"Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Quanto aos moços, de igual modo, exorta-os para que, em todas as coisas, sejam criteriosos. Exorta e repreende também com toda a autoridade. Ninguém te despreze. O que exorta faça-o com dedicação.” (2Tm 4:2; Tt 2:6; Tt 2:15; Rm 12:8)
Tenho aprendido muitas coisas com a paternidade. Uma delas é zelar a todo segundo pela pessoinha que a gente ama. Minha filha de 11 meses está na fase de explorar o mundo. Mete o dedo em tudo, quer pegar tudo, puxa objetos perigosos para cima de si… para ela se machucar feio não custa. Aí o papai tem que ficar o tempo todo dizendo “não, filhinha, aí não pode”, “meu amor, não faz isso, vai se machucar”. “Não faça isso!”. E por aí vai. Você, por ser mais experiente, ter vivido mais, ter cometido os mesmos erros e se dado mal, sabe que não vai acabar bem. Como se pendurar nas cortinas. Aí você vai até ela e a pega no colo, mesmo contra a vontade da pequena.
“Não faça isso!”.
Ela se irrita, esperneia, se já falasse diria “não se mete, eu sei o que estou fazendo!”. Só que você, que já cometeu os mesmos erros, sabe que ela nem desconfia dos males, das dores e dos machucados que a insistência dela vai gerar. Ou, se desconfia, acha que vai dar pra levar na boa. E aí, o que você faz? Insiste em exortá-la? Ou deixa a menina se arrebentar e aprender com os próprios erros? Pois é, essa é uma pergunta não só para se fazer nessas ocasiões com nossas crianças, mas para diferentes circunstâncias da vida de nós, adultos.
A Biblia manda nós exortarmos uns aos outros em amor, como os trechos acima mostram. No entanto, há pessoas que não gostam de ser admoestadas. Se você diz a ela “não faça isso” ela se irrita, afinal “ela não é criança e sabe muito bem o que está fazendo”. Isso acontece muito com os mais jovens – que, naturalmente, se veem como totalmente capazes de desprezar o conselho do mais velhos. Só que você, que é mais experiente, sabe que, se ela seguir por aquele caminho, vai andar em passos largos para o abismo. Vai se arrebentar. Afinal, você já trilhou aquele mesmissimo caminho. Sabe onde vai dar. Sabe as dores que vai provocar.
Mas… o politicamente correto diz para você não se intrometer, a vida não é sua. Às vezes até você já alertou algumas (ou muitas) vezes, mas parece que a pessoa não consegue entender o mal que suas decisões vão gerar. Como se sua consciência estivesse cauterizada ou houvesse escamas sobre seus olhos. Muitas vezes, são pessoas prestes a fazer coisas e tomar decisões que se tornarão males irreversíveis, que vão fazê-las sofrer pelo resto da vida. Elas parecem não compreender, enxergam beneficios em suas decisões, olham o abismo e juram de pés juntos que ali está a solução, que pisando no vazio vão seguir uma trilha excelente rumo ao futuro – mas você sabe o que vem pela frente. Você antecipa o trilho da cortina despencando na cabeça, o dedo ferido na tomada. E aí, o que fazer?
Você insiste na exortação, na esperança de que a pessoa enxergue o erro e desista de enfiar o dedo na tomada ou acata o “eu sei o que estou fazendo”, põe sua violinha no saco e segue seu rumo, largando pra lá? “Bom, o azar é seu! Pode se pendurar na cortina, quando ela despencar na sua cabeça e fraturar seu crânio, a gente conversa!”, dá vontade de dizer. Mas o seu amor pelo próximo não permite que você faça isso. Pois amor pressupõe respeitar o espaço do outro (e afinal o “outro” não é um bebê de 11 meses, é um adulto racional) ao mesmo tempo em que dá vontade de sacudir a pessoa pelos ombros e gritar:
“NÃO FAÇA ISSO! VOCÊ ESTÁ ESTRAGANDO SUA VIDA! PELO AMOR DE DEUS, SEJA FORTE E DESISTA DESSA IDEIA INSANA!!! NÃO FAÇA ISSO!!!”
Isso é o que dá vontade de fazer. Mas você não faz, porque quer ser politicamente correto e respeitar o espaço alheio. É uma equação difícil. O mais triste é que, em geral, vence o erro. A pessoa que você exortou insiste e segue sua vida, rumo à infelicidade. Em geral é o que acontece porque, no fundo, sempre a pessoa acha que com ela não vai acontecer.
É como o adolescente que já viu dezenas de outros beber, dirigir e bater com o carro. Mas com ele? “Não, comigo vai ser diferente, eu posso encher a cara e dirigir pra casa, nada vai acontecer”. No dia seguinte temos um pai e uma mãe aos prantos no necrotério, reconhecendo o corpo daquele jovem que sabia o que estava fazendo.
É engraçado isso. Parece que é algo que nasce com o ser humano. Vejo o comportamento da minha filhinha de 11 meses e comparo com o dos adultos que você está alertando, exortando, porque SABE no que vão dar as decisões dela e, embora o adulto diga “sei o que estou fazendo, não sou criança”, o paralelo é idêntico. Você já cometeu o erro. Já enfiou o dedo na tomada. Sente a dor da queimadura até hoje. Mas ninguém te dá ouvidos. Nem o neném. Nem o adulto.
Exortar em amor é bíblico. Mas é difícil. O outro não entende. Ou se vê acima dos riscos. E às vezes ainda joga na tua cara os erros que você cometeu no passado como forma de justificar os que ele vai cometer no futuro, em vez de usá-los como aprendizado. Mas uma coisa que aprendi com minha filha é que o amor faz você seguir exortando. Descobri que “NÃO FAÇA ISSO!” é uma frase que nasce do amor, por mais dura que seja e por pior a reação que ela possa gerar. O risco de tomar um “meta-se com a sua vida” vale a pena quando se preocupa com a pessoa. O problema é quando a pessoa parece não se preocupar consigo. Aí não há exotação que dê jeito.
Então você, que foi exortado por alguém mais experiente mas insiste no erro… não-faça-isso. Não brinque com a sorte. Não arrisque se pendurar na cortina ou enfiar o dedo na tomada achando que com você será diferente. Ouça a voz da experiência. E… não faça isso.
É tudo o que o meu amor e o meu cuidado podem te dizer. Agora, a decisão é sua.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Maurício Zágari - Apenas
Nenhum comentário:
Postar um comentário