quarta-feira, 27 de outubro de 2021

ESPINHO NA CARNE

“E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (2 Coríntios 12:7-10).

Espinho - Do grego skolops, “uma peça de madeira indicada”, “um piquete”. Os papiros também utilizam a palavra para se referir ao estilhaço ou lasca deixada sob a pele e impossível de ser removido (CBASD, vol. 6, p. 1017).

No texto não podemos descobrir qual foi o “espinho na carne” do qual Paulo falou. Assim, vamos pesquisar outras referências bíblicas que possam nos ajudar. A primeira delas é Gálatas 4:13-15:

“E vós sabeis que vos preguei o evangelho a primeira vez por causa de uma enfermidade física. E, posto que a minha enfermidade na carne vos foi uma tentação, contudo, não me revelastes desprezo nem desgosto; antes, me recebestes como anjo de Deus, como o próprio Cristo Jesus. Que é feito, pois, da vossa exultação? Pois vos dou testemunho de que, se possível fora, teríeis arrancado os próprios olhos para mos dar”.

Na carne - A enfermidade era física, não era mental nem espiritual. Era algo evidente, e lhe causava considerável constrangimento bem como desconforto e inconveniência" (CBASD, vol. 6, p. 1017).

O verso de Gálatas 6:11 também é esclarecedor: “Vede com que letras grandes vos escrevi de meu próprio punho”. Nestes versos podemos ver que: 1) Como vimos, Paulo tinha uma enfermidade física; 2) Os Gálatas receberam tão bem o apóstolo a ponto de ele afirmar que, se possível, eles arrancariam os próprios olhos para lhe dar; 3) Paulo assinava suas cartas com letras grandes.

Com base nestas informações podemos ver que é muito grande a probabilidade de o “espinho na carne” de Paulo ser um problema de visão. Talvez esta deficiência tivesse surgido com a experiência que ele teve na estrada de Damasco (Atos 9:1-9 e 10-19). Devido à grande luz que veio sobre seus olhos, e, consequentemente, uma espécie de “escamas” (Atos 9:18), ficaram sequelas (mesmo tendo sua visão restabelecida). Ellen G. White nos diz: "Paulo devia levar sempre em seu corpo as marcas da glória de Cristo, em seus olhos, que tinham sido cegados pela luz celestial, e desejava também levar consigo constantemente a segurança da mantenedora graça de Cristo" (História da Redenção, p. 275).

Mensageiro de Satanás - A aflição vinha de Satanás, com permissão de Deus. Do mesmo modo ocorreu com Jó. É da natureza e obra de Satanás infligir sofrimento físico e doença" (CBASD, vol. 6, p. 1017).

Esta experiência de Paulo nos ensina que apesar de Deus curar os Seus filhos, pode haver ocasiões em que Ele prefira não o fazer, aqui neste mundo. O ensino de que todas as doenças vêm diretamente do diabo não é bíblico, mas sim fruto do fanatismo de alguns religiosos. Há enfermidades que surgem por acidentes, falta de exercícios, maus hábitos alimentares, por exemplo. O fato de Deus não curar Paulo não indica que o apóstolo “tivesse pouca fé”.

O servo de Deus teve fé, a ponto de “orar três vezes” (2 Coríntios 12:8) pela cura. Ellen G. White afirma: "Quando Paulo orou para que fosse removido de sua carne o espinho, o Senhor atendeu a sua oração, não mediante o remover o espinho, mas dando-lhe graça para suportar a prova. 'A Minha graça te basta', disse Ele. Paulo alegrou-se com essa resposta à oração, dizendo: 'De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo' (2 Coríntios 12:9). Quando os doentes pedem a restauração da saúde, o Senhor nem sempre atende a sua oração exatamente do modo que desejam. Mas mesmo que não sejam imediatamente curados, Ele lhes dará aquilo que é de muito mais valor: graça para suportar sua doença" (Nos Lugares Celestiais, p. 81).

Mesmo que Deus não tenha respondido como Paulo esperava, assegurou-lhe que a Sua graça bastaria. 

Basta - "No grego, esta palavra está na forma enfática. A prece não libertou o apóstolo da aflição, mas lhe proporcionou graça para suportá-la. Paulo apelou para a libertação da enfermidade, pois cria que ela era um obstáculo a seu ministério. Cristo mais que supriu sua necessidade com uma provisão abundante de graça. Deus nunca prometeu alterar as circunstâncias ou livrar as pessoas dos problemas. Para Ele, enfermidades físicas e circunstâncias desfavoráveis são questões de preocupação secundária. A força interior para suportar é, de longe, mais manifestação da graça divina do que dominar as dificuldades internas da vida. Externamente, uma pessoa pode estar despedaçada, exausta, esgotada e quase enfraquecida; no entanto, internamente, tem o privilégio de desfrutar perfeita paz, em Cristo" (CBASD, vol. 6, p. 1017).

Paulo, sabendo que Deus sempre quer o melhor e que o sofrimento pode ser um instrumento de Deus para o aperfeiçoamento do caráter (Deus não traz o sofrimento. Pode sim usá-lo), “de boa vontade” aceitou a decisão do Senhor. Isto só é possível pela fé. 

Então, é que sou forte - O paradoxo cristão é que ocasiões de fraqueza podem ser transformadas em situações de força. A derrota sempre pode ser transformada em vitória. A verdadeira força de caráter surge da fraqueza, que, desconfiando do eu, é entregue à vontade de Deus" (CBASD, vol. 6, p. 1017).

Refletindo sobre esse texto, penso que meu espinho na carne me faz entender que sou extremamente dependente de Deus. Sem o seu amor e a sua misericórdia, não passo de alguém que não consegue sequer lutar contra sua natureza corrompida pelo pecado. O meu espinho na carne me faz desejar, cada dia mais, que nosso Salvador e Senhor, Jesus Cristo, volte o quanto antes, pois como disse Paulo, “considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada” (Romanos 8:18 NVI).

Devemos ter a esperança de que quando Jesus voltar em glória (Mateus 24:30-31; Apocalipse 1:7) Deus terminará com toda a dor e sofrimento. E o contentamento de poder ser feliz por toda a eternidade fará com que os problemas que enfrentamos hoje pareçam minúsculos.

“Então, se abrirão os olhos dos cegos, e se desimpedirão os ouvidos dos surdos; os coxos saltarão como cervo e a língua dos mudos cantará, pois águas arrebentarão no deserto, e ribeiros, no ermo” (Isaías 35:5-6).

“Nenhum morador de Jerusalém dirá: estou doente; porque ao povo que habita nela, perdoar-se-lhe-á a sua iniquidade” (Isaías 33:24).

“Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras cousas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras (Apocalipse 21:3-5).

Esperamos que a Palavra de Deus seja uma luz a brilhar diante dos seus olhos para que possa ver o único caminho que conduz à vida eterna: Jesus Cristo (João 14:6).

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