Aqueles que são chamados para o ministério profético recebem, muitas vezes, revelação divina por meio de sonhos e visões. As visões e os sonhos proféticos são algo semelhante à realidade virtual. Deus Se comunica de modo mais direto com a mente do Seu mensageiro, como descrito em Daniel 10:7-9, Isaías 1:1 e Habacuque 2:1 e 2.
Os adventistas do sétimo dia creem que Ellen White (1827-1915) exerceu o dom bíblico de profecia durante mais de 70 anos de ministério público. Embora não seja autora das Escrituras, recebeu comunicações de fonte divina por meio de visões e sonhos proféticos. A parte mais preciosa dessas revelações foi o privilégio de ter visto Jesus, ouvi-Lo e até ter sido tocada por Ele. Esse fato causou profundo impacto em sua vida e em seus escritos. Na condição de mensageira do Senhor, seu esforço durante toda a vida foi levar as pessoas para a Bíblia e uni-las a Jesus.
NÃO TENHA MEDO
Ellen White viu Jesus, pela primeira vez, em um sonho sobrenatural quando tinha cerca de 15 anos de idade. Embora já tivesse sido batizada, ainda lutava contra um intenso sentimento de pecaminosidade. Ela sentia-se indigna da salvação. Em seu sonho, ela foi levada para uma sala e viu Jesus.
Em Testemunhos Para a Igreja (v. 1, p. 28, 29), ela relata a experiência: “Não havia dúvida quanto àquele belo semblante; aquela expressão de benevolência e majestade não poderia pertencer a nenhum outro.” Quando Ele olhou para Ellen, ela viu em Seus olhos que Ele conhecia “todas as circunstâncias” da sua vida e todos os seus “íntimos pensamentos e sentimentos”.
Sentindo-se “incapaz de suportar” a cena, ela tentou esconder-se do Seu olhar “por ser tão penetrante”. Foi quando aconteceu a coisa mais impressionante. Ela escreveu: “Ele, porém, Se aproximou com um sorriso, e, pondo a mão sobre minha cabeça, disse: ‘Não tema!’” Essa expressão de compaixão e aceitação amorosa a dominou. Ela se lembrou: “O som de Sua doce voz agitou-me o coração com uma felicidade que nunca havia experimentado antes. Eu estava alegre demais para poder proferir uma palavra, e, vencida pela emoção, caí prostrada a Seus pés.”
Depois de um tempo, enquanto ainda estava sonhando, sua força retornou, e ela se levantou. A mensageira se lembra de quando saiu daquele lugar: “O olhar amorável de Jesus ainda estava sobre mim, e Seu sorriso enchia meu coração de alegria. Sua presença despertou em mim santa reverência e amor inexprimível.”
Este sonho inicial sobre Jesus foi seguido por muitos outros depois que ela foi chamada para o ela escreveu sobre suas visões e sonhos: “Tenho visto muitas vezes o amorável Jesus, que é uma pessoa” (Primeiros Escritos, p. 77). Repetidas vezes ela se referiu ao “amorável Jesus”. Suas expressões faciais, especialmente Seus olhos e o som da Sua voz, causaram um impacto profundo sobre ela.
O PLANO DA SALVAÇÃO
As imagens e mensagens que ela recebeu em visão retratavam eventos passados, atuais e futuros. Ellen White foi levada de volta ao jardim do Éden quando Adão e Eva desobedeceram a Deus e comeram o fruto proibido. Foi-lhe mostrada uma representação visual do encontro de Deus Pai e Deus Filho ao confirmarem o plano para a redenção da humanidade.
Ela escreveu em Primeiros Escritos (p. 126; Review and Herald, 17 de fevereiro de 1853): “Vi então o amorável Jesus e contemplei em Seu semblante uma expressão de simpatia e pesar. Logo O vi aproximar-Se da inexcedível luz que envolvia o Pai. Disse o meu anjo assistente: ‘Ele está em conversa íntima com Seu Pai.’ A ansiedade dos anjos parecia ser intensa enquanto Jesus estava em comunhão com Seu Pai. Três vezes Ele foi envolvido pela gloriosa luz em torno do Pai, e na terceira vez Ele veio do Pai e pudemos ver Sua pessoa. Seu semblante estava calmo, livre de toda perplexidade e angústia, e brilhava com uma luz maravilhosa que palavras não podem descrever. Ele fez então saber ao coro angélico que se abrira um caminho de escape” para a humanidade perdida.
