quarta-feira, 18 de maio de 2022

ALÉM DA ADOLESCÊNCIA ESPIRITUAL

“Até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo” (Efésios 4:13).

Numa família comum, a mãe é aquela figura que tudo sabe, incansavelmente dedicada e afetuosa, totalmente confiável e capaz de lidar com cada incidente de nossa vida. Ela é a pessoa mais bonita do mundo.

Mas, então, nos tornamos adolescentes. Aquela mesma mulher, antes perfeita, começa a surtar, perder seus bons modos, o caráter e a beleza. Passamos a pensar que os conselhos de nossos pais não condizem com a realidade. No íntimo ou abertamente, nos consideramos muito mais atualizados, espertos e competentes do que nossa mãe.

Para a maioria de nós, felizmente, a situação muda na idade adulta. Nós descobrimos que fomos mais bem-sucedidos em copiar os defeitos de nossos pais do que as qualidades deles. Ainda que agora conheçamos melhor as imperfeições de nossos pais, como adultos nós os valorizamos muito mais do que o fazíamos quando crianças.

Adultos que permanecem obsessivos com os defeitos de seus pais são pessoas perigosas ou trágicas. Eles se tornam cônjuges problemáticos, amigos difíceis de conviver e funcionários impossíveis. Pessoas que deixam de crescer além da “rebelião adolescente” nunca se tornaram realmente maduras e com frequência transmitem esse defeito aos filhos.

Na vida espiritual, é semelhante. Não importa se tivemos nossa primeira experiência espiritual quando crianças ou quando adultos – a igreja parece perfeita aos nossos olhos. Esta é a igreja de Deus. Tudo o que ela ensina é certo, e dentro dela está toda a verdade. A missão dela é a missão de Deus. E dificilmente Deus age fora desses limites.

O tempo passa. Nós concluímos que existem falhas e lacunas na teologia da igreja. Talvez soframos por causa de uma teologia defeituosa ou de um líder maldoso ou incompetente. Descobrimos que Ellen White lia e citava outros autores. Ficamos sabendo que teólogos da igreja questionam um ou outro aspecto da doutrina tradicional, ou pelo menos alguns argumentos usados para defendê-la. O líder de nossa comunidade comete um pecado sexual. Entramos em uma crise espiritual, e a “igreja acolhedora” não existe mais.

Entramos na adolescência espiritual. Nós nos tornamos obcecados com as falhas e a hipocrisia que existem na igreja. Não podemos acreditar que uma comunidade que afirma representar Jesus possa desconsiderar de modo tão flagrante os ensinos do Mestre. Não entendemos como alguém com um mínimo de inteligência possa dizer que se sente feliz por fazer parte dessa igreja.

A desilusão é uma parte normal, embora dolorosa, do crescimento espiritual. Eu não conheço um meio de evitá-la. Mas, se a igreja não parece perfeita e suficiente quando a encontramos pela primeira vez, jamais teremos confiança suficiente para nos tornarmos membros comprometidos. Se jamais encaramos honestamente as falhas da igreja, seremos incapazes de ajudar nossos filhos e amigos a atravessar a adolescência espiritual. Um pouco de desilusão e perda de identidade é normal no desenvolvimento. Mas, se formos cristãos saudáveis, passaremos pela adolescência e chegaremos à idade adulta espiritual.

Como cristãos maduros, andamos além de nossa obsessão com as falhas da igreja. Aprendemos a valorizá-la por suas qualidades e virtudes. Em vez de menosprezá-la por seus fracassos, vamos honrá-la por seus ideais. Reconhecemos que, assim como é com nossos pais, é com a igreja: imitamos muito melhor seus defeitos do que suas virtudes.

Depois da adolescência, não podemos mais pensar ingenuamente que a igreja é perfeita, ou totalmente boa e sábia. Não somos criancinhas de colo que consideram sua mãe espiritual como se fosse Deus. Mas, como adultos, andamos além da ideia adolescente de que somente pessoas perfeitas podem ser boas, ou de que apenas organizações perfeitas são dignas de lealdade e respeito.

Encontramos nova alegria na igreja! Temos poucas desilusões, fazemos poucas exigências impossíveis, e vamos além de lançar condenações. Somos capazes de rir de nossas reclamações imaturas e passamos a ver a real sabedoria que é a herança da igreja. Claro, a igreja é defeituosa. Porque ela é formada por pessoas como eu. Mas ela também preserva e transmite o aprendizado coletivo de um numeroso grupo de peregrinos.

