Ellen G. White em cena do filme Como tudo começou (assista abaixo) |
Eles haviam sido despertados para a espera da segunda vinda de Jesus por meio dos sermões e da exposição bíblico-escatológica do pregador leigo Guilherme Miller. Ele era um fazendeiro batista, autodidata em história universal e estudioso da Bíblia, cuja atenção se concentrou na cronologia bíblica, especialmente em relação às profecias de Daniel e Apocalipse.
Baseado no texto de Daniel 8:14, Miller chegou à conclusão que a purificação do santuário ali mencionada significava a purificação da terra pelo fogo. E que isso significava, portanto, a volta de Jesus ao mundo, de maneira pessoal e visível no dia 22 de outubro de 1844.[1]
Miller começou a pregar publicamente a partir de 1831[2], e o fazia de maneira convicta e tão persuasiva. Aonde quer que fosse, surgia um reavivamento espiritual. Porém, sua intenção nunca foi fundar uma nova igreja, mas advertir o mundo acerca da breve vinda de Cristo para que todos pudessem ser salvos.
Movimento que cresceu
Entre os anos 1838 a 1841, Miller recebeu o apoio de Josias Litch, Josué Himes (coordenador do movimento), Carlos Fitch e Silvestre Bliss que contribuíram para que suas pregações alcançassem as cidades grandes e tomassem âmbito nacional. Em um período de 12 anos, Miller chegou a pregar cerca de 4.500 sermões sobre a breve volta de Jesus.[3]
Um grande grupo de cristãos de várias denominações, estimado entre 50 a 100 mil pessoas, e entre 700 a 2000 pastores[4] creram nas pregações de Miller e se uniram a ele na proclamação da breve volta de Jesus, dando forte impulso ao “movimento milerita”.
No início do movimento, o tema da breve volta de Jesus foi bem aceito e resultou em reavivamento nas igrejas. Com a crescente expansão, os mileritas foram tolerados e os pastores aliados ao movimento tiveram de escolher entre seguir crendo na breve volta de Jesus ou deixar definitivamente o ministério. Os membros de suas igrejas acabaram sendo expulsos ou decidiram deixar as igrejas voluntariamente.
E quando o tão esperado dia – 22 de outubro de 1844 – chegou, eles esperaram até a meia-noite, mas Jesus definitivamente não veio. Ainda perseveraram até a manha do dia 23 de outubro de 1844, contudo sofreram uma grande desilusão, o chamado Grande Desapontamento.
Como resultado, os fiéis crentes mileritas ficaram desorientados, e sofreram grande zombaria e escárnio. O movimento entrou em crise e sofreu um processo de perda de identidade e todos acabaram sendo confrontados com a pergunta: Por que Jesus não veio?
Algum tempo depois, surgiram entre os mileritas diferentes tentativas de explicar o que havia acontecido, mas que finalmente causou a divisão do movimento e o surgimento de pelo menos quatro pequenos grupos:
(1) Os que descreram completamente na volta de Jesus e abandonaram a fé.
(2) Os que deram uma interpretação simbólica e espiritualista ao acontecimento, passando a ensinar que Cristo viera em Espírito e o milênio havia começado.
(3) Os que marcaram novas datas para a segunda vinda de Cristo.
(4) Os que, mesmo sem entender por que Jesus não havia voltado, perseveraram no estudo da Bíblia e na oração.
O movimento milerita surgiu como uma iniciativa profética levantada por Deus para cumprir a profecia de Apocalipse 10:8-11.
Curiosidade
O que aconteceu com Guilherme Miller após o grande desapontamento?
Miller foi excluído da Igreja Batista. Ele procurou fortalecer a fé dos desapontados e manteve a fé na breve volta de Jesus pelo resto da vida. Escreveu poucas cartas a amigos pastores. Publicou artigos na revista The Advent Herald e participou de assembleias em Low Hampton e Albany, nos Estados Unidos, com o objetivo de reunificar os mileritas. Porém, seus esforços afetaram fortemente a sua saúde. A partir de abril de 1849, ele não conseguia mais se levantar da cama. Guilherme Miller faleceu aos 67 anos no dia 20 de dezembro de 1849, e foi sepultado no pequeno cemitério perto da sua casa em Low Hampton, Estado de Nova Iorque.
Aplicação espiritual
Como você lida com desapontamentos?
Nossos irmãos mileritas depositaram suas esperanças em um acontecimento, uma data e foram amargamente frustrados. Em nossa vida também enfrentamos desapontamentos. Fazer uma pausa, olhar para trás, refletir sobre o que aquela situação trouxe de aprendizado, abrir o coração a Deus em oração e perseverar são formas sábias de reagir a desapontamentos.
Edegar Link (via Resgatando a História)
Sugestão para leitura adicional:
Knight, George. Adventismo – Origem e Impacto do movimento Milerita. Casa Publicadora Brasileira, 2014.
Schwarz, Richard W.; Greenleaf, Floyd. Portadores de Luz: História da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2016.
Referências
[1] Em princípio, Miller acreditava que Jesus voltaria entre a primavera de 1843 e 1844, sem fixar uma data exata. Mas acabou sendo influenciado principalmente pela interpretação da profecia dos 2300 anos de Samuel Snow para chegar a data de 22 de outubro de 1844. Veja mais detalhes em: C. Mervyn Maxwell. História do Adventismo, p. 30-32.
[2] Para saber mais detalhes veja: Everett Dick. Fundadores da Mensagem, p. 20.
[3] Everett Dick. Fundadores da Mensagem, p. 24.
[4] C. Mervyn Maxwell. História do Adventismo, p. 19.
"O assunto do santuário foi a chave que desvendou o mistério do desapontamento de 1844. Revelou um conjunto completo de verdades, ligadas harmoniosamente entre si e mostrando que a mão de Deus dirigira o grande movimento do advento. Os adventistas admitiam, nesse tempo, que a Terra, ou alguma parte dela, era o santuário. Entendiam que a purificação do santuário fosse a purificação da Terra pelos fogos do último grande dia, e que ocorreria por ocasião do segundo advento. Daí a conclusão de que Cristo voltaria à Terra em 1844. Mas o tempo indicado passou e o Senhor não apareceu. Os crentes sabiam que a Palavra de Deus não poderia falhar; deveria haver engano na interpretação da profecia; onde, porém, estava o engano? Aprenderam, em suas pesquisas, que não há nas Escrituras prova que apoie a ideia popular de que a Terra é o santuário; acharam, porém, na Bíblia uma completa explicação do assunto do santuário, quanto à sua natureza, localização e serviços. Os que seguiram a luz da palavra profética viram que, em vez de vir Cristo à Terra, ao terminarem em 1844 os 2.300 dias, entrou Ele então no lugar santíssimo do santuário celeste, a fim de levar a efeito a obra final da expiação, preparatória à Sua vinda. Então, no lugar santíssimo, contemplaram de novo seu compassivo Sumo Sacerdote, prestes a aparecer como Rei e Libertador. Seguindo-O pela fé, foram levados a ver também a obra final da igreja. Obtiveram mais clara compreensão das mensagens do primeiro e segundo anjos, e ficaram habilitados a receber e dar ao mundo a solene advertência do terceiro anjo de Apocalipse 14" (Ellen G. White - A Fé Pela Qual Eu Vivo, pp. 282-283).
Sobre a origem do movimento, veja o filme Como tudo começou:
Sobre a origem do movimento, veja o filme Como tudo começou:
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