Pare por alguns segundos e pense em como seria viver num local sem violência. Conseguiu visualizar? Embora estar em um mundo permanentemente seguro seja o sonho de muita gente, poucos são os que conseguem imaginá-lo.
Assim como eu, creio que você se depara frequentemente com inúmeras histórias de pessoas que sofreram algum tipo de agressão. Em casos extremos, infelizmente, uma parcela dessas pessoas chega a perder a vida. E muitas são mulheres: donas de casa, domésticas, professoras, empresárias e médicas que sonhavam com uma vida melhor, com uma realidade que já não poderão mais ajudar a construir.
Não é novidade que a violência, seja física, moral, sexual ou simbólica, tem afligido a sociedade ao longo dos séculos. Mesmo com todo o desenvolvimento social, educacional e tecnológico, esse é um problema que ainda não conseguimos derrotar. E hoje, mais do que nunca, temos vivido dias que parecem cada vez mais assustadores, repletos de episódios que nos levam a temer a crueldade humana.
Um desses males é conhecido por uma palavra que, infelizmente, tem se tornado familiar no nosso vocabulário: feminicídio. Por trás desse termo encontramos o assassinato de mulheres, cuja motivação tem que ver com o gênero das vítimas.
Nas últimas duas semanas, quase que diariamente, uma série de crimes bárbaros chocou o país: em todos, as vítimas eram mulheres — violentadas e mortas por serem mulheres. Em Florianópolis, uma jovem de 21 anos foi estuprada e estrangulada quando se dirigia para uma aula de natação. Em Jaborandi, na Bahia, outra, de 27 anos, foi arrancada do banho e assassinada a tiros pelo ex-namorado. Na Zona Norte do Rio, um servidor público matou a tiros uma professora e uma psicóloga no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet), no Maracanã. Em São Paulo, uma mulher foi morta na pastelaria onde trabalhava pelo ex-marido, e uma jovem foi atropelada e, ainda presa no veículo, arrastada pela rua. Ela teve as pernas amputadas e foi internada em estado grave. O suspeito do crime, segundo a família da vítima, teve um breve relacionamento com ela.
Em 2024, o Brasil bateu recorde de feminicídios desde 2015, quando o crime foi tipificado por lei sancionada pela ex-presidente Dilma Rousseff: 1.492 casos. Só na capital paulista houve 53 feminicídios apenas este ano, o maior número da série histórica. Já no estado de São Paulo, os feminicídios aumentaram 10% desde janeiro, informou o Instituto Sou da Paz. E a ocorrência de assassinatos de mulheres em vias públicas quase dobrou do ano passado para cá: um salto de 33 para 48 ocorrências, no comparativo entre os dez primeiros meses de 2024 e 2025.
A violência contra a mulher também bate recorde na internet. No Rio, as denúncias de perseguição e assédio virtual cresceram mais de 5.000%, passando de 55 para 2.834 na última década, conforme atestou o recentemente divulgado Dossiê Mulher. A explosão recente no número de crimes, portanto, não é um ponto fora da curva, mas evidência de que o país vive uma epidemia de violência contra a mulher, resultado de séculos de brutalidade social e cultura misógina.
"É inegável que as redes sociais radicalizaram o ódio às mulheres e o feminicídio no Brasil, transformando essas violências em conteúdos altamente rentáveis, inclusive. Mas, se a mudança de escala do alcance dessas notícias é novidade da contemporaneidade, o ódio e a violência contra as mulheres são constitutivos da história brasileira. Isso significa lembrar o que foi e ainda é apagado na nossa história: o desenvolvimento econômico, político e cultural do Brasil ocorreu a partir da desumanização e objetificação das mulheres por meio da exploração colonial, do trabalho escravo, do controle, da vigilância e de toda sorte de violências de seus corpos e mente" enumera a historiadora Patrícia Valim, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA). "As mulheres que resistiram às violências e que moldaram a nossa sociedade foram agredidas, mutiladas e mortas".
Mesmo que existam leis de combate a agressões dessa e de outra natureza, ainda há muito a ser feito para mudar mentalidades e comportamentos. É por isso que você e eu precisamos acreditar que é possível vencer toda e qualquer manifestação de agressividade, bem como a dor que ela gera. A postura da sociedade e da justiça em relação à violência denota que o crime contra a mulher é considerado repulsivo. Por esse motivo, a proposta para acabar com este problema é a educação, instruindo desde a maternidade, passando pelas escolas, ruas, igrejas e mídia. A educação contra a cultura machista e a violência é uma ferramenta que pode coibir as agressões praticadas na mulher, definitivamente.
A ajuda a mulheres em situação de violência também pode vir da sua rede de relacionamentos, como amigos, vizinhos, colegas de trabalho, entre outros. Pode ser que você conheça alguém que esteja passando por uma situação semelhante por perto, seja de violência física, verbal, psicológica ou sexual, ou quem sabe ser a própria vítima. O silêncio perpetua a ação do abusador ou agressor, portanto, o maior desafio de alguém que deseja ajudar, é vencer o medo e romper o silêncio.
Não há dúvidas de que estamos todos chocados com o terror em cada esquina. A vida se tornou tão insignificante que muitos torturam e matam uma pessoa como se ela fosse um mero inseto. Amor, sentimento, dor, sofrimento humano se tornaram profundamente banais para muitos. Mas, o que conforta é saber que a justiça honrará a todos os que foram humilhados e pisoteados pelo pecado. Uma certeza bem gratificante é que o mal, na agenda de Deus, está com data marcada para acabar. Ellen G. White complementa: "Na grande obra de finalização, nos defrontaremos com perplexidades que não saberemos contornar, mas não nos esqueçamos de que as três grandes potestades do Céu estão atuando, que a divina mão está posta ao leme, e Deus fará cumprir os Seus desígnios" (Evangelismo, p. 65).
Mateus 24:12 diz que “por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos”, mas no verso 13 encontramos outra fórmula atual: “Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo”. Resumindo, somos chamados a perseverar em Cristo, nossa única esperança, e que nos prometeu um mundo novo e sem violência. Você pode acreditar.

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