sexta-feira, 28 de março de 2014

A Igreja Evangélica e a Ditadura Militar de 1964 (50 anos)


O GOLPE MILITAR
Em 1964, os militares deram um golpe de estado depondo o então presidente João Goulart. Este golpe aconteceu no dia 31 de março de 1964.

De 1964 a 1985, o Brasil viveu um dos períodos mais negros de sua historia. A democrácia foi abolida o estado de direito deixou de existir. Qualquer cidadão podia ter seu lar invadido pelas tropas do exército, para isto bastava uma denúncia sem qualquer tipo de comprovação.

O assassinato de pessoas por órgãos militares virou rotina, a tortura aos presos passou a ser algo normal. O total de desaparecidos durante os anos de ditadura, até hoje não foi revelado, o certo é que muitas famílias viram seus entes queridos serem presos por motivos fúteis e nunca mais voltarem para casa. Muitas mulheres foram violentadas nos porões da repressão militar só por serem filhas de acusados de traidores do regime. Muitos pais confessaram crimes jamais cometidos apenas para não verem seus filhos serem torturados.

É triste ouvir pessoas dizendo: “tempos bons eram os tempos da ditadura”. São pessoas totalmente desinformadas, que só sabiam o que o governo permitia que fosse divulgado. A imprensa em geral vivia amordaçada, sem poder publicar noticias que divulgassem a maldade e os atos criminosos dos militares.

A IGREJA EVANGÉLICA DURANTE A DITADURA
No início dos anos 60, a sociedade brasileira vivia os conturbados anos posteriores à renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961. Era uma época de incertezas. Jânio foi sucedido por seu vice, João Goulart, cuja postura mais à esquerda incomodava os setores conservadores e acendeu a "luz vermelha" nos Estados Unidos, que temiam o surgimento de uma Cuba no Cone Sul. A polarização entre esquerda e direita era inivitável, inclusive dentro das igrejas. Muitos setores criticavam o envolvimento da Igreja com a política, para eles o papel do crente era apenas pregar o evangelho.

O 31 de março de 1964 marcou mais do que uma reviravolta nos rumos do país. Foi também um momento crucial para a Igreja Evangélica no Brasil. O mesmo golpe que tirou do poder o presidente João Goulart, afetou também os púlpitos. Sobretudo aqueles onde o pregador tinha coragem de defender a cidadania e a liberdade de expressão. Muitos pastores foram presos, crentes torturados e até desaparecidos nos porões da ditadura. Quem era evangélico e tinha atuação política ou comunitária nos anos pós-64 tem lembranças amargas.

O Departamento de Mocidade da Confederação Evangélica do Brasil (CEB) foi à primeira entidade de orientação evangélica a sofrer a perseguição do regime. A CEB promovia a cooperação entre as igrejas nas áreas de ação social, educação cristã e atividades diaconais. Foi fechada sem direito de defesa. 

Reunindo algumas das principais correntes evangélicas do país, como as igrejas Presbiteriana, Luterana, Metodista, Assembléia de Deus e Congregacional, a CEB promoveu eventos que ficaram célebres como a Conferência do Nordeste, em Recife, com o tema “Cristo e o processo revolucionário”. Foi a primeira vez que os cristãos e os marxistas se encontraram para discutir a relação da igreja com a realidade social e cultural brasileira. Um dos preletores foi o sociólogo Gilberto Freyre. A conferência do Recife reuniu 160 delegados de 16 denominações evangélicas. Houve uma grande repercussão em todo Brasil. A CEB reunia os líderes para discutir como a Igreja Evangélica enfrentaria a nova realidade: o agravamento da crise econômica e social, da pobreza e da desigualdade social. A Igreja estava em busca de uma identidade nacional, foi um período rico na busca de um caminho, a igreja brasileira refletia os mesmos movimentos da sociedade.

Quando o golpe se intensificou e as perseguições começaram a apertar o cerco sobre as igrejas, o movimento da Conferencia do Recife se desfez. O Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas (SP), foi fechado e os alunos expulsos. Colégios e faculdades de teologia, também expulsaram professores que tinham a visão de uma nova Igreja. Para os militares os inimigos estavam em todos os lugares, inclusive nas igrejas. A Faculdade Metodista Rudge Ramos em São Paulo foi fechada por ordem do governo militar em 1967, depois que os formandos escolheram D. Helder Câmara, bispo de Olinda e Recife e inimigo declarado dos “fardados”, como paraninfo da turma.

