quinta-feira, 20 de maio de 2021

O DEMÔNIO DO MEIO-DIA

Apesar de soar agressivo, o título deste post foi extraído do Salmo 91:5, 6, na versão Douay-Rheims. O texto diz: “[…] tu não terás medo do terror da noite, da seta que voa de dia, da peste que anda no escuro, da invasão ou do demônio do meio-dia”. O escritor norte-americano Andrew Solomon se inspirou nesses versículos para dar nome a uma de suas principais obras: O Demônio do Meio-Dia: Uma anatomia da depressão (2000). Este livro aborda de forma visceral a depressão, este demônio paralisante que adormece sonhos e desejos. Seu livro, de uma escrita profunda e sensível, repele o preconceito sobre essa doença que assombra tantas almas.

Depressão é uma doença psiquiátrica crônica e recorrente que produz uma alteração do humor caracterizada por uma tristeza profunda, sem fim, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa, assim como a distúrbios do sono e do apetite.

É importante distinguir a tristeza patológica daquela transitória provocada por acontecimentos difíceis e desagradáveis, mas que são inerentes à vida de todas as pessoas, como a morte de um ente querido, a perda de emprego, os desencontros amorosos, os desentendimentos familiares, as dificuldades econômicas etc.

Diante das adversidades, as pessoas sem a doença sofrem, ficam tristes, mas encontram uma forma de superá-las. Nos quadros de depressão, a tristeza não dá tréguas, mesmo que não haja uma causa aparente. O humor permanece deprimido praticamente o tempo todo, por dias e dias seguidos. Desaparece o interesse pelas atividades que antes davam satisfação e prazer e a pessoa não tem perspectiva de que algo possa ser feito para que seu quadro melhore.

A depressão é uma doença incapacitante que atinge por volta de 350 milhões de pessoas no mundo. Os quadros variam de intensidade e duração e podem ser classificados em três diferentes graus: leves, moderados e graves. Além disso, ela também pode atingir crianças e adolescentes.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), antes da pandemia, o Brasil já era o país mais ansioso do mundo e, também, apresentava a maior incidência de depressão da América Latina, impactando cerca de 12 milhões de pessoas. Durante a pandemia, a situação se agravou: estudo realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UEFJ) revelou um aumento de 90% nos casos de depressão. Já o número de pessoas com crises de ansiedade e sintomas de estresse agudo praticamente dobrou entre março e abril de 2020. 

De acordo com a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), a saúde mental é uma das áreas mais negligenciadas da saúde pública. Conforme o site da organização, os governos gastam em média apenas 2% de seus orçamentos de saúde em saúde mental. Em muitos países, existe pouco ou nenhum investimento para tratar pessoas com transtorno desse tipo.

A primeira opção de tratamento que as pessoas buscam são os medicamentos antidepressivos. Em geral, esses medicamentos apresentam efeitos adversos e não resolvem o problema em todos os casos. Os medicamentos diminuem os sintomas depressivos, mas na verdade não curam o problema. Menos de 20% das pessoas que tomam antidepressivos se dizem curadas durante o tratamento, e 25 a 30% delas não melhoram com medicação nenhuma.

Não importa quais forem as causas, a depressão tem solução. Porém, muitas vezes o segredo não está na farmácia ou no médico, mas numa maneira diferente de pensar e viver, na adoção de um estilo de vida saudável, na correção de pensamentos distorcidos e na resolução das causas e conflitos.

Oito princípios de saúde vão ajudá-lo a sair da depressão e fortalecer o lobo frontal do cérebro. Estudos têm mostrado que a dieta vegetariana melhora a depressão, diminui a ansiedade, reduz o estresse e ainda promove relacionamentos interpessoais mais saudáveis. Além da dieta, exercício físico e abstinência de cafeína, álcool e cigarro também contribuem para a cura. As massagens e os tratamentos hidroterápicos contribuem para a melhora da circulação e produção de endorfinas e serotonina. Plantas medicinais com propriedades antidepressivas, usadas a critério médico, também podem ajudar.

Cultive pensamentos saudáveis. Ao reconhecer pensamentos distorcidos que influenciam negativamente seus sentimentos, você pode substituí-los pela verdade, provocando uma mudança do funcionamento cerebral. A depressão não é somente um assunto médico e psicológico, mas também espiritual. Por isso, confiança em Deus é um pilar importante na cura da doença.

Ellen White não era alheia aos assuntos de saúde mental. Ainda jovem, lutou contra a depressão em seu processo de conversão. Em seu trabalho de assistência espiritual, ela abordou com frequência questões sobre a mente. Ela sempre levou esperança e apontou para um amoroso Pai Celestial e Salvador que pode curar e livrar aqueles que estão feridos e quebrados pelo pecado e pelas adversidades da vida. Ellen White nos deixou vários conselhos para lidarmos com a depressão. Vejamos alguns deles extraídos do livro Como Lidar com as Emoções, pp. 41-54:

1. Mente satisfeita, espírito animoso, é saúde para o corpo e força para a alma. Coisa alguma é tão frutuosa causa de doença como a depressão, a melancolia e a tristeza. Muitas das doenças sofridas pelos homens são resultado de depressão mental.

