sexta-feira, 2 de junho de 2017

Dia Internacional da Prostituta - Conheça o diário de uma delas

No dia 2 de junho de 1975, 150 prostitutas ocuparam a igreja de Saint-Nizier, em Lyon, na França. Elas protestavam contra multas e detenções, em nome de uma guerra contra o rufianismo (atividade de quem tira proveito da prostituição alheia), e até contra assassinatos de colegas que sequer eram investigados. Ao romper o silêncio e denunciar o preconceito, a discriminação e as arbitrariedades, chamando a atenção para a situação em que viviam, as prostitutas de Lyon entraram para a história.

Conheça agora, o diário de uma prostituta que teve papel fundamental na história da humanidade.

03/01
Gostaria que todos me apreciassem pelo que sou de fato. Mas sinto que a maioria das pessoas só se interessa pela minha beleza. Se ao menos eu tivesse uma amiga, alguém que pudesse confiar os meus segredos...

11/01
Os prostíbulos são os lugares mais solitários do mundo. Ali, nada é humano; cada um age como se estivesse diante de um objeto. Havia algumas mulheres que fingiam que tudo aquilo era bom, mas agiam desta forma para não ficarem loucas. Quando se está afundado no lodo, parece que não existe nada além fora o lodaçal. Nenhuma prostituta sabe sair. É pior que a escravidão; é como estar morta em vida. A maioria se esconde atrás do sorriso e uma maquiagem berrante. Oh Deus! Como eu desejaria sair disto! Sinto que a vida é um abismo escuro e tétrico. Um despenhadeiro onde os dois extremos são o nascimento e a morte.

07/02
Sinto nojo quando me tocam. Alguns querem se achar os sedutores, atuando como se eu fosse a mulher mais linda do mundo. Desgraçados! A única coisa que lhes interessa é tomar o meu corpo e usar-me. Tocam a minha carne, mas não tocam a minha alma. Nesta hora, escondo-me no fundo de minha mente e corro atrás de sonhos e lembranças. Vêem, me tocam e vão embora. Ninguém pergunta quem eu sou. Hoje é mais um dia em que eu gostaria de estar morta.

22/03
Minha vida é um suicídio lento, tortuoso, fatalmente certeiro que vai me minando por dentro, tirando a minha vontade de viver, de enfrentar a vida. Às vezes, sinto que tenho 100 anos. Olho-me no espelho e vejo minhas carnes enrugadas, pálidas. Sinto que em mim habitam duas pessoas.

08/04
Nem todos os clientes querem ter relações sexuais. Alguns querem apenas um carinho, e pagam para que eu lhes escute. Que terrível! Seria preferível estar morto. Pagar para ser ouvido!

09/04
A maldita noite se aproxima. Com ela, um desejo de crueldade. A escuridão esconde as mais terríveis paixões. Durante o dia, sinto-me muitas vezes livre, mas quando a noite se aproxima, ouço o som da morte e do desprezo. Alguém tomará posse do meu corpo. Minha boca se encherá de veneno e meu corpo se renderá ao ritmo da loucura. Maldita noite! Deveria ser sempre dia...

15/06
Poderá Deus me perdoar algum dia? Sinto que levo em minhas costas uma grande pedra atada que não me abandona. Se ao menos eu pudesse dormir em paz.

17/06
Quando eu era menina, minha mãe me contava histórias. Ela dizia sobre um homem respeitado que viveu por essas terras durante muitos anos e que um Deus diferente o guiava por todos os lugares. Esse Deus não exigia sacrifícios humanos, nem nada disso. Ele se conformava com um cordeiro oferecido num altar de pedras. Nada além disso.

18/06
Lá está novamente o velhinho na praça contando aquelas histórias. Muitas crianças sentam-se ao redor dele para ouvir os contos. Hoje ele falou a respeito de um tal Abraão, que era filho de Deus, do Criador. Cheguei perto para ouvi-lo. Ouvi falar de Moisés, de Enoque e Noé. Achei interessante.

