segunda-feira, 30 de julho de 2012

Três homens e um gesto olímpico para sempre


A foto acima é uma das mais conhecidas da história das Olimpíadas, e se tornou um marco dos conflitos raciais do século XX.

Nela, dividem o pódio dos 200 metros rasos - dos Jogos Olímpicos da Cidade do México de 1968 - os norteamericanos Tommie Smith (ouro) e John Carlos (bronze), juntamente com o australiano Peter George Norman (prata).

O gesto dos atletas americanos, com os punhos levantados, calçando apenas meias negras sem calçado para denunciar a pobreza dos negros americanos, ficou marcado para sempre como um símbolo da luta contra o racismo até então institucionalizado nos Estados Unidos.

Afinal, era o dia 16 de outubro de 1968, e o expoente máximo da luta pelos direitos civis no país, o pastor batista Martin Luther King Jr., havia sido assassinado no dia 4 de abril daquele ano que mudou o mundo em várias áreas para sempre.

O que pouca gente sabe é que cada atleta negro levanta um punho vestido com uma só luva porque John Carlos havia esquecido as suas no alojamento, e o atleta australiano foi quem lhes deu a ideia de dividir o par que Tommie Smith havia trazido.

Peter George Norman foi avisado por seus companheiros americanos de que eles realizariam o protesto, mas antes queriam consultá-lo para não constrangê-lo num momento que também seria tão especial - como polêmico - para o australiano.

Eles lhe perguntaram se ele acreditava nos direitos humanos, e Norman, militante contrário à política branca contra os aborígenes de seu país, disse que sim.

Então os atletas americanos lhe perguntaram se ele acreditava em Deus, e Norman respondeu que cria fortemente em Deus, principalmente devido ao seu passado no Exército da Salvação.

Depois lhe contaram o que iriam fazer, e o australiano respondeu uma frase que ressoa até hoje: "Estou junto com vocês!"

Ao se dirigir à cerimônia, Norman viu o remador americano Paul Hoffman usando uma pequena flâmula do movimento olímpico pelos direitos humanos, e o pediu emprestado para usá-lo no pódio.

Após o protesto, todos os três atletas foram perseguidos por seus respectivos comitês olímpicos (os americanos foram expulsos imediatamente da Vila Olímpica), e levaria ainda muito tempo para que o seu gesto fosse oficialmente reconhecido como válido, embora o momento (e o registro) histórico já tivesse sido alcançado.

Tommie Smith e John Carlos ficaram mais conhecidos, dada a importância e pertinência de sua rebeldia afroamericana diante dos holofotes olímpicos, e Norman foi muito menos lembrado, mas jamais esquecido, até porque naquela prova em 1968 ele estabeleceu o record australiano dos 200 metros rasos, que dura até hoje.

Outro gesto envolveu os três grandes personagens olímpicos 38 anos depois, em outubro de 2006, quando, por ocasião do funeral de Norman (foto abaixo), lá estavam carregando o caixão seus companheiros de pódio, Tommie Smith e John Carlos, depois de terem voado metade do planeta para homenagear o corajoso amigo.

Infelizmente, nesta época de negócios e consumismo em que vivemos, parece que sobra pouco espaço nas Olimpíadas (e na vida) para que homens simples produzam momentos grandiosos que marcam toda uma geração e que nem a efemeridade da vida humana consegue apagar.

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