terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Carta de Paulo aos cristãos do século 21


Se eu aprender inglês, espanhol, alemão ou qualquer outro idioma, mas não souber me comunicar com as pessoas, de nada vale tanto conhecimento.

Se tiver a maior nota no Enem, for aprovado no vestibular; se concluir com brilho a Universidade, for diplomado e frequentar cursos e mais cursos de aperfeiçoamento, pós-graduação, mestrado e doutorado, mas viver distante dos problemas do povo, tanto conhecimento acumulado não passará de inútil erudição.

Se moro numa grande cidade, frequento shoppings e outros pontos da moda, mas desconheço ou sou indiferente ao sofrimento dos que moram na periferia ou pelas ruas... 

Se, nas férias, a única coisa que me importa são projetos e programas de viagens fantásticas, dentro e fora do país, sem considerar a realidade dos que não podem nem mesmo sonhar, não sou um cristão verdadeiro.

Se passo meus fins de semana em festas, barzinhos e outros programas com minha turma, gastando, às vezes, numa noite, o equivalente ao salário de um trabalhador...

Se aproveito a vida sem ver a fome, o desemprego, o analfabetismo e a falta de recursos dos que estão tão próximos a mim...

Se não escuto o grito abafado que vem do menino de rua, do mendigo, do catador de papel, do aposentado e dos carentes nas filas do SUS, nas enfermarias dos hospitais, nas periferias da vida, eu não posso me considerar irmão de ninguém.

Se moro numa casa ou apartamento espaçoso e confortável, se estudo no melhor colégio, se uso a roupa e o tênis mais transados, mas não percebo que, também por causa da minha omissão, existem os que dormem sob marquises, e viadutos, os que andam de pé no chão, os que se cobrem com trapos sujos, sou apenas um belo manequim, vazio e colorido, nas vitrines da vida...

Desculpem se pareço duro e radical, mas o cristão não pode fugir aos desafios do seu tempo. Não fica de braços cruzados de boca fechada e cabeça vazia, com o coração anestesiado e insensível a tudo que o rodeia. 

Não engole a injustiça, não acha “normal” que haja desigualdades tão gritantes e absurdas no nosso mundo. O cristão tem no peito e nas mãos um Amor capaz de se indignar, mas que “não perde a ternura jamais”.

O cristão não prega ódio. Não há lugar para ódio no coração de um cristão. Ele não se desespera nem desanima diante das dificuldades e fracassos, pois sabe que para sustentá-lo existem a Fé, a Esperança e o Amor. E é com o Amor, a única arma verdadeiramente revolucionária, pois muda as coisas em profundidade, que o cristão vai à luta para construir um mundo mais justo e fraterno, tal como Deus sonhou desde sempre.

O Amor não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade...

O Amor tudo desculpa... Sem anotar nada “no caderninho” para cobrar depois...

O Amor tudo crê...

O Amor tudo espera...

O Amor tudo suporta... Porque sabe que o insuportável mesmo é viver sem Amor

O Amor jamais passará... Pois o que É não passa. O tempo do Amor é Sempre!

Um dia, o que não É, vai encontrar seu termo; profecias, conhecimento, a ciência da qual nos orgulhamos tanto, tudo desaparecerá. Mas em nós há, plantada, uma semente de eternidade. 

Quem plantou foi o Amor. E só o Amor é capaz de preencher todos os espaços, superar todos os limites, abrir todas as possibilidades. Em nós mora o amor, o desejo de amar, pois nós somos imagem e semelhança do amor que nos criou.

Quando tudo se perder nas brumas do tempo e da História, permanecerão a Fé, a Esperança e o Amor. Mas o que pode mudar tudo, a começar do meu coração, é o amor.

E o amor é a partilha do Ser e do Ter. 

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