A Bíblia contém amplos conselhos que orientam a uma boa escolha do parceiro para a vida. Em 2Co 6:14 encontra-se um excelente e clássico exemplo: “não vos prendais ao jugo desigual com os incrédulos”. Para início de conversa, precisamos entender o que significa “jugo”. Trata-se de uma peça de madeira, um tipo de canga que se prende com correias ao pescoço de animais de carga, para que assim possam puxar uma carroça ou um arado (1 Sm 6:7). Num sentido figurado negativo, o jugo representa domínio, opressão (Gn 27:40; Jr 28:2; Gl 5:1); sofrimento (Lm 3:27); mas do ponto de vista positivo, representa comprometimento (Mt 11:29-30) e companheirismo (Fp 4:3).
Então, em que consistiria o jugo desigual? Geralmente, usavam-se pares de animais de carga como bois ou cavalos para puxar os arados que abriam sulcos na terra para receber as sementes. Se o jugo sobre um fosse mais pesado que sobre o outro, fazendo com que caminhassem em ritmos diferentes, o arado acabava puxado na diagonal, e, eventualmente, travava, agarrando-se ao solo. Isso, obviamente, atrasava todo o processo. Ambos tinham que caminhar na mesma velocidade, de modo que os sulcos se abrissem uniformemente nos dois extremos do arado. Portanto, os animais precisavam ter mais ou menos o mesmo porte, carregando jugos de pesos iguais.
Já na época de Abraão, havia preocupação por parte dos pais religiosos sobre este assunto (Gn 24:3). O Comentário Bíblico Adventista (CBASD) diz que “a demora em fazer planos para o casamento de Isaque, provavelmente se devia ao desejo de Abraão, em evitar que seu filho tomasse por esposa uma Cananeia”.
Semelhantemente, Isaque pediu a Jacó para não tomar “esposa de entre as filhas de Canaã” (Gn 28:1) pois, “ele não as via com bons olhos” (Gn 28:8). Posteriormente, após o êxodo, Deus proíbe Seus filhos de contraírem matrimônio com as filhas das outras nações (Dt 7:3), porque, “não pode haver felicidade nem segurança nas alianças feitas com os que não amam nem servem a Deus. As trágicas experiências de Esaú (Gn 26:34-35) e Sansão (Jz 14:1) são testemunho eloquente em favor da admoestação divina de manter-se separados dos incrédulos.
Avançando ao Novo Testamento, observamos que Paulo também coloca a impossibilidade de ligação entre o santuário de Deus e os ídolos, por isso, um acordo, casamento ou uma aliança entre crentes e incrédulos é igualmente inconcebível. Pois quando se trata de uma relação tão estreita como o matrimonio, o cristão que verdadeiramente ama ao Senhor, em nenhuma circunstância se unirá com um incrédulo, mesmo que tenha a nobre esperança de ganhá-lo para Cristo, o que em outras circunstancias seria digno de elogio.
É bom lembrar que “jugo desigual” significa uma “diferença de padrão” entre o casal, ou seja, também entre dois cristãos ele pode ocorrer: diferenças culturais, por exemplo, podem ditar ritmos e maneiras distintos de se conduzir a vida. Imagine um relacionamento em que não seja possível um diálogo sobre temas de interesse comum. Poderíamos enumerar ainda as questões de faixas etárias, graus de instrução e até o fato de serem oriundos de camadas sociais diferentes.
De que forma a metáfora do “jugo desigual” se ajusta ao contexto da sociedade no qual você está inserido? Sob que lentes precisamos observar a Bíblia para que seus ensinamentos nos esclareçam satisfatoriamente a vontade de Deus para hoje?
“Não se ponham em jugo desigual com descrentes”. Segundo o dicionário digital Michaelis, descrente = 1. Que não crê ou perdeu a crença; 2. Cético, incrédulo; 3. Pessoa que perdeu a fé.
É preciso deixar claro que não há neste verso bíblico a intenção de estimular nenhum tipo de discriminação, nem tampouco demonizar aqueles que perderam a fé ou deixaram de crer. O que temos aqui é a demonstração clara de que Deus se preocupa conosco indicando, inclusive, o melhor caminho para a felicidade conjugal. Deus jamais proibirá algo sem antever os resultados.
Salomão, o homem mais sábio da história declinou espiritualmente ao se aparentar com Faraó casando-se com sua filha. (1Rs 3:1). Pouco a pouco, sua fé foi enfraquecida e logo misturou-se em cultos pagãos, desonrando assim a Deus.
“Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?” (Amós 3:3). Na dinâmica da vida cristã, qualquer ligação com incrédulos que tende a diminuir o amor ou mudar a direção da peregrinação para Deus é um jugo desigual.
Todos desejam ter felicidade no relacionamento, no entanto, ao escolher alguém para namorar é possível que o desejo pessoal seja mais forte que a orientação bíblica. Nesse caso, seguir os próprios desejos torna-se uma armadilha para a felicidade conjugal futura. Seria a orientação bíblica sobre o jugo desigual ultrapassada para nosso tempo?
Para entender melhor o que a Bíblia quer lhe dizer:
1. Você está disposto(a) a fazer concessões? Quem seguirá a fé de quem? Quem baixará a guarda primeiro quando os princípios forem questionados?
