Gastar tempo pensando no pecado, nos erros ou nos defeitos dos outros não é algo comum apenas entre cristãos. É algo comum ao ser humano. Não é por menos que existem pessoas que ganham a vida profissionalmente comentando as falhas que pessoas famosas cometem.
Mas, como cristãos, apesar de termos os aspectos morais saltando constantemente diante de nossos olhos, temos razões para não nos concentrarmos tanto em pensar sobre como as outras pessoas violam as diferentes normas que existem.
Relacionei abaixo quatro razões pelas quais não devemos gastar nosso tempo pensando nos erros dos outros. É possível que você consiga pensar ainda em outras razões. Irei me deter em comentar apenas estas quatro:
1. Quando você gasta muito tempo pensando nos erros dos outros, você acaba gastando pouco tempo pensando em seus próprios erros.
Analisar o comportamento das outras pessoas é muito mais fácil que analisar o nosso próprio comportamento. Quando estamos dentro de uma situação, nossa perspectiva é muito contaminada com nossas distorções cognitivas, nossas justificativas e crenças limitantes que interferem diretamente em nossa avaliação sobre os nossos comportamentos. Por isso, ao pensarmos sobre nossos próprios comportamentos, corremos o risco de emitirmos, rapidamente, justificativas que nos impedem de avaliar corretamente nossos maus atos.
"Enquanto muitos negligenciam sua própria alma, vigiam ansiosamente por uma oportunidade para criticar e condenar os outros. Olhai para vossos próprios defeitos. É melhor descobrirdes um de vossos próprios defeitos, do que dez de vosso irmão" (Nos Lugares Celestiais, p. 181).
Quando nós estamos do lado de fora de uma situação, a perspectiva que temos é, de certa forma, privilegiada. Não emitimos esse pensamento rápido de justificar, mas levantamos hipóteses sobre a conduta alheia. E levantar hipóteses requer mais tempo do que produzir uma desculpa para si.
E se o comportamento inadequado do outro nos fere de alguma forma, aí que o pensamento sobre ele pode se tornar ainda mais demorado.
"Se todos os cristãos professos usassem suas faculdades investigadoras para ver quais os males que neles mesmos carecem de correção, em vez de falar dos erros alheios, existiria na igreja hoje uma condição mais saudável" (Mente, Caráter e Personalidade 2, p. 638).
2. Concentrar-se muito no erro dos outros pode levar você a desenvolver sentimentos ruins.
Aquilo que sentimos é um produto do que pensamos, de como nossa mente percebe e interpreta as coisas. Quando nós pensamos que algo ruim pode acontecer, isso nos gera ansiedade. Quando avaliamos, em uma situação, que estamos sendo tratados com injustiça, isso pode provocar em nós o sentimento de indignação. Quando nos lembramos de algo triste que aconteceu, sentimos tristeza. E quando pensamos nos pecados dos outros constantemente?
Podemos sentir tristeza e compaixão, é claro. Esses sentimentos são bem-vindos. Eles nos ajudam a sermos empáticos, a nos colocarmos em oração pelo nosso próximo e a nos dispormos a ajudá-lo. Mas podemos também sentir raiva, porque o outro vive fazendo aquela coisa errada e nada parece acontecer com ele, por exemplo.
"Existe entre nós como povo uma falta de simpatia e amor, profundo e sincero, pelos que são tentados ou que vivem no erro. Muitos têm revelado aquela frieza glacial e negligência pecaminosa que Cristo representou pelo indivíduo que passa de largo, guardando a maior distância possível dos que mais necessitam de sua ajuda" (O Desejado de Todas as Nações, p. 247).
Corremos, também, o risco de nos sentirmos superiores, julgando que não somos tão maus como aquela pessoa. Não é assim que as pessoas se sentem quando falam dos políticos corruptos enquanto esquecem de suas pequenas corrupções diárias? Aqui, cabe bem as palavras de Jesus: “E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho?” (Mateus 7:3).
E também podemos desenvolver o sentimento de solidão, de que estamos sozinhos e todo o restante das pessoas estão contra o que é correto. Elias experimentou esse último sentimento. Um sentimento que nos impede de perceber outros que se encontram em situação semelhante a nossa e nos coloca, indevidamente, em posição de vítimas.
"O espírito que você manifesta o tornará infeliz se continuar a acariciá-lo. Verá os erros dos outros e se revelará tão ansioso em corrigi-los que passará por alto as próprias faltas, e terá muito trabalho em remover o argueiro no olho do seu irmão, enquanto há uma trave obstruindo sua visão. Deus não deseja que você faça de sua consciência um critério para os outros" (Testemunhos para a Igreja 4, p. 61).
3. Concentrar-se muito nos erros dos outros aumenta a probabilidade de desenvolver o comportamento de falar mal dos outros.
