Selfie perfeita, corpo perfeito, a busca por likes nas redes sociais. A insatisfação com o corpo, por exemplo, é algo comum entre os jovens e a obsessão pela beleza faz com que a pessoa dê à sua imagem uma importância maior do que ela realmente deve ter. A imagem torna-se algo mais importante que a própria saúde. Mas quais os limites seguros da vaidade?
A nossa sociedade líquida exerce pressão sobre o corpo humano, onde surgem os sintomas do corpo que se expressa em uma fala “velada”. Nessa fala oculta, o inconsciente mostra que habita no corpo: o discurso hipocondríaco, a linguagem histérica e o distúrbio psicossomático, que se revelam em anorexia, bulimia, vigorexia e outras patologias. Todas oriundas de cobranças absurdas sobre o corpo, que em alguns casos têm levado a morte ou o suicídio de mulheres e garotas.
Em Dublin, Irlanda, uma menina de 11 anos, foi encontrada em estado crítico no quarto depois de tentar suicídio. Ao ser levada para o hospital, ela não resistiu e morreu. Antes se cortou e escreveu com o sangue: “Garotas bonitas não comem”. Outro caso é o da bancária, de 46 anos, que morreu após sofrer uma cirurgia estética na casa de um médico, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Hoje as estratégias de manipulação sobre o corpo que fala, mas que também “grita,” está na mira de uma força mediática e narcísica que produz um quadro psicopatológico, que debilita os sujeitos em relação ao seu corpo.
As pessoas que se orientam pelo culto ao corpo buscam nas “ofertas” da medicina estética e da indústria de cosméticos uma incessante repaginação corporal. Essa concepção do corpo escultural é recriada a todo o momento pela mídia, como ideal de uma vida feliz.
Isso cria no imaginário coletivo de homens e mulheres, sobretudo, de jovens, que um corpo “sarado” será mais aceitável em novos relacionamentos, uma vez que pessoas obsessivas pelo corpo perfeito exigem do outro também um corpo perfeito.
Essas relações terão problemas para estabelecer uma conexão saudável, porque tudo gira ao redor do corpo, colocando os princípios morais, espirituais e psicológicos em último plano. Porém, é só através do corpo, mente e espírito livres de disfunções de qualquer natureza, emancipados pela inteligência emocional, que não aceita que o corpo se curve diante das bizarras dietas, das invasivas cirurgias estéticas, da erotização perversa, da opressão econômica e dos apelos para o consumo de drogas e álcool.
A resposta para isso é cuidar do corpo com gentileza por meio da higiene adequada, da alimentação saudável, do uso certo dos medicamentos, da prática orientada de exercícios físicos, como o caminho para evolução da nossa saúde psíquica e espiritual. O que nos permitirá interagir com o mundo material e sensorial de modo equilibrado.
Assim, a nossa maior tarefa psicoespiritual é dizer não a “coisificação” do corpo, cuidando dele com respeito, para que possamos vencer os desafios do cotidiano, sem entrar na neurose do corpo perfeito, mas esgotado na sua subjetividade e alienado pelas doenças da alma. [1]
Vejamos o que diz Ellen G. White à respeito do sagrado templo do corpo:
Aquela perfeição de caráter que o Senhor requer é o ajustamento de todo o ser como um templo para a habitação do Espírito Santo. Deus não aceitará nada menos que o serviço de todo o organismo humano. Não basta pôr em ação certas partes do mecanismo vivo. Todas as partes precisam trabalhar em perfeita harmonia, do contrário o serviço será deficiente. É assim que o homem se habilita a cooperar com Deus no apresentar Cristo ao mundo. Assim Deus deseja preparar um povo para estar diante dEle puro e santo, para que os possa introduzir na sociedade dos anjos celestes.
Foi-nos confiada a mais solene mensagem que já foi dada ao nosso mundo, e o objetivo a ser mantido clara e distintamente diante de nosso espírito, é a glória de Deus. Cuidemos em que não façamos coisa alguma que enfraqueça a saúde física, mental e espiritual, pois Deus não aceitará um sacrifício manchado, enfermo, corrupto. Importa exercer cuidado no comer, beber, vestir e trabalhar, não seja que diminuamos nossa eficiência.
É nosso dever exercitar e disciplinar o corpo a fim de prestarmos ao Mestre o mais elevado serviço possível. Não devemos ser dominados pela inclinação. Não devemos satisfazer o apetite e condescender com o uso daquilo que não nos faz bem, simplesmente porque nos agrada ao paladar; tampouco devemos procurar viver no plano da fome, com a ideia de que nos tornaremos espirituais, e que Deus será glorificado. Cumpre-nos usar a inteligência que Deus nos concedeu a fim de sermos perfeitos no corpo, na alma, e no espírito, para possuirmos caráter simétrico, mente equilibrada, e fazermos obra perfeita para o Mestre.
O sagrado templo do corpo deve ser conservado puro e incontaminado, para que o Santo Espírito de Deus nele possa habitar. [2]
Nosso corpo pertence a Deus. Ele pagou o preço da redenção pelo corpo tanto quanto pela alma. "Acaso, não sabeis... que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo" (1Co 6:19 e 20). "O corpo não é para a impureza, mas, para o Senhor, e o Senhor, para o corpo" (1Co 6:13).
Deus é o grande operador e vela sobre a maquinaria humana, mantendo-a em movimento. Não fosse o Seu constante cuidado, o pulso não bateria, a ação do coração cessaria, o cérebro não mais desempenharia a sua parte.
No cuidado de nosso corpo precisamos cooperar com Ele. Amor a Deus é essencial para a vida e saúde. Para termos perfeita saúde nosso coração precisa estar cheio de amor, esperança e felicidade. [3]
Referências
[1] Jackson César Buonocore (via Conti Outra)
[2] Ellen G. White, Cuidado de Deus, p. 110
[3] Ellen G. White, Medicina e Salvação, p. 291
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