quinta-feira, 10 de maio de 2012

“Só tenho um Senhor, que não é o papa, nem o bispo”, diz padre

Padre Luiz Facchini
A Notícia de Joinville entrevista Luiz Facchini

A Notícia – Qual determinação o senhor recebeu (ou o acordo que fez) com a Diocese de Joinville?

Luiz Facchini – Me tiraram do trabalho paroquial para que ficasse apenas na fundação [Padre Luiz Facchini], atendendo a pedidos da comunidade. Mas não cometi ato contra o Evangelho. A “teologia do poder” é que não é cristã. Deus se apresentou como libertador. No Êxodo [livro do Antigo Testamento], Ele diz que viria para libertar e abrir caminhos, para um projeto de fraternidade.

AN – O senhor teve algum desentendimento com o bispo?

Facchini – Ele se queixa porque não rezo por “Sua Santidade” o papa, nem pela “Sua Excelência” o bispo. Rezo pelo irmão papa, pelo irmão bispo. Jesus disse “a ninguém chamarás de senhor a não ser Deus”. Só tenho um senhor, que não é o papa, nem o bispo, nem o prefeito, nem o governador, nem o presidente. É um conflito ideológico, não teológico.

AN – Por que o senhor critica a ação das pastorais de Joinville?

Facchini – Me diz quais os trabalhos das pastorais? Tem dinheiro, tem apenas dízimo. E Jesus disse que é impossível seguir a Deus e ao dinheiro, é preciso escolher. Que apoio a diocese tem dado às cozinhas comunitárias? Acho que a linha não é exatamente pastoral, é de dominação. A ponto de o bispo chegar e dizer: você não fica com nenhuma paróquia. Ele consultou a comunidade? Cadê a democracia? Quem escolheu o dom Irineu? Hoje, o Vaticano tem essa atitude de dominação, infelizmente. Sempre segui a palavra de Jesus, que diz que, para ser maior, é preciso ser servo e servidor. Comentava durante as minhas missas na Nossa Senhora de Belém. Já pedi ao bispo que se convertesse ao cristianismo durante uma reunião na paróquia.

AN – Chegou a pedir ajuda da diocese para a fundação?

Facchini – Nunca pedi, expressamente ou por escrito. Para ser sincero, seria chover no molhado. Se é cristão, é óbvio que deveria ajudar.

AN – O senhor teve problemas com bispos anteriores?

Facchini – Coordenei as pastorais na gestão do dom Gregorio [Warmelling]. Criamos o primeiro centro de defesa dos direitos humanos de Santa Catarina. Com o dom Orlando [Brandes], o começo foi de conflito. Ele quis me mandar para São Luís (MA) [risos]. Mas agimos com ternura e firmeza e Orlando se tornou um ótimo bispo. Pena que Joinville o perdeu [hoje, ele é bispo em Londrina]. Sou pecador como todo mundo, mas tenho que chamar a atenção quando vejo coisas erradas.

AN – Do que o senhor discorda no movimento carismático?

Facchini – No fim dos anos 1980, o papa João Paulo 2o falou aos carismáticos: cuidado. Há riscos dentro do movimento. O primeiro é o de leitura apressada e distorcida da Bíblia. O segundo é o narcisismo doentio: “Eu oro, faço curas, milagres”. Jesus nunca disse “eu fiz”. Orar em língua estranha, por exemplo, é uma coisa que não existe, não é oração. Tenho pena do povo que acredita nisso. Outro risco é o abuso do espetacular e do miraculoso. Tem padre que canta para evangelizar e acho lindo. Mas tem os que vendem milhares de discos e fazem o que para os pobres? Transformar a igreja em sala de dança não acrescenta nada à evangelização. 

Fonte: A Notícia

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