No anoitecer do último 15 de abril, o fogo consumiu um edifício histórico na ilha do rio Sena, no centro de Paris, a capital da França. Não se tratava de qualquer edifício. Construída a partir de 1163, a Catedral de Notre-Dame era possivelmente o monumento mais visitado do mundo. Cerca de 13 milhões de pessoas iam anualmente conhecê-la, mais do que o dobro de turistas que visitam anualmente o Brasil. Se o ponto turístico foi danificado grandemente, a história profética que ele representa precisa ser edificada na mente de todos, mesmo dos que jamais conhecerão o templo consumido pelas chamas.
Os 856 anos de história da Notre-Dame são a continuação de uma história mais antiga. O local sediou na Antiguidade um templo pagão dedicado a Júpiter, construído provavelmente na época de Tibério César, o imperador romano dos dias de Cristo (Lc 3:1). Em 508, Clóvis, rei dos francos, tornou-se o primeiro rei católico romano após a queda do Império Romano do Ocidente. Ele fundou a França com praticamente as mesmas fronteiras de hoje e fez de Paris sua capital. Sua conversão ao catolicismo romano marca o início da simbiose entre a Igreja Católica Romana e as nações da Europa Ocidental, uma união predita na profecia bíblica, que duraria 1.260 anos (Nm 14:34; Ez 4:7; Dn 7:25; 12:7; Ap 11:2, 3; 12:6, 14; 13:5). O filho de Clóvis e sua esposa Clotilde, Quildeberto, reinou na França entre 511 e 558. Seguindo a orientação do bispo Ambrósio de Milão, de transformar santuários pagãos em templos católicos, Quildeberto transformou o templo da ilha no rio Sena na catedral de Paris.
Esse rei extremamente católico combateu e venceu outras tribos bárbaras cujos reis não eram católicos, e matou em 531 seu cunhado Amalarico, rei dos visigodos, porque este seguia a heresia do arianismo. Essa vitória do catolicismo sobre os reis não católicos estava prevista na profecia Daniel 7:8. A ascensão do chifre pequeno (catolicismo romano) arrancaria três chifres (as tribos bárbaras não católicas), estabelecendo a hegemonia da Igreja Romana no Ocidente. Quildeberto começou a colecionar relíquias de santos, uma prática que produziu muita superstição e misticismo durante a Idade Média. Um incêndio destruiu a catedral em 857.
Luís VII, rei francês conhecido como “o piedoso”, iniciou a construção da nova catedral de Paris, dedicada à Nossa Senhora (Notre-Dame, em francês), após a visita do papa Alexandre III à França em 1163. A construção terminou em 1345. Já o rei Luís IX, que foi canonizado pela Igreja Católica, adquiriu por altíssimo preço em 1238 a suposta coroa de espinhos que Jesus Cristo teria usado das mãos de Balduíno II, rei latino de Constantinopla, falido com os gastos nas cruzadas para reconquistar a costa oriental do Mediterrâneo dos muçulmanos. A relíquia foi guardada na Catedral de Notre-Dame, junto com milhares de outros supostos objetos sagrados. Na Idade Média, quando relíquias eram expostas ao público, concedia-se perdão dos pecados aos que se confessassem (O Grande Conflito, p. 129).
A Catedral de Notre-Dame, baluarte do catolicismo, foi frequentada por homens que posteriormente contribuíram para minar a supremacia católica. Jacques Lefrève, Guilherme Farel, João Calvino, Pierre de Olivetán e Luís de Berquin viveram em Paris enquanto eram católicos convictos, e participaram de missas na catedral. Ao pesquisar a Bíblia, esses reformadores contestaram as práticas não bíblicas da Igreja de Roma e fundaram a Igreja Reformada. A divisão religiosa não foi bem aceita pelos monarcas franceses. Os huguenotes (cristãos protestantes franceses) foram exilados e martirizados. Em 21 de janeiro de 1535, o rei Francisco organizou uma grande procissão em Paris, que culminou na Catedral de Notre-Dame, onde solenemente jurou extirpar o protestantismo da França (O Grande Conflito, p. 229).
Foi na Catedral de Notre-Dame que se casaram em 1558 Maria Stuart da Escócia com o delfim Francisco II. Viúva no ano seguinte, ela voltou à Escócia para assumir o reinado daquele país. Uma das marcas de seu governo foi a intolerância religiosa, já que ela queria a todo custo eliminar o protestantismo da Escócia e assumir o trono da Inglaterra, governado por sua prima Isabel, com o fim de restaurar o poderio católico romano em toda a Grã-Bretanha. O reformador João Knox enfrentou duros embates com Maria Stuart, defendendo perante ela a autoridade bíblica (Mt 10:18; O Grande Conflito, p. 251).
