A palavra conversão se refere a uma mudança completa de direção. Quando aprendemos a dirigir, logo aprendemos que conversão é mudar para a direção contrária. É mais do que mudar de caminho, mais do que dar uma guinada para a direita ou para a esquerda, é literalmente mudar a direção para o lado oposto. Essa é uma virada tão importante que toda a perspectiva da vida muda, o que estava à sua direita agora se encontra à esquerda, e o que estava à esquerda está agora posicionado à direita. A frente virou retaguarda e você já entendeu a ideia.
Exatamente por ser uma mudança tão radical que a conversão não é simplesmente o que a maioria de nós acredita ser. Alguns acham que conversão é fazer parte de uma igreja, assumir um novo credo ou mesmo adotar novos comportamentos. Acontece que “conversão” é algo que acontece na mente e que afeta a vida inteira. Ellen G. White diz: "A ligação a uma igreja não substitui a conversão. A aceitação do credo de uma igreja não tem valor algum para quem quer que seja se o coração não estiver verdadeiramente transformado" (Evangelismo, p. 290).
É uma mudança desequilibrante de nossa visão de mundo. Adotar novos comportamentos, regras, ou uma nova fé mantendo a mesma leitura e visão do mundo não é e nem nunca foi conversão. A conversão questiona tudo e reverte muita coisa. Nossas crenças mais fundamentais, aprendidas na escola e ensinadas por nossos pais ou o ambiente em que crescemos são totalmente questionadas e sofrem escrutínios profundo dessa nova visão de mundo.
Não são à toa as palavras de Romanos 12:2 nos solicitando uma transformação que só ocorre com a renovação de nossa mente. Renovação da mente. Portanto, uma mudança de cosmovisão como essa que estamos falando não pode ocorrer de maneira formal, ela não ocorre em uma simples classe de estudos, nem em um estudo sistemático das doutrinas um certo número de vezes na semana ou no mês. Veja como Cristo fez com Seus discípulos. “Chamou os doze para estarem com Ele” (Mc 3:14). Você não vai encontrar Jesus dando aulas de teologia, você vai encontrar Jesus ensinando com Sua própria vida à medida que convive com eles.
É claro que isso é muito mais trabalhoso, é claro que toma mais tempo e exige muito mais envolvimento. Mas só a amizade e o contexto podem ajudar alguém a verdadeiramente mudar sua maneira de enxergar a vida. É vendo a visão de mundo de outro que transformamos a nossa.
Compreender isso pode mudar completamente a maneira como entendemos a nossa conversão e a dos outros. Para mim isso indica que me conformar exteriormente com a fé não resolve nada. Indica que Cristo é a transformação completa e absoluta dos meus conceitos mais primitivos, pessoais e que muitas vezes, são conceitos que carrego como certezas. Entender isso me diz que preciso ser outro, completamente outro, depois de começar a seguir a Cristo.
Me ajuda também a entender como levar Cristo aos outros. Não se trata de ter relacionamentos funcionais e superficiais. Não se trata de aproximar-se das pessoas com segundas intenções, desejando “convertê-las” à minha religião e depois dar as costas. Significa que um envolvimento completo, verdadeiro e custoso, do ponto de vista pessoal, é o único capaz de dar à pessoa subsídios reais, muito além das doutrinas racionais, para que ela mude sua visão de mundo como eu também mudei. Por isso Paulo diz: “Sede meus imitadores como eu sou de Cristo!” (1Co 11:1). Não existe discipulado sem amizade.
Somente amigos inseridos em um mesmo contexto podem fazer trocas de cosmovisão. É impossível que alguém que tenha tanto tempo vivido e desenvolvido uma cosmovisão da vida, por exemplo, superficial, que seja capaz de mudar seu paradigma por meio de um “encontro com a verdade” de maneira puramente racional. Essa pessoa precisa de alguém que a conduza do ponto em que está para o ponto em que precisa ir, só quem pode fazer esse caminho é alguém que já fez esse caminho. Ou que conhece por dentro esse modo de pensar.
Há uma outra coisa que pode mudar alguém de uma cosmovisão para a outra, um acontecimento drástico e profundo, normalmente envolvendo muito sofrimento. A amizade cristã e o envolvimento dedicado, amoroso e real pode substituir com muito mais eficiência a capacidade didática do sofrimento. Ellen G. White diz: "Nem todos estão constituídos da mesma maneira. Nem todas as conversões são iguais. Jesus impressiona o coração, e o pecador renasce para viver vida nova. Amiúde as almas são atraídas para Cristo sem que ocorra uma manifestação violenta, nem dilaceramento de alma, nem terrores de remorsos" (Carta 15a, 1890).
Vejamos este pensamento de Ellen G. White sobre a conversão genuína. Lemos em Testemunhos Seletos, vol. 1, pp. 253-255):
"A conversão é uma obra que a maioria das pessoas não aprecia. Não é coisa pequena transformar um espírito terreno, amante do pecado, e levá-lo a compreender o inexprimível amor de Cristo, os encantos de Sua graça, e a excelência de Deus, de maneira que a alma seja possuída de amor divino, e fique cativa dos mistérios celestes. Quando a pessoa compreende estas coisas, sua vida anterior parece desagradável e odiosa. Aborrece o pecado; e, quebrantando o coração diante de Deus, abraça a Cristo como a vida e alegria da alma. Renuncia a seus antigos prazeres. Tem mente nova, novas afeições, interesses novos e nova vontade; suas dores e desejos e amor, são todos novos. A concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida até então preferidas a Cristo, são agora desviadas, e Cristo é o encanto de sua vida, a coroa de seu regozijo. O Céu, que dantes não possuía nenhum atrativo, é agora considerado em sua riqueza e glória; e ele o contempla como sua futura pátria, onde ele verá, amará e louvará Aquele que o redimiu por Seu precioso sangue.
As obras da santidade, que se lhe afiguravam enfadonhas, são agora seu deleite. A Palavra de Deus, anteriormente pesada e desinteressante, é agora escolhida como estudo, como o homem do seu conselho. É como uma carta a ele escrita por Deus, trazendo a assinatura do Eterno. Seus pensamentos, palavras e atos, são comparados com esta regra e provados. Treme aos mandamentos e ameaças que ela contém, ao passo que se apega firmemente às suas promessas, e fortalece a alma aplicando-as a si mesmo. Prefere agora o convívio dos mais piedosos, e os ímpios, cuja companhia antes apreciava, já não lhe causam mais deleite. Lamenta-lhes os pecados que dantes o faziam rir. O amor-próprio e a vaidade, ele renuncia, e vive para Deus, e é rico em boas obras. Eis a santificação exigida por Deus. Nada menos que isto aceitará Ele."
Finalizamos com este lindo texto de Ellen G. White: "A conversão de almas a Deus é a obra mais grandiosa, a obra mais elevada em que os seres humanos podem empenhar-se. Na conversão das almas se revelam a tolerância de Deus, Seu amor incomensurável, Sua santidade e Seu poder. Toda verdadeira conversão O glorifica, e faz com que os anjos prorrompam em cânticos. 'A misericórdia e a verdade se encontraram: a justiça e a paz se beijaram' (Carta 121, 1902).
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