sexta-feira, 7 de abril de 2023

FOI POR VOCÊ

Por entre as vaias e a cruel zombaria da multidão, Jesus foi conduzido ao Gólgota. Ao transpor o limiar do pretório de Pilatos, impuseram-Lhe sobre os feridos ombros a cruz destinada a Barrabás. 

Também foi colocada uma cruz sobre cada um dos dois ladrões que seriam crucificados com Jesus. 

O peso do madeiro excedia as forças de Jesus, que estava fatigado e abatido. Após andar um pouco, caiu desmaiado sob o peso da cruz. 

Apenas recobrou os sentidos, a cruz foi outra vez posta sobre os Seus ombros. Vacilante, Jesus adiantou-Se alguns passos e novamente Lhe faltaram as forças, tornando a cair. Vendo, pois, Seus algozes que Lhe era impossível levar a cruz, ficaram perplexos por não saber sobre quem impor o humilhante fardo. 

Foi então que lhes veio ao encontro Simão de Cirene. A este finalmente obrigaram a levar a cruz até ao Calvário. 

Os filhos de Simão eram discípulos de Jesus, mas ele mesmo nunca O havia confessado abertamente. Mais tarde, Simão sentiu-se grato pelo privilégio que lhe coubera de levar a cruz do Salvador, a qual se tornou o meio de sua conversão. As cenas que se desenrolaram no Calvário e as palavras que Jesus ali proferiu induziram Simão a reconhecê-Lo como Filho de Deus. 

Tendo chegado ao lugar do suplício, os condenados foram logo amarrados sobre os respectivos madeiros. Os dois criminosos revolveram-se sob as mãos daqueles que os queriam prender à cruz; o Salvador, porém, não lhes opôs nenhuma resistência. 

A mãe de Jesus O havia acompanhado naquele pavoroso transe. Ao vê-Lo sucumbir ao peso da cruz, seu coração estava ansioso por ir socorrê-Lo, mas este privilégio lhe foi negado. 

A cada momento durante aquele trajeto penoso, ela esperava que Jesus Se prevalecesse de Sua virtude divina para desembaraçar-Se das mãos da turba assassina. E agora que os acontecimentos atingiam o seu fim, vendo ela como os condenados eram pregados sobre a cruz, em que angustiosa tensão ficou sua pobre alma! 

Acaso Aquele que tinha dado vida aos mortos consentiria em ser Ele próprio crucificado? Permitiria Ele, o Filho de Deus, que Lhe dessem morte tão cruel? Devia ela por fim renunciar à fé em que Ele era de fato o Messias? 

Viu também Suas mãos serem estendidas sobre o madeiro, aquelas mesmas mãos que sempre se estenderam para abençoar os sofredores. 

Logo foram trazidos cravos e martelos, e quando aqueles começaram a penetrar nas Suas delicadas carnes, os discípulos, compungidos, tiveram de conduzir para longe da cruel cena o corpo desmaiado da mãe de Jesus. 

O Salvador não soltou um gemido sequer. De Seu rosto pálido e sereno transpiravam apenas grossas gotas de suor. Seus discípulos tinham fugido à vista de tão cruel espetáculo. 

Enquanto os soldados consumavam a cruel obra, os pensamentos de Jesus, desprezando os próprios sofrimentos, se concentravam na terrível recompensa que aguardava os Seus perseguidores. Deplorando-os na sua ignorância, Ele orou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). 

Deste modo Jesus adquiriu o direito de Se fazer o intercessor dos homens perante o Pai. Essa oração de Jesus pelos Seus inimigos abrangia o mundo inteiro. Ela incluía cada pecador que existiu e que havia de existir, desde o princípio até à consumação do mundo. Toda vez que pecamos crucificamos de novo a Jesus. Em nosso favor, Ele ergue as mãos feridas diante do trono do Pai e diz: “Perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” 

Estando Jesus pregado sobre a cruz, esta foi levantada por homens robustos, e violentamente fincada no chão. Isso causou ao Filho de Deus sofrimentos indizíveis. 

Pilatos escreveu então um letreiro em latim, grego e hebraico, o qual afixou na cruz por cima da cabeça de Jesus, de modo que todos pudessem ler: “Jesus Nazareno, o Rei dos judeus.” Entretanto, os judeus requereram a Pilatos a modificação do letreiro, dizendo: “Não escrevas: Rei dos judeus e, sim, que Ele disse: Sou o Rei dos judeus” (João 19:21). 

Mas Pilatos, descontente consigo mesmo por causa da sua fraqueza anterior e já enojado da importunação dos ímpios príncipes, respondeu: “O que escrevi, escrevi.” 

Os insensíveis soldados dividiram então entre si as vestes de Jesus. A propósito da túnica, porém, que era sem costura, originou-se uma contenda, que foi resolvida ao concordarem os soldados em lançar sortes sobre a mesma. Este incidente tinha sido assim predito pelo Espírito de Deus: “Cães Me cercam; uma súcia de malfeitores Me rodeia; traspassaram-Me as mãos e os pés. Posso contar todos os Meus ossos; eles Me estão olhando e encarando em Mim. Repartem entre si as Minhas vestes, e sobre a Minha túnica deitam sortes” (Salmo 22:16-18). 

