Tenho percebido em minha igreja que, quase sempre que uma pessoa recebe disciplina da igreja, fica revoltada e faz muitas queixas à liderança. Será que, em uma sociedade moderna e aberta como a nossa, a disciplina ainda cumpre seus objetivos? Será que continua sendo a melhor forma de lidar com os pecados e pecadores na igreja?
Em primeiro lugar, quero admitir que a disciplina eclesiástica é um procedimento delicado, complexo e cheio de implicações. É necessário equilíbrio, paciência e amor para que seja aplicada adequadamente. Mas gostaria de fazer algumas ponderações:
A disciplina da igreja (censura ou remoção do rol de membros) é bíblica. O próprio Senhor Jesus deu as orientações sobre o assunto em Mateus 18:15-18. Portanto, os líderes da igreja têm a responsabilidade de administrá-la, conforme orienta a Palavra de Deus e o Espírito de Profecia. Ellen G. White faz a seguinte declaração:
"À igreja foi conferido o poder de agir em lugar de Cristo. É a agência de Deus para a conservação da ordem e disciplina entre Seu povo. A ela o Senhor delegou poderes para dirimir todas as questões concernentes à sua prosperidade, pureza e ordem." Testemunhos Seletos, v. 3, p. 203
Os objetivos desse procedimento são pelo menos três:
a) Salvaguardar a honra da igreja. Comentando a respeito da disciplina por censura, o Manual da Igreja esclarece uma das razões para esse procedimento: "Permitir à igreja o pronunciamento de sua desaprovação de ofensa grave que trouxe desonra para a causa de Deus." Manual da Igreja, p. 193
b) Despertar a pessoa que cometeu o erro para a gravidade e o perigo de sua conduta. Assim, a disciplina é um instrumento para redimir e resgatar o pecador.
c) A disciplina ajuda os outros membros da igreja a perceber a gravidade do pecado e evitar cometerem erro semelhante. Se um membro comete um erro de repercussão pública e nada é feito, a mensagem que é transmitida para os outros, especialmente os jovens, é que o pecado não é realmente grave e a igreja não sofre nada com isso.
Assim, os líderes da igreja precisam seguir a orientação inspirada. É como um pai quando disciplina um filho que está em um caminho perigoso. O pai não precisa ser santo para aplicar a disciplina, ele o faz porque ama e quer proteger o filho.
É possível corrigir eventuais injustiças. Se uma pessoa recebeu injustamente uma disciplina, pode solicitar reconsideração do voto tomado. Os líderes da igreja devem sempre ter uma atitude humilde e respeitar esse tipo de solicitação. Se, após séria consideração, se percebe que houve de fato injustiça, o reconhecimento do erro é uma atitude de grandeza por parte da liderança e da própria igreja. Caso não se identifique a eventual injustiça, de igual forma, o membro disciplinado deve ter humildade em reconhecer seu erro e aceitar a decisão da igreja.
Por fim, cabe ressaltar que, estar sob disciplina eclesiástica não é sinônimo de estar perdido. Deus conhece o coração de cada um e só Ele pode julgar o arrependimento e a sinceridade de uma pessoa. Finalmente, reiteramos a verdade de que o amor de Deus é incondicional. Ele odeia o pecado, mas ama o pecador. Todos nós temos falhas e estamos sujeitos ao erro. E o maior conforto que podemos ter é o fato de que sempre somos "aceitos no Amado".
O texto acima é de autoria do pastor Ranieri Sales. Segue abaixo, mais alguns conselhos de Ellen G. White sobre como a liderança da igreja deve tratar com os que erram:
Corrigir com justiça
"Quando se torna necessário para um pastor efetuar um trabalho de correção, deve ele ser muito cuidadoso e agir com justiça e sabedoria. Ele não deve denunciar o erro rispidamente diante daqueles que não conhecem a verdade. Os não conversos julgam os servos de Deus por tais ações e concluem que essa não pode ser a obra de Deus... Nossos obreiros, quando tentados a falar palavras precipitadas de crítica e juízo, devem lembrar-se de que silêncio é ouro." The Review and Herald, 14 de Novembro de 1907.
"Não se deve recorrer a medidas drásticas ao se lidar com os que erram; medidas mais suaves produzirão muito mais efeito. Lancem mão de métodos mais suaves com a maior perseverança, e se não surtirem efeito, esperem pacientemente. Jamais se apressem em desligar um membro da igreja. Orem por ele e vejam se Deus não mudará o coração do errante. A disciplina tem sido grandemente pervertida. Aqueles que têm defeitos de caráter têm sido muito apressados em disciplinar outros e, assim, toda disciplina tem caído em descrédito. Lamento dizer, mas ira, preconceito e parcialidade têm tido muito lugar para exibição, e a disciplina adequada tem sido estranhamente negligenciada. Se aqueles que lidam com os que erram tivessem o coração pleno de ternura, que espírito diferente prevaleceria nas igrejas! Que o Senhor possa abrir os olhos e suavizar o coração daqueles que têm demonstrado um espírito ríspido, não perdoador e inflexível para com aqueles que eles pensam estar em erro. Tais homens desonram seu cargo e desonram a Deus. Eles magoam o coração de Seus filhos e os compelem a clamar a Deus em sua angústia. Certamente o Senhor ouvirá o seu clamor e julgará todas essas coisas." The Review and Herald, 14 de Maio de 1895.
Controlar-se primeiro
"Aqueles que controlam outros devem aprender primeiro a controlar-se. A menos que aprendam essa lição, não poderão em seu trabalho ser semelhantes a Cristo. Devem eles submeter-se a Cristo, falando como Ele falaria, agindo como Ele agiria, com ternura e compaixão infalíveis." The Review and Herald, 28 de Abril 1903.
Os líderes devem ser compreensivos
"Almas há que estão definhando por falta de simpatia. Definham por falta do pão da vida; mas não têm confiança para tornar conhecida a sua grande necessidade. Os que levam responsabilidades em conexão com a obra de Deus, devem compreender que estão sob a mais solene obrigação de ajudar a essas almas." Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 353.
Se a cortina fosse aberta
"Que revelações viriam aos homens se a cortina fosse aberta e vocês pudessem ver o resultado de seu trabalho ao lidar com os que erram e que necessitam do mais adequado tratamento para não serem desviados do caminho!" Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 184.
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