quarta-feira, 27 de agosto de 2025

SE ALGUÉM BATER EM SEU ROSTO...

"
Se alguém bater no seu rosto, ofereça-lhe o outro lado" (Mateus 5:39).

A ordem é incomum, radicalmente diferente daquilo que esperamos. Vai contra a natureza daquilo que consideramos ser valioso e não aprovado pela sabedoria popular. Estamos sempre preocupados com vantagens pessoais e a aplicação de uma retribuição legalmente adequada. Aqui Jesus nos surpreende com o inesperado, o antinatural. Analisemos a passagem em seu contexto cultural.

Na versão de A Mensagem lemos assim: "Este é outro ditado antigo que merece nossa atenção: ‘Olho por olho, dente por dente! Pergunto se isso nos leva a algum lugar. Aqui está o que proponho: não revide, de jeito nenhum. Se alguém bater no seu rosto, ofereça-lhe o outro lado. Se alguém o levar ao tribunal e exigir sua camisa, embrulhe para presente seu melhor casaco e entregue-o a ele. Se alguém se aproveitar de você para levar vantagem injustamente, aproveite a ocasião para praticar a vida de servo. Nada de pagar na mesma moeda. Viva generosamente" (Mateus 5:38-42).

Essa passagem faz parte de um longo discurso que aborda o comportamento esperado por parte dos que pertencem ao reino de Deus (Mateus 5:1-7 e 29). Essa peça literária, singular, começa com uma antítese: “Olho por olho, dente por dente! Pergunto se isso nos leva a algum lugar. Aqui está o que proponho: não revide, de jeito nenhum. Se alguém bater no seu rosto, ofereça-lhe o outro lado.” (Mateus 5:38-39). Jesus está Se referindo à lei de retaliação no Antigo Testamento (Êxodo 21:24; Levítico 24:20; Deuteronômio 19:21). A intenção dessa lei era impor limites ao desejo humano de revanche, introduzindo o princípio de equivalência; o castigo deveria ser proporcional ao crime. Não era permitido a ninguém matar uma família inteira pelo fato de que alguém da família matou um de seus membros.

Jesus elevou a lei a um nível mais alto, revelando seu propósito final, ou seja, eliminar a violência. A eliminação da violência na sociedade começa com os seguidores de Cristo. Ele radicalizou Sua oposição à violência, dizendo: “não revide, de jeito nenhum”. O verbo "revidar" ou “resistir” significa “colocar-se contra” ou “opor-se”, de modo confrontador. Quando cristãos se tornam o objeto de ação do mal, espera-se que não reajam de igual modo. Esse é um tipo de resistência passiva; resistir ao mal sem retaliação.

Jesus, então, passou a ilustrar o que estava querendo dizer. Ele deu quatro ilustrações. Atente para a primeira: “se alguém bater no seu rosto, ofereça-lhe o outro lado.” A referência do ato de afronta é a um murro de mão fechada, não apenas uma agressão física. Em alguns casos, oferecer a outra face pode ser um ato desafiador, provocador de mais violência. Nossa resposta natural ao insulto ou a um ataque é a retaliação. Jesus disse que deveríamos oferecer a outra face. Isso significa que os cristãos deveriam abandonar seu direito à retaliação, ou seja, a violência freada pela renúncia ao direito legal de “revidar”. A violência tem de acabar e temos um papel a desempenhar na realização desse objetivo. 

A segunda ilustração é: caso uma pessoa não consiga pagar um débito, é requerido que entregue sua "camisa" ou túnica. A lei permitia que tomasse a túnica como penhor pela dívida (Êxodo 22:26-27). Mas esse não parece ser o caso aqui. O indivíduo é objeto de abuso social – quais são as opções? Jesus diz: “Embrulhe para presente seu melhor casaco e entregue-o a ele.” A ideia é não haver retaliação sob nenhuma circunstância, mesmo que isso signifique profunda humilhação.

A terceira ilustração é extraída do serviço militar. Os soldados romanos forçavam ocasionalmente civis a executarem certas tarefas (Mateus 27:32). A reação natural do judeu seria resistir ao opressor, mas Jesus ordenou a Seus seguidores a fazer o inimaginável: Vá com ele não apenas a exigência de uma milha, mas duas milhas; para usar a situação como oportunidade de serviço, não de retaliação. "Se alguém se aproveitar de você para levar vantagem injustamente, aproveite a ocasião para praticar a vida de servo."

E a quarta ilustração é muito positiva, inferindo que devemos evitar nos tornar objetos de violência, agindo pacificamente. "Nada de pagar na mesma moeda. Viva generosamente." Devemos fazer tudo que pudermos para dar aos necessitados e emprestar aos que talvez não consigam pagar de volta. Essas são algumas das maneiras de vencer a violência na sociedade e na nossa vida. É assim que o amor age.

Ellen G. White diz: "Toda a vida terrestre de Jesus foi uma manifestação deste princípio. Foi para trazer o pão da vida a Seus inimigos, que nosso Salvador deixou Seu lar no Céu. Se bem que se amontoassem sobre Ele calúnias e perseguições desde o berço até à sepultura, estas não Lhe provocaram senão expressões de um amor que perdoa. Por intermédio do profeta Isaías, Ele diz: 'As Minhas costas dou aos que Me ferem, e as Minhas faces aos que me arrancam os cabelos: não escondo a Minha face dos que Me afrontam e me cospem.' 'Ele foi oprimido, mas não abriu a Sua boca' (Isaías 50:6; 53:7)" (O Maior Discurso de Cristo, p. 70). 

E completa: "Aquele que estiver impregnado do Espírito de Cristo, habita em Cristo. O golpe que lhe é dirigido cai sobre o Salvador, que o circunda com Sua presença. O que quer que lhe aconteça vem de Cristo. Não precisa resistir ao mal, porque Cristo é sua defesa. Nada lhe pode tocar a não ser pela permissão de nosso Senhor; e todas as coisas que são permitidas 'contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus' (Romanos 8:28)."

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