Recém-conversos e crianças amam a igreja na perfeição imaginária dela. Adolescentes espirituais menosprezam a igreja por seus defeitos reais. Os maduros amam a igreja pelo que ela é: o corpo ferido de Cristo, um grupo de pessoas frágeis e machucadas como nós mesmos, que buscam perdão e transformação. Uma organização falha buscando um sonho glorioso e (aos olhos humanos) impossível. Uma jornada que envolve a cooperação de pessoas que buscam algo além do comum. Uma mãe digna de honra e amor.

John McLarthy, The Faith I Highly Recommend: Adventist Spirituality for Thinkers and Seekers (Hagerstown, MD: Review and Herald, 2011), p. 43-44.

Nota do blog: Leia também este maravilhoso texto de Mário Jorge Lima, via facebook:

Gosto de refletir sobre a perfeição cristã, o crescimento na graça, o amadurecimento espiritual do crente. E amadurecimento é o termo que mais aprecio, pois ao mesmo tempo em que passa a ideia de ser uma condição possível de ser alcançada, deixa entender também que existe uma luta constante, sendo que há uma vitória a ser conquistada à frente.

Amadurecimento espiritual é procurar mudar a mim mesmo, ao invés de ficar obcecado em mudar os outros.

Amadurecimento espiritual é não procurar a todo instante mostrar o quanto sou bom, quão acertadamente faço tudo e quão altruístas e corretas são as minhas atitudes.

Amadurecimento espiritual é não viver destacando quão certinha é minha vida familiar, profissional, escolar, devocional.

Amadurecimento espiritual é não ficar dizendo quão equilibrada é minha alimentação, quão sóbrio o meu vestuário e quão adequados o meu lazer e relacionamentos.

Amadurecimento espiritual é não achar que minha visão doutrinária e interpretação bíblica, bem como a minha vida eclesiástica e as soluções que vejo para os problemas da comunidade religiosa que frequento, são as únicas que estão de acordo com a verdade que professo.

Amadurecimento espiritual é não achar que minha compreensão do mundo, minhas posições políticas, econômicas, religiosas e minha visão das questões sociais, não necessitam ajustes e correções, bem como atualizações e até mesmo revisões e mudanças.

Amadurecimento espiritual é quando paro de comparar os outros comigo e de ficar buscando ou esperando a aprovação e o louvor dos meus irmãos.

Amadurecimento espiritual é, de uma vez por todas, aceitar que não sou perfeito, mas, que não preciso me render à minha imperfeição, que há vitória em cooperar com Cristo Jesus.

Amadurecimento espiritual é não usar o meu estilo de vida como padrão de comportamento ou régua para medir a vida do meu semelhante.

Amadurecimento espiritual é crer que onde existe a graça salvadora, não existe merecimento de tipo algum.

Amadurecimento espiritual é saber que perdoar não implica em esquecer, não significa que a ferida nunca existiu, mas, significa que ela não controla mais a minha vida e nem me faz sofrer.

Amadurecimento espiritual é não viver uma religião raivosa, condenatória e assustadora, entendendo que Evangelho não precisa ser algo triste e depressivo, mas, cheio de alegria e certeza da salvação.

Amadurecimento espiritual é quando eu quiser chamar o pecado pelo nome, começar pelos meus próprios pecados.

Amadurecimento espiritual é nunca ceder ao impulso de julgar e condenar o meu irmão, sem antes gastar os joelhos em muitos momentos de oração, intercedendo por ele a Deus, com misericórdia no coração e lágrimas na voz.

Amadurecimento espiritual é buscar amar o inimigo, em um tempo em que gostar e até mesmo aceitar os próprios amigos como eles são, se torna difícil e quase impossível pra mim.

Amadurecimento espiritual, enfim, é sentir paz na tempestade. É conseguir dormir no barco, mesmo com o mar absurdamente revolto.

Quando eu conseguir ser e viver assim, estarei, então, começando a trilhar, ainda muito timidamente, o caminho da perfeição e a compreender o que é o viver cristão transformador e santificador.

E quando isso acontecer, não precisarei gritar a todos o que eu sou, o que faço ou o tipo de crente que me tornei. E não precisarei porque, mesmo sem que eu busque isso, como dizia a frase de um velho hino do meu amigo Enio Monteiro, "o mundo saberá que Cristo vive em mim".

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