Nesta próxima quinta-feira (16) será comemorado o feriado de Corpus Christi em todo o território nacional, e faz parte do calendário católico. Na manhã desta segunda-feira (13), a Sala de Imprensa Vaticana, numa comunicação aos jornalistas, informou que "devido às limitações impostas ao Papa pela gonialgia" (dor no joelho) e "pelas necessidades litúrgicas específicas da celebração, a Santa Missa e a Procissão com a Bênção Eucarística não serão celebradas por ocasião da Festa de Corpus Christi".
Ao longo dos anos, o Papa Francisco tem enfatizado vários aspectos desta Solenidade. Na homilia de 2015, o papa destacou:
"Cristo presente no meio de nós, no sinal do pão e do vinho, exige que a força do amor ultrapasse todas as dilacerações e, ao mesmo tempo, que se torne comunhão inclusive com o mais pobre, sustentáculo para quem é frágil, atenção fraterna a quantos têm dificuldade de carregar o peso da vida quotidiana, e correm o perigo de perder a própria fé."
E na homilia de 2020, o Papa Francisco explicou o Corpus Christi:
"Deus deixou-nos um memorial! Não nos deixou só a Escritura, porque é fácil esquecer o que se lê. Não nos deixou apenas sinais, porque se pode esquecer também o que se vê. Deu-nos um Alimento, e é difícil esquecer um sabor. Deixou-nos um Pão em que está Ele, vivo e verdadeiro, com todo o sabor do seu amor. Foi por isso que Jesus nos pediu: 'Fazei isto em memória de Mim'. Fazei. A Eucaristia não é simples lembrança; é um fato: é a Páscoa do Senhor, que ressuscita para nós. Na Missa, temos diante de nós a morte e a ressurreição de Jesus. Fazei isto em memória de Mim: reuni-vos e, como comunidade, como povo, como família, celebrai a Eucaristia para vos lembrardes de Mim. Não podemos passar sem ela, é o memorial de Deus. E cura a nossa memória ferida".
Mas você sabe, realmente, o que esse evento significa?
Trata-se de uma das principais celebrações da Igreja Católica. Corpus Christi é uma expressão latina que significa "corpo de Cristo". Acontece sempre na quinta-feira seguinte ao domingo da “santíssima Trindade” que, por sua vez, acontece no domingo seguinte ao de Pentecostes. A celebração acontece sessenta dias após a Páscoa. É uma festa que exige o comparecimento obrigatório dos católicos que participam da missa, conforme estabelece a Conferência Episcopal de cada país.
A primeira vez que se festejou Corpus Christi foi no século XIII, na Europa, mais precisamente na Bélgica, na diocese de Liège. E foi justamente uma religiosa desta terra, Santa Juliana de Liège, que promoveu e tornou-se a criadora da celebração de Corpus Christi. Na realidade, a comemoração passou a ser celebrada nove anos após a morte da freira Juliana. A festa foi instituída pelo Papa Urbano IV com a Bula ‘Transiturus’ de 11 de agosto de 1264. A procissão pelas vias públicas, quando é feita, atende a uma recomendação do Código de Direito Canônico que determina ao Bispo diocesano que a providencie, onde for possível, "para testemunhar publicamente a veneração para com a santíssima Eucaristia, principalmente na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo.
A razão de toda essa celebração é a “presença real e substancial de Cristo na Eucaristia”. A Eucaristia é um dos sacramentos que propõe o cristianismo. Consiste na união de um fiel a Jesus, a Deus e a todos os seus irmãos através do ato de beber o sangue e comer da carne de Cristo, desde que na celebração da missa o padre tenha consagrado o vinho e o pão transformando-os no sangue e no corpo de Cristo. Este sacramento é considerado como símbolo de unidade, caridade e gratidão ao cristianismo. Assim, acredita-se que o pão servido na cerimônia seja o próprio corpo real de Jesus, e o vinho, Seu sangue. É conhecida, teologicamente, como “doutrina da transubstanciação”.
