Ao ser iniciada a leitura de Gênesis 3, o destaque fica por conta da sagacidade da serpente em seu diálogo com a mulher. O animal em si era inofensivo. Porém, o autor do Gênesis descreve a malignidade do diabo ao se apossar de uma criatura com propósito bem definido: destruir a felicidade da família humana. O campo semântico utilizado na interlocução com a mulher gera uma narrativa diametralmente oposta à de Deus.
A ordem expressa do Criador era a seguinte: “De toda árvore do jardim você pode comer livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal você não deve comer; porque, no dia em que dela comer, você certamente morrerá” (Gn 2:16, 17). Imagine a cena no contexto de uma redação de notícias. O editor provavelmente iria retirar o pronome indefinido “toda” e orientar o repórter a evitar o excesso de generalização. Porém, o relato de Gênesis é bem completo. Nos diálogos da narrativa, a utilização de ótimos conectores forma perfeita coesão e coerência no texto para que a verdade de Deus possa ser notada.
O diálogo chama a atenção pela convicção da serpente. Ela opina de acordo com sua imoralidade. Utiliza-se de argumento pseudocientífico a partir do conhecimento que possuía para confrontar o caráter de Deus. Para Eva, talvez existisse um hiato entre opinião e argumento, mas não para a serpente, que conhecia o bem e o mal, fruto da narrativa que Lúcifer criou no Céu (Is 14:12-14; Ez 28:13-19; Ap 12:7-9).
Adão e Eva não estavam ilesos às possibilidades negativas. Ellen White comenta: “Mensageiros celestiais explicaram a eles a história da queda de Satanás, e suas tramas para destruí-los, expondo mais completamente a natureza do governo divino, que o príncipe do mal estava procurando subverter” (Patriarcas e Profetas [CPB, 2021], p. 28). Em outras palavras, Eva não precisava dialogar com a serpente. Sem perceber, ela foi entrevistada pelo maior inimigo de Deus. Adão e Eva creram no repórter errado e no relato distorcido.
Ellen White descreve a serpente desta forma: "A fim de realizar a sua obra sem que fosse percebido, Satanás preferiu fazer uso da serpente como médium, disfarce este bem adaptado ao seu propósito de enganar. A serpente era então uma das mais prudentes e belas criaturas da Terra. Tinha asas, e enquanto voava pelos ares apresentava uma aparência de brilho deslumbrante, tendo a cor e o brilho de ouro polido" (A Verdade sobre os Anjos, p. 53).
A serpente escolheu um único texto para distorcer a história (Gn 3:1). Com a tese “científica” da serpente comprovada, uma vez que Eva não morreu, a mulher compartilhou a nova descoberta com o esposo (Gn 3:6). A tragédia foi tão grande que, mesmo após milênios, a serpente continua seduzindo os descendentes da mulher em seus multifacetados disfarces.
A partir do ocorrido no Éden, o melhor é não dialogar com a serpente. O mundo dela é obscuro e enigmático. Um mundo de mistério fora dos mistérios de Deus.
Ellen White diz: "Deus amaldiçoou a terra por causa do pecado de Adão e Eva em comer da árvore do conhecimento e declarou: 'Com dor comerás dela todos os dias da tua vida' (Gn 3:17). Deus tinha partilhado com eles o bem, mas retido o mal. Agora declara que comerão dele, isto é, devem ser relacionados com o mal todos os dias de sua vida. Daquele tempo em diante o gênero humano seria afligido pelas tentações de Satanás" (História da Redenção, p. 40).
Nessa guerra de narrativas que existe há milênios, o melhor é ficar com a verdade objetiva de Deus, pois ela permanece como a segurança em meio ao pragmatismo das muitas serpentes camufladas de pessoas e conceitos parecidos com a verdade. Cuidado! Se antes do pecado já havia riscos, imagine em nossos dias!
O alerta de Ellen White é claro: “Agentes invisíveis estão em operação para fazer com que a falsidade se pareça com a verdade; erros estão revestidos com uma roupagem enganadora para que os homens sejam levados a aceitá-los como essenciais a uma educação superior” (Medicina e Salvação, p. 88).
Por ocasião do lançamento do filme A Paixão de Cristo, Mel Gibson esteve presente a uma grande concentração de pastores na cidade de Chicago. Perguntaram-lhe por que tinha colocado uma mulher com véu para representar o mal. “O mal toma a forma de beleza, é quase bonito... ele se disfarça e se mascara, mas se as antenas de vocês estiverem ligadas, vão identificá-lo.”
Pedro adverte: “Cuidado, há um gato predador pronto para saltar sobre a presa. Nada de cochilar!” Através do poder da graça de Deus, você experimentará vitória sobre a tentação.
Ellen White nos aconselha: "Os que são participantes da natureza divina não cederão à tentação. 'Fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar' (1Co 10:13). E nós temos também uma parte a fazer. Não nos devemos pôr, sem necessidade, no caminho da tentação. Deus diz: 'Saí do meio deles, e apartai-vos... e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai e vós sereis para Mim filhos e filhas' (2Co 6:17 e 18). Se, associando-nos com pessoas do mundo em busca de prazeres, conformando-nos com as práticas mundanas, unindo os nossos interesses com incrédulos, colocamos os pés no caminho da tentação e do pecado, como poderemos esperar que Deus nos guarde de cair? Conservai-vos afastados da influência corruptora do mundo. Não vades, sem necessidade, a lugares onde as forças do inimigo se acham entrincheiradas fortemente. Não vades para onde sabeis que sereis tentados e desviados" (Mensagens aos Jovens, pp. 81-82).
Portanto, fuja das tentações para o Senhor. Não pense… corra! Não ande pelo penhasco para ver o quão perto você consegue chegar à beira dele. Apresse-se para afastar-se dele! Você não está apenas “fugindo”; está se protegendo. Portanto... não converse com a serpente!
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