sexta-feira, 1 de agosto de 2025

LIBERDADE DE EXPRESSÃO COM RESPONSABILIDADE

“Pensai por conta própria e deixai que os demais desfrutem do direito de fazer o mesmo” (Voltaire).

Um dos pilares da democracia é a liberdade de expressão. Qualquer tipo de censura é contrário ao espírito democrático. Parafraseando Voltaire, ainda que eu não concorde com as ideias de alguém, devo defender o seu sagrado direito de expressá-las. Se impedirmos que as pessoas se expressem livremente, jamais saberemos o que há em seu coração. Sobre isso, Jesus disse: “Ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom, ou fazei a árvore má e o seu fruto mau, pois pelo fruto se conhece a árvore. Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que está cheio o coração, disso fala a boca. O homem bom tira boas coisas do seu bom tesouro, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más. Mas eu vos digo que de toda palavra frívola que os homens proferirem hão de dar conta no dia do juízo” (Mateus 12:33-36).

Liberdade de expressar suas ideias, opiniões, dúvidas, anseios e temores, é condição sine qua non para que o ser humano desfrute de saúde emocional. Entretanto, deve-se tomar cuidado para que tal liberdade não esbarre no bom senso, possibilitando difamar pessoas e instituições, insuflando a sociedade a cometer injustiças. Como disse o escritor e médico americano Oliver Wendell Holmes, "liberdade de expressão não dá direito a alguém de gritar 'Fogo' em um teatro lotado".

A liberdade de expressão, como todo poder, demanda responsabilidade. Não se trata de censura, ou de algum tipo de mordaça, mas de responsabilidade. Quem quer desfrutar de plena liberdade de expressão, tem que estar disposto a arcar com a responsabilidade sobre aquilo que diz e faz. Por isso, Jesus diz que o homem deve dar conta de tudo quanto diz, mesmo que em tom jocoso.

Todo ser humano tem o direito de discordar, questionar, argumentar e defender suas ideias. Ninguém deve ser privado desse direito, nem mesmo no ambiente político ou eclesiástico. Porém, a partir do momento em que sua fala configure crime, deve ser judicialmente implicado, arcando com as suas consequências.

Exercer a liberdade de expressão com responsabilidade significa ter consciência das consequências de suas palavras e ações. Plataformas digitais, por exemplo, têm um papel crucial na moderação de conteúdo e na prevenção do uso abusivo da liberdade de expressão, buscando um equilíbrio entre a livre circulação de ideias e a proteção contra conteúdos ilegais e prejudiciais.

Não se pode, em nome da liberdade de expressão, discriminar, fomentar preconceitos, disseminar ódio, promover práticas nocivas à sociedade ou ao indivíduo, como tortura, pedofilia, racismo, xenofobia, etc. Nem tampouco se pode usar desta liberdade para se locupletar da ingenuidade e da boa fé alheias. O apóstolo Paulo denuncia os que ele chama de “faladores vãos e enganadores”, e diz que “é preciso tapar-lhes a boca, porque arruínam casas inteiras ensinando o que não convém, por pura ganância” (Tito 1:10-11).

Do ponto de vista cristão, a liberdade de expressão deve ser exercida com sabedoria e discernimento. Em Tiago 3:5, a Bíblia nos adverte sobre o poder da língua: “Assim também a língua é um pequeno membro, e gloria-se de grandes coisas. Vede quão grande bosque um pequeno fogo incendeia.” Este versículo nos lembra que, embora tenhamos o direito de falar, devemos sempre considerar as consequências de nossas palavras.

Jesus nos ensina que a verdade deve ser dita com amor (Efésios 4:15). A liberdade de expressão, portanto, não é uma licença para causar divisões ou promover ódio. Em um mundo onde as palavras podem ser facilmente disseminadas através das mídias sociais, os cristãos são chamados a serem pacificadores e a promoverem a edificação mútua, ao invés de usarem suas plataformas para gerar conflitos.

A liberdade de expressão, vista à luz dos valores cristãos, não deve ser um fim em si mesma, mas um meio de glorificar a Deus e promover o bem comum. A autocensura, quando guiada pelo Espírito Santo, é uma prática saudável que nos impede de usar mal nossas palavras e nos protege contra as consequências negativas do discurso irresponsável.

Neste contexto, é vital que os cristãos usem suas vozes para defender a verdade com integridade e sabedoria. No Sermão da Montanha, Jesus nos adverte: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9). Isso implica que nossa comunicação, seja ela verbal ou digital, deve sempre buscar a paz e a reconciliação.

Devemos ser defensores da liberdade de expressão, mas também reconhecendo que com grande poder vem grande responsabilidade. Nossa missão é utilizar a liberdade que temos para espalhar o amor, a verdade e a justiça, sempre à luz dos ensinamentos de Cristo. Assim, ao abordarmos temas como a liberdade de expressão, devemos fazê-lo com uma compreensão profunda dos princípios bíblicos, assegurando que nossas palavras e ações reflitam a luz de Cristo em um mundo que muitas vezes se encontra em trevas.

Ilustração: Armandinho via facebook

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