sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Igreja Adventista discute identidade de gênero segundo a ciência e teologia

Uma intensa discussão se iniciou nas redes sociais logo após o discurso de posse de Damares Alves, filmada pedindo atenção de seus apoiadores. Na ocasião, quando todos estão atentos, ela comemora: “É uma nova era no Brasil. Menino veste azul e menina veste rosa”. O vídeo viralizou e até virou meme.

Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos do governo de Jair Bolsonaro (PSL) explicou o que quis dizer. De acordo com ela, a intenção era se posicionar contra a “ideologia de gênero”.

“Fiz uma metáfora contra a ideologia de gênero, mas meninos e meninas podem vestir azul, rosa, colorido, enfim, da forma que se sentirem melhores”, disse Damares.

Na cerimônia de posse, a ministra utilizou seu tempo de fala para reafirmar falas que já havia feito antes. Ela afirma pretender acabar com o “abuso da doutrinação ideológica de crianças e adolescentes no Brasil”, assegurando que “a revolução está apenas começando”.

Sob muitos aplausos, Damares Alves declarou que vai governar com “princípios cristãos”. “No que depender do governo, sangue inocente não será derramado neste País. Este é o ministério da vida”, continuou. “O Estado é laico, mas esta ministra é terrivelmente cristã”. Assista ao vídeo aqui.

O tema da identidade de gênero é um dos mais discutidos no mundo atualmente e foi objeto de um programa transmitido por adventistas no Facebook em 2017. A conversa contou com a participação de dois especialistas. O teólogo e doutor em Ciências da Religião, Adolfo Suárez, e o psiquiatra e psicoterapeuta César Vasconcellos, dialogaram sobre o que a Bíblia e a ciência na área médica falam a respeito do tema e tiraram dúvidas de dezenas de internautas que tiveram a oportunidade de perguntar ao vivo.

A doutora em psicologia, Cláudia Bruscagin, que não participou da conversa ao vivo, mas foi ouvida pela reportagem da Agência Adventista Sul-Americana de Notícias (ASN) sobre a temática, comenta que as famílias precisam estar abertas a dialogar sobre o assunto em casa, mas não de forma jocosa, pejorativa e preconceituosa. “A adolescência em si já é uma fase de grandes questionamentos em todos os níveis. Se o adolescente não encontra espaço para seus questionamentos e dúvidas em casa, hoje em dia ele também não vai perguntar para os amigos, ele vai direto para a internet e vai vasculhar e encontrar de tudo, com todo tipo de explicações, mas principalmente vai ver youtube ou blogueiros explicando como bem entendem”, ressalta.

Claudia Bruscagin destaca, ainda, que “essas questões já aparecem no dia a dia das crianças pequenas, que vão chegar à adolescência com uma visão própria (influenciada pela família, escola, amigos e mídias) do que sejam as inúmeras maneiras de viver sua sexualidade e de que formas vão se comportar no mundo dentro daquilo que construíram como sua identidade de gênero”.

A doutora em psicologia salienta que o tema da identidade de gênero pode ser visto por diferentes ângulos como as ciências biológicas, sociais e humanas. E que as abordagens diferem por conta disso. “Cada uma dessas áreas tem uma maneira diferente de olhar para aquilo sobre o que se debruça para estudar. O complicado é que cada uma dessas teorias tem seu próprio olhar para explicar seu objeto de estudo e nem uma é completa sozinha. A diferença entre sexos é um princípio classificatório em todas as sociedades. Porém, a identidade de gênero apresenta a questão social dessa diferença”, afirma.

Sob o ponto de vista teológico, o doutor Adolfo Suárez, durante a transmissão, ressaltou que, conforme o texto bíblico de Gênesis, a cosmovisão aponta para uma criação divina de dois sexos bem claros: homem e mulher. Sobre a separação entre gênero e sexo, Suárez, usando a Bíblia como referência, salientou que não existe dualismo entre mente e corpo e “a Bíblia não dá margem para esse gênero físico ou psicológico. Na mentalidade bíblica, o ser humano é uma unidade indivisível”.

O psiquiatra César Vasconcellos, por sua vez, contribuiu na transmissão feita pela Igreja no Facebook com a visão médica e explicou que biologicamente não existe um terceiro sexo. “Corpo e cérebro funcionam unidos. Biologicamente falando, a gente vê que existe homem e mulher. Um menino ou uma menina podem desenvolver alguns pensamentos que a gente chama de disforia de gênero. A disforia é uma alteração do sentimento que a pessoa tem e que vem de repente. Ela vai ter pensamentos depressivos, emoções tristes, vai ter angústia, ansiedade, aflição e isso gerado pela dificuldade que ela tem ou angústia que ela tem porque eu estou em um corpo de homem, mas me sinto como mulher ou estou em um corpo de mulher e me sinto como um homem”, afirmou o médico.

Veja a conversa completa transmitida pela Igreja: (via ASN)


O prof. Leandro Quadros também abordou este assunto...

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