Naquela época os jovens evangélicos eram politizados, preocupados com o país. A ideologia era ensinada também na escola Dominical de algumas igrejas. O templo da Igreja Metodista Central de São Paulo foi cercado pela policia e muitos jovens saíram presos. O pastor da Igreja Batista em Volta Redonda no Rio de Janeiro, Geraldo Marcelo, foi preso três vezes como agente da subversão, chegando a ficar 43 dias em poder dos militares. Hoje ele conta que superou os traumas e relembra os cultos que realizava na cadeia: “cinco companheiros se converteram e um deles hoje é pastor”. O pastor Geraldo conta que sofria torturas diárias, pensou em suicídio para não entregar os irmãos na fé. “Eu pensava em me matar. A pressão era muito grande. Só que eu era forte, precisava de cinco ou seis agentes para me torturar”, conta ainda comovido com as lembranças. “Foi pela ação de Deus que eu não morri, eu me sentia como Jesus, querendo passar de mim aquele cálice”.

Neste tempo o número de evangélicos no pais era na ordem de 4,5% da população. Então porque uma comunidade tão pequena incomodava tanto o regime? As ações da repressão militar mostram que o pequeno grupo causava incômodo. A explicação é simples: num pais que tinha 39% de analfabetos, os evangélicos eram uma elite pensante, exercia influencia política e era percebido socialmente. Nem todos os crentes no entanto faziam parte deste grupo, a igreja em geral se comportou muito mal, o medo das mudanças reforçou o conservadorismo, e muitas igrejas cediam seus púlpitos para propaganda a favor do regime militar. Muitos pastores entregaram ao Regime, membros de suas igrejas, acusando-os de comunistas. Os que entregavam colegas era beneficiados pela Ditadura.

A partir de 1970 houve um desmonte da consciência política da Igreja Evangélica Brasileira, um movimento com forte influência americana, o chamado "Grupo da Califórnia", da extrema direita protestante americana, uma organização com muito dinheiro veio para o Brasil. A ação desse movimento consistia em enviar ao Brasil professores de teologia e recursos para tocar projetos educacionais ligados as igrejas. Era o fortalecimento da direita dentro das igrejas, e consequentemente o enfraquecimento e afastamento da liderança de pessoas com pensamento e ação anti-ditadura. A partir de então, os evangélicos que eram enquadrados na Lei de Segurança Nacional, não recebiam qualquer apoio das igrejas, sequer palavras de apoio, lembram alguns pastores que foram presos. Um pastor, que passou 11 meses preso no famigerado DOI-Codi, principal orgão de repressão do regime militar, soube pelos torturadores que foi denunciado por um pastor da Igreja Metodista. A certeza só veio quando anos depois teve acesso à sua documentação nos arquivos da ditadura. No processo dele estava o bilhete que dois pastores de sua igreja enviaram ao coronel Faustine, diretor do Serviço Nacional de Informações, o entregando. Havia uma aliança implícita entre os setores conservadores da Igreja e os orgãos de repressão. A falta de registros históricos do período da ditadura pela Igreja Evangélica é uma das formas de não revelar seus paradoxos. A mesma denominação que delatou esse pastor também tinha setores que o apoiavam e à sua família. Pastores tentaram visitá-lo e não conseguiram. Igrejas se reuniam e oravam pelos presos, em atos de fé e coragem.

A Igreja Metodista do Brasil pediu perdão, oficialmente aos que foram denunciados e presos por atos de líderes da denominação. Mas, muitos protagonistas da repressão que agiram de dentro das igrejas evangélicas, que colaboraram com o Regime Militar, entregando irmãos na fé, preferiram o silêncio.

OS PORÕES DA IGREJA
A Comissão Nacional da Verdade (CNV), grupo que investiga a violação dos direitos humanos durante o regime militar (1964-1985), instalou um grupo de trabalho para avaliar a atuação da igreja no período. O trabalho começou no dia 8 de novembro de 2012, com a análise de estudos acadêmicos sobre o tema. Diversos casos envolvendo fiéis e líderes das igrejas evangélicas e católica serão analisados. Serão investigados tanto casos de religiosos que deram abrigo a perseguidos políticos como daqueles que praticaram a deleção de ativistas. Um dos mais rumorosos é o de Anivaldo Padilha, crente metodista que foi denunciado aos militares por seus pastores. Na época ele dirigia o Departamento Nacional de Juventude da sua denominação. Preso, torturado e exilado, só voltou ao país com a Anistia em 1979.

CONCLUSÃO
Hoje, a maioria do povo não sabe o que realmente acontecia com os considerados inimigos dos militares, não sabem que muitos pastores foram presos e torturados. Por isso se ouve alguns irmãos elogiando os tempos da ditadura.

Procure se informar mais sobre a historia recente de seu país, só assim você saberá que muitos dos que elogiam os militares não sabem do que estão falando.

J. DIAS - Santo Vivo

FONTE: Revista Eclésia | Revista Cristianismo Hoje

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