Muitas pessoas, principalmente do ocidente, ainda se confundem sobre a diferença entre os termos: hebreu, israelita e judeu. Vamos entender de forma resumida a origem e significado dos nomes e também um pouco da história por trás desse povo ao qual estes três nomes se referem.
Hebreu (עברי, em hebraico)
A primeira vez nos livros de Moisés (Torá, para os judeus; Pentateuco, para os cristãos) em que o termo “hebreu” aparece é no livro de Gênesis, referindo-se, exatamente, ao pai deste povo, Abraão:
"Então veio um, que escapara, e o contou a Abrão, o hebreu; ele habitava junto dos carvalhais de Manre, o amorreu, irmão de Escol, e irmão de Aner; eles eram confederados de Abrão." (Gênesis 14:13)
Embora a tradição judaica ofereça pelo menos duas correntes para explicar o nome, vamos considerar aquela que é mais aceita pela maioria dos teólogos. Ela se refere aos descendentes de Héber (עֵבֶר em hebraico). O capítulo 10 de Gênesis fala dos descendentes de Noé e das nações que se formaram a partir deles. Noé teve três filhos: Sem, Cam e Jafé, além de outros mais que nasceram depois do dilúvio. Héber foi um dos trisnetos de Sem, filho de Noé.
O nome de Héber é importante porque, segundo a tradição judaica, foi graças a ele que a língua que eles falam foi preservada por Deus. Segundo a tradição judaica, Héber teria se recusado a participar da construção da Torre de Babel e, portanto, o idioma hebraico foi preservado e recebeu este nome em homenagem a Héber, e desta forma, deu também nome ao povo que falava Hebraico, o povo Hebreu. Algumas pessoas tem dificuldade em entender Gênesis 10:5, 10:20 e 10:31, pois estes versículos parecem trazer uma contradição ao citarem povos com suas próprias línguas antes do capítulo 11, que é o capítulo que informa que só havia uma língua na Terra, sendo que é neste mesmo capítulo que é descrito como e porque houve a divisão das línguas.
A resposta é que a narração não é cronológica, mas sim tópica, como se fosse um adendo, ou uma observação do autor. Para sustentar isso, podemos ler Gênesis 10:25, que apresenta um dos filhos de Héber: Pelegue. Héber teve dois filhos: um foi Pelegue, porquanto em seus dias se repartiu a terra; e o outro foi Joctã. (Gênesis 10:25)
Existe um motivo para Pelegue ter este nome. Pelegue (פלג, em hebraico) significa separar, dividir. Assim, é muito provável que ele tenha recebido este nome em relação ao ato da criação das várias línguas no evento da Torre de Babel, que dividiu completamente o mundo em grupos linguísticos específicos. Vale salientar ainda que existem indícios extra-bíblicos, como por exemplo – as tábuas sumérias – que relatam a existência de apenas uma língua universal no mundo antigo.
Assim, podemos dizer que “hebreu”, da perspectiva etimológica, provem de Héber. No que diz respeito ao grupo de pessoas, podemos dizer que “hebreu” é o povo que descende de Sem, filho de Noé. Ou seja, é o povo semita. Por isso, que atualmente vemos o uso de antissemitismo como uma postura contrária ao povo judeu.
Israelita (ישׁראל, em hebraico)
O termo “israelita” é a versão em português do termo “filhos de Israel” (Bnei Yisrael), que aparece várias vezes na Bíblia (são 608 vezes em traduções como a Almeida). Assim, a melhor maneira de entender o significado de israelita é procurar o significado de Israel.
O nome “Israel”, que no hebraico significa “lutar com Deus”, foi atribuído a Jacó:
"E disse-lhe Deus: O teu nome é Jacó; não te chamarás mais Jacó, mas Israel será o teu nome. E chamou-lhe Israel." (Gênesis 35:10)
Quem foi Jacó? De acordo com a Tanakh (escrituras judaicas) e o Corão (escrituras islâmicas), Isaac foi o único filho de Abraão com Sara. Isaac, por sua vez, teve dois filhos com Rebeca, sendo Jacó e Esaú. Enquanto a descendência de Esaú formou os Edomitas, a descendência de Jacó gerou os israelitas (Lembrando que Jacó teve o nome mudado para Israel).
Assim, israelita é o povo descendente de Jacó. Jacó, juntamente com seu pai (Isaac) e avô (Abraão), são considerados os patriarcas dos filhos de Israel, os israelitas. O próprio Deus confirma isso, anos depois, a Moisés:
"Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó." (Êxodo 3:6a)
Jacó teve 12 filhos com 4 mulheres diferentes (Gênesis 49), além de uma filha (Gênesis 30:21), e teve 70 descendentes diretos (Êxodo 1:5).
Judeu (יְהוּדִי em hebraico)
Para entender o significado do termo “judeu“, temos que primeiro entender que dos 12 filhos de Jacó surgiram as 12 tribos de Israel. Abaixo está um mapa com as doze tribos de Israel por volta do ano 1.100 a.C, conforme nos informa o livro de Josué:
Pode-se notar que uma dessas tribos é a de Judá. O termo “judeu” está ligado ao nome Judá, mas não quer dizer que ele se refira apenas ao povo desta tribo. O termo “judeu” se refere ao povo de todas as 12 tribos. Vamos ver o porquê disso.
