo, união esta que nos faz entender, viver e promover Sua agenda.
Desafios decorrentes do ecumenismo
Como afirma o teólogo Ángel Manuel Rodríguez, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, embora algumas vezes tenha se envolvido em conversas inter-religiosas, nunca teve o propósito de buscar a unidade com outros corpos eclesiásticos. Em vez de objetivar o ecumenismo, a Igreja Adventista utiliza essas conversas como um meio de compartilhar sua verdadeira identidade e missão com os outros, e como uma forma de eliminar maus entendimentos e preconceitos contra ela.
Ao estabelecer diálogo com outras denominações, é prudente saber que conversas ou ações ecumênicas, sejam estas formais ou informais, contêm riscos, dentre os quais:
1. Colocar a unidade da Igreja em risco. Numa época em que a autoridade é facilmente questionada, alguns membros da igreja podem ver conspiração em tudo o que líderes e teólogos da igreja fazem. E se ouvem que está havendo diálogo com outra igreja, rapidamente podem suspeitar que as crenças estão sendo alteradas ou comprometidas. Isso pode afetar a unidade e, consequentemente, a missão, pois um povo desunido acaba se movendo com lentidão e desconfiança.
2. As crenças podem ser colocadas em risco. Se o objetivo é buscar a unidade a todo custo, há o risco de falsificar ou minimizar as diferenças para torná-las mais palatáveis ao interlocutor na conversa, enquanto que, ao mesmo tempo, se supervalorizam as semelhanças. O resultado disso é que, a seguir, negociam-se princípios e crenças em nome do bom diálogo.
3. O evangelismo pode ser colocado em risco. Se, como resultado do diálogo, conclui-se que todos são bons cristãos, boas pessoas, a missão de pregar o evangelho desaparece, e a tarefa de fazer discípulos de todas as nações (Mateus 28:18-20) perde todo sentido.
Como afirma Ángel Manuel Rodríguez, “o proselitismo não é errado, mas é um aspecto intrínseco da liberdade com que Deus dotou a raça humana e uma forma saudável de manter o equilíbrio da diversidade que é fundamental para a busca da verdade”.
[Com informações de Revista Adventista e ANN]
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