27/08
Hoje senti a brisa fresca da liberdade batendo no meu rosto. Recebi dois hebreus em minha casa. Escondi-os é claro, para que não fossem pegos. Eles foram a resposta aos meus clamores! Foram os primeiros homens que entraram em minha casa sem segundas intenções. Eles me falaram para colocar um pano vermelho em minha janela e prontamente obedeci. Percebi que o Deus deles estava me ajudando. Senti-me saindo do lodo. Depois de anos, o sol brilhou na meia noite da minha vida.

01/12
O Deus dos hebreus salvou a minha vida. Jericó ficou em ruínas, mas eu e a minha casa fomos preservadas. Ofereci a Ele um cordeiro. Devo a Ele minha vida. Acho que isso é fé!

04/04
Pela primeira vez em minha vida senti meu coração pulsar de fato. Conheci um homem e não apenas isso: um príncipe! O nome dele é Salmom. Acho que estou apaixonada. E o melhor, ele também! Estou amando de verdade. Parece um sonho! Nunca um príncipe apaixonou-se por uma ex-prostituta. Adeus ilusões! Como é lindo conhecer o amor. Ele quer se casar comigo. Estou tão insegura, mas feliz!

30/01
Hoje o dia foi intenso. Senti uma dor terrível. Nosso bebê não para de chutar. Após anos do casamento, nunca senti tão fortes emoções! Acho que está quase para nascer. Pelo jeito, deve ser menino. Se for, queremos o nome “Boaz”! Bonito, não? O que acha diário? Significa “Nele está a minha força”.
“Pela fé, Raabe, a meretriz, não pereceu com os incrédulos, acolhendo em paz os espias.” (Hebreus 11:31)
Raabe era uma prostituta que morava numa casa sobre o muro de Jericó. Ela ocultou dois espias israelitas enviados para verificar as defesas daquela cidade. Por causa de sua bondade para com eles, e sua declaração de crença em Deus, os espias prometeram que a vida de Raabe e seus familiares seria poupada quando ocorresse o ataque a Jericó. (Josué 2)

Somos propensos, muitas vezes, a pensar que Deus, para ser justo, deve restringir Sua oferta de salvação apenas às pessoas moralmente dignas. Mas a mensagem bíblica, revelada tanto no Antigo Testamento como no Novo, é que a oferta de salvação é extensiva a todos os pecadores. São de Cristo as palavras: “Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes. Não vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento” (Lc 5:31 e 32). Em Isaías 1:18 é apresentado o convite: “Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã.”

A experiência da prostituta Raabe é uma das mais belas histórias de salvação pela graça “mediante a fé” (Ef 2:8) encontradas nas páginas do Antigo Testamento. Como Abraão foi justificado pela fé (Gn 15:6; Rm 4), e essa fé se evidenciou na prática de boas obras (Tg 2:21-24), assim também o foi Raabe. Hebreus 11:31 declara que “pela fé, Raabe, a meretriz, não foi destruída com os desobedientes, porque acolheu com paz aos espias”. E Tiago 2:25 acrescenta que a fé dessa mulher foi genuína porque resultou na prática de boas obras.

Mas o fato da vida de Raabe ser poupada, sendo ela uma prostituta e havendo mentido aos emissários do rei de Jericó, não significa que Deus estivesse sancionando tais pecados explicitamente condenados no Decálogo (ver Êx 20:14 e 16). Nesse incidente, Deus manifestou Sua graça salvadora a uma prostituta possuída de uma fé genuína, com o propósito de salvá-la de sua vida de pecado. O mesmo poder regenerador que atuaria na vida da “mulher adúltera”, durante o ministério terrestre de Cristo (Jo 8:1-11), também transformou a vida da prostituta Raabe. E o mesmo amor compassivo que perdoaria as mentiras do pretensioso apóstolo Pedro (Mc 14:27-31; 66-72) também perdoou a mentira de Raabe.

Todos os habitantes da cidade [de Jericó], com todo o ser vivo que nela se continha, “desde o homem até à mulher, desde o menino até ao velho, e até ao boi e gado miúdo, e ao jumento”, passaram ao fio da espada. Apenas a fiel Raabe, com sua casa, foi poupada, em cumprimento da promessa dos espias. A cidade foi queimada.

O mais bonito é ver como dessa fé nasceu a esperança para o mundo, Raabe faz parte da genealogia do Salvador do mundo.

[Filhas de Deus, Ellen White / Daughters of Grace, Trudy J. Morgan-Cole]

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