Em 18 de agosto de 1572, a irmã do rei da França, a católica Margarida, casou-se na Catedral de Notre-Dame com o príncipe Henrique, filho de uma protestante. O ato parecia representar tolerância, mas não foi bem assim. Uma semana depois, em 24 de agosto, ocorreu o Massacre da Noite de São Bartolomeu, que tirou a vida de 70 mil protestantes. Quando o mesmo Henrique IV já era rei da França, ele tornou-se definitivamente protestante, e os membros da Liga Católica juraram na Catedral de Notre-Dame em 1590 que jamais o reconheceriam como rei. Henrique somente conseguiu reassumir o trono quando abjurou o protestantismo. Mesmo assim, decretou o Édito de Nantes, concedendo liberdade religiosa. O édito foi revogado em 1685, o que ocasionou a fuga de muitos protestantes franceses para a América do Norte. Um nobre protestante, o Visconde de Turrene, foi batizado no catolicismo na Catedral de Notre-Dame.
Esses atos de intolerância religiosa de que a catedral parisiense foi cenário em primeiro plano foram descritos antecipadamente em diversas profecias bíblicas, especialmente Daniel 7 e Apocalipse 11 e 12. As passagens predizem que um poder religioso apóstata oprimiria com a força do estado os servos fiéis de Deus durante 1.260 anos. A situação dos cristãos que desejavam viver conforme a Bíblia foi predita no Apocalipse como uma fuga para o “deserto” (Ap 12:6), e seu êxodo para a América do Norte é profetizado da seguinte maneira: “a terra [América do Norte], porém, socorreu a mulher [igreja perseguida]” (Ap 12:16). O tempo de perseguição profetizado se estendeu entre 538 e 1798.
Nos últimos anos desse período, novamente Notre-Dame foi palco do cumprimento de profecias. Os fatos representados em Apocalipse 11 se cumpriram durante a Revolução Francesa, entre 1789 e 1798. Durante o Reinado do Terror, o culto a Deus foi proibido. Em 10 de novembro de 1793, uma prostituta coberta apenas por um véu foi aclamada a “deusa da razão” perante a Assembleia Nacional Francesa. O presidente da assembleia despiu-a do véu, deixando-a nua, e a conduziu em uma procissão até a Catedral de Notre-Dame. Ali a dançarina foi adorada pelos revolucionários como a “deusa da razão”, num culto blasfemo. No mesmo dia, Bíblias confiscadas foram queimadas. Possuir uma Bíblia implicava pena de morte ao seu dono. 50 mil pessoas morreram naquela noite em toda a França. Durante três anos e meio, até junho de 1797, a religião cristã, em todas as suas manifestações, foi proibida no que havia sido o mais antigo reino católico romano do mundo. O período cumpriu à risca a profecia de Apocalipse 11:9 (ver O Grande Conflito, p. 265-288).
Apesar da reabilitação dos cultos religiosos na França, isso não significou o fim do anticlericalismo revolucionário. Os revolucionários franceses estavam guerreando na Itália contra as tropas dos Estados Papais, o país governado pelo papa. Em 10 de fevereiro de 1798, o general Luís Alexandre Berthier exigiu que o papa Pio VI abdicasse de seus poderes temporais. Diante da recusa do pontífice, este foi preso dez dias depois, e permaneceu encarcerado até seu falecimento no ano seguinte. Os jornais franceses publicaram a notícia de sua morte com a manchete: “Pio VI e último”. O evento foi profetizado em Apocalipse 13:3 por meio do símbolo de uma das cabeças da besta que subia do mar ter sido golpeada mortalmente. O novo papa, Pio VII, só pôde ser eleito em 14 de março de 1800. Roma ficou mais de dois anos sem papa, e o novo pontífice tinha muito menos poder político que todos os seus antecessores.
Na tentativa de salvar o catolicismo romano dos golpes que recebera, Pio VII acabou fazendo concessões que diminuíram mais ainda o poder de sua função. Pio VII esteve em Paris em 2 de dezembro de 1804, para a coroação de Napoleão Bonaparte como imperador dos franceses. Durante a cerimônia, realizada na Catedral de Notre-Dame, Napoleão tomou a coroa das mãos do papa e coroou-se a si mesmo, e em seguida coroou a imperatriz Josefina. O gesto arrogante tinha um significado político claro: o papado não estava mais acima do poder político; isso foi uma evidente concretização do término do período de 1.260 anos de supremacia papal predito na Bíblia.
O fogo consumiu o telhado e grande parte da catedral gótica. A Bíblia também afirma que, em breve, todas as demais construções humanas serão consumidas pelas chamas por ocasião da segunda vinda de Cristo à Terra (2Pe 3:7). Notre-Dame, palco do cumprimento de tantas profecias bíblicas, antecipa, com seu incêndio, a ocasião em que Deus intervirá na história para destruir o mundo, renovar a Terra, ressuscitar milhares de mártires e cristãos perseguidos, e condenar em juízo todos os opressores de todos os séculos.
Fernando Dias (via Revista Adventista)
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