Uma das histórias mais famosas da Bíblia está retratada na Parábola das Dez Virgens (Mt 25:1-13). A passagem termina com o noivo abordando as virgens imprudentes com uma resposta que em muitos aspectos capta o espírito do texto bíblico: “Se vocês são minhas amigas, por que não vieram quando fui anunciado? Sinto muito, não conheço vocês.”
A seguir, destacarei algumas nuances linguísticas do texto grego de Mateus 25:11 e 12, mais especificamente o significado contido na expressão: “Eu não conheço vocês”.
OS PORMENORES SÃO IMPORTANTES
A cena descrita na parábola de Jesus é caracterizada por uma solenidade profunda. No idioma original, o fato pode ser observado quando o verbo no presente é usado na narração de um fato do passado. Os estudiosos chamam essa particularidade linguística de “presente histórico”, uma mudança no tempo do verbo que adiciona um sentido vivo à cena. Alguns até argumentam que Mateus usa o “presente histórico” para destacar momentos importantes da narrativa (por exemplo, veja S. Wolfgang, “Das Präsens Historicum als makrosyntaktisches Gliederungssignal im Matthäusevangelium”, New Testament Studies 22/4 [1976], p. 475). Quando os leitores percebem a ênfase, perguntam a si mesmos o que está acontecendo e prestam mais atenção. Além disso, o verso 11 menciona duas vezes a palavra “Senhor” como parte do pedido das cinco virgens que perderam a chegada do noivo: “Senhor, Senhor, abra a porta para nós!”
A tradução literal do início do verso 12 é: “Mas Ele respondeu”. A forma tradicional de traduzir o início do verbo 12 é: “Em verdade vos digo: Não vos conheço”. Essa forma de se expressar é como o povo hebreu falava. Não reflete a linguagem típica usada pelos gregos helenistas. A resposta do noivo usa uma fórmula solene, “Em verdade vos digo”, seguida pela forma do verbo grego oida (“saber”), que, nesse contexto, atesta a ausência de uma relação próxima entre o noivo e as cinco virgens imprudentes (W. Bauer, W. F. Arndt, F. W. Gingrich e F. W. Danker, Greek English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature, 3ª ed. [Chicago: Chicago University Press, 2000], p. 693). O verbo enfatiza a perplexidade que parece dominar o noivo.
PEGAR O TOM
A expressão “eu não conheço vocês”, encontrada na maioria das traduções modernas da Bíblia, é apropriada. No entanto, como às vezes é o caso, essa tradução não reflete na totalidade a força do sentimento na linguagem original. Algumas traduções modernas oferecem alternativas úteis. A forma “Eu não conheço vocês [não temos nenhum relacionamento]” pode ser lida, por exemplo, na versão A Bíblia Amplificada. Por sua vez, a tradução mais recente da The Passion Translation sugere o seguinte equivalente: “Será que as conheço? Não, tenho certeza de que não conheço vocês.” Ambas as versões oferecem um melhor retrato da formulação enfática do texto original de Mateus 25:12 no grego.
O comentário de Ellen White sobre essa parábola ecoa a declaração contundente contida no texto original: “Não conhecem a Deus; não estudaram Seu caráter; não tiveram comunhão com Ele; por isso não sabem como confiar, como ver e viver. [...] Nesta vida não tiveram comunhão com Cristo; por isso não conhecem a linguagem do Céu, são estranhos às suas alegrias” (Parábolas de Jesus, p. 411, 412). Mais adiante, no mesmo capítulo, ela acrescenta: “Não podemos viver apartados de Cristo aqui, e ainda assim estar aptos para Sua companhia no Céu” (p. 413).
Portanto, o tom da declaração do noivo não repousa sobre uma indiferença teimosa do próprio noivo ou sobre sua suposta incapacidade de identificar as virgens desaparecidas em meio à escuridão da noite. As virgens imprudentes não são vítimas das circunstâncias, mas de suas próprias decisões. Elas são arquitetas de sua triste realidade por não manter uma conexão íntima e carinhosa com Aquele que deve ser a essência de qualquer comemoração.
A linguagem utilizada na descrição bíblica oferece um veredito inapelável, dada a ausência completa de um vínculo íntimo com o noivo que justifique sua presença no casamento: “Se vocês são minhas amigas, por que não vieram quando eu fui anunciado? [...] Sinto muito, mas não conheço vocês.”
Entre a indiferença profética e o frenesi de última hora, está a necessidade de aprofundarmos o vínculo com nosso querido Mestre. Mateus 25:12 é uma lembrança atemporal da importância vital e do significado eterno de nossa caminhada diária com Jesus.
Leandro J. Velardo (via Revista Adventista)
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