Ela então descreveu a mensagem de Jesus: “Ele estivera pleiteando com o Pai, e obtivera permissão de dar Sua própria vida como resgate para a raça, de levar seus pecados, e receber sobre Si a sentença de morte, abrindo dessa maneira caminho pelo qual pudessem, mediante os méritos do Seu sangue, encontrar perdão para as transgressões passadas, e mediante a obediência ser levados de volta ao jardim do qual haviam sido expulsos.”
O DESEJADO DE TODAS AS NAÇÕES
Em seus escritos, Ellen White deu uma ênfase especial na vida terrena de Cristo. A ela foram mostradas as cenas dos acontecimentos. Algumas eram “agradáveis de ser contempladas”, mas outras “machucavam” seu coração (Manuscrito 93, 1900). Em uma carta, ela exclamou: “Oh, quão ineficiente, quão incapaz eu sou de expressar as coisas que ardem em minha alma com referência à missão de Cristo! […] Não sei como apresentar os assuntos com o vivo poder em que se acham diante de mim” (Carta 40, 1892; ver também Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 115).
Seu magnífico livro sobre a vida de Cristo, O Desejado de Todas as Nações, já ajudou milhares de pessoas a conhecer Jesus e a se apaixonarem por Ele como Salvador e Amigo. Ellen White viu Jesus e Seu ministério atual no santuário celeste, conforme relatado em Primeiros Escritos (p. 36-39): “Fui levada em visão para o lugar santíssimo, onde vi Jesus ainda intercedendo por Israel. […] Vi quatro anjos que tinham uma obra a fazer na Terra, e estavam em vias de cumpri-la. Jesus estava vestido com trajes sacerdotais. Ele olhou compassivamente para os remanescentes, levantou então as mãos e, com voz de profunda compaixão, exclamou: ‘Meu sangue, Pai, Meu sangue! Meu sangue!’” Ela viu “o terno amor que Ele tem por Seu povo, e é muito grande.”
Ellen White foi também levada em visão para o futuro, quando os redimidos entrarão na Nova Jerusalém (Carta 3, 1851): “Os portões de pérola da Nova Jerusalém são abertos, revolvendo-se em seus resplandecentes gonzos, e ouve-se a agradável e jubilosa voz do adorável Jesus, mais melodiosa do que qualquer música que já chegou aos ouvidos mortais, convidando-nos a entrar.”
O AMOR DE DEUS
A forma pessoal e poderosa como suas visões a impactaram é descrita no relato pessoal que ela escreveu a um amigo (Carta 3, 1851): “Ontem [...] tivemos um momento agradável e maravilhoso [...]. O amor de Deus foi derramado no meu coração, todo o meu ser foi arrebatado com a glória de Deus e fui levada em visão. Vi o amor e a glória de Jesus. Seu semblante era mais brilhante que o sol ao meio-dia. Seu manto era mais branco do que o branco mais branco. Como posso, querida irmã, descrever para você as glórias do Céu? [...] Querida irmã, o Céu não é barato o suficiente?”
Os escritos de Ellen White nos atraem a Jesus como nosso Salvador e Amigo vivo. Somos chamados a experimentar, todos os dias, Seu amor e carinho. Podemos ansiar por Sua vinda, quando todos O veremos com olhos glorificados e ouviremos Sua bela voz nos recebendo em casa. Até esse dia, podemos ler os escritos de Ellen White e ser atraídos para a Bíblia e para o nosso maravilhoso e amoroso Deus.
Em Jesus “habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2:9), e é Ele que “a tudo enche em todas as coisas” (Ef 1:23). Ele é nossa alegria, nossa esperança e nossa salvação. Em breve O veremos “face a face” (1Co 13:12).
Merlin D. Burt, doutor em História da Igreja, é diretor do Patrimônio Literário de Ellen White, em Silver Spring, Maryland (EUA) (via Revista Adventista).
Ilustração de John Sartain - Our Savior (1866)
Ellen G. White quando visitava a família da Srª Abbie Kellogg Norton sempre contemplava na parede da sala uma gravura de Jesus, da autoria de John Sartain, feita em 1866, e dizia ser o mais parecido com o que via em visão. No testemunho pessoal de Abbie, escrito em 19 de março de 1935, ela diz:
“Lembro-me bem de ver o irmão e a irmã White vindo à nossa casa muitas vezes quando eu era criança, provavelmente entre os anos de 1878-1881. A irmã White comentava sobre a semelhança da imagem e o Salvador que ela tem visto em suas visões. Suas palavras eram: ‘Sim, sim, ele parece o Salvador como me tem sido mostrado em visão – é o mais semelhante do que qualquer outro que tenho visto.’ Isso causou uma grande impressão em todos nós. Pouco antes de minha mãe morrer, ela recontou essa história a alguns dos irmãos e irmãs de Mountain View, Califórnia."
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