“Pois a boca fala do que está cheio o coração” (Mateus 12:34). É simples assim. Quanto mais nossa mente se ocupa de algo, mais nossa língua se ocupa disso também. A ordem bíblica é: “Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas” (Filipenses 4:8). É quando nossa mente se concentra naquilo que é do bem, que nossos lábios podem falar do que é bom.
A esposa que se concentra nos defeitos do marido acaba por ser uma mulher caracterizada por reclamar muito. Aquele que se concentra nas falhas dos irmãos acabam por se deleitar em fofocas. A ordem das coisas é muito natural: os lábios não podem ser puros se a mente não é pura!
"Digo com tristeza que existem entre os membros de igreja línguas desenfreadas. Há línguas falsas, que se alimentam com a maldade. Há línguas astutas, que segredam. Há loquacidade, impertinente intrometimento, insinuações hábeis. [...] Nunca permitais que vossa língua e voz sejam empregados em descobrir e exagerar os defeitos de vossos irmãos; pois o registro do Céu identifica os interesses de Cristo com aqueles que Ele comprou com Seu próprio sangue" (Testemunhos Seletos 2, p. 22).
4. Você é moldado pelo mal em que você pensa constantemente.
E esse é, para mim, o ponto mais esquecido de todos. Uma das leis que governa a nossa mente diz que somos transformados pela contemplação. E contemplar não é apenas ver. É, também, pensar.
“O próprio ato de olhar para o mal nos outros desenvolve o mal em quem olha. Detendo-nos sobre as faltas do próximo, somos transformados na sua imagem. Mas contemplando Jesus, falando do Seu amor e da perfeição de Seu caráter, imprimimos em nós as Suas feições. Contemplando o alto ideal que Ele colocou diante de nós, subiremos a uma atmosfera santa e pura, que é a própria presença de Deus. Quando aí permanecemos, sairá de nós uma luz que irradia sobre todos os que estiverem em contato conosco” (A Ciência do Bom Viver, p. 492).
Eu não quero dizer que devemos ser alienados, que pensam que tudo é certo ou que tudo é bom. É claro que, enquanto vivemos em um mundo de pecado onde falhas existem continuamente ao nosso redor, nós as perceberemos. Também não seria correto que fizéssemos vista grossa para o erro das outras pessoas. A Palavra de Deus é clara: “Meus irmãos, se algum de vocês se desviar da verdade e alguém o trouxer de volta, lembrem-se disso: Quem converte um pecador do erro do seu caminho, salvará a vida dessa pessoa e fará que muitíssimos pecados sejam perdoados” (Tiago 5:19, 20).
Mas não ajudamos as pessoas ao nosso redor gastando tempo em pensar sobre seus erros. Muito menos em falar deles para outras pessoas. É claro que uma esposa pode identificar as falhas do esposo e conversar com ele sobre isso. É claro que podemos identificar condutas inadequadas de nossos governantes, especialmente para que tomemos uma decisão melhor no momento das eleições. É claro que, se um irmão pecar, eu devo olhar para o seu pecado como algo que aborrece a Deus e coloca em risco sua salvação, e devo ajudá-lo em sua jornada espiritual.
Precisamos apenas nos lembrar que nenhuma dessas coisas requer que gastemos muito tempo pensando sobre o erro dos outros! Precisamos nos lembrar que o pecado que contemplamos nos modela. E a única coisa que deveria nos modelar é a imagem do nosso Salvador!
"Precisamos olhar às faltas dos outros, não para condenar, mas para restaurar e curar. Vigiai em oração, ide avante crescendo, obtendo mais e mais do espírito de Jesus, e semeando o mesmo sobre todas as águas" (Mente, Caráter e Personalidade 2, p. 635).
Precisamos ser bons para que possamos fazer o bem. Não será possível influenciar os outros a se transformarem, enquanto nosso coração não se tornar humilde, refinado e brando por meio da graça de Cristo. Quando esta mudança se operar em nós, será tão natural viver para beneficiar a outros, como o é para a roseira dar suas perfumadas flores.
"Se Cristo está em vós, 'a esperança da glória', não estareis dispostos a observar os outros, a expor-lhes os erros. Em lugar de procurar acusar e condenar, tereis como objetivo ajudar, beneficiar, salvar. Ao lidar com os que se encontram em erro, atendereis à recomendação: Olha 'por ti mesmo, para que não sejas também tentado' (Gálatas 6:1). Procurareis lembrar as muitas vezes que tendes errado, e quão difícil vos foi achar o caminho certo uma vez que dele vos havíeis apartado. Não impelireis vosso irmão para mais densas trevas mas, coração cheio de piedade, falar-lhe-eis do perigo em que está" (O Maior Discurso de Cristo, p. 128).
[via Mente Saudável com inserção de textos de Ellen G. White]
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