Caçar uma moedinha, escondida no fundo da bolsa, para entregar a alguém que pede na rua de uma grande ou pequena cidade. Muita gente faz questão de ter esse ato de caridade com o próximo, enquanto outros tantos afirmam que dar esmola é uma forma de perpetuar a pobreza. Afinal, dar esmola ajuda quem precisa?
Muitas são as discussões que envolvem este tema e as opiniões se dividem. O termo "esmola" deriva do grego eleemosyne (de eleemon, misericordioso; éleos era a piedade). Para um grupo, a esmola pode ser a única forma de determinadas pessoas fazerem suas refeições. Às vezes, uma única refeição ao dia. Para outro, a esmola pode até aliviar situações de extrema necessidade, mas não contribui para transformar a condição social de uma parcela extremamente empobrecida da população. Quando o assunto envolve crianças, a polêmica fica ainda maior.
Ao falar sobre o tema, o professor e filósofo australiano Peter Singer (1946) levanta a questão da ética. Para ele, se uma ação tem um custo tão baixo, então ela deve ser realizada. Peter ainda argumenta que nem toda pessoa em situação de rua está em um ponto de vida ou morte, mas é altamente provável que pelo menos alguns deles estejam, e você não pode arriscar uma infração ética tão óbvia quanto permitir que alguém passe fome, podendo ajudar.
Deuteronômio 15:11 nos mostra uma profecia que diz: “Sempre haverá pobres na terra”. Sobre isso, Ellen White diz: "Na providência de Deus os acontecimentos têm sido ordenados de maneira que sempre tenhamos os pobres conosco, a fim de que sejam no coração humano um constante exercício dos atributos do amor e da misericórdia. O homem deve cultivar a bondade e compaixão de Cristo; não deve distanciar-se dos tristes, dos aflitos, dos necessitados e angustiados" (ST, 13/06/1892).
Muitos combatem a ideia de que quem recebe esmolas ou qualquer outro tipo de ajuda acaba se acomodando. Vejamos o que Ellen White diz: "Não é sábio dar indiscriminadamente a todo aquele que solicite nosso auxílio; porque podemos assim encorajar a ociosidade, a intemperança e a extravagância. Mas se alguém chegar à vossa porta dizendo que está com fome, não o despeçais vazio. Dai-lhe algo a comer, do que tendes. Não sabeis em que circunstâncias está, e pode ser que sua pobreza resulte de infortúnio" (CM, 163). Ela também declara: "Podemos errar ao dar aos pobres esmolas que não são uma bênção para eles, que os levam a julgar que não precisam esforçar-se por fazer economia, pois outros não lhes permitirão sofrer. Não devemos apoiar a indolência, ou encorajar hábitos de satisfação própria, provendo meios para a condescendência consigo mesmos. Muito embora os pobres dignos não devam ser negligenciados, tanto quanto possível, devem todos eles ser ensinados a ajudar a si mesmos" (CM, 104).
Além disso, o pedido serve como fonte de vaidade para alguém que quer se sentir bom e magnânimo ao fazer a doação. Ao darem esmola, ganham o senso de ter praticado uma boa ação sem se submeter a uma obrigação de longo prazo ao outro. Ellen White diz: "Em dar esmolas, orar, jejuar, disse Jesus, que nada seja feito com o intuito de atrair atenção ou louvores para o próprio eu. Dai em sinceridade, para benefício do pobre sofredor" (DTN, 214).
O filósofo Immanuel Kant, falecido em 1808, era categórico quando o assunto era dar esmola. Segundo ele, ao dar dinheiro ao próximo você transfere a resolução de um problema público para a esfera particular.
Especialistas acreditam que dar trocados alimenta a vida de crianças nas calçadas e contribui para a degradação da infância. Segundo eles, ao receberem o dinheiro, essas crianças tendem a se prender mais às ruas, onde estão expostas a riscos como drogas e violência.
Para outros, dar esmola não é a melhor saída, e sim que o Estado seja o provedor das condições para que a pessoa tenha um mínimo social em casos de vulnerabilidade para se reerguer. Mas Ellen White declara: "Não há muitos, mesmo entre educadores e estadistas, que compreendam as causas em que se fundamenta o presente estado da sociedade. Os que detêm as rédeas de governo não são capazes de solver o problema da corrupção moral, da pobreza, do pauperismo e da criminalidade crescente. Estão lutando em vão para colocar as operações comerciais em bases mais seguras. Se os homens dessem mais atenção aos ensinos da Palavra de Deus, encontrariam solução para os problemas que os assoberbam" (BS, 173).
Finalizo com este maravilhoso pensamento de Ellen White:
"Por toda parte, em nosso redor, vemos miséria e sofrimento: famílias com falta do necessário, crianças a pedirem pão. Se os homens cumprissem o seu dever como fiéis mordomos dos bens de Deus, nenhum clamor haveria por pão, nenhum sofredor em penúria, nenhum desagasalhado em necessidade. É a infidelidade de homens que gera o estado de sofrimento em que está mergulhada a humanidade. Se aqueles a quem Deus fez mordomos tão somente utilizassem os bens do seu Senhor no propósito para que lhes foram entregues, este estado de sofrimento não existiria" (RH, 26/06/1894).
[Com informações de UOL]
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