Terrível espetáculo se desdobrou então. Os escribas e príncipes do povo, aliando as suas vozes às do povo, prorromperam em insultos e sarcasmos contra o Filho de Deus, dizendo: “Se Tu és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo.” “Salvou os outros, a Si mesmo não pode salvar-Se. É Rei de Israel! Desça da cruz, e creremos nEle. Confiou em Deus; pois venha livrá-Lo agora, se de fato Lhe quer bem; porque disse: Sou Filho de Deus” (Mateus 27:42 e 43).

“Os que iam passando, blasfemavam dEle, meneando a cabeça e dizendo: Ah! Tu que destróis o santuário e em três dias o reedificas! Salva-Te a Ti mesmo, descendo da cruz” (Marcos 15:29 e 30). 

Cristo poderia ter descido da cruz. Mas, se tivesse feito isso, jamais poderíamos ser salvos. Por nossa causa Ele estava disposto a morrer. “Mas Ele foi traspassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos sarados” (Isaías 53:5).

Ao depor Sua preciosa vida na cruz, Cristo não teve para animá-Lo o gozo do triunfo. Seu coração estava vergado ao peso da angústia e oprimido de tristeza. Sentia sobre Si o peso esmagador dos pecados do mundo que O separavam do Pai, e foi isso que Lhe quebrantou o coração, determinando a Sua morte. 

Cristo experimentou aquela angústia que hão de experimentar os pecadores, quando um dia tiverem toda a consciência da sua culpabilidade, e reconhecerem estar para sempre privados do gozo e da paz dos Céus. 

Os anjos contemplavam com assombro a terrível agonia do Salvador. Tão intensos eram os sofrimentos do espírito que mal sentia as dores da cruz. 

A própria natureza simpatizou com aquela cena. O Sol, que até ao meio-dia havia brilhado no firmamento, eclipsou-se de repente; ao redor da cruz tudo ficou mergulhado em trevas profundas. Essa escuridão sobrenatural durou três horas consecutivas. 

Um terror indizível apoderou-se de todos os espectadores. As imprecações e as zombarias cessaram subitamente. Homens, mulheres e crianças caíram por terra, aterrorizados. 

De quando em quando fulvos raios rasgavam as nuvens, iluminando a cruz e o Salvador crucificado. Todos acreditavam ter chegado a hora da retribuição. 

À hora nona o negrume dissipou-se de sobre o povo, continuando, porém, a envolver o Salvador como uma mortalha. Flamejantes raios pareciam arremessar-se sobre Ele, ali pendurado na cruz. Foi então que Ele lançou o desesperado brado: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” 

Nesse ínterim, as trevas haviam baixado sobre Jerusalém e sobre as planícies da Judéia. Volvendo os olhos para a cidade, todos podiam ver agora que os raios da ira de Deus eram despedidos contra ela. Então a treva ao redor da cruz se desfez bruscamente e com voz clara e estridente, que repercutiu em toda a natureza, Jesus bradou: “Está consumado! Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito!” 

Uma luz inundou a cruz, e o rosto do Salvador tornou-se resplandecente como o Sol. Depois, inclinando a cabeça, expirou. 

A multidão ao redor da cruz ficou imóvel, e, com a respiração cortada, contemplava o Salvador. De novo as trevas baixaram sobre a Terra e um surdo estampido semelhante ao de um forte trovão ecoou no espaço, sendo acompanhado de violento terremoto. 

Os homens embaralhados caíram por terra. Seguiu-se a mais horrenda confusão. Nas montanhas adjacentes fenderam-se os penhascos, sendo precipitados com estrondo no abismo. Ao mesmo tempo abriram-se muitas sepulturas e foram lançados fora os seus mortos. Parecia como se toda a criação devera fazer-se em pedaços. Sacerdotes, principais e soldados permaneciam mudos de terror, jazendo muitos prostrados no chão. 

À hora em que Jesus expirou, alguns sacerdotes estavam cumprindo o ritual divino no templo. Haviam sentido o terremoto, e no mesmo instante o véu, que dividia o Santo do Santíssimo, foi rasgado de alto a baixo por aquela mesma mão misteriosa que no palácio de Belsazar escrevera as palavras que selaram a sorte de Babilônia. 

O lugar santíssimo no santuário terrestre não mais seria um lugar sagrado. Nunca mais a presença de Deus havia de ensombrar o seu propiciatório. Nunca mais o favor ou desfavor de Deus seria manifestado ali pela sombra nas pedras preciosas do peitoral do sumo sacerdote. 

Daí por diante o sangue do sacrifício oferecido no templo seria destituído de valor. O Cordeiro de Deus, morrendo sobre o Calvário, havia Se tornado o legítimo sacrifício pelos pecados do mundo. 

Quando Cristo morreu sobre o Gólgota, foi aberto o novo e vivo caminho, destinado tanto aos judeus como aos gentios. 

Os anjos rejubilaram quando o Salvador exclamou do alto da cruz: “Está consumado!” O grande plano de redenção havia de ser levado a efeito. Os filhos de Adão seriam finalmente exaltados até à presença de Deus. 

Satanás estava derrotado e sabia que o seu reino estava perdido.

[Ellen G. White - Foi por Você, pp. 5-15]

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