2. Por ser o amor de Deus tão grande e inalterável, o doente deve ser estimulado a confiar nEle e ficar esperançoso. Estar ansioso quanto a si mesmo tende a causar fraqueza e doença. Se eles se erguerem acima da depressão e da tristeza, será melhor sua perspectiva de restabelecimento; pois “os olhos do Senhor estão... sobre os que esperam na Sua misericórdia” (Salmo 33:18).

3. Lembre-se de que, em sua vida, a religião não deve ser uma simples influência entre outras. Deve ser a influência dominadora sobre todas as outras. Seja estritamente temperante. Resista a toda tentação. Não faça concessão ao astuto inimigo. Não dê ouvido às sugestões que ele põe nos lábios de homens e mulheres. Você tem uma vitória a alcançar. Tem nobreza de caráter para conseguir; mas isso não se consegue enquanto estiver deprimido e desanimado pelo fracasso. Quebre os laços com que Satanás o tem prendido. Não há necessidade de ser escravo dele. “Vós sereis Meus amigos”, disse Cristo, “se fizerdes o que Eu vos mando” (João 15:14).

4. Vendo a iniquidade ao nosso redor, nos alegramos pelo fato de Cristo ser o nosso Salvador, e nós os Seus filhos. Deveríamos então contemplar a iniquidade, demorando-nos no lado escuro? Se não podemos acabar com ela, pelo menos falemos de algo que seja mais elevado, melhor e mais nobre.

5. O nosso corpo é composto do alimento que assimila. Ora, dá-se o mesmo com nossa mente. Se fizermos a mente demorar-se nas coisas desagradáveis da vida, não teremos esperança alguma. Precisamos demorar-nos nas cenas prazenteiras do Céu. Diz Paulo: “Nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória” (2 Coríntios 4:17).

6. Não ceda à depressão, mas deixe que a confortadora influência do Espírito Santo seja bem-vinda em seu coração, para lhe dar conforto e paz. Se quiser obter preciosas vitórias, encare a luz que procede do Sol da justiça. Fale em esperança e fé, e ações de graças a Deus. Seja animada, esperançosa em Cristo. Aprenda a louvá- Lo. Esse é o grande remédio para as doenças da mente e do corpo.

7. Quando falamos de desânimo e tristeza, Satanás escuta com perversa alegria; pois agrada-lhe saber que colocou mais uma pessoa em sua escravidão. Satanás não pode ler nossos pensamentos, mas pode ver nossos atos, ouvir nossas palavras; e graças ao seu longo conhecimento da família humana, ele pode adaptar suas tentações de modo a prevalecer-se de nossos pontos fracos de caráter. E quantas vezes lhe permitimos penetrar no segredo de como pode alcançar vitória sobre nós! Oh, se controlássemos melhor nossas palavras e ações! Como nos tornaríamos fortes se nossas palavras fossem de tal espécie que não nos tivéssemos que envergonhar ao defrontar com o registro delas no dia do juízo! No dia de Deus, quão diferentes elas se mostrarão do que pareciam quando as pronunciamos!

8. Quando a depressão nos envolve, isso não é evidência de que Deus tenha mudado. Ele é o mesmo “ontem, e hoje, e eternamente” (Hebreus 13:8). Estamos seguros do favor de Deus quando somos sensíveis aos raios do Sol da justiça; mas se nuvens pairarem sobre nós, não nos devemos sentir abandonados. Nossa fé tem de atravessar as sombras, os olhos devem ser simples e todo o corpo estará pleno de luz. As riquezas das graças de Cristo têm de ser conservadas na mente. Entesouremos as lições que Seu amor oferece. Seja nossa fé semelhante à de Jó, para que possamos declarar: “Ainda que Ele me mate, nEle esperarei” (Jó 13:15). Apeguemos às promessas de nosso Pai celestial, e lembremo-nos de Seu antigo trato conosco e com os Seus servos; pois “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus” (Romanos 8:28).

9. O verdadeiro cristão não permite que consideração alguma terrena se interponha entre sua vida e Deus. Os mandamentos de Deus exercem uma saudável influência sobre suas afeições e atos. Se cada um dos que buscam o reino de Deus e Sua justiça estivesse sempre pronto para fazer as obras de Cristo, quanto mais fácil seria o caminho para o Céu! As bênçãos de Deus fluiriam e os louvores ao Senhor estariam continuamente em nossos lábios. Serviríamos então ao Senhor por princípio. Nossos sentimentos poderiam nem sempre ser de natureza alegre; as nuvens por vezes ensombrariam o horizonte de nossa vida; mas a esperança do cristão não repousa sobre a base arenosa dos sentimentos. Os que agem movidos por princípios contemplarão a glória de Deus para além das sombras, e descansarão na segura palavra da promessa. Não se deixarão deter de honrar a Deus, por mais escura que a estrada possa parecer. A adversidade e as tribulações tão-somente lhes oferecerão oportunidade para mostrar a sinceridade de sua fé e amor.

10. Se eu olhasse às negras nuvens — as perturbações e perplexidades que aparecem em meu trabalho — eu não teria tempo para fazer qualquer outra coisa. Sei, porém, que há luz e glória para além das nuvens. Pela fé, atravesso as trevas, rumo à glória.

Ilustração de Keren Stanley "The Nonday Demon" (O Demônio do Meio-dia)

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