A doutrina da transubstanciação baseia-se nas seguintes passagens do Novo Testamento em que Jesus diz:
"Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida" (João 6:55).
"Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá" (João 6:57).
"Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos" (João 6:53).
A Igreja ensina que há uma transformação da substância, mas não dos acidentes, ou seja, os acidentes como odor, sabor, textura, forma, cor permanecem, mas já não são mais pão e vinho e sim corpo e sangue, por um milagre de Cristo ao proferir as palavras sagradas.
Este é, sem dúvida, um dos grandes temas divergentes entre católicos e demais cristãos. A razão principal está na aplicação literal que os católicos fazem da forma figurativa que Jesus utilizou na Santa Ceia. Ele declarou ser o corpo dEle, pão. E o vinho, sangue.
É oportuno lembrar que Jesus gostava de utilizar essas ilustrações ou comparações. Facilitava a comunicação dEle com as pessoas simples. Em João 14:6, por exemplo, Ele diz ser “o caminho”. Já no capítulo 10:7, Ele afirmou ser “a porta”. É óbvio que Ele não estava se transformando literalmente numa porta ou em uma estrada. Simplesmente falava de forma figurativa.
A Bíblia mostra claramente que a eucaristia é uma cerimônia simbólica, uma lembrança do sacrifício de Cristo em nosso favor. Ao ser instituída por Jesus, substituiu a festa da Páscoa que simbolizava a libertação dos israelitas da escravidão, a preservação da vida dos primogênitos através do sangue do cordeiro e uma demonstração de fé no sacrifício que Cristo faria no futuro.
Após a vinda de Cristo para morrer na cruz, a Páscoa passou a simbolizar a libertação dos homens da escravidão do pecado, a aquisição da vida eterna através do sangue de Cristo e uma demonstração de fé no sacrifício que Ele fez.
Essa comemoração, porém, não seria feita apenas uma vez por ano, mas em todo o ritual da ceia do Senhor. Portanto, a discordância entre católicos e não-católicos está justamente nessa transubstanciação ou não dos elementos (pão e suco de uva) no corpo de Cristo. Concluímos com o que diz Ellen G. White no livro A Fé Pela Qual Eu Vivo (pp. 300-301), diz:
"A salvação dos homens depende de aplicarem continuamente ao seu coração o sangue purificador de Cristo. A ceia do Senhor, portanto, não deve ser observada vez por outra ou anualmente, mas com mais frequência do que a páscoa anual. Essa solene ordenança comemora um acontecimento bem maior do que o livramento dos filhos de Israel, do Egito. Aquele livramento era típico da grande expiação que Cristo realizou com o sacrifício de Sua própria vida para o libertamento final de Seu povo.
Essa ordenança não deve ser exclusivista, como muitos dela querem fazer. Cada pessoa deve participar da mesma publicamente, e deste modo, testemunhar: Aceito a Cristo como meu Salvador pessoal. Ele deu Sua vida por mim a fim de que pudesse ser livre da morte.
A santa ceia aponta à segunda vinda de Cristo. Foi destinada a conservar viva essa esperança na mente dos discípulos. Sempre que se reuniam para comemorar Sua morte, contavam como Ele, 'tomando o cálice e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos. Porque isto é o Meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados. E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide até àquele dia em que o beba de novo convosco no reino de Meu Pai' (Mateus 26:27-29). Nas tribulações, encontravam conforto na esperança da volta de seu Senhor. Indizivelmente precioso era para eles o pensamento: 'Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que venha' (1 Coríntios 11:26).
Cristo instituiu este serviço para que ele nos falasse aos sentidos acerca do amor de Deus. ... Não pode haver união entre nossa alma e Deus, senão por meio de Cristo. A união e o amor entre irmão e irmão devem ser cimentados e feitos eternos pelo amor de Jesus. E nada menos que a morte de Cristo podia tornar eficaz o Seu amor por nós. É unicamente por causa de Sua morte, que podemos esperar com alegria Sua segunda vinda. Seu sacrifício é o centro de nossa esperança. Nele nos cumpre fixar a nossa fé".
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