Política é o palco do poder. E poder é a imposição de uma vontade sobre a outra. Sempre que a vontade de alguém é substituída pela de outra pessoa estamos diante de uma manifestação de poder e, portanto, de algum nível de política. Geralmente, as discussões políticas giram em torno da busca por um mundo melhor construído pelo homem. Entretanto, de acordo com a cosmovisão bíblica, isso é impossível. Como reflexo de nossa realidade, as discussões sobre ideologias políticas também alcançaram os líderes religiosos. Contudo, parece que esse assunto não deveria ocupar o tempo dos ministros do evangelho. Ellen White escreveu: “O Senhor quer que Seu povo enterre as questões políticas. Sobre esses assuntos, o silêncio é eloquência. Cristo convida Seus seguidores a chegar à unidade nos puros princípios evangélicos que são positivamente revelados na Palavra de Deus.”1
Como líderes cristãos, podemos defender plenamente algum posicionamento político?
Poucas questões políticas são verdadeiramente espirituais. A liberdade religiosa é
uma delas; possivelmente, a de maior relevância. É também a mais recorrente na
história. A Bíblia mostra casos de violência e de perseguição gerados simplesmente contra a liberdade que as pessoas têm
de adorar a Deus. As histórias de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, Daniel, Estevão e Paulo dão testemunho disso. Mesmo
que os cristãos reconheçam o papel da autoridade temporal (Mc 12:13-17; At 26:9-12;
Rm 13:1-7; 1Tm 2:1, 2; Tt 3:1, 2; 1Pe 2:13-17),
continuam sendo alvo de perseguição por
parte de outros indivíduos por causa da liberdade religiosa.
Um segundo aspecto também merece atenção. Quando alguém se torna cristão, ele admite a cosmovisão bíblica como
normativa para si. A Bíblia se torna o critério pelo qual a realidade é julgada, incluindo as ideologias políticas, filosóficas,
científicas ou de qualquer outra natureza
que se apresentem. Assim, caso o cristão queira adotar uma ideologia para viver,
ela competirá com a autoridade da Palavra de Deus, e o resultado desse embate mostrará o que é mais importante para
ele: se as Sagradas Escrituras ou as ideologias humanas. Ainda, se o reino de Deus
não é deste mundo (Jo 18:36), e se os filhos
de Deus também não são (Jo 17:14, 16, 18),
por que adotar uma ideologia do mundo?
Por acaso, querem viver no mundo para
sempre? A admoestação de Paulo parece ser apropriada nesse sentido: “Tenham
cuidado para que ninguém os escravize a
filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em
Cristo” (Cl 2:8, NVI).
Independentemente das condições de vida de um país, a Bíblia chama as pessoas a se arrepender e crer no evangelho, proclamando que o reino de Deus está próximo. Essa é a essência da mensagem divina do Antigo ao Novo Testamento. Esse é o cerne da pregação dos reformadores do século 16, dos mileritas do século 19 e dos adventistas até a segunda vinda de Jesus. Todos os mensageiros evangélicos da história viveram em cidades com melhores ou piores condições de vida, com gente brigando por poder, mas não colocaram sua atenção no sistema nem nas circunstâncias. Em vez disso, pregaram a mensagem de juízo e de salvação, levando os ouvintes a decidir sobre seu destino eterno.
Se não pregarmos a Bíblia, quem pregará? Se misturarmos a Bíblia e a política, a Palavra de Deus será rebaixada à condição humana. Se os ministros de Deus se concentrarem nas coisas deste mundo, quem serão os pregadores do evangelho de Jesus? Quem anunciará a esperança da vida eterna? A quem as pessoas recorrerão quando quiserem aprender as Escrituras? “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão Aquele em quem não creram? E como crerão Naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm 10:13, 14). “Vós sois o sal da Terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens” (Mt 5:13).
Se um pastor acha que prestaria um serviço melhor à humanidade por meio da política, não deveria ser coerente e deixar o ministério pastoral, dedicando-se à carreira política integralmente? Ellen White foi muito contundente quanto a esse assunto, ao escrever que “todo mestre, ministro ou dirigente em nossas fileiras que é agitado pelo desejo de ventilar suas opiniões sobre questões políticas, deve converter-se pela crença na verdade ou renunciar à sua obra”,2 afinal, “o dízimo não deve ser empregado para pagar ninguém para discursar sobre questões políticas”.3 Em vez disso, cada ministro deve se lembrar de que a “cada dia o tempo de graça de alguém se encerra. Cada hora alguns passam para além do alcance da misericórdia. E onde estão as vozes de aviso e rogo, mandando o pecador fugir desta condenação terrível? Onde estão as mãos estendidas para o fazer retroceder do caminho da morte? Onde estão os que com humildade e fé perseverante intercedem junto a Deus por ele?”4 Como disse o apóstolo Paulo, “importa que os homens nos considerem como ministros de Deus” (1Co 4:1).
Thadeu J. Silva Filho (Artigo na íntegra em Revista Ministério)
Referências
1. Ellen G. White, Fundamentos da Educação Cristã (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016), p. 475.
2. Ellen G. White, Fundamentos da Educação Cristã, p. 477.
3. Ibid.
4. Ellen G. White, Patriarcas e Profetas (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 92.
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