terça-feira, 6 de junho de 2017

Precisamos falar sobre a vaidade no meio cristão

Recentemente circulou pela minha timeline algumas vezes um texto intitulado “Precisamos falar sobre a vaidade no meio acadêmico”. Não li porque não integro o tal meio acadêmico, mas aproveito o gancho porque o meio cristão eu integro, e sei por experiência própria que o assunto é tão ou mais pertinente cá como lá.

No último mês, minha igreja me cedeu o púlpito e sei bem o tipo de comentário que eu esperava em meu íntimo receber ao final da mensagem. Sei bem aquele sentimento insidioso que me assaltava na hora de preparar a mensagem: a vontade de primeiro “parecer inteligente” e só depois, se desse, transmitir o recado certo. Sei bem a bipolaridade que me faz irascível com minha família imediatamente após haver sido usado por Deus. E aquele ciúme quando é outro que está falando, a quantidade de vezes que me ocorre algo como “bah, eu faria melhor!”, o despeito quando não sou eu o chamado ou quando o texto não é lido. Conheço a tentação e desconfio que não é só comigo.

Na última semana, encontrei Tiago Arrais em uma festa. O cara é um dos primeiros casos em nosso meio de algo parecido com um popstar. Famoso, lota teatros por onde vai, dialoga com e transita entre gente de muito mais nichos além do espaço restrito de nossa denominação Adventista. Imagino a tentação em proporções muito mais explosivas para ele do que para mim. Mas o cara que conheci não parecia nada disso. Simpático, simples, fazendo questão de ouvir, recebendo nossa pequena tietagem com humildade.

O segredo para uma atitude correta, no caso dele, além da óbvia comunhão com Deus, parece estar na base teórica que veio antes da fama e que transparece em letras de músicas que falam coisas como “me esvazie de mim e deste mundo/ e que meu nome morra com meu corpo/ e que o de Cristo permaneça em tudo” (Os Arrais - Oração).

É a teoria que deflui da simples constatação do contraste entre tudo o que somos e podemos ser com tudo o que Cristo na cruz é. É a constatação que faz Paulo afirmar que temos um tesouro guardado em vasos de barro (II Corintios 4:7).

Precisamos falar sobre a vaidade no meio cristão porque ela é real e porque o tesouro vale muito e porque o vaso é sempre barro, barro ordinário. Aquele insight não é meu. Aquele talento não é razão para me achar de algum modo superior. Aquele carisma que eu lutei para desenvolver é lixo se não for para honra e glória de Jesus Cristo. Aquele espírito de desprendimento e serviço são trapos sujos se não apontarem ao Salvador. Pretender me vestir com eles é a pior idiotice que eu poderia cometer.

Oremos por todos que entram sob o holofote de alguma forma. Oremos para que venham mais pessoas que possam, com a atitude certa, entrar sob os holofotes (Lucas 10:2). E oremos para que também nós desejemos honestamente que o nosso nome morra com nosso corpo, se for para glória de Quem realmente a merece. Amém.

Marco Aurélio Brasil (via Nova Semente)
"Nada é tão ofensivo a Deus nem tão perigoso para o espírito humano como o orgulho e a presunção. De todos os pecados é o que menos esperança incute, e o mais irremediável. Quando vemos a nós mesmos como realmente somos: fracos, ignorantes e desamparados, comparecemos diante de Deus como humildes suplicantes. É o desconhecimento de Deus e de Cristo que torna as pessoas orgulhosas e virtuosas aos seus próprios olhos. A infalível indicação de que um homem não conhece a Deus reside no fato de achar que, por si mesmo, é grande ou bom. A altivez de coração está sempre ligada ao desconhecimento de Deus. É a luz da parte de Deus que manifesta nossa ignorância e miséria. No momento em que o humilde investigador vê a Deus como Ele é, não haverá nenhuma exaltação da alma para o lado da vaidade, mas profundo senso da santidade de Deus e da justiça de Seus preceitos." (Ellen White, E Recebereis Poder, 27)

Um comentário:

  1. Nossa muito bom ! Minha oração também é para que Deus tire de mim tudo aquilo que não demonstre quem Ele é.

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