2. Que valores prevalecerão? Questões como sexo antes do casamento, ambientes e festas, alimentos, missão, fidelidade a Deus... Após o casamento, virão os filhos. E então? Serão educados mediante os valores de quem?
3. Mudanças extraordinárias não acontecem depois do “sim” no altar. A tendência é que a convivência acentue ainda mais as diferenças, principalmente as que dizem respeito à fé individual.
4. A desobediência à vontade de Deus terá consequências. Não é sensato imaginar que a desobediência irá trazer consigo felicidade.
Felicidade não está associada à liberdade irrestrita. Felicidade tem a ver com escolhas acertadas. Se a vida a dois é um assunto importante para você, não será demais dedicar tempo para meditar, orar a Deus e escolher com muito cuidado a pessoa com a qual você compartilhará os melhores momentos de seu futuro.
ESPÍRITO DE PROFECIA
Ellen G. White aplica o conceito de "jugo desigual" para alertar sobre a união de um cristão com um incrédulo, principalmente no casamento. Ela argumenta que essa união pode levar a consequências espirituais negativas, como a perda da fé, frustrações e o distanciamento de Deus, pois um parceiro cristão não pode compartilhar sua fé com um não-cristão de forma harmoniosa. A advertência também se estende a outras formas de associação íntima que não promovem valores cristãos.
De acordo com Ellen White, “seja todo passo em direção da aliança matrimonial caracterizado pela modéstia, simplicidade, e sincero propósito de agradar e honrar a Deus. O casamento afeta a vida futura tanto neste mundo como no vindouro. O cristão sincero não fará planos que Deus não possa aprovar” (Ciência do Bom Viver, p. 359).
É indispensável observar esses pontos, pois “é da hora de seu enlace matrimonial que muitos homens e mulheres datam seu êxito ou fracasso nessa vida, e suas esperanças de existência futura” (O Lar Adventista, p. 43).
Ellen White adverte que "unir-se a um incrédulo é colocar-se no terreno de Satanás. Você ofende o Espírito de Deus e perde Sua proteção. Pode sujeitar-se a tão terríveis desvantagens na peleja da batalha pela vida eterna?" (Testemunhos Seletos 2, p. 120).
Ela também nos faz alguns importantes alertas:
"O crente raciocina que, nas novas relações, tem de conceder alguma coisa ao companheiro de sua escolha. São patrocinados entretenimentos sociais, mundanos. A princípio com grande relutância de sentimentos por parte do crente ao fazer isto, mas depois o interesse na verdade vai-se tornando cada vez menor, e a fé se transforma em dúvida e incredulidade" (Cartas a Jovens Namorados, p. 81).
“[No namoro] os filhos de Deus não devem nunca se aventurar a pisar terreno proibido. O casamento entre crentes e incrédulos é proibido por Deus. Mas muitas das vezes o coração não convertido segue seus próprios desejos, e formam-se casamentos não sancionados por Deus. Por causa disso muitos homens e mulheres estão sem esperança e sem Deus no mundo” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 500).
"É perigoso formar aliança mundana. Satanás sabe bem que no momento em que presencia o casamento de muitos rapazes e moças encerra a história de sua experiência e utilidade cristãs. Por algum tempo, poderão se esforçar para viver uma vida cristã, mas seus esforços são feitos contra uma constante influência na direção oposta" (Mensagem aos Jovens, p. 453).
"Homens e mulheres de outro modo sensatos e conscienciosos, fecham os ouvidos aos conselhos; são surdos aos apelos e rogos de amigos e parentes, e dos servos de Deus. A expressão de um aviso ou advertência é considerada impertinente intromissão, e o amigo que é fiel bastante para pronunciar uma admoestação, é tratado como inimigo. Tudo isso é como Satanás deseja. Ele tece seu encanto em volta da alma, e esta se torna enfeitiçada, apaixonada. Não é este um quadro traçado pela imaginação, mas apresentação de fatos. Deus não dá sua sanção a uniões que Ele proibiu expressamente" (O Lar Adventista, p. 61).
CONCLUSÃO
Assim como um boi e um jumento não conseguem arar a terra de maneira uniforme, pessoas com crenças diferentes também terão dificuldades ao longo da caminhada. A Bíblia não apoia o “jugo desigual” porque não haverá unidade de pensamento e propósito no relacionamento. Paulo escreveu: “Concordem uns com os outros no que falam, para que não haja divisões entre vocês, e, sim, que todos estejam unidos num só pensamento e num só parecer” (1Co 1:10).
O jugo desigual é um dos pecados que mais entristecem o Espírito Santo, mesmo que o rapaz ou a moça seja de boa índole. Ao nos advertir sobre isso, Deus não está nos privando da felicidade ou da liberdade. Pelo contrário, Ele está nos livrando da frustração e do sofrimento. Ele sabe que errar no casamento pode levar à perdição eterna.
Se você ainda está escolhendo um companheiro para a vida, lembre-se de que relacionamentos saudáveis e duradouros são feitos de paciência, joelhos no chão e um jugo que seja possível de carregar. E se você já é casado(a) e sofre as consequências de escolhas equivocadas do passado, ore a Deus e faça de tudo para que seu testemunho seja uma porta sempre aberta para que seu cônjuge conheça também a felicidade em Cristo!

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