Conforme vemos no livro de Ester, esta tribo foi predominante durante o período que antecedeu o retorno daquele povo à terra prometida, assim como durante os primeiros anos deste retorno, conforme os livros de Esdras e Neemias. O fato que justifica o uso generalizado do termo judeu é que havia a predominância da tribo de Judá neste período, assim todo o povo das doze tribos passou a ser chamado de judeu.
Embora as primeiras aparições no nome “judeu” em muitas traduções das Escrituras só se deem no livro de 2 Reis 16:6 e 2 Reis 25:25, no hebraico a tradução mais adequada seria “homens de Judá”. Apenas nos livros de Esdras, Neemias e Ester é que podemos dizer que há efetivamente a utilização deste termo no sentido de povo das doze tribos.
Conclusão
Agora, fica entendido que Hebreu originou-se de Héber; que Israelita originou-se de Jacó; e que Judeu originou-se da tribo de Judá. Todos esses termos têm o mesmo objetivo: referir-se ao povo escolhido por Deus, embora em épocas diferentes.
[via Raciocínio Cristão]
E as pessoas q nascem em Israel atualmente?
ResponderExcluirIsraelenses.
ExcluirIsraelitas.
ExcluirApenas israelenses. O termo israelita não está correto.
ExcluirMuito esclarecedor, gostei muito.
ResponderExcluirMuito interessante a matéria, parabéns a equipe que preparou, seria legal se abordasse um pouco mais sobre a destruição das 9 tribos do reino do norte e sua dissipação pouco antes dá destruição do reino do sul pelos babilônios (se não me engano), mas está perfeito.
ResponderExcluirLouvado seja Deus que nos concede pessoas que se dedicam a explicar melhor a história desses que acreditamos hoje serem os nossos antepassados...
Que a paz do Senhor Jesus Cristo esteja conosco...
Muito bom este pequeno estudo sobre essa curiosidade maravilhosa esta agora inclusa no nosso material de palestra dos Atalaias do Advento de o verdadeiro e o falso dons de linguas
ResponderExcluirMuito importante está explicação. Parabéns ao trabalho e pesquisa realizados com sucesso pelo irmão e toda a sua equipe.
ResponderExcluirMuito bom! Só a explicação do termo judeu que achei um pouco confusa. Porém está certa em afirmar que judeu se refere à Judá (mas não à tribo e sim ao reino) e que os cativos da babilônia eram chamados de judeus. Mas o fato de o termo "judeu" ser usado nos livros de Ester, Esdras e Neemias não significa que era usado para denominar as 12 tribos. Na verdade, apenas reforça as passagens citadas de 2Reis, de que os judeus eram os cidadãos do reino de Judá (composto pelas tribos de Judá e Benjamin - e, segundo alguns estudos e teorias, muitos dos levitas, que não tinham herança) - pois foi este reino que sofreu o cativeiro da babilônia, ou seja, foram só os judeus (cidadãos do reino de Judá, com capital em Jerusalém).
ResponderExcluirAs tribos se dividiram em 2 reinos por causa do rei Roboão (filho de Salomão). 10 tribos formaram o reino de Israel (reino do norte), com capital em Samaria. E assim permaneceram divididas por muitos anos. Antes da divisão do povo em 2 reinos, os descendentes da tribo de Judá eram chamados de "judaítas", e os descendentes dos outros filhos de Jacó chamados por seus respectivos nomes (levitas, efraimitas, benjamitas, rubenitas, etc.).
Os israelitas do reino do norte foram feitos cativos também, mas pelos assírios e muitos foram assimilados e miscigenados. Os assírios colocaram outros povos para habitarem a região. Depois do cativeiro assírio, o reino de Israel (reino do norte) não mais existiu; aí veio o domínio persa e depois romano, com isso alguns israelitas (mestiços) voltaram para as terras palestinas que tinham sido do reino de Israel e viveram lá durante o domínio romando junto com os outros povos que já habitavam a região desde o domínio assírio. Pode ser que durante o império persa que dominou a Babilônia (onde estavam os judeus) e a Assíria (onde estavam os israelitas do norte), alguns israelitas do norte tenham se unido aos judeus, mas isso não significa que os demais que não se uniram e depois voltaram a Samaria também eram denominados judeus. Por causa da miscigenação e assimilação dos israelitas do norte com os povos que os dominaram, que, no tempo de Cristo, os judeus não viam os samaritanos (dos quais haviam descendentes dos antigos israelitas do reino do norte) como seus irmãos e parte do mesmo povo; os viam como pessoas inferiores (que não seguiam a "verdadeira" religião judaica - que nesse tempo já era cheia do legalismo fariseu), enquanto Jesus viajava para aquela região ao norte, para mostrar que eles também receberiam a salvação se o aceitassem.
Esta foi a explicação que sempre conheci pela Bíblia e que ouvi de teólogos e historiadores.
Parabéns pela explicação! Obrigada pela aula de história bíblica!
ExcluirGostei bastante da matéria. Parabéns!
ResponderExcluirExcelente!!
ResponderExcluirGostei muito convencente
ResponderExcluirParabéns! Excelente esclarecimentos.
ResponderExcluirO último enriqueceu ainda mais.
Parabéns, pela matéria!
ResponderExcluirEnriquece o conhecimento.
Um forte abraço a todos!
Tenho orgulho da história do meu nome!
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