quinta-feira, 26 de maio de 2011

A adolescentização da música cristã
















Para Edgar Morin, o surgimento da ética da adolescência firma valores e aponta um estilo de vida próprio. Isso não é ruim. Afinal, passaram-se milênios tratando a criança e o adolescente como um adulto em miniatura e agora que lhes dão vez reclamam da sua voz. Entretanto, a sociedade de consumo tem se modelado pelas aspirações do arquétipo do imaginário da juventude: imediatismo, pouco senso de historicidade, vontade de transgredir e preferência pela cultura do lazer. A renovada música cristã não ficou imune a essas mudanças e a adolescentização cultural também passa pelas suas formas de composição e divulgação. O gospel tem mirado preferencialmente o público jovem, alvo também da indústria do entretenimento midiático.

Os cantores gospel tendem a reconfigurar os hinos da tradição cristã de uma maneira que, supostamente, a juventude irá preferir, numa tendência de formatar um evangelismo digerível para as faixas etárias juvenis. Porém, essa releitura musical tem se pautado primordialmente por estilos do pop dançante. Nos círculos musicais evangélicos, a interpretação dos clássicos submeteu-se a retórica do grito, do ruído e da velocidade.

Afim de não perder o público jovem, os programas gospel de rádio e TV mimam-no com cantilenas pop para ouvir no som do carro. Além disso, as novíssimas canções (e alguns novos cantores) vêm e vão semelhantemente à fama transitória da indústria musical pop. Não há, também, resenhas e críticas em revistas ou sites que apontem excessos ou mercantilização, pois “tudo serve para evangelizar e salvaguardar o jovem crente do mundo”.

Não estou dizendo que os hinários não contenham algumas melodias esquecíveis e letras empostadas que não falam ao espírito moderno e muito menos quero dizer que o melhor da música cristã foi composto há 150 anos ou que não há lugar para letras simples e facilmente memorizáveis. Nenhum repertório geral está consolidado para sempre. Por outro lado, é bom refletirmos sobre os recentes critérios de elaboração musical que têm reduzido a música sacra a conceitos individualistas de gosto e têm transformado o fator inovação em uma banalizada estratégia de marketing.

Assim como a superficialidade poética tem substituído a densidade teológica e a teatralidade gestual tem se tornado uma marca pessoal do cantor evangélico, os esforços de comunicar-se com a juventude, se podem dar sentido e relevância aos conteúdos bíblicos tradicionais, em algumas situações têm se deixado modelar pelos estereótipos da indústria do pop adolescente.

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