Marilyn Monroe, nascida Norma Jeane Mortenson em 1 de junho de 1926, em Los Angeles, Califórnia, completaria hoje 90 anos.
O mundo está repleto de gente igual ao pacote Ruffles. Por fora, parece cheio, mas por dentro… que decepção! “Nossa, ela tinha tudo pra ser feliz”, dizemos. Julgamos com um ar tão grande de sabedoria quais são os requisitos para a felicidade e autoestima e nos esquecemos que esses sentimentos não são um objetivo a se alcançar, mas sim um estado de espírito diário. Veja a história de Norma Jeane Mortenson. Ela teve uma juventude difícil e instável. Sem nunca ter conhecido o pai, foi criada pela mãe, que sofria de problemas mentais. Ainda criança, Norma se viu totalmente desamparada quando sua mãe foi internada em um manicômio. Sua infância não foi fácil, mas o pesadelo maior estava por vir quando, sem pai nem mãe, foi declarada sob a guarda do Estado. Passou, então, de um lar adotivo a outro, como se fosse um objeto. No total, foram 11 tentativas de ser aceita e amada por alguma família. Gaguejando ao falar desses acontecimentos que assombraram sua vida, ela declarou que sofreu maus tratos nessas casas, sendo até chicoteada. Revela ainda que era abusada sexualmente em pelo menos 3 delas.
Até mesmo quando Grace, a melhor amiga de sua mãe, a adotou não encontrou um porto seguro. Ervin Doc Goddard, novo marido da mulher, a estuprou diversas vezes, quando tinha apenas 9 anos de idade. Teve, então, que ser levada a outro lar. Tentaria a sorte dessa vez na casa de sua tia-avó. Se você pensa que por estar sob responsabilidade de alguém do seu próprio sangue ela estaria protegida, enganou-se. Lá, um dos filhos daquela senhora abusou sexualmente dela também. Mais uma vez desamparada, Norma foi enviada para outro lugar, agora na casa de sua tia Ana. Pela primeira vez, sentiu um pouco de respeito e felicidade, mas isso durou pouco, pois Ana ficou idosa e debilitada, fazendo com que levassem Norma novamente para outro canto. Adivinhe só para onde ela teve que voltar! Para a casa de Grace e Ervin, onde era estuprada. Mas meses depois, o casal precisou se mudar ao receber uma proposta melhor de emprego, e decidiu não levá-la junto.
Desesperada em imaginar que seria carregada para mais um pesadelo, ela pensou em um plano de fuga. Aproveitou seu romance com o vizinho, conhecido como Jim, e sugeriu a ele que se casassem. No começo, ele hesitou, pois ela tinha apenas 16 anos. Mas, ao pensar melhor sobre o assunto, aceitou a proposta piedosa. Será que finalmente ela teria um lar feliz? Será que sua história mudaria de vez? Olhe só o que aconteceu. Você não vai acreditar!
Devido à sua beleza deslumbrante, ela se tornou a mulher mais desejada do século 20. Sua aparência vulnerável e inocente, juntamente com sua inata sensualidade, se tornou um ícone. Mas como isso? O olhar curioso de um fotógrafo a tornou modelo, e logo sua carreira foi ao auge como atriz de Hollywood. Seu novo nome: Marilyn Monroe. Este seria um marco na história. Possivelmente, ela foi a figura feminina mais emblemática da cultura americana, sendo também considerada símbolo sexual mais conhecido de todos os tempos no planeta. Sua imagem estampou muitos filmes, cartazes e revistas. Na capa para a edição de maio de 1952 da revista Life, ela aparecia com um sorrido lindo, e ao lado uma legenda, na qual ela retratava a sua história:
Eu pareço feliz? Você quer que eu seja? Bom, porque na minha infância ninguém queria. Eu era uma garota solitária com um sonho que despertou e agora o estou tornando realidade. Eu sou Marilyn Monroe. Leia a minha história de Cinderela.
A pobre menina sofrida se tornou uma das celebridades mais famosas da história. Todos queriam ser Marilyn. Nos dias de hoje, poderíamos dizer que ela era cercada de recalcadas. Seria esse um conto de fadas real? Infelizmente não. Mas ela não tinha tudo pra ser feliz e autoconfiante? Não. Ainda em sua carreira de sucesso, era levada a prestar serviços íntimos aos seus superiores da indústria de entretenimento a fim de crescer no ramo. O título de escrava sexual a perseguia. Perturbada pelo passado e assombrada pelo presente, tinha problemas em se relacionar com outras pessoas. Ela se casou por três vezes, tentando encontrar amor e segurança em cada “eu vos declaro marido e mulher”. Mas fama, traumas, traições, insegurança e relacionamento não podiam andar juntos.
Por trás da loira fatal, havia uma pobre mulher à beira da loucura, viciada em sexo e drogas, em uma ânsia desesperada por preencher um vazio. Não sabendo lidar com a depressão, entupia-se de remédios, álcool e calmantes, pois lhe parecia melhor viver de forma inconsciente. Tentou se matar várias vezes, tomando coquetéis de comprimidos, mas sempre era encontrada a tempo de fazer uma lavagem estomacal. Diziam que essa era sua estratégia para chamar atenção. Até que numa noite de sábado, em sua solidão, Marilyn tentou novamente dar um fim à sua vida. Dessa vez, ninguém a pode socorrer. A linda estrela de apenas 36 anos foi encontrada morta em sua casa, deitada nua na cama, de bruços e com o telefone na mão, como se tivesse mais uma vez tentado pedir socorro, mas em vão. No cenário, caixas de pílulas vazias espalhadas por todo o quarto. Mesmo cercada de fãs, flashs e fama, ela viveu em solidão e morreu sozinha.
Eu me convenço cada dia mais de que não podemos tomar seres humanos como espelhos de vida. Vemos a carcaça humana e julgamos a vida através dela. Desejamos tanto a imagem e acabamos ignorando a essência, a história crua de cada um, como fazia a legião de fãs de Marilyn — sonhava com sua aparência de exuberante e tampava os olhos para seu lado simplesmente humano. É muito frustrante colocar tanta fé e admiração em alguém e, ao lutar para ser como ela, ver que as coisas não são bem como parecem. Você pode até se inspirar em ações humanas e se tornar uma pessoa melhor ao admirá-las, mas ninguém deste mundo pode ser seu espelho de vida. Se for para contemplar alguém, que seja quem é perfeito, pois ainda que nunca consiga se igualar totalmente a ele, estará cultivando pouco a pouco uma imagem mais pura. Isso vai muito além de uma mudança estética. É uma transformação moral.
Emanuelle Sales (via Imagem & Semelhança)
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