O cristianismo tem mais de 2,3 bilhões de seguidores (cerca de um terço da população mundial), mas a maioria aparentemente não sabe o que Jesus está fazendo na atualidade. Dos que sabem, talvez nem todos consigam explicar os detalhes do seu ministério celestial. No máximo, reconhecem que Ele intercede por nós “à direita” Deus, expressão repetida muitas vezes no Novo Testamento.
Criticada e distorcida por uns, defendida apaixonadamente por outros, a doutrina do santuário celestial tem sido uma parte fundamental da teologia adventista desde o início do movimento. Pode-se dizer que ela começou a ser elaborada já no dia seguinte ao desapontamento de 22 de outubro de 1844, com a descoberta de Hiram Edson de que, nessa data, Jesus entrara no santíssimo para inaugurar uma nova fase de seu ministério.
Para o adventista do século 21, o papel do santuário precisa continuar a ser valorizado, até para entender a real vindicação do caráter de Deus e evitar enfoques humanos de salvação. Como ponto de partida, há cinco verdades básicas que precisamos compreender:
1. O santuário é o lugar da habitação de Deus. “E me farão um santuário, para que Eu possa habitar no meio deles”, disse o Senhor (Êx 25:8). A presença divina era simbolizada por uma espetacular nuvem de glória acima ou dentro do tabernáculo/templo. No Antigo Testamento, esse fenômeno/conceito é mencionado várias vezes. Isso significa que, pela fé, podemos ir ao santuário celestial para encontrar Deus e, portanto, perdão, reconciliação, refúgio e esperança.
2. O santuário celestial e o terrestre são estruturas reais. Deus enfatizou a Moisés que ele deveria seguir o “modelo” que lhe fora “mostrado” (Êx 25:9, 40). A palavra hebraica tabnit (“modelo”, “padrão”), derivada do verbo banah (“construir”), ocorre 23 vezes no Antigo Testamento com o sentido geral de “semelhança” (como em uma imagem), “forma” (como em aparência), “modelo” (como usado para fazer uma cópia) e “plano” (como em um desenho ou esboço).
3. O santuário celestial e o terrestre tinham uma íntima relação tipológica. Os dois santuários eram separados em termos cósmicos/geográficos, mas suas funções eram conceitualmente inseparáveis. A correlação é mais funcional e vertical do que espacial e material. O santuário terrestre era uma “figura” e “sombra” do celestial (Hb 8:5). Tinha três áreas e cada uma simbolizava um aspecto da obra de Cristo: pátio (sacrifício na cruz), lugar santo (mediação no Céu) e lugar santíssimo (julgamento). Os dois rituais (serviços diários e anuais) prefiguravam as duas fases do ministério celestial de Cristo: intercessão (do ano 31 até o fim, pois o ministério dos sacerdotes não cessava durante o Dia da Expiação e o de Cristo não cessa no período investigativo) e julgamento (pós-1844).
4. O santuário celestial tem múltiplas funções. Conforme o teólogo Elias Brasil demonstrou em sua tese doutoral defendida na Universidade Andrews, o santuário é o lugar (de) onde Deus administra e supervisiona o cosmos, realiza reuniões com o conselho celestial, exerce atos de julgamento, faz expiação pelo pecado e perdoa os pecadores, ouve as orações dos necessitados e recebe adoração dos habitantes do Universo. Uma das funções mais importantes de Deus no santuário é ministrar a justiça, o que conforta os que vivem num mundo ao mesmo tempo “judicializado” e injusto.
5. O ministério de Cristo no santuário celestial é a garantia de acesso ao trono da graça. Como único caminho ao Pai (Jo 14:6; Hb 9:8; 10:19, 20), Jesus é o liturgista (leitourgos, “ministro”) que atua no santuário celestial em nosso favor (Hb 8:2). Ele não está de férias por 2 mil anos, mas age para “salvar totalmente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7:25). “Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus” (v. 26). Assim, você pode contar com um defensor 100% sem pecado, mas 100% em favor dos pecadores, na mais alta corte do Universo.
Marcos De Benedicto (via Revista Adventista)
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